6 de February de 2021

Entre a cruz e a espada | Igrainne Marques

Olá meu povo, como estamos? Hoje temos resenha de mais um dos volumes da coleção Femme Fatale. O conto da vez é Entre a cruz e a espada, da autora nacional Igrainne Marques.
Entre a cruz e a espada | Igrainne Marques
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

ALERTA: Este livro contém cenas de estupro e pedofilia

05/24

Livro: Entre a cruz e a espada

Autora: Igrainne Marques

Editora: Increasy

Páginas: 120

Ano: 2020

Skoob | Amazon

 

 

A bailarina Esmeralda Araújo está muito animada. Depois de anos tentando, finalmente conseguiu ser selecionada para a turnê de Lago dos Cisnes, que vai acontecer, dessa vez, na Europa. Nascida no Vidigal, uma comunidade do Rio de Janeiro, ela sempre enxergou a dança como uma forma de se libertar das amarras sociais, de modo que conseguir o reconhecimento de uma apresentação dessas é seu maior sonho. O que ela sequer desconfia é que a turnê é patrocinada pelo Vaticano, o que quer dizer que a companhia precisa dançar para um grupo de religiosos antes de ganhar o mundo. Isso não seria um problema se, junto do melhor amigo Léo, diretor artístico da companhia, e de um europeuzinho muito suspeito, ela não tivesse presenciado uma cena terrível dentro do menor país do mundo. Em meio ao grande escândalo, poderia o sonho de Esmeralda estar se tornando um pesadelo? Entre chantagem e palco, dança do ventre e balé, será que ela conseguirá brilhar?

Entre a cruz e a espada | Igrainne Marques

 

Esmeralda Araújo não poderia estar mais feliz: ela foi convocada para realizar uma turnê internacional com a companhia de balé clássico da qual faz parte há anos. Sempre deixada de lado, agora ela finalmente foi enxergada por Helena Botafogo, a coreógrafa mais famosa e que agora a quer no espetáculo de O lago dos Cisnes.

Para ela isso é uma vitória das grandes, a mocinha que saiu do Vidigal para brilhar nos palcos europeus iria guardar para sempre essa emoção com ela. A melhor parte era que seu melhor amigo Leo também ia, afinal, ele faz parte da direção artística da companhia e não poderia ficar de fora dessa.
Esmeralda está realizando um sonho, passando por locais incríveis, que antes só via pela TV ou em fotos. Além disso, ela está ao lado dos melhores bailarinos que o país já viu, e agora o mundo também. Mas viajar requer algumas coisas básicas, como arranjar um lugar para comer e não é todo lugar que se fala Inglês, mesmo que receba muitos turistas.
Em meio a uma pequena confusão de idiomas, Leo e Esmeralda são ajudados por um rapaz lindo, charmoso e aparentemente muito simpático, que resolve a situação constrangedora na hora do jantar. O que era para ser uma situação até cômica depois, se tornou estranha, já que o tal rapaz, Philip, parecia querer ficar próximo demais de Esmeralda e de Leo.
A situação estranha levou também a outras situações que Esmeralda jamais imaginou que passaria na vida. Situação essa que pode levar a sua morte e a de pessoas queridas se ela não tiver coragem de agir.

“Para todas as mulheres que desconhecem a própria força: somos mais inteligentes do desconfiam”

Tentarei ser breve, pois o conto tem apenas 120 páginas. Pelo nome de nossa protagonista (e pela capa também), o conto é uma releitura da história de ‘O corcunda de Notre Dame’. Apesar de não ser considerada uma princesa, ela sempre foi uma personagem marcante e aqui não é diferente.
Eu sempre tive relutas em assistir às adaptações desse clássico, pois ele mexe muito comigo, especialmente a parte de Quasimodo e a situação dele. Aqui, Quasimodo é representado por Leo, um rapaz que já nasceu com deficiência locomotora e precisa de muletas para caminhar.
Ele é de família de classe média e teve os melhores estudos, mas ele sabe na pele o que é sofrer preconceito, independente de onde esteja e o que faça. Sempre gostou de dança, mas como não poderia dançar, ele se aprofundou nos estudos sobre outras coisas em relação à arte.
Assim, se tornou um membro da direção artística da companhia que não é citada nome aqui, mas eu acho que se refere ao Theatro Municipal. Ele é o braço direito de Helena Botafogo (uma referência à Ana Botafogo), uma das bailarinas mais famosas e, agora, coreógrafa responsável pela turnê da qual Esmeralda faz parte.
Esmeralda é moradora do Vidigal, descendente de indianos e com veias ciganas. Sua beleza é exótica e muito atraente, mas o que poderia ser uma coisa muito boa também é alvo de muitos preconceitos. Afinal, para muitos é apenas “a negra favelada que dança bem”.
Ela teve que se esforçar muito e lutar contra muito preconceito dentro da própria companhia para mostrar que é uma bailarina talentosa. Isso fez com que ela e Leo se reconhecessem de certa forma e sua amizade se tornou muito forte e bonita.
Quando ela foi escolhida para participar da turnê internacional, não poderia estar mais feliz, pois iria viajar pela primeira vez de avião, para outro país e ainda acompanhada de Leo. Ambos querem bancar os turistas na Itália antes dos trabalhos começarem, mas como a situação financeira dos dois não dá para bancar um passeio legal em Euro, eles vão procurar passeios mais em conta para fazer, o que inclui comer em restaurantes mais simples também.
Porém, o barato sai caro quando eles começam a ter problemas de comunicação. Mesmo Leo tendo um Inglês mais fluente do que Esmeralda, é complicado chegar num restaurante onde só se fala Italiano e ninguém entende o que você está pedindo.
Quem observa a situação e resolve ajudar é Philip, um rapaz que aparentemente não é brasileiro, mas entende um pouco de Português e fala muito bem Italiano também. Atuando como tradutor, o problema do jantar de Leo e Esmeralda é resolvido, mas também dá brecha para outras situações perigosas.
Enquanto Leo está sonhando em bancar o cupido com o bonitão desconhecido e Esmeralda, a mocinha sabe muito bem distinguir olhares estranhos de homens “aparentemente do bem”. Ela sabe muito bem pelo que sua mãe passou quando jovem e aprendeu muito bem a reconhecer possíveis maníacos disfarçados de bom moço.
A situação fica ainda pior quando Esmeralda descobre que o espetáculo vai acontecer na verdade no Vaticano, pois está sendo patrocinado pela Igreja Católica. Mas com um jeitinho de Leo, eles acabam conseguindo um passeio de turistas pelo menor país do mundo uns dias antes do espetáculo.
Só que Philip parece estar em todos os lugares onde Esmeralda está, o que a faz sentir bastante medo e agonia, por estar sendo seguida. A agonia não poderia ter sido pior, pois além do desconforto, Leo, Esmeralda e o próprio Philip presenciam uma situação ainda pior. O que leva Esmeralda colocar na cabeça que poderia ser a próxima vítima, se não fizesse algo e rápido.
Em meio a passos de balé clássico, cenários maravilhosos e santuários antigos, Esmeralda vai mostrar que pode ser mais do que um rostinho bonito e uma dançarina talentosa, mas também pode ser uma heroína da vida real. Quando peguei esse livro, eu sabia que precisaria de estômago, pois já tinha o aviso logo de cara, avisando do que iria ter no enredo.
Mas como era um conto bem rápido, eu resolvi encarar enquanto ainda tinha coragem. A história original de Notre Dame já me dá certa agonia, e ler uma releitura também me deu bastante agonia.
Esmeralda é uma menina que aprendeu a ser forte desde criança. Criada por mãe solteira e vivendo no morro, ela sabia que precisava ser forte e não se deixar abalar por pessoas que se sentiam superiores, seja pela cor da pele, seja pelo poder aquisitivo.
E ela sabe que vai ter que ser forte na viagem internacional. Por mais que ela tenha amigos, que os bailarinos de elite a tratem bem, ela ainda passa por situações constrangedoras e até desnecessárias, mas que acontecem ainda e muito.
Se entre os brasileiros ela já sabia que tinha que lidar com isso, imagina agora em outro país, com outras culturas e leis que ela não conhece. Já é complicado ser uma estrangeira que não fala o idioma, ainda conhece um cara que parece estar seguindo a menina para onde ela vai, com uma simpatia tão grande, que qualquer um desconfiaria dela. Esmeralda é esperta e sabe que, por mais bonito que o cara seja, pode ser um lobo escondido em pele de cordeiro.

“[…] eu não deveria me sentir culpada pelo erro alheio, principalmente se esse erro era um crime que eu não tinha cometido.”

Aparências enganam e muito, e ela vai descobrir que não apenas Philip, mas no próprio Vaticano, muita gente não é quem aparenta ser. Com uma escrita fluida e linguagem simples, a autora soube dosar muito bem os detalhes, o que funcionou muito bem em algumas cenas, mesmo as mais pesadas.
Assim, a leitura não foi das mais prazerosas, mas foi rápida e suficiente para deixar o leitor embasbacado, revoltado e querendo ser aliado de Esmeralda, bancando o herói da vida real. Esmeralda sabe muito bem o que é ser o lado mais fraco da corda e sabe reconhecer um igual também. Se ninguém soltar a mão de ninguém, se tornam mais fortes e ninguém pode lhes fazer mal.
E é bem isso que Esmeralda faz ao perceber que coisas estranhas se escondem em locais santos. Sem necessidade de “tiro, porrada e bomba”, a autora conseguiu deixar o conto com bastante ação, arte e um clima de final feliz (embora revoltante), uma combinação que nunca achei que seria possível.
Minha única ressalva é sobre a revelação de alguns personagens, que senti ser rápida demais e sem suspense. Entendo que é um conto e tem pouco espaço, mas poderia ter sido melhor trabalhada essa parte e outras menos necessárias poderiam ter sido deixada de lado. Por causa disso, o final foi satisfatório e até crível, mas ficou meio corrido, o que me decepcionou um pouco.
Entre a cruz e a espada | Igrainne Marques
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna
Ainda assim, é um conto que recomendo, se você tiver estômago forte para algumas coisas. Falando sobre o livro em si, li a versão do Kindle Unlimited. O livro tem uma fonte legível e tem alguns pequenos problemas de digitação aqui e ali, mas nada que atrapalhe a leitura, já que são bem espaçados.
Talvez uma revisão no texto para uma próxima edição já resolva o problema. O que não desmerece em nada a obra e continua tendo nota máxima para mim. A história é narrada em primeira pessoa, pela visão da própria Esmeralda.
Falando nela, é a personagem que está na capa do livro, seguindo o padrão da coleção. Então está meio que em perfil, mas de costas para nós, vestida como a cigana da história original, em tons de verde e roxo, a cor favorita da protagonista.
Os capítulos são curtinhos, separados no meio por pandeiros, que é o instrumento que Esmeralda mais curte.Não vou dizer que esse foi o meu conto favorito da coleção, mas foi uma leitura surpreendente para mim. Embora saiba que muitos dos contos tem temas pesados no enredo, nunca imaginei que leria essa versão de O corcunda de Notre Dame na vida.

 

Vocês já leram os livros dessa coleção? Qual o seu favorito?
Postado por:

Hanna de Paiva

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