Britt e Korbie são duas adolescentes cheias de energia e prestes a encarar uma aventura nas montanhas. Elas irão passar uns dias na Cordilheira Teton, onde fica o chalé da família de Korbie.
No entanto, ao chegar lá, o que as meninas menos encontram é paz e segurança. Isso porque são abordadas por dois foragidos da polícia que as fazem de reféns. Agora é tudo questão não apenas de tempo, mas de inteligência para sobreviver aos desafios que podem acontecer até que sejam resgatadas.
‘Gelo Negro’ estava encalhado aqui na estante desde que chegou de troca pelo Skoob. A sinopse dele me chamou atenção logo de cara, prometendo um ótimo (e rápido) thriller para ler num fim de semana. Porém, como sempre, o tempo passou e outras obras vieram na frente, deixando o coitado pegando poeira na prateleira.
Recentemente coloquei o título para concorrer na TBR de junho, que venceu com unanimidade (100%) dos votos na categoria ‘Suspense’. O que muito me surpreendeu, dado que é uma história antiga e não vejo muitas pessoas falando dele nas redes. Vendo esse resultado, confesso que criei certa expectativa, pois poderia ser uma grande leitura. E só me frustrei.
A narrativa é em primeira pessoa e vemos os fatos pelo ângulo da Britt. A jovem vive praticamente numa redoma, protegida pelos “homens de sua vida”: o pai, o irmão mais velho e, até pouco tempo atrás, o namorado (agora ex), Calvin.
Ela, no entanto, resolveu sair da toca e viver a vida, colocando um pouco de aventura no currículo. Assim, resolve passar uma temporada em um chalé no topo da Cordilheira Teton. Contudo, o arrependimento bateu forte quando se viu ilhada no meio da montanha, acompanhada apenas da amiga Korbie e seus parcos conhecimentos de sobrevivência na mata.
Eis que uma tempestade de neve as deixa isoladas do mundo, sem sinal de celular e correndo risco de vida. Como não há mais ninguém na estrada, o jeito seria ir andando com o que podiam carregar nas costas e tentar encontrar um outro abrigo onde pudessem esperar o tempo melhorar.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Apesar de ser uma boa ideia a princípio, as coisas se complicam ao descobrirem que se meteram no covil de dois bandidos foragidos que veem nas meninas uma tábua de salvação. Isso porque serviriam de reféns para futuras negociações, além de serem guias para eles saírem das montanhas.
“A ansiedade das últimas vinte e quatro horas estavam cobrando seu preço: eu nunca me sentira tão sem energia, tão pequena e impotente à sombra das montanhas traiçoeiras.”
Somado a isso, a Cordilheira Teton guarda diversos segredos sangrentos, muito piores do que as mocinhas estão passando. Embora esteja correndo risco de vida, Britt percebe que tais segredos podem dar as respostas para muitas matérias de jornal e lendas urbanas envolvendo a montanha.
Além disso, a jovem logo percebe que a resolução dos mistérios pode ser útil para escapar das garras dos sequestradores. De tal modo, começa a bancar a detetive amadora enquanto tenta sobreviver não apenas ao perigo iminente que os rapazes oferecem, como também às forças da natureza.
A trama tem uma premissa interessante, por trazer pontos pertinentes envolvendo a tensão do suspense e a própria sobrevivência a ambientes extremos. Além disso, quando expostas a situações de alto risco, vemos a verdadeira face das pessoas.
“Todo mundo precisa de segredos. Eles nos mantêm vulneráveis.”
Assim, temos uma história cheia de segredos e mentiras que escondem o lado mais sombrio de cada personagem. Ao longo das páginas, vemos que todo mundo pode trair todo mundo e é preciso ficar ligado em todos os detalhes.
Essa combinação, somada a uma escrita fluida e direta, me manteve imersa na leitura do início ao fim. Além disso, ver os fatos pelo ângulo de Britt me fizeram ficar mais próxima da investigação, me fazendo devorar o livro em poucos dias.
Porém, mesmo que se mostrasse promissora, a trama foi digna até a página 2. Para começar, a mocinha é uma adolescente de 17 anos. Então, é de se esperar que tenha alguns pensamentos e atitudes inconsequentes em meio a decisões mais sensatas.
A verdade era que Britt provar para si mesma (e para o mundo) do que era capaz. Embora suas motivações tenham me soado imaturas (o que condiz com a idade), foi interessante ver a jornada de descoberta e amadurecimento (ainda que forçada) da Britt.
“Minha melhor ferramenta agora era meu cérebro. Tinha que aproveitar aquele tempo para avaliar minha situação.”
Até porque ela estava precisando de umas sacudidas da vida. Não que eu desejasse que passasse por tudo que passou na montanha, mas a garota precisava, no mínimo de umas sessões de terapia e aulas de autoestima.
Korbie, por sua vez, é a típica patricinha milionária, mimada e que não aceita um “não”. É amiga (da onça) da protagonista desde a infância e não pensa duas vezes antes de acompanhar Britt na aventura, nem que seja para reclamar depois. Isso a faz insuportavelmente chata e enjoada (que eu teria derrubado do penhasco).
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Me admira que a mocinha tenha aguentado as lamúrias dessa criatura por tanto tempo. Além disso, no fundo, Korbie podia ter tudo na mão, mas nunca estava satisfeita. Tinha que ser a melhor em tudo, perfeita e sempre o centro das atenções. Me pergunto até agora o que Britt viu nessa garota para criarem um laço tão profundo de amizade.
Isso porque nem a garota escapava dessa lista de comparações e tudo estava muito bem quando ficava à sombra da riquinha. Mas bastava brilhar um pouco, que logo a dita “amiga de fé, irmã camarada” lhe cortava as asas e
colocava para baixo. No fundo, eu acho que Britt precisava era de terapia para enxergar que tinha uma amizade tóxica e podia ser melhor que um capacho da outra.
O mesmo teria resolvido sua situação com Calvin, o ex-namorado babaca que terminou com ela. O cidadão teve uma vida difícil e não nutre boas lembranças do passado. Mas nada do que sofreu explica suas atitudes ao longo da trama. O que só me fez criar ranço a cada cena que ele aparecia.
Britt, por sua vez, ainda nutria sentimentos pelo cara e se recusava a sair da zona de conforto. O que rendeu páginas e páginas no estilo “meu mundo caiu”. Porém, mesmo incomodada, não podia julgar suas atitudes. Afinal, quando estamos apaixonados, dificilmente levamos em consideração a verdadeira face das pessoas.
Isso deixou a personagem mais crível e próxima da realidade, mas não isenta de me fazer passar raiva, nem de revirar os olhos a cada lamentação. Entretanto, como ouvi numa reunião de clube do livro: “se todos os personagens se tratassem, não teríamos história” (rsrsrs). O clima de drama e sofrimento se mantém em boa parte da trama. Achei incrível como ela ainda tinha tempo de chorar e pensar no embuste (que poderia sofrer combustão instantânea, isso sim!), quando tinha coisa mais importante com o que se preocupar, como por exemplo sobreviver a uma nevasca e a um sequestro (nada demais, né?).
Isso teria sido perdoado se o suspense tivesse brilhado mais. Contudo, percebi que a trama se perde no meio do caminho, assim como todo o elenco. Korbie só serviu para me deixar com raiva e querendo que explodisse no início. Aliás, se tivesse explodido teria dado mais emoção do que o que foi mostrado.
Não me convenceu nem um pouco uma personagem com a personalidade que tinha no começo mudar da água para o vinho como aconteceu. A sensação que tive foi que a autora deixou a personagem “na geladeira” até decidir o que fazer com ela e depois caiu no esquecimento.
Os sequestradores também tiveram seu momento de brilhar. Porém, o show durou até a página dois. Cada um tinha seus segredos e motivos que os levaram a estarem ali. No entanto, a explicação deles não é convincente como eu esperava.
Embora tivessem um bom fundamento, não foram bem desenvolvidos e o que era para ser uma revelação bombástica saiu de modo previsível e tratado como se não tivesse tanta relevância. O que me decepcionou bastante. Além disso, em menos da metade da história eu já tinha matado todas as charadas antes mesmo de Britt sequer pensar em investigar.
Não teria sido ruim se a autora tivesse feito algo além com as respostas e trabalhado melhor para dar mais emoção nas cenas, como a trama pedia. O que não aconteceu, infelizmente.
Por sua vez, o mistério principal tinha uma boa premissa, até por conta do cenário e clima de série da Netflix. No entanto, ele perde espaço para um romance que, ao meu ver, não era necessário. A autora teve uma boa sacada ao mencionar a Síndrome de Estocolmo, assunto que não vejo com frequência na literatura.
Contudo, saiu da seriedade e entrou com vontade no romance, como se o desenvolvimento do casal fosse perfeitamente normal e aceitável. O que muito me incomodou, pois a mocinha era menor de idade, estava claramente com o coração partido e sendo levada pelo momento.
Não seria um problema ver um relacionamento amoroso em meio aos perigos de uma tempestade de neve. Mas nesse caso, tive a impressão de ler, literalmente, um conto de fadas, onde a princesa precisou sofrer tudo aquilo, esperando ser salva pelo príncipe encantado em um trenó branco.
Ainda, me deu uma dor no coração ver tudo pelo que a garota passa na montanha, para ser considerada forte e independente depois só “por saber fazer as tarefas de casa”. Talvez isso fosse “passável” em uma obra de séculos atrás, mas numa trama escrita em 2015 só me deu ranço e agonia, além de ser um desserviço para o empoderamento feminino.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
O desfecho, por sua vez, condiz com a trama, porém não é convincente. Como muitas respostas foram dadas antes do clímax, não sobrou muita coisa para as últimas páginas. Além disso, a autora tentou colocar um pouco de ação nas cenas. O que deu certo, mas alguns personagens importantes são esquecidos no churrasco e fiquei com a sensação de “era isso? Tá, mas e o resto?”.
O mesmo se deu com uma revelação bombástica que poderia mudar tudo aos 45 do segundo tempo. Porém, foi apenas jogada ao vento e a trama terminou como se a informação nunca tivesse sido mencionada. Isso decepcionou um bocado, especialmente por não ter uma sequência que explique o que ficou para trás.
Falando sobre o livro em si, tem uma edição simples, com uma diagramação objetiva e bem feita. A capa mostra bem o que iremos encontrar na leitura, porém não é das mais bonitas que já vi.
A revisão está bem feita e as páginas são mais grossinhas e amareladas, do jeito que gosto. A escrita também seguiu fluida até o final, mas infelizmente não bastou para que a experiência fosse positiva.
No entanto, ainda assim, deixo bem claro que isso foi minha impressão e recomendo que leiam, para que tirem suas próprias conclusões. O que não funcionou comigo pode dar certo com vocês.
Leyanne
Oie, acho horrível quando romantizam assuntos sérios. Já li outros livros da autora, mas eram mais juvenis.
Bjs
Imersão Literária
Hanna Carolina Lins
Sim, eu vi que ela é autora de uma série bem hypada, né?
Cida
OI Hanna! Eu li uma série sobrenatural dela faz muitos anos e eu gostei demais. Esse aqui quero conferir ainda e espero que tenha uma experiência boa. Pena não ter funcionado para você. Bjos!! Cida
Moonlight Books
Hanna Carolina Lins
Sim, já ouvi falar também dessa série. Mas eu acho que não darei uma chance. Pelo menos não agora.