Nora Stephens é um verdadeiro tubarão quando se trata de proteger seus contratos com os autores a quem agencia. É bonita, inteligente e não mede esforços para ter o que deseja, muito menos para defender seu salário gordinho no fim do mês.
O mesmo se aplica quando se trata de Libby, a irmã mais nova de quem cuida desde criança. A jovem sempre faz de tudo para agradar a caçula, especialmente agora que está grávida do terceiro filho. No entanto, seu pedido da vez será algo bastante inusitado: passar um mês de férias, só as duas, em uma cidadezinha no meio do nada.
A princípio, Nora não quer largar o caos de Nova York. Porém, aceita a proposta e acompanha Libby até Sunshine
Falls, na Carolina do Norte. A escolha da cidade, no entanto, embora inusitada, não foi aleatória: o local é cenário de um dos livros que a moça agenciou e está bastante hypado atualmente. Além disso, seria a chance de realizar o desejo de sua irmã: viver um romance digno de comédias românticas.
Só que a moça esbarra em Charlie Lastra, o editor ranzinza e esnobe, com quem teve uma péssima entrevista tempos atrás. O rapaz parece sempre estar em todos os lugares por onde Nora passa, o que dificulta os planos dela. Ou será que ajuda?
“Para qualquer pessoa que queira tudo – começa ela –, que ela possa encontrar algo que seja mais do que o bastante.”
Nunca tinha lido os livros da Emily Henry por puro receio. Isso porque suas obras já chegaram ao Brasil bem famosinhas e parece que a “poeira nunca abaixa”. Em especial agora que o terceiro livro estreou prometendo suspiros apaixonados aos leitores, regados a muitas risadas e reflexões.
Confesso que deixaria para conferir essa “promessa milagrosa” bem depois. Mas acabei furando a fila de leitura por conta do Clubinho da PJ, que elegeu ‘Loucos por Livros’ para maio. E, concluída a leitura, posso dizer que a obra quase valeu o hype.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
A narrativa é em primeira pessoa, pelo ponto de vista de Nora. A personagem me conquistou logo no início por ser o completo oposto do que se espera de uma mocinha de comédias românticas.
Ao contrário do clichê, ela não quer nem saber de relacionamentos. Sua vida está muito bem profissionalmente, assim como a pessoal.
Nora gosta de ser solteira e é bem resolvida em relação a isso. Embora trabalhe bastante e esteja sempre correndo a la ‘O Diabo Veste Prada’, a semelhança vai até a página dois.
Essa é a questão em relação às mulheres. Não há uma boa maneira de ser mulher. Se você expõe suas emoções, é histérica. Se as mantém sob controle, de modo que seu namorado não precise se preocupar com elas, não passa de uma megera sem coração.”
Isso porque a protagonista consegue tempo de qualidade para estar com a irmã e as sobrinhas. O que muito me chamou atenção e rendeu uns pontos para a leitura, pois trouxe um modo de vida no qual eu me identifico. Ainda, mostra que podemos muito bem ter bastante coisa para fazer, mas também dar pausas sem se arrepender por causa disso.
Mesmo assim, não é o que Libby pensa ao arrastar Nora para viajar de férias, rumo ao meio da Carolina do Norte. A primeira está toda animada e ansiosa por viver dias semelhantes ao que encontra nos livros de romances água com açúcar dos quais é fã. Já a irmã mais velha só quer fazer as vontades da caçula grávida para poder voltar logo ao local que mais ama na vida: o caos de Nova York.
Este seria também um tempo em que Nora poderia pensar no novo romance de Dusty, a autora que ela agencia. Sua maior preocupação é para que o novo trabalho seja melhor aceito pelos editores, ao contrário do que aconteceu em ‘Só Uma Vez na Vida’, rejeitado por Charlie Lastra e motivo de rusgas entre os dois.
Nora tem um bom faro e sabe quando uma obra tem chance de render contratos milionários e não está disposta a baixar a cabeça para nenhum editor que diga o contrário, criando até ranço entre eles. Assim, foi uma grande surpresa quando a moça descobre que precisará trabalhar logo com Charlie, seu novo inimigo editorial, para garantir que Dusty tenha seu livro publicado o quanto antes.
A protagonista ainda está assimilando a notícia quando esbarra com o novo colega de trabalho onde menos esperava: a cidade onde foi passar suas férias. Ainda, o relacionamento desses dois é, ao mesmo tempo, dentro e fora dos clichês.
Charlie é um homem charmoso e chama atenção por onde passa. No entanto, tem uma personalidade peculiar e é bastante ranzinza e teimoso quando quer. Nora, por sua vez, não está disposta a perder o posto de tubarão tão cedo. Contudo, ambos têm um ponto em comum: o amor incondicional pela literatura.
“Nos meus livros favoritos, o final nunca é exatamente o que eu quero. Sempre há um preço a se pagar.”
Aos poucos, vamos conhecendo um pouco sobre cada personagem e nos apaixonando pela cidade pacata, porém cheia de histórias escondidas. Temos diversos elementos clichês que podemos esperar em romances água com açúcar, como personagens simpáticos e sempre de bom humor (parece que ninguém nunca tem problema, nem boleto para pagar quando mora em cidade pequena, só pode), lugares inusitados e um bom samaritano que sempre salva o dia e todo mundo termina “feliz para sempre”.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Contudo, em meio a tudo isso, temos elementos contrastantes, os quais deixaram a leitura mais interessante e meio fora da caixinha. Temos cenas engraçadas, porém elas não tomam boa parte da trama, deixando espaço para assuntos sérios.
A começar por Nora e Libby, que são bastante unidas, mas tem contas a acertar. Embora a mais velha tenha boas intenções e motivos que descobrimos ao longo das páginas, achei protetora demais.
Por diversas vezes vi a personagem fazendo um esforço que não era reconhecido e me deu agonia. Embora tenha gostado do seu jeito de ser, me perguntava como ela tinha tanto tempo para trabalhar da forma como fazia e ainda ter tempo de bancar a Mulher Maravilha sem braceletes.
“Às vezes, mesmo quando a gente começa a ler pela última página e acha que sabe tudo, um livro encontra um modo de nos surpreender.”
“Quer dizer, você obviamente não precisa de ninguém, mas merece alguém que compreenda como você é especial!”
Já a caçula é uma romântica incurável e acha que todo mundo tem que ser como ela. Mas a forma como fez isso só me fez pensar na personagem como uma adolescente mimada que esqueceu de crescer.
Ainda por cima, se mete tanto na vida da irmã, apontando o dedo para ela e fazendo comentários desnecessários, que fiquei pensando se aquilo era amor ou inveja por Nora ser bem sucedida e ela uma indecisa. Embora as duas se amem, achei que Libby forçava a barra demais e tinha motivos que não me convenceram em momento algum.
Porém, a jornada de amadurecimento de Nora e Charlie ganhou meu coração e fez a leitura toda valer a pena. Ambos fizeram jus a idade que tinham e agiram de forma exemplar em diversos momentos. O relacionamento dos dois é desenvolvido de forma lenta, contudo de modo convincente e bem construída, rendendo mais alguns pontos para a trama.
“Quero fazer tudo isso durar, e preciso saber como termina. Quero terminar, e preciso que continue para sempre.”
Além disso, a moça teve atitudes que gostei bastante, como uma bela resposta a tantos romances que vemos por aí, mostrando que tudo bem se apaixonar e continuar defendendo seus ideais. O mesmo posso falar de Charlie, que não é um príncipe encantado, mas um cara normal, que tem problemas como qualquer outra pessoa. Assim o detalhe está em como irá reagir para resolvê-los como um adulto.
Apesar de eu ter demorado a me conectar com os personagens, em certo momento o grande “tchan” aconteceu e simplesmente me apaixonei pela leitura. O desfecho, assim como toda a história, é previsível e lento.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Ainda assim, é digno, crível e mantém o pé no chão, mostrando que pessoas normais também podem ter seus contos de fadas, sem precisar de varinhas de condão ou cavalo branco. No entanto, embora tenha gostado, senti falta de algumas respostas de questões que ficaram pelo meio do caminho e, por isso, tive a sensação de buraco na história.
Li esse livro em versão digital (disponível o Kindle Unlimited até o mmento). Posso falar que tem uma diagramação bem feita, assim como a revisão. A capa não é das mais bonitas, porém segue o padrão que a editora vem fazendo para as demais obras da autora.
Resumindo, ‘Loucos por Livros’ é um romance moderno, ainda que tenha um pé no clichê. Além disso, tem toda uma declaração de amor aos livros, que só quem é leitor apaixonado pode entender. Assim, recomendo a leitura, porém não espere grandes reviravoltas.
Já leram esse ou algum outro livro da autora? Gostam de clubes de leitura? Me contem nos comentários!
Aléxia Macêdo
Oi, Hanna! Tudo bem?
Adorei a sua resenha, gosto quando encontro uma resenha longa, com muitos detalhes sobre a experiência de leitura. Também estava como você, esperando para ler algo da autora, mas parece que ela está sempre no hype, rs.
Peguei os 3 livros dela no Unlimited para dar uma chance, e acho que vou começar com esse!
Os Delírios Literários de Lex
Hanna Carolina Lins
Ownt, fico feliz que tenha gostado da resenha, viu? E espero que goste das leituras também. ^^