22 de November de 2022

O Caso da Mariposa Negra | Marcos Martins

Olá meu povo, como estamos? Fechando as resenhas da TBR de outubro, hoje temos um livro nacional e bem fora da caixinha. Vamos falar sobre ‘O Caso da Mariposa Negra’, um thriller noir que vai te deixar confusx do começo ao fim. 

O Caso da Mariposa Negra
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

Obs1.: Disponível no catálogo do Kindle Unlimited

Obs2.: Livro lido em parceria com o autor (publicidade)

ALERTA.: Pode conter gatilhos de homofobia, sequestro e assassinato

59/24

Livro: O Caso da Mariposa Negra

Autor: Marcos Martins

Editora: Independente/Amazon

Páginas: 379

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Reza a lenda que, se uma mariposa negra entrar em sua casa durante a noite, algo de muito inusitado e quiçá obscuro estará prestes a lhe acontecer. No cotidiano da vida dos estudantes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, mais conhecida como Rural do Rio, um crime bárbaro fará com que a paz daquele local saia completamente dos eixos. Na tentativa de conter o escândalo iminente, seja pela preservação da imagem institucional ou por interesse próprio, Elizabeth, ou Beth para os íntimos, a vice-reitora, será o grande pivô no decorrer dos demais crimes que vão, em série, acontecer por ali. Nesse ínterim, um grupo de estudantes moradores do alojamento masculino da Universidade, as “monas do aloja”, encabeçadas por Valério, darão o mote para desvendar, em união fraternal, a identidade do tão temido serial killer. Repleto de enigmas, estratagemas, ocultismo, críticas e, é claro, uma boa dose de humor com muita irreverência, a trama fantasticamente sofrerá várias reviravoltas no decurso de sua trajetória, fisgando o leitor até a última palavra do narrador – ou seriam narradores? Mais um enigma que só será desvendado pela leitura desta deliciosa e interessantíssima obra, que se divide em dois “Tempos-Espaços” complementares, responsáveis por deixá-lo boquiaberto ao final.

A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro não está em sua melhor fase. Todos estão a cada dia mais temerosos, devido a uma série de assassinatos dentro do campusO suspeito é apelidado de Mariposa Negra, devido a sua assinatura peculiar nas vítimas.   

No entanto, apesar de ser o assunto mais comentado pelos corredores, a reitoria precisa impedir que seja também falado fora de seus domínios. Assim, faz de tudo para abafar o caso e manter a ilusão de um clima de paz.    

O problema é que os homicídios estão se tornando mais frequentes, gerando pânico entre todos os funcionários e estudantes. Vendo que muita coisa não sairia por parte das autoridades, um grupo de alunos curiosos decide, por conta própria, procurar o(a) responsável por tais atrocidades antes que seja tarde. Será que conseguirão desvendar esse mistério a tempo? Só lendo para saber.

“Já notou como são interessantes as maneiras com que as pinceladas do destino vão ilustrando e, até mesmo, moldando as cenas tomadas pelos percalços em nossas vidas?

Conheci esse livro através do bookstagramLi uma resenha dele e achei a proposta interessante. O autor, parecendo ler meus pensamentos, me ofereceu um exemplar pouco tempo depois.  Claro que não perdi tempo em aceitar (rsrsrs). Só não tinha ideia de que seria uma experiência tão fora da caixinha.   

Para começar, eu já li muitos livros ambientados no Rio de Janeiro. Até comento que fico em uma espécie de bolha, porque boa parte das minhas leituras nacionais se passam em terras cariocas ou paulistas.    Mas nunca tinha lido um que se passava, especificamente, na Baixada Fluminense (a região onde moro, bem longe do glamour dos cenários de novelas). 

Não apenas isso, o escritor trouxe uma vivência dele mesmo pelos corredores de sua instituição de origem, a Rural do Rio de Janeiro, que muitas vezes é esquecida pelos próprios estudantes ao prestarem vestibular (devido à sua localização um tanto insólita). Entretanto, independente do endereço, o clima acadêmico não muda.    

Assim, como uma também ex-aluna de universidade pública, me senti em casa por diversos momentos, conforme lia as cenas da rotina dos protagonistas. A narrativa, ainda, quebra paradigmas. É em primeira pessoa, porém sua verdadeira identidade é uma surpresa, que me deixou de queixo caído várias vezes. Entretanto, conforme descobrimos mais sobre o(a) narrador(a), entendemos o porquê de ter uma visão tão ampla dos acontecimentos. Além disso, os alunos metidos a detetives são verdadeiras figuras. Valério (ou Val, para os íntimos) e Lady são os meus favoritos. 

Eles fazem parte de um andar específico dos alojamentos, onde vivem os representantes da comunidade LGBTQUIA+. A própria descrição do motivo para ter um andar apenas para eles já é uma espécie de preconceito escancarado por parte da universidade.    

Ao mesmo tempo, pelo fato do próprio autor ser ex-aluno e representante da comunidade aqui retratada, tem conhecimento de causa para contar a sua vivência diante de tantas situações constrangedoras e marcantes ao longo de sua formação. No entanto, a turma, que se chama carinhosamente de ‘as monas do aloja’, não baixa a cabeça para ninguém. São incríveis. Mantém sua autoestima alta e foram, de longe, os melhores integrantes do livro inteiro.  

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

Val é nosso protagonista. Tem uma personalidade bastante peculiar, assim como um idioma próprio. Confesso que demorei para me conectar com a linguagem dele, quase recorrendo ao Google para tentar entender o que estava contando. 

Felizmente, conforme a leitura avança, certas palavras se tornam comuns entre as monas. Então, podemos dizer até que aprendi uma língua nova depois dessa obra, de tão familiarizada que fiquei (rsrsrs).   Lady, por sua vez, é uma travesti muito descolada. Sempre para cima e tentando ajudar seus amigos da melhor forma. É um amor de pessoa.    

Mas também sabe dar uns belos puxões de orelha quando necessário. Foi, de longe, a personagem melhor desenvolvida da trama. E terminei a leitura querendo ser amiga dela na vida real. Juntos às demais “monas do aloja”, formam uma bela equipe investigativa, que me lembrou bastante os episódios de Scooby-Doo.  

Isso porque, mesmo diante do perigo e medo iminente, mostraram que podem ser bem-humorados e corajosos na hora certa. Além disso, por trás de um comportamento distraído, existem olhos e ouvidos atentos a quaisquer pistas que levem à real identidade do(a) assassino(a).

“Minha avó sempre dizia: ‘não confie em ninguém que tem tantas rugas na testa’.”

   Enquanto eles tentam salvar o dia, fazendo justiça do jeito certo, a reitoria é representada por Elizabeth, que não parece concordar com a iniciativa dos alunos.  De acordo com ela, tudo é válido quando a reputação da universidade está em jogo.

Nem que seja recorrer a métodos escusos para resolver sem a mídia saber. Ler a forma como a vice-reitora lidou com o assunto é repugnante e assustador. E o pior é saber que não é apenas uma ficção, pois passamos por situações semelhantes quase todos os dias em instituições públicas e o modus operandi obedece ao mesmo padrão. Dessa forma, me senti lutando ao lado dos alunos revoltados diante de tais atitudes absurdas.

E quem brilha nos holofotes são Danila e Ângela. A primeira é uma verdadeira líder estudantil. Nada passa barato em sua gestão e ela não perde a oportunidade de levantar seu megafone e berrar aos quatro ventos o que está errado.

Por outro lado, Ângela é a típica defensora de política da direita. Filha de militares e faz de tudo para que eles subam ao poder e controlem os estudantes (alguma semelhança com a realidade?).   

Aos poucos, vemos como o autor conseguiu encaixar de forma espetacular diversos temas, sem que a trama se perdesse no meio do caminho. Então, preparem-se para diversos mistérios dentro de mistérios, dentro de outro mistério, como uma verdadeira boneca russa.  Cada um deles traz à tona assuntos importantes, como preconceito, homofobia, racismo, disputas políticas e corrupção deslavada.

“O ponto é que a humanidade, por mais individualista que seja, sempre tenderá à coletividade.”

Tudo envolto em um clima de suspense noir, com toque de comicidade e até espaço para romance. Além disso, conforme as páginas passam, todas as pontas se amarram, mesmo que seja por cenas aparentemente desnecessárias.    

Aliás, minha única reclamação em relação a elas é que poderiam ter sido resumidas em poucas páginas, tendo o mesmo sentimento de surpresa.   Contudo, nem por isso o livro deixou de me fazer de trouxa. Toda vez que eu pensava ter resolvido o caso (uma detetive profissional, discípula de Holmes e Poirot, rsrs), o autor me dava uma rasteira e eu ficava com cara de boba.    

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

Inclusive, a primeira vez que isso aconteceu, eu estava em público e agradeci por ainda estar de máscara no meio do trem. Minha vontade era de berrar, mas só pude ficar com cara de paisagem e quase perdi minha estação, tentando entender o que tinha acabado de ler (rsrsrs).

“Os olhos enganam, o reflexo pode esconder muito mais que uma imagem…”

 Mas nem assim eu me preparei para outros possíveis momentos do tipo. Então, obviamente fui feita de trouxa mais e mais vezes, até o final que, aliás, é digno. 

Assim como já vinha sendo mostrado ao longo da obra, o escritor amarrou todas as pontas com maestria e fechou o arco de forma satisfatória. No entanto, o narrador ainda traz mais enigmas, que deixam o leitor sem saber se realmente a trama termina ali, ou se ainda teremos notícias suas em breve.

Falando sobre o livro em si, existem as duas versões (impressa e ebook). Eu li a digital, então posso comentar que tem uma diagramação agradável à leitura, com uma fonte adequada.    

No entanto, a revisão carece de mais cuidado nas próximas edições, pois ainda passaram alguns erros de digitação. Mas nada que atrapalhe a experiência como um todo.   

A capa, por si só, é direta e objetiva. Toda em tons sombrios e possui elementos condizentes com o que veremos na história.  

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

Porém, a próxima edição merecia uma capa mais bonita, ao menos no tamanho da tela inteira do kindle. Em resumo, é um livro que adorei conhecer e recomendo, especialmente se curtem uma salada de temas sem sentido que se conecta depois.

 Essas foram minhas considerações. E aí, já leram esse livro ou algum outro do autor? Curtem suspense do tipo noir? Me contem aí!

Obs.: Texto revisado por Emerson Silva

Postado por:

Hanna de Paiva

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