20 de July de 2021

O inverno mais quente | Emerson Silva

    Olá meu povo, como estamos? Hoje temos a resenha do terceiro conto do mês, pela Confraria Crônicas Fantásticas. O conto da vez é O inverno mais quente, do autor Emerson Silva. 
O inverno mais quente | Emerson Silva
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna

Obs. Conto lido em parceria com a editora Confraria Crônicas Fantásticas

38/24

Livro: O inverno mais quente 
Autor: Emerson Silva

Editora: Confraria Crônicas Fantásticas 
Ano: 2021
Páginas: 160 

O que uma filha deve fazer para ter o amor de seu pai, quando o mesmo a menosprezou desde sempre por desobedecê-lo? Esse é o dilema que Aliena, uma clériga do Vale das Brumas, enfrenta todos os dias. No entanto, a situação está prestes a mudar, pois um dia ela recebe a visita de seu pai, interessado em lhe pedir um favor que pode mudar toda a perspectiva a seu respeito.


O inverno mais quente | Emerson Silva


 

    Aliena é uma clériga do Vale das Brumas. Lá, ela dedica sua vida ao Deus Pai e a Deusa Mãe, o que poderia ser um trabalho muito bonito, se ela não tivesse ido contra a vontade de seu pai. 
    Eles não se dão muito bem, desde que Aliena tomou sua decisão, e a situação só piora, quando seu pai fica lhe dando alfinetadas toda hora. 
    Mas a chance de eles se entenderem surge quando seu pai aparece no Vale das Brumas, pedindo que Aliena lhe faça um favor. 
    Ele poderia ter pedido para qualquer um, mas escolheu Aliena, como a melhor pessoa para cumprir uma missão tão importante. 
    Aliena vê nisso uma oportunidade de fazer as pazes com ele, mas será que seu desejo vai se cumprir? 

    
    Eu já tinha notado uma evolução significativa nos contos do Emerson, que me chamaram mais atenção em O inverno mais quente, em especial. 
    Em comparação com os contos anteriores, eu diria que esse representa mais um passo adiante na carreira dele, como escritor, porque pela primeira vez, os detalhes não me incomodaram.
    Apesar de continuar como sua marca registrada as cenas extremamente detalhadas, que costumam até incomodar um pouco na leitura, já que passo tanto tempo prestando atenção neles e acabo esquecendo do que está acontecendo de fato, aqui eles se mostraram menos incômodos, o que me chamou atenção num primeiro momento, por conta da forma como foram distribuídos. 
   Percebi que ele ainda manteve as cenas com um nível considerável de detalhe, porém foram melhor aproveitados onde realmente deveria, que era nas cenas de ação. Ali sim, me senti mais imersa na leitura, que se tornou mais fluida do que todas as outras anteriores.
   Com relação à protagonista, Aliena é uma personagem marcante, que eu gostei bastante aliás. Por ser uma outra marca registrada do autor, eu já esperava encontrar uma protagonista forte, mas essa me chamou mais atenção e, devo dizer, tomou o posto de favorita. 
   Aliena é uma jovem que tem uma vida complicada, já que não se dá muito bem com seu pai, um cara bem poderoso. 
   E sua relação ficou ainda mais difícil quando ela o contrariou e se mandou pro Vale das Brumas para ser uma clériga. 
   Ela ocupa um posto bom onde vive, tem uma vida que ela escolheu e faz bem isso, mas nem esses detalhes parecem chamar a atenção de seu pai, o que só gera faíscas quando se encontram, e Aliena sofre bastante com isso. 
   Mesmo sofrendo com o tratamento que recebe do pai, ela ainda tenta de todas as formas ter uma relação saudável com ele, afinal de contas, era a família dela. E ela vê no favor que ele vem lhe pedir uma oportunidade para terem uma trégua. 
   

“Nem o mais proficiente esgrimista, detentor da arte mais mortal, poderia causar demasiada dor em Aliena como aquelas palavras proferidas por seu pai.”



   Sinceramente, eu tive pena de Aliena, pois com o pai que ela tinha, precisava nem de inimigo. O cara é arrogante, egoísta e não pensa na filha como filha de fato, apenas como uma moeda para aliança política. 
   Apesar de saber que o conto se passa num mundo que, ao meu ver, parece ser Idade Média, ainda é incômodo ler esse tipo de comportamento, independente da época que seja retratada. 
   Aliena então parte na missão, para realizar o favor que seu pai lhe pediu, mas mal sabia ela que essa missão poderia mudar sua perspectiva de vida. 
   E foi durante a missão que consegui me manter mais imersa na leitura, já que ela foi regada a cenas de “tiro, porrada e bomba”, com detalhes na medida certinha dessa vez. 
   Gostei bastante de encontrar essa mudança de texto aqui, pois consegui de fato, me sentir nas cenas, junto com os personagens e observando tudo de pertinho da Aliena, o que foi fantástico.  


“Essa era a oportunidade que tanto esperou e não iria desperdiçá-la.”


   Ela é uma personagem forte, corajosa, mas ainda assim, humana, então era de se esperar que ela não fosse assim o tempo inteiro. 
   Ver o quanto a personagem foi amadurecendo conforme a leitura foi muito bom, principalmente porque me mantive de pertinho dela dessa vez, como se tivesse realmente presenciando essas mudanças acontecerem, o que foi uma experiência maravilhosa.  
  Não apenas isso, mas as lições que Aliena aprende durante sua missão são realmente profundas e marcantes, o que foi me prendendo ainda mais na leitura, que já estava tão fluida, que terminou mais rápido do que eu gostaria, e fiquei logo com saudade dos personagens. 
  O autor sempre teve bons textos, mas essa foi a primeira vez que um de seus contos me marcou profundamente, o que muito me surpreendeu positivamente. 
  Não apenas Aliena, mas os personagens secundários também foram bem construídos, o que rendeu mais alguns pontos ao conto. 
  Com relação ao texto, mesmo sendo um conto, algo curtinho, tive aqui mais uma vez a sensação de leitura completa, com começo, meio e fim. 
  Dessa vez, compensando o que vi em Desejo incomum, as pontas foram amarradas com mais maestria e, sinceramente, não consegui pensar em outra maneira para como aconteceram as cenas. 
   O final foi satisfatório, condizente com as descobertas de Aliena, e ainda traz uma mensagem profunda, que devo dizer, me picou e me mordeu. E me chamou mais atenção o fato de ser fechado, algo que não tinha visto até então nos contos dele, mas que encaixou bem com o desfecho. 
   Com relação ao conto em si, ele manteve a tradição de ser narrado em terceira pessoa, o que particularmente prefiro, por ter uma visão mais ampla de tudo o que está acontecendo. Além disso, a revisão está de parabéns, assim como a diagramação, que sempre arrasa. 
   A capa traz uma visão do Vale das Brumas, de maneira simples, porém objetiva, já mostrando onde se passa uma parte do conto. 
   E, somando isso tudo, pela primeira vez, eu dou nota máxima a um conto do Emerson, pois realmente ganhou meu coração e se tornou um dos meus favoritos até o momento. 
  
  


   E aí, já tinham lido algum texto do autor? Gostam de contos com final mais fechadinho? Me contem aí! 😉 


Postado por:

Hanna de Paiva

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8 Comments

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