Poirot está de volta com mais um caso intrigante. A cidade está em polvorosa, devido a uma nova peça de teatro que traz no elenco duas atrizes norte-americanas fantásticas: Carlota Adams e Jane Wilkinson. A última, em especial, chama mais atenção por conta de seu marido, o Lord Edgware.
No entanto, apesar do nome e status que conseguiu pelo casamento, a moça cansou e quer mudar de vida. Para isso, precisa pedir o divórcio (que o marido, aparentemente, não aceita) ou ficar viúva (o que seria para lá de suspeito).
Vendo que Lord Edgware permanece irredutível em assinar os papéis, a atriz pede ajuda ao também famoso detetive Hercule Poirot, a fim de convencê-lo a mudar de ideia. Porém, pouco depois de Poirot entrar em cena, o marido de Jane Wilkinson morre em circunstâncias suspeitas. Tudo gira em torno da atriz, a qual dizia aos quatro ventos que “mataria o marido se ele não assinasse o divórcio”, e não tinha medo de dizer os detalhes do que faria com ele se tivesse a chance.
Poirot se vê, então, incumbido de investigar o caso e confirmar se Jane, de fato, era capaz de fazer o que tanto anunciava, ou se outra pessoa teria se aproveitado do momento para incriminá-la. Afinal, Lord Edgware não tinha problemas apenas com a esposa, mas com várias outras pessoas — 12 para ser mais exata —, as quais supostamente estavam reunidas em um jantar na hora do crime.
Cabe ao famoso detetive descobrir quem está mentindo antes que seja tarde demais, pois existe uma superstição antiga sobre quando 13 pessoas estão sentadas juntas a uma mesa que parece ter um fundo de verdade.
“Embora eu não percebesse o motivo da agitação de Poirot, conhecia-o suficientemente bem para ter certeza de que era importante.”
Depois de tanto tempo só encarando livros mais densos, estava quase implorando por obras leves e rápidas. Foi uma escolha bastante acertada me atender nisso, por sinal, pois assim posso “relaxar” um pouco.
E não tem como falar de leituras mais leves, sem considerar os casos da “Rainha do Crime”. Sim, é contraditório fugir de thrillers pesados lendo outros títulos do mesmo gênero. Mas o que mais gosto nos livros da Agatha Christie é que os mistérios são resolvidos de forma rápida e o clima de “quem é o(a) culpado(a)” deixa a experiência relativamente mais leve, talvez por parecer previsível.
E é o que encontramos em ‘Treze À Mesa’. Aqui, somos apresentados ao misterioso caso de Jane Wilkinson, uma jovem atriz que se mudou dos EUA em busca de fama e um casamento milionário no Velho Mundo. Embora a carreira tenha seguido bem, o casamento não saiu como a moça esperava.
Assim, ela sonha em se divorciar, para viver uma aventura de amor com um rapaz mais jovem mundo afora. Porém, seu marido, Lord Edgware, não está muito conformado e se nega a assinar os papéis. Ao menos é o que afirma a atriz desesperada. E sua tensão está tamanha, que anuncia com naturalidade como mataria o marido só para se separar dele.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Sua colocação, embora chocante para Poirot, é normalmente aceita entre seus conhecidos, os quais duvidam que ela seja capaz de “morder tanto quanto ladra”. Contudo, a situação muda de figura quando seu marido é encontrado morto em sua biblioteca, apunhalado pelas costas com um canivete afiado. A primeira e única suspeita só poderia ser a viúva, afinal, parece que ela seria capaz de ir contra o ditado popular e cumprir o que dizia para todos.
“Bom, vai ver que, no mundo, há mais espécies de honra do que eu supunha.”
O único obstáculo para isso seria um jantar, ocorrido no momento do crime, o álibi perfeito para Jane Wilkinson e mais 12 pessoas, as quais também tem uma mágoa com a vítima, e podem estar associadas ao homicídio. Todos poderiam ter saído para cometer o assassinato, mas contam sempre a mesma história nos depoimentos e a situação parece cada vez mais confusa.
Apenas Poirot parece enxergar os pequenos detalhes e não vai desistir até descobrir quem está mentindo e o porquê. Com a ajuda do capitão Hastings e do inspetor Jap, eles precisam resolver com urgência esse caso, pois parece que a morte de Edgware foi apenas o começo de um esquema muito maior.
Como fazia tempo que não lia os casos do Poirot e não leio na ordem cronológica certinha, não me lembrava dele ter um ajudante. Mas em ‘Treze À Mesa’ os fatos são narrados por Hastings, que faz as vezes de assistente do detetive. Além disso, o detetive está mais velho e cansado, o que o faz melancólico em diversos momentos.
Entretanto, confesso que me irritei com a relação de “gato e rato” da dupla. Hastings é um nítido jovem aprendiz. É esperto e está aprendendo na prática as nuances do trabalho de um dos detetives mais famosos. No entanto, Poirot vive colocando o rapaz para baixo, reclamando de suas roupas ou mesmo de seu bigode.
Pelo que me lembro de ter lido sobre a moda da época, realmente o bigode era um ato de vaidade muito grande entre os homens. Mas não sabia que existia essa disputa para ver quem tinha o mais imponente, levada tão a sério, a ponto de praticar bullying. É exatamente isso que Poirot faz com Hastings quase o livro todo.
Não sei dizer se é uma personalidade do detetive, ou se tem um gosto pessoal da autora aqui no meio. Porém me pareceu uma alfinetada para alguém próximo e até ofensivo em determinadas cenas que nem tinham a ver com a investigação em si.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Quando não está reclamando do bigode alheio, está se martirizando por estar velho (e rabugento, diga-se de passagem). Assim, Jap faz quase todo o trabalho pesado, investigando os pormenores que Poirot tem preguiça. Ele é um bom detetive, assim como Hastings é um ótimo observador. Porém, teria curtido mais se o mais velho também tivesse trabalhado e não ficasse de reizinho, esperando que as coisas viessem na sua mão.
“Todo mundo fala que não sou inteligente – mas ao meu ver é preciso ser um verdadeiro crânio para pensar numa coisa dessas.”
Falando sobre o caso em si, eu achei bem interessante a construção. Todos os personagens são suspeitos, mesmo que apresentem álibis fortes. Jane Wilkinson é uma atriz fantástica, sem dúvidas. Não só ela, mas vários de seus amigos, que conseguem dissimular muito bem e sair pela tangente das perguntas de Poirot e Jap.
E, conforme eles investigavam o álibi de um, o do suspeito anterior caía por terra. Assim fui criando várias teorias ao longo da leitura. Algumas eu acertei, enquanto outras eu passei batido. O desfecho é bem amarrado e sem pontas soltas. Mas apesar de ter acertado minha teoria, ainda fiquei chocada pela forma como os fatos foram apresentados. Realmente, cada detalhe faz a diferença e precisamos estar sempre atentos quando se trata da “Rainha do Crime” (rsrsrs).
“O uso da massa cinzenta é um verdadeiro prazer espiritual. É a única e exclusiva maneira de romper o mistério e chegar à verdade.”
Em relação ao livro em si, gostei bastante dessa edição da Harper, por não apresentar defeitos na revisão. O que gosto nela também é o estilo da capa, que mais parece um quadro, trazendo a cena do crime.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
No entanto, conforme fui lendo (e até comentei no post do Li até a página 100), notei que alguns detalhes dela deram um pequeno spoiler do desfecho. Não atrapalhou minha experiência de leitura, já que descobri depois que tinha lido. Além disso, a fonte é agradável à leitura e as páginas são amareladinhas e grossas, o que facilita bastante a experiência.
Em resumo, ‘Treze À Mesa’ foi uma boa leitura, apesar das ressalvas. Recomendo, especialmente se você gosta de livros de mistério, ou está procurando algum título para começar a se aventurar no gênero.
Alessandra Salvia
Oi Hanna, tudo bom?
Eu li um livro só da Agatha até hoje, preciso me aventurar em mais. Gosto de mistérios, apesar de não ler com tanta frequencia!
beeeijos
http://estante-da-ale.blogspot.com/
Luciano Otaciano
Oi, Hanna. Tudo bem? Particularmente gosto bastante das obras da autora. Este aí eu não li, mas já fiquei curioso com a trama, apesar das ressalvas eu o leria certamente. Que bom que curtiu. Abraço!
https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Hanna Carolina Lins
Sim, Luciano, curti bastante a leitura, apesar das ressalvas. E recomendo a leitura, já que você ainda não conhece. =)
Hanna Carolina Lins
Sério? Pois recomendo muito os livros dela, viu? E como não são pesados, dá para ler tranquilamente e rapidinho. =)
Sil
Olá, Hanna.
Não fala mal do meu Poirot que me dói o coração hehe. O Hastings é o Watson do Poirot e não lembro dele sendo tão jovem assim hehe. O bigode é um negócio sagrado para o Poirot, talvez por isso essa atenção toda dele no livro. Mas confesso que não lembro da história e preciso reler.
Prefácio
Hanna Carolina Lins
Eu gosto dele também, mas convenhamos que ele é um senhorzinho ranzinza de vez em quando, né? hahaha.