26 de November de 2022

Um Mistério no Caribe | Agatha Christie

Olá meu povo, como estamos? Bons detetives estão sempre trabalhando, mesmo quando estão de férias em um paraíso. Hoje temos resenha de ‘Um Mistério no Caribe’, um clássico da “rainha” Agatha Christie.

Um Mistério no Caribe
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

60/24

Livro: Um Mistério no Caribe

Autora: Agatha Christie

Tradutor: Samir Machado de Machado

Editora: Harper Collins 

Ano: 2020 (original em 1964)

Páginas: 208

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Miss Marple está entediada em suas férias à beira-mar. O sol até ajuda com seu reumatismo, mas nada divertido acontece. Até que finalmente seu interesse é despertado pela história de um assassinato contada pelo major Palgrave, mas, justo quando ele ia lhe mostrar uma foto do homicida, se interrompe. No dia seguinte, ele é encontrado morto em seu quarto, sem nunca ter terminado a história. Sua morte, pelo que parece, é apenas o primeiro dos muitos mistérios que o Caribe apresenta…

Miss Marple está de “férias forçadas” no Caribe (quem me dera), após a forte insistência de seu sobrinho. De acordo com ele, a tia precisava descansar e sair de sua bolha, na cidadezinha de Saint Mary Mead. 

 A senhorinha, no entanto, está entediada. Afinal, não se tem muito o que fuxicar (ops, investigar) em um paraíso, onde todos estão se divertindo.  Seus dias se resumem a ir até a beira da piscina e fazer tricô, enquanto ouve outros velhinhos falarem de seus tempos de glória; o que não lhe interessa tanto, visto que boa parte parece até história de pescador.   

Porém, um desses “causos” em especial lhe chama atenção. O major Palgrave é o maior contador de aventuras entre os hóspedes (Forest Gump é fichinha perto dele). E, em meio a caçadas dignas de filme, descobertas de lugares insólitos e figuras enigmáticas, eis que ele afirma ter conhecido um assassino de perto e pode provar.

Contudo, antes mesmo que fizesse isso, o idoso se interrompe sem qualquer motivo aparente e deixa para terminar outro dia. Mas nunca conseguiu, pois amanheceu morto em seu quarto. Miss Marple fica chateada por não saber o final do “causo” (ninguém merece fofoca contada pela metade, rsrs). E, mais do que isso, é coincidência demais que o major tenha falecido de causas naturais logo após ter afirmado que sabia de um fato perigoso.    

Seu faro de detetive (fofoqueira) fala mais alto e a senhorinha passa a procurar as pistas que apontem para o que seu novo e falecido colega de viagem queria contar. Ela vai descobrir que certas coisas só mudam de endereço.

“[…] Quando se envelhece, assim refletiu consigo mesma, a pessoa vai se dedicando mais e mais ao hábito de escutar […]”

 Que saudade eu estava de ler as obras da “rainha” Agatha Christie! Dei uma parada, pois a autora tem uma bibliografia bem vasta e estou procurando as edições em capa dura, conforme meu orçamento acompanha as promoções.   

Quando a Harper Collins anunciou as capas novas, eu torci o nariz e falei que não ia comprar. Achei que eram berrantes demais e eu queria as mais antigas, que pareciam um quadro (algumas até tem spoiler no desenho, o que era engraçado). 

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

Mas paguei pela minha língua quando vi a edição de ‘Um Mistério no Caribe’. E também vi que pagaria pela minha língua uma segunda vez ao começar a ler a trama. Mantendo o hábito, a narrativa é em terceira pessoa, para que o leitor tenha uma visão ampla dos fatos.Somos logo apresentados a uma Miss Marple entediada em meio a um paraíso de águas cristalinas (tem gosto para tudo nesse mundo). Ela está incomodada porque seu sobrinho insistiu bastante para que saísse de sua toca e fosse ver o que o mundo poderia oferecer.

Embora tenha cedido, por gostar muito do rapaz e saber que só queria seu bem, a verdade é que a senhorinha não quer ficar longe de sua zona de conforto. Em seu cantinho, a protagonista já sabe de cor como resolver os disse-me-disse e ainda é ovacionada como uma grande detetive. 

O que ela não iria conseguir no meio de uma turma de desconhecidos, os quais mal lhe davam atenção. Entretanto, mesmo sem vontade, sua boa educação permite dar ouvidos ao que outro senhorzinho entediado e solitário tem a dizer. 

Major Palgrave é um velho herói de guerra, sobrevivente de grandes aventuras (embora aumente uma parte considerável para dar mais emoção) e só deseja alguém que lhe escute um pouco. Seu único sucesso era quando anunciava ter conhecido um assassino de verdade e poderia provar, através de uma fotografia.

“A gente nunca sabe. As pessoas fazem coisas ruins.”

 Mas sempre se detinha na hora de mostrar a imagem e ficava a dúvida no ar, se era apenas mais uma de suas falácias ou a única verdade no meio de diversas ilusões. Miss Marple pensa o mesmo, até o momento em que o “dono do conhecimento” morreu.   

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

Aparentemente, o senhorzinho faleceu de causas naturais. O que seria esperado, dada a sua idade e algumas doenças comuns a essa fase da vida.  Nada no quarto sugeria o contrário, então logo o caso foi encerrado pela polícia local.

Porém, nossa fofoqueira profissional sabe que nada é por acaso e seria muito azar o coitado morrer de causas naturais instantes depois de, praticamente, testemunhar um crime. Assim, ela começa a investigar e, quanto mais remexe na história, mais segredos surgem.

Todos no hotel passam a ser suspeitos. Cada um tinha motivos suficientes para proteger seus maiores fantasmas do passado. E, de perto, ninguém estava de fato feliz no paraíso. Conforme lia, por mais que tentasse não criar teorias, foi quase impossível não me ver conjecturando o provável culpado. Ainda mais conforme as máscaras caíam.  

No entanto, a autora mostrou, mais uma vez, o quanto seu título de “rainha do crime” é merecido. Falhei miseravelmente em minhas ideias e fui feita de trouxa “com categoria”.

“Acho que a morte só abala as pessoas por umas 24 horas e, então, não pensam no assunto de novo assim que o funeral acaba.”

Porém, mesmo gostando de ver mais um mistério elaborado, não foi tão bom quanto eu esperava. O início é arrastado e se resume em uma velhinha que não queria ter saído de casa. Isso nem é muito de se espantar, pois aqui em casa minha mãe é do mesmo jeito (rsrsrs).

Só sai porque eu insisto e olhe lá.   Outro fato curioso é ver que boa parte dos hóspedes já é conhecida de longa data no hotel. Tim e Molly Kendal são um casal de empreendedores jovens, que comprou o estabelecimento há pouco tempo.  

Tentam a todo custo manter os padrões dos proprietários anteriores, porém sem perder a identidade. Um fato louvável, diga-se de passagem. Contudo, a forma como fazem isso é moderninha demais para nossa protagonista da cidade pequena, que reclama o tempo inteiro.   

Acho que, por mais que gostasse de sua vida pacata e tranquila em casa, ela poderia ter se aberto um pouco mais às novidades. Teria se divertido bastante e até enxergado as pistas com mais clareza, mas seu jeito fechado a mudanças deixou as coisas mais lentas e chatinhas.

 Entre os jovens, somos apresentados aos casais Lucky e Greg Dyson e Edward e Evelyn Hillington. Embora sejam de países diferentes, mantém contato constante e gostam de fazer viagens de aventura para o Caribe. Por se hospedarem sempre no mesmo hotel, as fofocas rolam soltas em relação a eles.

“As conversas são sempre perigosas, se temos algo a esconder.”

 Por sua vez, a turma de idosos é composta pelo solitário major Palgrave e Mr. Rafiel. Enquanto um é um militar reformado e que só quer um pouco de atenção, o outro é a versão masculina da Dona Anésia.    Apesar de ser chato e extremamente mal-educado, mantém dois fiéis funcionários (santos) sempre por perto: Jackson e Esther Walters.   

Aos poucos, vemos a dinâmica de todos eles na rotina do hotel, assim como suas reações diante da morte do major. Ninguém parece acreditar em Miss Marple no início. Afinal, o que uma recém chegada teria a dizer sobre fatos que nem conhecia? Mas ela mostra que pode ser bem mais do que a velhinha do tricô e deixa todo mundo de queixo caído, como sempre (rsrsrs).   

Entretanto, eu ainda não li todos os trabalhos da “rainha”, mas posso dizer que ‘Um Mistério no Caribe’ não está entre os meus favoritos. Achei um mistério bem fraco e não me prendeu tanto em relação a outras obras dela.   

O desfecho é “ok” e explica bastante coisa. Porém, pela primeira vez, achei que ficaram faltando respostas. Os detetives (de verdade) são bons e fazem um trabalho decente. No entanto, achei que eles eram tagarelas demais com quem não devia, entregando quase todas as cartas na mesa.

Miss Marple é questionada o tempo todo por seus métodos nada convencionais de resolver crimes. E, embora faça sentido, pois ninguém sabe que ela tem essa veia investigativa, achei que a personagem passou por momentos bastante constrangedores e desnecessários no decorrer da investigação.   

Não apenas isso, em diversas cenas os personagens fazem comentários racistas e machistas, como se fossem elogios ou piadas. Claro, o livro foi escrito na década de 1960, quando a luta por direitos civis era muito mais acirrada (embora ainda ache que pouca coisa mudou, mas enfim). Talvez se eu estivesse naquela época, teria achado fantástico e nem ligado. Mas hoje em dia me incomodou bastante, ficando constrangida por tabela.

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

A escrita é bem fluida e os revisores da Harper Collins melhoraram bastante em relação às edições anteriores, contribuindo um bocado para minha leitura mais rápida. Porém, tenho uma reclamação a fazer em relação a essas capas novas, que são mais frágeis e desgastam a ponta pelo simples fato de você manuseá-las para ler. 

O que é uma pena, pois a proposta das capas novas tinha, enfim, me convencido.   A não ser isso, é um livro que recomendo, se você busca uma opção para sair da ressaca ou para ler em um fim de semana tranquilo. Mas se busca conhecer as obras da autora, aconselho outros títulos mais emocionantes. 

 E vocês, gostam das obras da Agatha? Qual é o seu favorito? Me contem aí! 

Obs.: Texto revisado por Emerson Silva

Postado por:

Hanna de Paiva

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