18 de June de 2020

Solo raso – Sandro Muniz

Olá meu povo, como estamos? Hoje temos resenha de minha última leitura, Solo raso, cujo livro foi cedido gentilmente, em parceria com o autor independente Sandro Muniz.

Solo raso - Sandro Muniz
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

21/12
Livro: Solo raso
Autor: Sandro Muniz
Editora: Independente/Amazon
Ano: 2019
Páginas: 227
Skoob | Amazon 
Uma ilha paradisíaca, praias, montanhas, florestas verdes… mas suas conexões com o passado terão um grande preço.  Após um episódio traumático e violento, o arqueólogo Pedro Gilga Sacks é transferido para longe de sua família. O que deveria ser uma rotina de trabalho tranquila logo se revela uma teia de segredos conforme Pedro descobre que a Ilha onde deveria recomeçar enfrenta problemas maiores que a retirada de suas terras, desmanche da ilha, para aterros no continente. Moradores evitam se aventurar pela mata ― os que se atrevem voltam com marcas permanentes. Isso quando conseguem sobreviver.

“Deus, o vento e o mar mandam na gente. Nos mostram a realidade dura…”

Entre mulheres que desaparecem inexplicavelmente, uma tabuleta sagrada e um profeta que deixa ovos por toda a Ilha, Pedro corre contra o tempo para desvendar todos os mistérios. Mesmo que sua vida seja o preço.
Solo raso - Sandro Muniz
Pedro e Eugênia fazem parte de uma equipe de arqueólogos, que trabalham numa empresa privada. Eles sempre vão nos locais escolhidos para obras públicas, a fim de saber se ela pode mesmo ser feita lá, ou se o lugar deve ser tombado para fins científicos.
O lugar escolhido da vez é apenas conhecido como “a Ilha”, que muitos nem sabem que existe, mas os que sabem, podem até matar por causa de seus segredos. Isso porque a Ilha guarda segredos, que os moradores mais antigos juram que é verdade, enquanto outros falam que é história para enganar turista apenas.
Mas sabe aquele ditado que diz que toda lenda tem um fundo de verdade? Pois bem… A questão é que a Ilha guarda tão bem tais segredos, cujo significado que podem valer até mais do que ouro, que até o governo brasileiro duvida… ou diz que duvida…
Some-se a isso o desaparecimento de várias mulheres ao longo dos anos, numa ilha tão pequena, que podem estar ligadas a tais segredos. Onde elas estão? Que segredos serão esses? Pedro e Eugênia estão cada vez mais envolvidos nessa situação e podem até morrer por descobrirem a verdade. Logo eles vão descobrir que nada é o que parece na Ilha e, mais ainda, que o Brasil também sabe muito bem ter segredos de Estado, não apenas o governo americano, como vemos nos filmes.
Meu povo, que livro é esse?! Sério! Quando o autor me convidou, de cara fiquei curiosa, pois era um mistério, com pé na História e tinha uma aventura com arqueólogos, que é raro de ver (ao menos eu não tenho lido muitos livros com essa profissão. Até a minha é bem difícil de achar, inclusive). Mas eu não sabia que ia me surpreender tanto com a leitura. Como estou fazendo há um tempo, desde que o isolamento social começou aqui na minha cidade, estou lendo mais devagar, de propósito.
Mas foi difícil me segurar com esse livro. Isso porque a escrita do Sandro é bem fluida, bem objetiva e sem enrolação. Além disso, ele soube dosar bem os cenários, as cenas de ação e até as descrições dos lugares. Então foi muito fácil me ambientar na trama, mesmo que fictícia.
É como se eu conhecesse a Ilha como a palma da minha mão. Isso me deixou surpresa, acho que poucos foram os livros que me deram essa impressão. Narrado em terceira pessoa, acompanhamos a incrível aventura de Pedro Gilga Sacks, um arqueólogo que passou por uma situação traumática, que o fez tirar uns dias de licença do trabalho.
A empresa achou que seria melhor enviá-lo para a Ilha, pois uma expedição num lugar paradisíaco talvez fosse uma alternativa para ele se recuperar. Pedro aceita e, junto a ele, temos Eugênia sua parceira, e Gouveia, o chefe mais chato do mundo! Enquanto Pedro e Eugênia realmente gostam do que fazem e acabam se divertindo com suas descobertas, que podem ir para museus e até serem publicadas, Gouveia só quer o glamour de ser bem pago pelo serviço dos outros. Só sabe se meter onde não é chamado, é fofoqueiro e arranja encrenca por onde passa, especialmente quando conhece alguns personagens da Ilha.
A Ilha tem um mistério no ar, a começar por explosões que acontecem na floresta. Ninguém sabe o motivo disso. Há quem diga que tinha um vulcão, outros dizem que são minas antigas colocadas para espantar inimigos, ou mesmo pólvora espalhada por piratas que esconderam um enorme tesouro, com direito a X no mapa e tudo.

 

“Toda essa história gerou uma lenda antiga, a qual dizia que a pessoa que atravessasse aquelas florestas com um anel de ouro ou com um cordão de brilhantes sairia de lá com uma fortuna dez vezes maior.”

A grande questão é que ela explode e quem entra na mata não volta ou, se sobrevive, nunca mais tem seu corpo inteiro novamente. Além disso, temos outro grande mistério, relacionado à população local. Isso porque mulheres aleatórias desaparecem de tempos em tempos. Nunca mais ninguém acha nem seus corpos.
E, como a Ilha é relativamente pequena, todos os moradores se conhecem, e sempre tem algum parente que perdeu uma perna, um braço, ou a vida na mata… ou tem alguma mulher desaparecida na família. Pedro é um bom profissional, ele leva seu trabalho realmente a sério, mas também é humano, e não se conforma com o que vai acontecer com a Ilha, caso não tenha nada de valor científico lá para eles embargarem a obra.

“Farei o meu trabalho, mas sei que vai ser difícil ficar ao lado desses caras. Agora me parece que 8 meses é muito pouco tempo.”

Uma característica interessante do lugar é que ele treme o tempo inteiro, por causa de uma linha de trem que liga a Ilha com o continente que, pela descrição, parece ser relativamente próximo ao Rio de Janeiro. O trem leva solo da Ilha, sabe-se lá para onde. Mas o caso é que, de tanto levarem solo, o solo da Ilha está, literalmente, raso… e a Ilha logo pode desaparecer, levando consigo sua fauna, flora, e até os mistérios a cerca das explosões e desaparecimentos, que Gouveia parece pouco ligar. E por que querem tanto o solo da Ilha? É só porque ele explode? É porque tem algo mais? São tantas perguntas, que fiquei sem saber de qual eu queria a resposta primeiro.

“Foi uma Chernobyl sem a energia nuclear. Sem um acidente. Era de propósito.”

 

Solo raso - Sandro Muniz
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna
Mesmo não concordando com as ideias de Gouveia, Pedro e Eugênia continuam procurando indícios de valor arqueológico… até que finalmente encontram algo bem esquisito… Uma relíquia sagrada, que não deveria nem sonhar em ser encontrada em pleno Brasil, especialmente pela idade que ela parece ter.
Pedro e Eugênia estão muito felizes, pois finalmente poderiam embargar a obra e salvar a Ilha e a população local, que viraria terreno de pesquisa. Por outro lado, se aquilo for verdadeiro, como parece ser, vai derrubar por terra toda a força da Igreja Católica, que tem uma história bem diferente da que nos é contada há séculos.
O que você faria, salvaria uma religião de milênios, ou uma Ilha misteriosa? Essa dúvida mexe com a cabeça de muita gente, especialmente quando conhecemos alguns personagens novos. Lucius, o padre local, ou pelo menos se diz ser, parece super interessado na relíquia. Ele toma conta de uma das poucas igrejas que restaram na Ilha, mas tem umas atitudes pra lá de esquisitas.
Ceolfrido, por sua vez, além do nome peculiar, também tem uma teoria tão peculiar quanto: quando o mundo acabar, só restarão seus ovos para comer. Assim, ele vive pela Ilha com um balde cheio de ovos, que ele tira de seu galinheiro, e enterra onde menos se espera. Por causa disso, ele sofre bullying, sendo chamado de maluco, mas vocês ainda vão se surpreender… nunca duvide do poder de um ovo enterrado (rsrsrs).
Também conhecemos Dona Josefa e Juliet, suas senhorinhas bem simpáticas, mas que o povo da Ilha vive chamando de malucas, principalmente os mais jovens. Isso porque ela dizem saber o porquê da floresta ser explosiva e tem teorias bem convincentes para qualquer teórico da conspiração, sobre os desaparecimentos, que parecem estar relacionados com a relíquia e seu significado real. A teoria delas é que o governo brasileiro e as autoridades da Ilha fazem muito esforço em esconder um fato importante acerca da Segunda Guerra Mundial, que levaria por terra o que nos é contado nos livros de História, e a única prova disso reside na Ilha, que estava prestes a ser destruída. Pedro e Eugênia estão cada vez mais enrolados nessa Ilha, que pode ser pequena, mas guarda segredos enormes.

 

“O medo era grande, e já havia tanto medo e morte naquele lugar que era melhor deixar a Natureza em paz.”

Falando assim, parece que o livro só tem uma monte de informações aleatórias e pronto. Mas achei sensacional como que o autor conseguiu amarrar todas as pontas, para dar um final digno de cinema. Aos poucos, somos apresentados às respostas, que te deixam com queixo caído a cada momento.
Pedro e Eugênia precisam de ajuda para solucionar tantos mistérios, mas a real é que tudo parece uma grande loucura e eles são os únicos sãos daquele lugar no meio do nada! Mas eles precisam confiar em alguém, se quiserem mesmo sair vivos dessa aventura. Todos dizem que sabem segredos podres do passado da Ilha e mesmo do país.
A Ilha tem riquezas sem comparação, seja histórica, de aventura ou de lições de sobrevivência. E não será nada fácil sair desse jogo de xadrez, onde todos parecem jogar muito bem e os arqueólogos são meros peões. Com muito “tiro, porrada e bomba”, literalmente, seremos levados a uma situação alternativa de nosso passado, que poderia muito bem ter acontecido. O tempo todo fiquei me perguntando se aquilo tudo era ficção mesmo, ou se eu estava começando a ser uma teórica da conspiração também, de tão convincente que ficou a leitura.

“Há certos momentos em nossas vidas nos quais já não é mais possível voltar atrás. O relógio só vai para frente.”

Isso porque, alternando com os capítulos da história de Pedro e Eugênia, temos também algumas partes do passado, contadas em primeira pessoa, pela visão das primeiras mulheres desaparecidas. Aos poucos, vamos sendo apresentados a elas e sabendo que elas podem nos ajudar a desvendar esse mistério.
Solo raso - Sandro Muniz
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

A obra foi muito bem elaborada e fiquei muito surpresa com o final. Falando sobre o livro em si, ele foi publicado apenas em versão digital. Então, posso falar que a revisão está bem feita, e a fonte é bem legível. As versões contadas pelas desaparecidas estão marcadas em itálico, o que destacou da história “atual”.

“Eu agora me lembro de muitos passados e acho que minha lembrança do futuro está no passado.”

Gostei que, no final, para me deixar mais “noiada” ainda, temos umas manchetes de jornal, sobre a Segunda Guerra, para ilustrar o que é explicado no decorrer da leitura… e me fazer mais ainda de teórica da conspiração, pois até delas eu duvidei… (rsrsrs) Sério, no final eu apenas pisquei os olhinhos e não acreditei no que li… e menos ainda que tinha acabado tão rápido.
Minha única ressalva, que não posso deixar passar, é que em dado momento, o autor, para explicar a paixão que Pedro tinha pela profissão, acaba se enrolando um pouco e mistura arqueologia com paleontologia. Apesar de ambas serem bem interessantes e estudarem o que aconteceu no passado, são áreas bem diferentes. Eu, como paleontóloga, fiquei um tanto incomodada com esse deslize. Mas nada que interfira no decorrer da leitura. Acho que, sem dúvidas, foi uma de minhas melhores surpresas literárias em 2020, merece nota máxima!

Já conheciam esse livro? Gostam desse estilo de leitura? E da resenha, gostaram? Me contem aí!

Postado por:

Hanna de Paiva

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