Olá meu povo, como estamos? Hoje temos resenha de um livro que muito me surpreendeu. Ele é “brazuca”, e foi uma leitura em parceria com um autor muito gente boa, o Victor Visco. Hoje, falarei de sua obra de estreia, As crônicas de Asdaria – Dois irmãos.
Foto: Divulgação |
Livro: As crônicas de Asdaria – Dois irmãos
Editora: Chiado
Ano: 2019
Páginas: 306
“Todos se entreolharam sem saber o que esperar do jovem Semideus, enquanto Lucius parecia desconfortável com a situação. Agora que Oriedsa prestou atenção nele, eram visíveis marcas de queimadura no lado direito de seu corpo.”Asdeiro e Oriedsa, dois Semideuses do Aspecto do Equilíbrio, se vêem no meio de uma conspiração que ameaça a paz conquistada com tanto esforço. O resurgimento dos Sombrios, uma misteriosa raça de meio-humanos, cuja natureza e motivos parecem desconhecidos até mesmo para os Deuses, desafia os irmãos e seus companheiros Semideuses a descobrirem a verdade e protegerem os mortais de Ny’im.”
Sejam todos bem vindos a Asdaria! Uma terra de deuses, semideuses e muitos mistérios. Após uma guerra que levou um povo chamado de Sombras para terras distantes, Asdaria vive tempos de paz, governada por três grandes deuses, que representam aspectos: Andrestia, a deusa do Aspecto do Equilíbrio, Lucelion, o deus do Aspecto da Ordem e Morgor, o deus do Aspecto do Caos.
E, como toda boa história de deuses, temos também os semideuses, que costumam ser os grandes heróis de mitos e fábulas mundo a fora. Aqui, temos Asdeiro e Oriedsa, ambos gêmeos e filhos de Andrestia, Lucius e Asarina, semideuses filhos de Lucelion, e Gunthor, filho de Morgor. Parece que tem muita gente nesse elenco? Vocês não viram nada ainda… (rsrsrs)
Bom, para começar, os tempos de paz costumam ser celebrados com um torneio entre os semideuses. Apenas eles podem lutar, os deuses ficam como juízes dos combates e os mortais podem assistir, como uma forma de estarem um pouco perto das divindades.
A cidade inteira está assistindo ao torneio, ou quase inteira, já que algumas pessoas precisam trabalhar para viver. E é nesse momento em que também um grupo rebelde invade a cidade sem ninguém perceber. Acontece um atentado contra uma doceria e um pobre padeiro fica entre a vida e a morte. Quem percebe o que aconteceu ao estabelecimento são Laura, a neta do padeiro, e Havdar, seu ajudante mais talentoso.
Eles não sabem o que fazer, vendo o pobre senhor caído no chão, e precisam pedir ajuda das autoridades locais. Só que tudo gira em torno dos deuses nesse momento, então a única saída é chegar até o torneio e pedir a ajuda dos guardas.
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
A princípio ninguém dá atenção à dupla. Quem ligaria para um padeiro que teve um treco no meio da rua, quando tinha semideuses numa arena? Mas eis que algo chama atenção de Asdeiro, que vê no sofrimento de Laura um motivo para parar o torneio e dar atenção a ela. Ao ouvir o acontecido, Havdar e Laura se tornam o centro das atenções de todos: O pobre e velho padeiro se chama Hudwin, um militar que lutou ao lado dos deuses nos tempos de glória, e quem lhe atacou não foram ladrões, foram as Sombras, literalmente os fantasmas do passado de Asdaria.
Há muito tempo não se falava delas, as Sombras foram banidas para nunca mais voltarem. O que querem agora? Por que levaram tanto tempo para aparecerem novamente? E por que logo Hudwin e não diretamente os Deuses? São muitas perguntas, muitos mistérios que só serão respondidos olhando no passado, um passado que os Deuses temem com todas as forças.
As crônicas de Asdaria é um livro que, literalmente, me caiu de paraquedas. Eu não o conhecia, até que o Victor entrou em contato comigo, mandou a sinopse, e perguntou se eu me interessava por um livro de fantasia. Como fã do gênero, não pensei duas vezes em aceitar. E gente, foi uma ótima experiência!
Aqui os holofotes ficam sobre os dois irmãos: Oriedsa e Asdeiro, os filhos de Andrestia, Deusa do Aspecto do Equilíbrio. Eles são gêmeos, muito habilidosos, mas amam competir entre si. Apesar de tudo, são muito unidos, o que é até bonito de se ler. Asdeiro ama estudar armas, e desenvolve um cajado que se transforma em qualquer arma que se possa imaginar: espada, lança, arco, qualquer coisa, desde que não seja arma de fogo. Oriedsa até luta com armas, mas seu talento mesmo é para magia, tanto que às vezes é referido como mago.
Já no Aspecto da Ordem, Asarina é uma linda e talentosa semideusa, porém também é orgulhosa demais e não admite perder. Sua maior arma é sua espada Luminosa, que ela julga não ter nada que a possa vencer, o que a deixa bem vaidosa também. Foi no meio de sua luta no torneio que toda a confusão aconteceu e ela não se conforma por não ter terminado como gostaria. Lucius parece ser o mais calmo dentre todos os semideuses. Ele é um exímio arqueiro, que sonha um dia ter o talento do pai, Lucelion.
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Extremamente obedientes à sua mãe, os gêmeos cresceram na inocência, acreditando, assim como Lucius e Asarina, numa Asdaria de paz, tranquilidade e que seus grandes inimigos se resumem pura e simplesmente às Sombras, monstros que foram banidos e são por natureza muito maus. Quando ouve que uma Sombra atacou um cidadão de Asdaria, a cidade toda para.
Todos, humanos, Deuses e semideuses, temem as Sombras mais que tudo, e ter essa notícia gera certo pânico, principalmente nos humanos. Ninguém fala o que as Sombras fazem, ela são apenas ruins. Para os semideuses isso basta, afinal, eles são heróis e, se seus pais mandam que eles combatam a ameaça, eles vão obedecer de olhos fechados, afinal os Deuses são muito sábios e bondosos, até a página 2!
Uma coisa que achei interessante nesse livro é que os Deuses são relatados de uma forma um pouco diferente. Cada um tem sua igreja, seus sacerdotes rezam e fazem rituais por eles, mas os Deuses falam com os sacerdotes como se fossem pessoas de um cargo maior numa empresa, não divindades e humanos. Outra coisa que achei diferente foi que, no momento que a cidade descobre sobre a presença das Sombras, eles estão num torneio organizado pelos Deuses, que fazem um discurso tentando acalmar a população, não apenas no torneio, mas em outros momentos, agindo mais como reis e rainha do que como divindades.
Talvez por isso, apesar de terem seus templos, todos eles (Deuses e Semideuses) morem num palácio no alto de uma montanha, em vez de num plano diferente, como a gente está acostumado a ler/ver quando tem contato com histórias de mitologia grega, por exemplo. Seguindo a mitologia, deuses aparecem se você estiver no templo, rezando e fazendo oferenda. Ou se acontecer uma coisa muito grave, mesmo assim, quando eles aparecem, é como uma força superior. Em Asdaria, eles agem como realeza, que atendem súditos e fazem conselhos de guerra contra reinos inimigos.
Outra coisa que me chamou a atenção foi o fato de que há uma certa mistura entre poderes divinos e tecnologia. Apenas os Deuses podem se teleportar, através de uma magia, mas precisa também de uma máquina, que age como um GPS e leva os Deuses e quem estiver com eles para os lugares desejados, desde que tenha área de cobertura da máquina. Me senti lendo histórias de ficção científica nesse momento, o que não é de todo ruim, mas saiu um pouco da ideia de poderes infinitos que os Deuses deveriam ter.
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
E aproveitando para falar em Deuses, eles são bem poderosos, mas tudo tem limite. O passado é sua fraqueza, e manter os semideuses na ignorância é uma boa saída. Não apenas os semideuses, mas os leitores também ficam na ignorância por um bom tempo, principalmente por não sabermos da origem das divindades, muito menos de como o semideuses surgiram. Mas diante de um antigo inimigo, e sabendo que o semideuses questionam o fato de lutarem contra o desconhecido, eles não vêem uma saída nesse momento, além de contar aos meninos quem são as Sombras.
A questão é: eles contaram tudo? Os Deuses realmente são heróis? Até esse momento, temos apenas a versão deles, então somos apresentados às Sombras como monstros sanguinários, buscando vingança por terem sido expulsos de Asdaria, por sabe-se lá qual motivo.
Mas até que ponto isso é verdade? Estamos diante de uma guerra que nunca acabou, apenas teve uma pausa de séculos, com pequenos golpes aqui e ali, mas estão para estourar de uma forma surpreendente, literalmente, numa guerra dos tronos (alguma semelhança com GOT?). Mas aqui, em vez de gelo e fogo, temos uma guerra entre Luz e Sombras, que são fortes e poderosas, mas até que ponto uma não depende mais da outra para se manter?
Para ajudar os semideuses nessa missão contra a invasão das Sombras e investigar o atentado contra Hudwin, temos Havdar e Laura, dois humanos que caíram de paraquedas nessa guerra. Havdar quer justiça pelo que aconteceu com Hudwin. Ele quer de toda forma fazer o suposto assassino pagar pelo que fez ao seu mentor, e sua força de vontade é tanta, que acaba conquistando seu lugar junto aos semideuses nessa luta. Mas assim como Laura, ele é apenas um mortal, lidando com seres capazes de correr altas velocidades, se teleportar e tantas outras coisas que um humano jamais pensou em conseguir fazer.
Além disso, Laura não mede esforços para conseguir ir também na missão, afinal ela quer aventura. Mas Laura tem apenas 10 anos! Havdar, uma pessoa sensata, não quer expor uma criança ao perigo de morte, mas curiosamente, Lucelion e Andrestia vêem na menina uma aliada na luta contra as Sombras. Isso porque Laura tem um dom que todos os deuses já notaram, que pode revolucionar toda a guerra, embora a menina ainda não saiba de sua capacidade.
Mas, porém, todavia, entretanto, os dois humanos não são nada perto de semideuses e deuses, que dirá perto das Sombras tão poderosas. Então precisam ser treinados, para ultrapassarem seus limites e medos na hora de enfrentar seus verdadeiros inimigos. Aqui, vemos um Havdar disposto a tudo para estar ao lado dos semideuses, como um dia seu mentor esteve ao lado de Lucelion.
“-Estou ansioso para ver você em ação.”
Então somos levados a momentos de luta, mas também filosóficos, que são mais descritivos e longos, assim como o treinamento dos outros semideuses e da própria Laura. Confesso que me senti nostálgica lendo esses treinamentos, pois me senti vendo novamente os episódios de Dragon Ball Z. Não sei se a ideia era essa, mas toda a questão de luta e filosófica me remeteram imediatamente ao anime.
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Embora ela sempre diga que está tudo bem, Laura tem um poder que pode ser maior que o de todos os semideuses juntos, vindo também do passado de Asdaria há muito esquecido. O que me incomodou nesse quesito foi que já nos é dito que poder da menina é grande, o que deixa Lucelion de olhos arregalados, principalmente quando a menina consegue fazer certas coisas. Mas a origem desse poder tão grande, que tem um toque de mistério ao seu redor, demorou um bocado para ser revelada para o leitor.
Entendi que a ideia era ter um mistério, junção de fatos e tal, mas do jeito que foi colocado ficou meio jogado no começo, do tipo “nossa, que poder estranho” e depois ninguém falava mais nada. A revelação é bombástica, ficou genial, mas acho que poderia ter demorado um pouco menos para acontecer.
Apesar desses pequenos detalhes que me incomodaram, a história em momento algum perde o rumo. Asdaria foi construída sobre sangue inocente e jogos políticos. Mesmo entre divindades, vale tudo no amor e na guerra. E como todo mundo pode trair todo mundo, saber dessa história é o mesmo que ter um alvo na cabeça, seja você mortal ou não.
Além disso, Gunthor se mantém afastado de todos os outros semideuses, mas também sabe coisas demais. Ele é um semideus e mago do Caos, poderoso e muito vaidoso, não quer se juntar à “gentalha” dos outros semideuses. Gunthor é o único que tem coragem de investigar os podres dos Deuses, inclusive seu pai Morgor está na reta dessa investigação. Todos são suspeitos, afinal a invasão das Sombras em Asdaria só poderia acontecer com a ação de um agente duplo.
Apesar de muito esperto, Gunthor me dá raiva, principalmente pelo orgulho extremo e do poder que sabe que tem e faz questão de jogar na cara de todos, principalmente de Asdeiro e Oriedsa. Se sente forte e poderoso demais, mesmo sendo um semideus. Ele ama caçoar dos demais semideuses, que não sabem da própria história, mas também não ajuda em nada para que eles descubram o que tanto precisam.
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Os Deuses também me deram raiva, por esse medo enorme do passado, chegando ao ponto de expor humanos e seus próprios filhos ao perigo. Sinceramente, do jeito que eles falam dos próprios filhos, parece que os semideuses são bebês inocentes, que não podem descobrir sobre hipótese alguma o que aconteceu, pois podem fazer xixi na cama de noite de tanto medo… sendo que os semideuses em questão são guerreiros adolescentes, que já sabem o que querem da vida (ou pelo menos se espera que saibam) e podem descobrir todo o segredo da pior forma possível.
“Isso é tudo parcialmente nossa culpa também, não deveríamos ter segurado tantas informações sobre os Sombrios.”
Além disso, as Sombras tem seu lado da história, que começa a ser contada quando Asdeiro e Oriedsa começam a procurar pistas sobre a invasão. Cada pessoa que eles encontram no meio do caminho conta uma coisa que os deixa de orelha em pé, e estão cada vez mais perto de amarrarem várias pontas soltas, que seus próprios pais fazem questão de deixar. Isso me deixa curiosa, pois tem um quê de mistério, no qual me senti Hercule Poirot, investigando junto com eles quem “é o culpado”. A diferença é que aqui não temos um mordomo, temos Deuses e sacerdotes que podem fazer qualquer coisa para manter um segredo e ter poder, inclusive matar.
Outra coisa que preciso mencionar é o quanto me identifico com Asdeiro. Esse semideus vive com fome gente! Toda cena desse personagem, ele está comendo alguma coisa, parece até um poço sem fundo o estômago dele. Mas cá entre nós, eu até compreendo, pensar para resolver mistérios dão uma fome danada; se eu estivesse no lugar dele, tendo que resolver esse mistério todo, também estaria azul de fome (kkkk). #tamojuntoAsdeiro!
Os cenários que levam a esses segredos, prestes a nos serem revelados, são muitos. Todas as pistas são importantes, todos os pequenos detalhes contam. Mas isso não vem de forma calma. Para chegarem aos objetivos, os semideuses vão passar por muitas provações, em terras distantes, mundos esquecidos, que são detalhados na medida certa, o que nos leva a viajar junto com nossos heróis.
E, se você pensa que tudo acaba por aqui? Que tudo é resolvido e todos vão ser “felizes para sempre”, estão enganados, esse é o primeiro volume de uma trilogia, então terminamos esse livro com uma cena digna de filme de ação, cheio de “tiro, porrada e bomba”, que nos dão uma prévia do que esperar no próximo volume, que ainda não sei o nome, mas estou bem curiosa para ler.
As crônicas de Asdaria é o livro de estreia do Victor, que tive muito orgulho de ser uma das leitoras da obra. Ele já começou bem, pois sabe amarrar as pontas que precisam ser amarradas para dar um sentido na história e deixar as outras, que vão continuar nos próximos dois volumes.
Falando sobre o livro em si, a edição é simples, porém bonita. A capa já chama atenção, por ter o palácio dos Deuses. A construção é típica da Idade Média, com uns toques de verde e rosa na capa, que conferem uma combinação bem legal até, como se tirássemos uma fotografia da montanha, ao pôr-do-sol. Por dentro, as páginas são impressas em papel pólen, o que facilita bastante a leitura.
Além disso, como a linguagem do Victor é bem fluida, mesmo quando as cenas dele são bem detalhadas, passa tão rápido, que nem se percebe o passar das páginas, além de que os capítulos são relativamente curtos. Sério, a história flui tão bem, que li o livro em apenas cinco dias! E só demorei tudo isso, pois estou fazendo uma leitura coletiva em paralelo, da qual também teremos resenha em breve. Se não fosse por isso, teria lido em muito menos tempo.
Agora, apenas um pequeno adendo, é que tem ainda alguns pequenos probleminhas de revisão nessa edição. Passaram alguns errinhos de digitação da metade em diante do livro, que chamam atenção, porém não atrapalham a leitura. A história nos é contada em terceira pessoa, o que nos dá uma visão sobre cada personagem, e temos liberdade para interpretação de cada um.
Apesar dos pontinhos que me incomodaram no decorrer da história, em momento algum eu perdi o fio da meada. A história tem muito potencial e te prende, especialmente se você é fão de literatura fantástica e mistério como eu. Super recomendo a leitura e dou nota máxima ao livro.
Para quem não conhece o autor:
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
“Victor Luís Nonato Visco nasceu em 7 de setembro de 1999. Começou a escrever as aventuras dos Deuses de Asdaria com 10 anos. Resolveu retomar a escrita anos depois, em 2018, concluindo o primeiro livro da trilogia ‘As crônicas de Asdaria’. Apaixonado por livros, jogos, filmes e por narrativas envolventes, também é um grande fã das Crônicas de Gelo e Fogo e da série de jogos Persona.”
O que acharam da resenha? Já tinham lido esse livro? Curtem literatura fantástica? Me contem aí!