23 de October de 2025

Às Vezes Minto | Alice Feeney

Olá meu povo, como estamos? ‘Às Vezes Minto’ é um suspense de Alice Feeney que ainda não foi lançado oficialmente no Brasil. No entanto, já consegui ler e hoje trago minhas impressões por aqui.

ALERTA: Este livro pode conter gatilhos de estupro e violência contra vulnerável.

Livro: Às Vezes Minto

Autoria: Alice Feeney

Tradução: Cristiana Bernardo Silva

Editora: Cultura

Ano: 2025

Páginas: 330

País: Inglaterra

Formato: Digital

Nota: 4/5

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O meu nome é Amber Reynolds. Precisam de saber três coisas a meu respeito:

1. Estou em coma
2. O meu marido já não me ama
3. Às vezes minto

Amber Reynolds acorda num hospital. Não consegue mover-se. Não consegue falar. Não consegue abrir os olhos. Ela consegue ouvir toda a gente à sua volta, mas os outros não o sabem.

Amber não se lembra do que lhe aconteceu, mas tem uma ligeira suspeita de que o marido tem algo que ver com o que se passou. Ou talvez a irmã dela. Ou talvez ambos.

Assustada e presa dentro do próprio corpo, ela começa lentamente a recordar-se da noite que lhe mudou a vida. Estará ela em coma devido a um acidente? Estará a irmã a ter um caso com o marido dela? O que será que, no trabalho, terá acontecido com o seu chefe absolutamente horrível? E quem será a pessoa que a visita secretamente, ficando aos pés da cama, todas as noites?

Às Vezes Minto é um thriller psicológico absolutamente brilhante, capaz de nos deixar a pensar se uma mentira é realmente uma mentira quando acreditarmos que é a verdade.

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

Amber Reynolds está em coma. Como e porque ela foi parar lá é um grande mistério. Enquanto a polícia investiga as poucas pistas disponíveis, a única pessoa que pode responder a diversas perguntas está lutando contra a morte e suas próprias memórias.

Ela quer nos contar o que aconteceu. Porém, às vezes ela mente. Então será que podemos confiar no que suas memórias nos falam?

Alice Feeney já teve dois títulos publicados aqui no Brasil (sendo que um deles está na minha TBR de Setembro/Outubro) pela Darkside. Contudo, muitos ainda estão pipocando lá fora, sem data para chegar em território nacional.

‘Às Vezes Minto’ é um desses que ainda estão lá na gringa, mas podemos ter acesso à história na versão lusitana, já comercializada pela Amazon (em versão impressa e digital). E eu, curiosa que sou, não poderia deixar de conferir e saber se vai valer o hype ou não.

Confesso que, embora seja o mesmo idioma, não gosto de ler romances em português de Portugal, por não entender metade dos termos e ter que recorrer ao dicionário. Contudo, conforme as páginas passam, eu acabei me acostumando e passei a entender a mensagem principal do livro.

A narrativa não-linear é apresentada em primeira pessoa, contada pela própria Amber. O que não seria ruim, se a moça não estivesse em coma e com memórias fragmentadas. Assim, temos que filtrar o que é real e o que são delírios de uma pessoa num mundo de sonhos confusos.

Com os capítulos alternados, vemos o que a moça está passando no presente (2016), mas também os fatos de anos atrás até o acidente (se é que foi acidente mesmo). Como primeiro contato com a escrita da autora, fui logo arrebatada pela narrativa fluida, que me fez devorar o livro em poucos dias.

Dessa forma, conhecemos a moça enquanto radialista numa rádio famosa da Inglaterra, cujo programa é campeão de audiência. Isso porque ele é comandado por Madeleine Frost, uma mulher já das antigas e muito forte no mercado.

Por onde a mulher passa, as pessoas só faltam lhe jogar o tapete vermelho e fazer reverências. Talvez por isso, Madeleine tenha muitas regalias, incluindo quem pode ou não trabalhar com ela.

Somos apenas fantasmas das pessoas que espéravamos ser e réplicas falsas das pessoas que desejávamos nos tornar.”

Esse comportamento pode ser muito bom, ou muito ruim, dependendo do ponto de vista, como Amber vai perceber bem de perto. A relação delas está na corda bamba e a mais nova sabe que se a dona do programa estalar os dedos, ela perde o emprego em segundos.

O clima fica cada vez mais pesado no escritório e Amber, que já havia saído da televisão por achar o ambiente tóxico, percebe que por trás da rádio não é lá muito diferente. No entanto, os boletos não escolhem dias bons para chegar e a moça precisa engolir muitos sapos se quiser manter sua vaga.

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

A situação em casa também não é das melhores. Vivendo um casamento que caiu na rotina, a radialista tenta fingir que está tudo bem com Paul. Contudo, tem a absoluta certeza de que está sendo traída e sempre arranja um jeito de fingir demência.

Sem falar com o marido, a solução é conversar com a irmã. Claire, por sua vez, foi a “filha que deu certo”. Seus pais nunca esconderam que a mais nova era a preferida e tudo que faz é aplaudido de pé.

Já Amber poderia ter ganhado o prêmio Nobel da Paz, que seus pais diriam que Claire teria feito melhor. Embora o clima tenha gerado um gosto azedo na relação das duas por anos, a verdade é que a irmã é a única parente na cidade, assim as duas mantêm proximidade, mesmo que com algumas farpas escondidas em conversas triviais.

Ainda tenho as minhas cicatrizes. O fato de serem internas não significa que não estejam lá.”

Conforme Amber vai encontrando memórias perdidas do passado, temos que filtrar o que é ilusão de uma mente confusa e que pode pregar peças. No entanto, elas são cruciais para entendermos porque a moça veio parar no hospital.

O que mais achei curioso foi ver que os fatos do passado são intercalados com lembranças bem mais antigas, que remontam à infância de Amber e Claire. Dessa forma, compreendemos como era essa relação familiar quando os pais ainda estavam presentes.

Porém, dá para entender perfeitamente as diversas peculiaridades das irmãs. Amber é amargurada, depressiva e tem TOC desde criança. Diversos comportamentos hoje são muito fortes e até irritantes, porém tudo tem um motivo bem convincente. Seus pais sempre deixaram claro que preferiam a irmã, perfeita em tudo que faz enquanto a primogênita seria um erro constante.

Por outro lado, Claire tem memórias maravilhosas de uma infância feliz e jamais entende porque a irmã nunca teve uma lembrança desse tipo. Isso mostra que, por mais que famílias tenham fotos cheias de sorrisos e estejam sempre alegres, a verdadeira relação está nos pequenos gestos.

Isso é bem detalhado nos diários, que mostram o quanto esse elo era bem tóxico nas entrelinhas e até triste. Não era à toa que Amber era uma pessoa cheia de feridas e assombrada pelo passado.

Mas foram exatamente esses relatos de 1992 que me deixaram com diversas pulgas atrás da orelha e já cheia de teorias. Será que o acidente da moça hoje tinha algo a ver com o que aconteceu tantos anos atrás? Será que as pessoas podem mudar mesmo?

Era o que eu me perguntava a cada fragmento não confiável da protagonista, além de ir conhecendo o que ela via de cada pessoa com quem convivia. Mudei de opinião sobre ela em diversos momentos, porém não estava preparada para a série de plots que me aguardava lá na frente.

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

A autora conseguiu criar uma história cheia de camadas, com verdades escondidas em tantas mentiras, que me alugaram um triplex na cabeça. Porém, nem tudo são flores. E foram exatamente essas verdades que renderam cenas perturbadoras (que ao meu ver, eram desnecessárias).

Eu achei interessante ver como ela escondeu a solução das perguntas até o último minuto. Conforme Amber ia se lembrando dos fatos, a gente montava o quebra-cabeças junto. O que me fez dar uma de detetive e gostei muito.

Há pessoas que aparentam felicidade por fora, mas só percebemos que estão despedaçadas por dentro se as ouvirmos tanto quanto as olharmos.”

Contudo, algumas soluções vieram com um gosto amargo na bagagem e eu me vi surpreendida com temas sensíveis, dos quais não fui avisada logo no começo. Não sei se os alertas de gatilho estão presentes apenas nos livros traduzidos aqui no Brasil, então não posso falar que foi falta de cuidado da editora.

Mas dar de cara com uma cena em tantos detalhes me deu uma sensação desconfortável, por não estar preparada. E o mais amargo foi ter isso e depois a autora não ter dado um motivo convincente para acontecer.

Sei que na vida real algumas coisas acontecem e não tem explicação. Mas num livro eu espero que façam sentido e não ver isso me fez pensar que talvez ela só quisesse causar e sair correndo. Isso acabou tirando alguns pontos da leitura.

Além disso, o final aberto é convidativo para diversas explicações na mente do leitor. Porém, do jeito como as coisas vinham acontecendo, acho que um final mais fechado se encaixaria melhor e daria a sensação de fofoca completa.

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

Apesar dos pesares, `Às Vezes Minto’ é um thriller viciante que ainda indico a leitura (se não tiver problemas em ler uma versão que não é nacional). No entanto, prepare seu estômago para algumas cenas fortes e não crie expectativas.

Falando sobre o livro em si, eu li em versão digital e posso falar que gostei da diagramação e da revisão (apesar de não poder julgar por não estar familiarizada com a gramática portuguesa). A capa é objetiva e já mostra o que iremos encontrar na história. Mas não é das minhas favoritas.

Agora me conta nos comentários: O que achou desse livro? Já leu algum outro da autora?

Texto revisado por Emerson Silva.

Postado por:

Hanna de Paiva

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