O Príncipe Rénine (Arsène Lupin?) está sempre em busca de aventuras, especialmente aquelas que desafiam a inteligência e a astúcia. Não poderia ser diferente com o que estava acontecendo à pobre Hortense Daniel. A jovem estava passando perrengues nas mãos de seu tio, vítima de um golpe financeiro bem intrincado e difícil de resolver.
Mas para Lupin nada é impossível e, de uma forma espetacular, ele recupera a fortuna da moça, que agora lhe tem uma dívida de gratidão. Apesar de nunca cobrar tais favores das pessoas que salva, o Ladrão
de Casaca dessa vez faz algo bem diferente.
Isso porque ele se apaixona pela moça à primeira vista e quer demonstrar seus sentimentos à moça. Porém, não fará da mesma forma que qualquer cavalheiro em sua posição. Afinal, seria fácil e sem graça demais.
Dessa forma, Rénine bola um plano brilhante para conquistar Hortense, ao mesmo tempo em que permite que a jovem o conheça mais de perto.
O acordo que trouxe a fortuna da moça de volta foi assinado ao som das oito badaladas de um relógio Halingre. Este momento, no entanto, também se tornou a oportunidade perfeita para Arsène, que propôs à sua amada um novo trato: A dívida de gratidão que ela tem pelo seu salvador seria paga conforme participasse de oito investigações que o Ladrão de Casaca liderasse.
Tais aventuras se darão ao longo de oito semanas e, na última, sob o som das novas oito badaladas do mesmo relógio Halingre, eles se despediriam e seguiriam seus respectivos caminhos. Hortense acha a proposta inusitada e aceita as aventuras, mas também tem um desafio para Lupin: encontrar uma joia de família há muito desaparecida, a qual deverá ser devolvida como forma de pagamento a ela no dia do encontro final.
No entanto, mais do que bens raros ou aventuras, eles poderão encontrar algo que há muito tempo não sentiam. Basta saber se estarão abertos para isso.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Que saudade eu senti de Arsène Lupin! Diante de outras leituras pesadas, ainda mais a que tive na última edição do 12 Livros (veja aqui o que achei de Alta Tensão), ver que o sorteado da vez era minha zona de conforto foi um respiro e tanto!
No entanto, apesar de ter sido uma ótima surpresa, a “parte ruim” foi que saí completamente da ordem de publicação das aventuras do Ladrão de Casaca. Isso porque ‘As Oito Badaladas’ é ambientado bem depois de várias outras aventuras do personagem (que ainda nem consegui adquirir), que se passam após ‘As Confissões’.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Dessa forma, o protagonista se transforma em algo que eu já tinha um vislumbre no último volume que tinha lido – mais voltado para um detetive do que um ladrão –, porém agora com uma veia sentimental que sempre tive curiosidade de ver. Não que Lupin nunca tenha se apaixonado em obras anteriores. Muito pelo contrário: ele sempre se mostrou um conquistador a la Don Juan, que deixa as mocinhas arriadas os quatro pneus por ele, sem se importar com isso.
Mas dessa vez o rapaz está de fato caidinho por Hortense e tem o objetivo de conquistar a moça, custe o que custar. E a forma como faz isso é genial: trazer a jovem para seu mundo, fazendo com que ela o
ajude a desvendar os mistérios e se apaixone não apenas por ele, mas por seu modo de vida também.
Confesso que achei um plano inusitado e, ao mesmo tempo, brilhante, bem a cara de Arsène fazer isso. Afinal, que graça teria cortejar a moça da forma como todo cavalheiro da época faria? Assim, os
dois partem em busca das oito aventuras, enquanto se conhecem um pouco mais em cada uma delas.
“- Isso é a vida – disse ele – . Quando se sabe como usar os olhos. A aventura existe em toda parte, no casebre humilde, sob a máscara do mais sábio dos homens. Em todos os lugares, basta você estar disposta e encontrará uma desculpa para a excitação, para fazer o bem, para salvar uma vítima, para acabar com a injustiça.”
Os mistérios são narrados em forma de contos que, dessa vez, precisam ser lidos em sequência, para poder entender melhor alguns detalhes – não apenas dos protagonistas em seu jogo de sedução, mas
também por conta de um mistério principal que se forma ao longo dos demais –.
Os casos investigados pela dupla são:
1. No Topo da Torre – Quando Hortense e Príncipe Rénine (Lupin) se conhecem e selam o acordo;
2. A Garrafa de Água – Um jovem jura inocência por um crime que o levou à prisão;
3. O Caso de Jean Louis – Uma moça está apaixonada pelo noivo, porém ele esconde segredos que valem a pena serem investigados;
4. O Filme dos Contos de Fada – Até onde a vida imita a arte, ou a arte imita a vida?
5. Thérèse e Germaine – Cuidado com o que deseja, pois pode conseguir;
6. A Senhora da Machadinha – Assassinatos em série chocam a cidade, por seu aspecto brutal;
7. Pegadas na Neve – Uma paixão avassaladora pode trazer consequências tristes;
8. O Sinal de Mercúrio – Até onde você iria para garantir sorte nos negócios?
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Todas histórias são muito bem elaboradas e é interessante ver a forma como Lupin se transformou em um ótimo detetive. Hortense, por sua vez, não fica atrás e faz um belo papel como ajudante.
A moça é uma aprendiz exemplar e logo tem os dotes de dedução tão afiados quanto seu
mentor, garantindo resoluções impressionantes e que me faziam de trouxa a cada
virada de página.
Além disso, conforme trabalhavam juntos, eles se conheciam e interagiam mais. O que também dava espaço para o jogo de sedução que Arsène planejou desde o início. É interessante ver como a moça responde à altura e eles tem uma boa química em todos os sentidos.
Se a dupla vai continuar nos volumes seguintes, não sei, mas bem que gostaria de ver a jovem aparecendo para dar pitaco em alguma aventura depois (rsrsrs). Em relação aos contos que li neste livro, os que mais gostei foram os da ‘Senhora da Machadinha’ e ‘O Sinal de Mercúrio’.
“- Minha aluna não me dá nenhum crédito hoje em dia. Porque aqui está uma história perfeitamente simples, desdobrada diante de seus olhos.”
Enquanto um beirava os clássicos de Allan Poe, dado o requinte de crueldade (algo que jamais pensei ser possível nas obras de Leblanc), o outro tinha um toque dos primeiros casos de Lupin, trazendo aquela
nostalgia do Ladrão de Casaca fazendo justiça da sua própria forma e se dando bem de uma forma espetacular. Embora sempre tenha lido as aventuras do personagem bem rápido – afinal, é minha zona de conforto –, confesso que essa eu li depressa. A escrita do autor está mais fluida e direta, o que ajudou bastante na experiência.
Porém, pude ver um Lupin mais amadurecido e ciente do que deseja, que buscava aventura pelo prazer de viver bem a vida e aguçar ainda mais seu intelecto, fazendo justiça a quem precisava durante o processo.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
O desfecho, assim como toda a trama, é crível, apaixonante e digno. As pontas foram bem amarradas, dando sentido a todas as aventuras e fechei o livro com um sorriso bobo no rosto, imaginando o que mais Lupin e Hortense iriam viver dali em diante.
Falando sobre o livro em si, a edição da Principis é bem baratinha, porém objetiva. A capa segue o padrão dos volumes anteriores, trazendo o protagonista de perfil, com alguns elementos que vemos na história, como o relógio e a própria Hortense.
A diagramação e a revisão estão de parabéns, assim como a fonte legível e as páginas mais grossinhas e amareladas,
facilitando (e muito) a experiência de leitura. Em resumo, apesar de ter dito que pulei diversos volumes, ainda é uma obra que pode ser lida de maneira independente. Além disso, recomendo demais, especialmente se procura uma leitura leve e rápida para um final de semana tranquilo em casa.
Juliana Ferreira
Sou doida para ler esta série, depois da sua resenha com certeza vou procurar os livros e ler, parecem ser do jeitinho que amo
Beijos
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