Por conta desse tráfego constante de pessoas, mercadorias ilegais passam junto com as bagagens, e é trabalho de Jazz Bashara receber os pacotes e entregar para quem estiver disposto a pagar seu preço.
Devido sua forma peculiar de trabalho, a mocinha é a contrabandista mais famosa e requisitada em Artemis. No entanto, viver só disso não paga todas as contas e ela vive passando aperto no fim do mês.
Quando Trond Landvik, um de seus clientes mais antigos, oferece-lhe uma quantia exorbitante por um serviço escuso, ela nem pensa duas vezes antes de aceitar. Porém, o que parecia ser apenas um serviço corriqueiro se tornou um imenso esquema de corrupção e conspiração, que pode custar vidas — inclusive a dela.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Tenho esse livro na estante desde 2019, quando encontrei na Bienal do Livro. Fui atraída pela capa simples e, ao mesmo tempo, elegante (me julguem!) e trouxe para casa.
Lembro que até minha mãe foi atraída pelo mesmo motivo, simplesmente tomou da minha mão quando mostrei as compras do evento (rsrsrs) e só me entregou depois que leu. Ela, a pessoa que mais odeia scifi na face da Terra, disse que o livro se resumia com um “Fantástico!”.
Depois disso, fiquei bastante curiosa para conferir. Mas 2019 foi um ano muito cansativo para mim, não dei conta de quase nada e as leituras ficaram em segundo plano. Desde então, ele estava encalhado na estante. Pela segunda vez colocado em votação para o ‘12 Livros’, fiquei muito feliz quando finalmente foi escolhido (mas acho que leria de teimosia esse ano mesmo, rsrs).
‘Artemis’ é do mesmo autor de ‘Perdido em Marte’, que possui adaptação para o cinema. No entanto, não sabia o que esperar do livro em si. As expectativas ficaram mais altas quando minha mãe curtiu o livro também. E elas foram alcançadas, pois concordo em dizer que ele é fantástico… até a página 2.
Para começar, a protagonista é totalmente fora do padrão: baixinha, quase na casa dos 30, árabe, e de família muçulmana. Criada somente pelo pai, ela é extremamente inteligente e tem um talento ímpar para engenharia.
Porém, como qualquer adolescente que acha que é o dono do mundo, Jazz e o pai não tem uma relação muito boa e se afastaram. Suas escolhas a levam para uma vida estável, porém não do jeito que ela gostaria.
Aos poucos, vemos como Artemis funciona de dentro. Da Terra, a conquista da Lua pode ser um avanço da ciência, mas visto lá de cima, as coisas não são bem assim.
A colônia super avançada pode ser uma obra da Terra; entretanto, não obedece a jurisdição de nenhum país, muito menos tem uma constituição própria. Por isso, várias coisas são permitidas, contanto que não causem incêndios. Vendo nisso uma oportunidade, Jazz acaba fazendo seu nome como contrabandista, tornando-se uma das melhores.
A tecnologia pode ser avançada para estabelecer um padrão de vida possível fora do planeta. Assim, é
notável o quanto podemos evoluir em conhecimento, só que certas coisas nunca mudam, a não ser de endereço.
“É importante variar as palavras. Se você usa a mesma com muita frequência ela perde a força.”
Com seu humor sarcástico e inteligência sem igual, Jazz vai ter que se virar nos 30 para sair da enrascada que se meteu quando aceitou o trabalho oferecido por Trond Landvik. É aqui que o scifi dá lugar ao thriller com toques de noir, que conheci há pouco tempo, mas já me tornei fã.
A trama ficou muito bem amarrada, com começo, meio e fim bem nítidos, sem deixar pontas soltas. Como a trama se passa na Lua, muitas coisas que acontecem lá seriam impossíveis de acontecer na Terra, já que temos o pequeno detalhe (sqn) da gravidade.
O autor teve todo o cuidado de explicar conceitos de Física e Química em uma narrativa tão simples e objetiva, que mais parecia conversa de bar. Até quem não tem muito tato para ciência, certamente não teria dificuldades em entender os acontecimentos na cena, uma sacada genial e capaz de manter a leitura rápida e com foco onde realmente devia.
Outro fato que me chamou atenção foi a escolha criativa para os personagens secundários. Desde o início já sabemos que tem pessoas de várias nacionalidades na colônia. Porém, achei interessante que, em momento algum, o autor meteu os Estados Unidos na trama, como era de se esperar.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
A NASA não teve vez aqui. Artemis foi idealizada por iniciativa de um país não muito lembrado quando se fala de avanços tecnológicos, Quênia. Logo, quem faz as vezes de prefeita é Ngugi, uma mulher negra e poderosa, com talento para Economia, Política e Ciência.
Além disso, boa parte da história gira em torno da Alumínio Sanchez, a única empresa que conseguiu pôr os pés em solo lunar. Quem comanda o monopólio é Loretta Sanchez, outra mulher poderosa, uma química fenomenal e brasileira, natural de Manaus!
Três mulheres extremamente inteligentes, de nacionalidades muitas vezes esquecidas em livros desse tipo e ainda em papéis de destaque. Sei que tudo é possível no mundo da literatura, mas uma combinação dessas, criada pela mente de um autor estadunidense é de espantar qualquer um.
Percebi também que ele explorou o lado ruim dos países, mas a forma como fez isso foi impressionante. China, Brasil, Noruega, Suécia… todo país tem um lado muito bonito e exemplar, e também tem um lado podre. Todos podem aflorar quando reunidos numa terra sem lei, como Artemis.
“Ei, se quiser segurança, não more na Lua.”
Além disso, a narrativa em primeira pessoa, pelo ponto de vista de Jazz, deixou a leitura mais fluida e até divertida em alguns momentos. Ela e o pai tiveram suas faíscas, mas ainda são uma família.
Além disso, a vida se encarregou de ensinar umas lições para ela, mesmo bem jovem.
O humor ácido é sua válvula de escape. O que parece irresponsabilidade e
rebeldia fora de hora é, na verdade, sua defesa. Mesmo que não sejam ações lá muito bonitas, é como ela aprendeu a lidar com certas situações e a deixa mais perto da realidade.
Isso deu um toque especial na narrativa, que me fez torcer pela protagonista em alguns momentos. O desfecho, felizmente, é digno. Nenhuma ponta ficou solta e tudo foi revelado no momento certo.
Com ‘Artemis’, eu gargalhei, tive raiva e xinguei junto com a Jazz (especialmente aprendi palavrões novos, rsrs). Foi uma leitura rápida e impressionante, porém, todavia, entretanto, não posso deixar algumas coisas passarem batido. Eu gostei bastante da leitura? Gostei.
Mas me incomodei com algumas atitudes de Jazz, que deixavam claro os pensamentos machistas do autor aflorarem, disfarçados de piadas. Especialmente a parte em ela “dá um manual sobre como se vestir para ser uma puta”.
Vi alguns comentários também falando sobre o nome da personagem brasileira, que soava como uma gafe. Sinceramente, nesse ponto eu não sei se concordo, pois conheço várias pessoas que tem nome estrangeiro e são meus vizinhos, nascidos e criados no Rio de Janeiro. O meu próprio nome não é nacional.
Então, ter uma personagem brasileira chamada Loretta Sanchez não me foi um espanto. Porém, concordo que, um leitor de fora daqui vai achar que todos nós temos sobrenome que lembrem qualquer país, menos o próprio Brasil.
Além disso, o autor começa com uma “máfia latina”, e no parágrafo seguinte me joga que o povo “vem do Brasil”, como se a América Latina se resumisse unica e exclusivamente ao Brasil. Depois de tanta coisa que já passamos, é incômodo ver que ainda somos jogados todos num balaio de gatos e o autor não teve o mínimo de pesquisa sobre o país que queria colocar na trama.
Falando sobre o livro em si, a edição é simples, porém decente. Tem uma diagramação objetiva, sem muitas firulas e uma fonte legível. A revisão está perfeita, assim como a impressão, em papel pólen — o meu queridinho. A capa, como falei no início, é simples, porém elegante.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
O título e o nome do autor estão em destaque com fonte prata, e a Lua no centro tem uma textura interessante, parecendo que estamos alisando uma rocha mesmo. Resumindo, ‘Artemis’ é uma leitura fantástica, se considerar apenas o scifi. Mas não espere algo além disso.
Cida
Oi Hanna! Eu leio bem pouco scifi, mas tenho bastante curiosidade de conhecer a escrita deste autor. Eu nem lembrava desse livro dele lançado aqui, mas achei interessante. Ainda assim, quero antes ler Perdido em Marte. Bjos!! Cida
Moonlight Books
MaeLiteratura
Oi Hanna
Fiquei curiosa para ler este livro. Também achei a capa bonita.
Que interessante que sua mãe leu primeiro, por aqui também revezamos as leituras 🙂
Pena que não foi tudo que você esperava, mas muitas leituras acabam assim, né?
Beijos
Claudia
Luciano Otaciano
Oi, Hanna. Como vai? Adoro o gênero. Este aí parece-me ser bom, embora não pareça ser surpreendente. Adorei sua resenha, viu. Abraço!
https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Sil
Olá, Hanna.
Eu sou uma negação nesse gênero, então não sei se leria ele. Mas achei o enredo muito interessante. E o que mais conheço é gente brasileira com nome estrangeiro hehe. Que bom que a leitura desse mês foi proveitosa. Eu já li As Viúvas, que é o livro do mês que vem e gostei muito.
Prefácio
Adriana Leandro
Oi Hanna.
Eu achei a capa do livro tão linda que compraria se a visse.
A história parece boa. É bom ver personagens femininas com destaque.
Eu sempre digo que nomes brasileiros são nomes indígenas. Se o nome não for de origem indígena veio de algum lugar do mundo e não é brasileiro. O que mais temos aqui são nomes estrangeiros.
Bjus!
galerafashion.com
Hanna Carolina Lins
Pois é, é um bom livro até a página 2… rs
Hanna Carolina Lins
Oi Clauo, minha mãe me surpreende de vez em quando com as leituras, haha. Mas acho legal revezar também. E pois é, a leitura acabou não saindo muito como eu esperava, mas vida que segue…
Hanna Carolina Lins
Espero que Perdido em Marte seja melhor do que esse. Vamos torcer, né? haha
Hanna Carolina Lins
Pois é, nem dá para julgar muito com relação ao nome estrangeiro, haha.
Estou com expectativas sobre As Viúvas, tomara que sejam alcançadas. =)
Hanna Carolina Lins
Bem vinda ao meu mundo, hehe. Concordo, até os nomes mais comuns são estrangeiros, dá nem para reclamar, né?