Asdaria não está em seus melhores dias. O último ataque a La’Vosh deu errado e as coisas ficaram bem complicadas para os cidadãos de Ny’im, em especial os Semideuses.
Oriedsa continua desaparecido e Asdeiro se culpa por não ter protegido seu irmão todos os dias. Sua decepção só aumenta ao perceber que os Deuses nem se preocupam muito com o fato, pois agem como se Oriedsa fosse apenas mais um na lista de baixas.
Por mais que Asdeiro questione, Andrestia ignora e age como se um de seus filhos jamais tivesse sequer existido, tamanha frieza. Para completar, a Deusa do Equilíbrio continua pregando que o mundo deles é perfeito e precisam vencer os vilões (Sombrios) que vem para dominar o mundo e acabar com a perfeição.
Cada vez mais revoltado e com certeza absoluta de que o irmão está vivo, o Semideus do Equilíbrio toma suas próprias atitudes e vai atrás do irmão, encarando quase uma missão suicida. A única que parece lhe dar ouvidos é Asarina, embora tenha motivos muito mais egoístas por trás do que apenas seguir o namorado e ajudar a resgatar Oriedsa.
A Semideusa sempre teve o espírito de competição e odeia perder. O que está acontecendo com frequência, especialmente depois de várias atitudes imaturas e sem planejamento, que culminaram numa discussão pesada com seu irmão Lucius, o outro candidato a ascender ao Aspecto da Ordem.
Sem querer aceitar a ideia de que será sempre a segunda na linha de sucessão, a mocinha parte em missão com Asdeiro, somente para provar para o mundo que é digna de ser uma Deusa da Ordem, nem que precise morrer para isso.
Enquanto o casal sai em sua missão particular, Hadvar, Lucius e Laura tem outros planos. Revoltados com as atitudes de Asdeiro e Asrina, que estão sendo movidos mais pela emoção do que pela cabeça, eles decidem obedecer aos Deuses e se organizam para defender o povo de Ny’im contra as represálias dos Sombrios, depois do ataque a La’Vosh.
Gunthor, ao contrário do que todos esperavam, decide liderar o grupo. Com a desculpa de que ainda precisa treinar Laura para desenvolver o Aspecto da Luz, ele segue com os Semideuses e humanos na guerra. Mas a verdade por trás dessa decisão é ainda mais sombria e profunda do que todos imaginam, especialmente quando chegam na cidade alvo.
Enquanto isso, La’Vosh está passando por uma revolução própria. A cidade tenta sobreviver às próprias reviravoltas políticas e religiosas, que parecem durar séculos e não tem hora para acabar. Além disso, precisam se organizar e se proteger. Afinal, aquele não foi o último ataque de Ny’im e sacrifícios precisam ser feitos se quiserem derrotar os Deuses de vez.
“Todos perdemos algo com as guerras!”
É incrível como o tempo voa. Li ‘Dois Irmãos’ em 2019, enquanto o Victor escrevia a continuação,
publicada em 2021. Apesar de ficar imensamente feliz em ser convidada a ler a sequência e ter algumas das tão esperadas respostas, tive bastante receio que esse intervalo influenciasse de alguma forma na experiência.
Afinal, depois de dois anos, provavelmente eu esqueceria de muitos detalhes e talvez não tivesse a emoção que tive da primeira vez. Mas, ao ler ‘O Despertar das Sombras’, tive duas gratas surpresas. A primeira foi que, em vez de uma trilogia, ‘As Crônicas de Asdaria’ será uma série, em especial por que o segundo volume foi dividido em dois (Despertar das Sombras I eII).
Em segundo lugar, mesmo depois de um tempo considerável, a escrita fluida e envolvente do autor me levou facilmente de volta às terras de Asdaria e à companhia dos Semideuses a quem tanto me afeiçoei. Assim, não foi difícil me ambientar no cenário da guerra entre Deuses e Sombrios.
Confesso que, por mais que tenha gostado do desenvolvimento do casal Asdeiro e Asarina no volume anterior, não tinha muita expectativa com eles. Especialmente por me parecer um par muito meloso e alheio a muita coisa que acontecia ao redor deles. Isso poderia ser um risco, já que poderia dar um viés de contos de fadas com “final feliz” numa história que não pedia isso.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Fiquei preocupada vendo esse desenrolar, pois achei que veria a “maldição do segundo volume” se concretizar, enquanto os personagens ficariam se martirizando por coisas do passado e iriam se manter em mais um episódio de “meu mundo caiu”. Mas, felizmente, fui totalmente enganada. A verdade é que todos os Semideuses foram criados praticamente numa redoma, onde só valia a palavra dos seus pais.
Assim, o mundo dos Deuses era lindo, de paz e muito amor, e os Sombrios seriam a Bruxa Má. Porém, depois que foram enviados para a batalha como verdadeiros peões, que poderiam ser sacrificados na linha de frente, as coisas mudaram um pouco de figura. Depois das descobertas que fizeram, Asdeiro acorda para a vida e se revolta diante das atitudes de Andrestia.
Mesmo não tendo desenvolvido o Aspecto do Equilíbrio o suficiente, ele decide salvar o dia sozinho. Só que suas atitudes ainda são bastante imaturas e perigosas, o que faz dele mais um adolescente rebelde e justiceiro do que um herói.
Já Asarina leva as coisas muito a ferro e fogo. Essa sede egoísta de provar, não para si mesma, mas para o mundo, que é uma grande Semideusa e perfeita candidata ao Aspecto da Ordem está lhe deixando cega de raiva, especialmente depois da discussão com Lucius.
“Acredite em mim, mortal, nada é mais similar a um Semideus
do Caos quanto um Semideus da Ordem desesperado.”
Asdeiro e Asarina realmente combinam e se completam. Eles são dois jovens inconsequentes e revoltados com o mundo, que juntaram suas forças e saíram pelo mundo em busca de respostas para seus dramas egoístas. E casal que se revolta junto, felizmente amadurece junto.
Isso porque eles viram que não é nada fácil salvar o mundo sozinhos e tem um choque de realidade na próxima esquina. O que é assustador a princípio, mas sinceramente, eles precisavam acordar para vida.
Eis que a missão para resgatar Oriedsa acabou se tornando uma jornada mais filosófica e de grandes aprendizados para os dois, que felizmente, prestaram atenção nas aulas. E, se já tinham acordado um pouco depois das últimas brigas com os Deuses, agora posso dizer que eles despertaram e estão levantando da cama.
Nem preciso dizer o quanto estou curiosa e ansiosa para saber mais sobre as descobertas que andaram fazendo, em especial sobre o mundo antes dos seus pais se dizerem os donos, literalmente. E o que dizer de Gunthor?! Confesso que passei muita raiva com esse fulano no primeiro volume, mas agora estou “fazendo as pazes” com ele.
O mago negro tem um jeito peculiar com as coisas, especialmente porque foi o primeiro a perceber que tinha algo de errado dentro do Palácio e não tem medo de afirmar que sabe o que os Deuses fizeram no verão passado. Por conta disso, ele é sempre tido como o rebelde, o que só quer ver o circo pegando fogo. Mas em ‘O Despertar das Sombras’, podemos acompanhar um pouco do que se passa pelo ângulo do Semideus do Caos.
Gunthor é um rapaz extremamente inteligente e cheio de segredos, muitos dos quais explicam sua personalidade mais reclusa. Se antes eu via o caótico como uma espécie de vilão e não gostava dele, agora não consigo mais julgá-lo.
Não apenas pelas suas origens, Gunthor tem muitos fantasmas do passado e está arcando com as consequências de suas ações da pior forma possível. E ele está chegando ao seu limite, conforme a guerra avança. Sendo assim, estou começando a enxergá-lo mais como um personagem incompreendido do que malvado. Ainda não posso dizer que torço por ele, mas classifico como o “vilão” que ganha os holofotes e você acaba torcendo por ele de alguma forma.
“Parecia que até mesmo a natureza estava debochando das suas derrotas.”
Laura e Hadvar também ganham um pouco mais de presença dessa vez. Enquanto Hadvar está se tornando um ótimo soldado e amigo de valor, Laura está, literalmente, crescendo e aparecendo. Agora chamada de Deusa da Luz, a menina parece estar mais amadurecida e lida muito bem com várias situações, especialmente no campo de batalha.
Por causa disso, às vezes até esqueço que ainda é uma criança de 10 anos. Apesar de achar estranho que ela entenda tanta coisa “de adulto”, preciso levar em consideração que a menina tem um poder desconhecido até para Gunthor. Talvez isso explique o fato de Laura lidar bem com o salto de duplo twist carpado duas vezes que sua vida dá quase todos os dias.
Se no volume anterior os Sombrios eram apenas mencionados, agora eles também são o centro de muitos acontecimentos importantes. Os cidadãos de La’Vosh são um povo relativamente antigo e tem uma história muito interessante, especialmente em relação aos Deuses, que agora entendo e compartilho do ranço.
O líder da cidade é conhecido apenas como o Mascarado e tem uma filha chamada Selenia. Ao contrário do que acontece em Ny’im, Selenia foi criada já sabendo da realidade do mundo. Por conta disso, a moça é extremamente perspicaz e tem personalidade forte. Então, não é qualquer coisinha que a faz baixar a cabeça.
Na verdade, vi muito da Mulher-Gato em Selenia e confesso que até gostei. Não apenas ela, mas a própria La’Vosh tem toques de Gotham City, que muito me chamou atenção e combinou perfeitamente com a trama.
No entanto, prega um ideal de “paz e progresso” que engana muitas pessoas. Além disso, a cidade pode não ter Deuses que a protegem, mas se guiam por tudo que o Mascarado dita e só faltam dizer “amém”. Alguma semelhança com a realidade? Isso dá margem para corrupção deslavada, escândalos políticos, violência e desigualdade social, além de vários atos de intolerância religiosa e discriminação social.
Enquanto o Mascarado vive em sua redoma de ilusões e dizendo que seu único inimigo é Ny’im, a cidade está passando por uma revolução, liderada por vários grupos que buscam derrubar o ditador e trazer paz e justiça de verdade a La’Vosh. Mas suas atitudes, embora sejam muito bonitas olhando de longe, de perto, podem esconder mais e mais segredos, que nem o povo de Ny’im espera.
“Quando a revolução chegasse, sobraria o suficiente da cidade para que ela fosse governada?”
Com muitas cenas de “tiro, porrada e bomba”, politicagem e redes de segredos em ambas as cidades, é impossível desgrudar da leitura até a última página. Apesar de ter amarrado algumas pontas deixadas em ‘Dois Irmãos’, ‘O Despertar das Sombras I’ veio com o intuito de trazer mais lenha para colocar na fogueira e derrubar máscaras.
Além disso, vendo as coisas pelo ângulo de La’Vosh, vejo que toda história tem três lados: o que cada cidade conta e a verdade. Os Sombrios são pessoas que só querem ter condições melhores. Mas só tomam porradas da vida e estão reagindo como podem.
Os Deuses pregam um mundo de amor e paz. No entanto, podem ser tão ruins quanto dizem que os próprios Sombrios são. Todo mundo mente, todo mundo pode ser um traidor, não importa de que lado da moeda esteja.
E é preciso enxergar nas entrelinhas se não quiser ficar no meio do fogo cruzado, que já dura séculos e parece nunca ter fim. Vendo as coisas narradas em terceira pessoa, foi interessante ver o desenrolar de parte dessa teia de segredos e o quanto ela ainda pode ser mais enrolada, sem ficar enviesado.
Além disso, La’Vosh se parece tanto com várias cidades reais, que é impossível não ler as cenas e imaginar várias notícias que saíram no jornal nos últimos tempos, em especial sobre o cenário político.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Isso deu margem para tantas críticas, e foi tapa na cara atrás de tapa na cara, fazendo o leitor se questionar diversas vezes sobre as atitudes dos personagens diante de algumas situações. Por várias vezes fiquei me perguntando o que eu faria se estivesse no lugar de algum deles. Talvez por isso não consegui julgar suas atitudes, mesmo quando não concordava com os ideais.
E aqui me pergunto: será que temos heróis de verdade nessa trama? Ou apenas um bando de justiceiros brigando com outros justiceiros e tem uns alienados no meio do caminho? Apesar de me levar a esses questionamentos, em momento algum a leitura se tornou densa. Muito pelo contrário.
O autor manteve a escrita super fluida, com foco onde deveria estar e as críticas acabaram se encaixando com uma maestria impressionante. Além disso, me senti totalmente imersa na trama, talvez por isso eu tenha voltado tão facilmente para Asdaria.
Aqui, consegui me ver nas cenas junto dos personagens, independente do cenário. E posso dizer que foi um misto de emoções. Com ‘O Despertar das Sombas I’, eu lutei, fiquei com muita raiva, criei ranço, fiz as pazes com alguns personagens, torci e até me peguei sorrindo feito uma boba diante de algumas cenas.
Apesar de parecer uma desvantagem ter um intervalo grande entre os volumes, posso dizer que esse foi um ponto positivo. Existe uma diferença visível logo nas primeiras páginas de ‘O Despertar das Sombras’, onde vi um autor mais amadurecido em sua escrita, com personagens que amadureceram junto.
E isso é um ponto super positivo, porém talvez eu não tivesse notado, se tivesse emendado uma leitura na outra. Além disso, posso dizer que o Victor ganhou uma fã, que quer ler até a lista de compras que ele fizer (rsrsrs).
Falando sobre o livro em si, a editora caprichou bastante nessa edição. Dessa vez, a capa mostra a entrada de La’Vosh, o centro das atenções. Gostei também por, logo no começo, temos um mapa com os cenários das batalhas, assim fica bem fácil de se guiar e imaginar as cenas.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
A diagramação segue o padrão do primeiro volume, mas reparei que existem alguns erros de digitação ao longo do texto. Não me atrapalhou durante a leitura, mas pode ser incômodo para algumas pessoas e fica o toque para as próximas edições.
As páginas são amareladinhas e a fonte legível, o que deixou a experiência de leitura super confortável. Juntando tudo isso, acho que nem preciso dizer que o livro leva nota máxima e conseguiu ser um dos favoritos de 2022 e estou bem ansiosa para conferir a segunda parte de ‘O Despertar das Sombras’.
Já leram alguma obra do autor? E já se surpreenderam com as mudanças em uma sequência de livros? Me contem aí!
Leyanne
Oie, acho bem legal quando o livro me dá esse misto de sentimentos haha, a obra tem uma proposta cativante.
Bjs
Imersão Literária
Alessandra Salvia
Oi Hanna!
Eu não conhecia o autor, nem o livro, mas dá para sentir sua empolgação!
Uma das melhores leituras do ano? UAU!!!!!
beeeijos
http://estante-da-ale.blogspot.com/
Hanna Carolina Lins
Sim, é maravilhoso! =)
Hanna Carolina Lins
Que bom! hahahah
E sim, foi uma das melhores, e olha que o ano apenas começou, =)
Sil
Olá, Hanna.
Acho que uma das melhores coisas que pode acontecer é quando a gente percebe a evolução do autor de um livro para o outro. É gratificante. Fiquei um pouco perdida no enredo por conta de tantos nomes diferentes, mas que bom que o livro ficou a altura do que você esperava e espero que os próximos sejam tão bons quanto.
Prefácio
Hanna Carolina Lins
Sim, é maravilhoso poder participar dessa evolução também, né? Acompanhando os livros dele ao longo do tempo =) E sim, tem bastante personagem e até que fiquei perdida na hora de escrever a resenha, mas saiu… hahaha