29 de July de 2021

Ciranda de pedra | Lygia Fagundes

 Olá meu povo, como estamos? Hoje temos a resenha de um livro que li em leitura coletiva, com a Babi Bueno do Meu mundinho quase perfeito. Se não fosse por ela, talvez eu realmente nunca lesse esse livro, já que saiu totalmente da minha zona de conforto, que foi Ciranda de pedra, de Lygia Fagundes Telles.
Ciranda de pedra | Lygia Fagundes
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

39/24
Livro: Ciranda de pedra
Autora: Lygia Fagundes Telles
Editora: Companhia das Letras
 
Ano: 2009 (Original em 1954)
Páginas: 224
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Quando um casal de classe média se separa, a caçula, Virgínia, é a única das três filhas que vai morar com a mãe. É do ponto de vista dessa menina deslocada e solitária que se narram os dramas ocultos sob a superfície polida da família.
Loucura, traição e morte são as forças perversas que animam esse singular romance de formação, que já na época de seu lançamento, em 1954, chamou a atenção para o talento e a originalidade da literatura de Lygia Fagundes Telles.
Saudado com entusiasmo por intelectuais como Antonio Candido, Paulo Rónai, Otto Maria Carpeaux e Carlos Drummond de Andrade, Ciranda de Pedra mantém-se há meio século como um dos livros mais amados da autora. Sua popularidade é tão grande que rendeu duas telenovelas da Rede Globo, uma em 1981 e a outra em 2008.

 

Ciranda de pedra | Lygia Fagundes Telles

 

 Virgínia é uma menina, a mais nova de três irmãs, mas já passou por momentos bem conturbados. Ela vive com sua mãe, Laura, e o tio Daniel. Sua infância foi marcada por uma situação bem difícil, já que sua mãe é muito doente e seu pai mal a olha, assim como suas irmãs. 
   
Tudo gira em torno da presença do tio Daniel, que parece ter sido o pivô dos acontecimentos que culminaram na separação de Laura e Natércio. Virgínia então apenas observa os acontecimentos, tentando entender o que está acontecendo ao seu redor e o motivo de ser tudo como é. 
 

 

“Depois de tanto tempo, por maior que seja o desligamento, a gente sempre se impressiona um pouco.”

 

 
 
Fui convidada pela Babi para participar da leitura coletiva desse livro, que até então eu nem sabia que existia, pois conhecia apenas a novela e de nome. Eu confesso que demorei bastante para engatar nessa leitura, por conta da escrita mesmo da autora, que é bastante arrastada. 
   
E o que piorou foi porque a primeira parte é bem confusa, exatamente retratando a confusão que havia na mente de Laura, mãe de Virgínia. Como fui apresentada a eles diretamente, sem uma explicação, já que, mesmo em terceira pessoa, eu via os fatos pelos olhos de criança de Virgínia, ficou algo bem difícil de me conectar no início. 
   
Por isso, pensei seriamente em abandonar a leitura. Só não fiz isso, pois era leitura coletiva e eu ia encarar o desafio. Depois de um tempo, resolvi dar uma outra chance ao livro, lendo novamente do começo, mas dessa vez, já fui sabendo desse detalhe de Laura. 
 
Aí foi que a leitura engatou e consegui dar conta de terminar em dois dias, o que muito me surpreendeu, já que a leitura continuou arrastada mesmo assim. Talvez tenha sido mais rápida por ter diálogos mais fluidos para compensar, o que acabou dando um ponto de equilíbrio no final. 
   
O livro é dividido em duas partes. Nas duas, temos os fatos vistos pelos olhos de Virgínia, mas na primeira ela é criança e na segunda já é uma jovem adulta. Na primeira parte, confesso que fiquei com dó da Virgínia, pois já tão nova e sentia o peso de ter uma família que a rejeitava, ainda que de maneira sutil. 
   
Seu pai, Natércio, mal a olhava. Apenas pagava suas despesas e carinho que é bom, nada. Suas irmãs mais velhas, Otávia e Bruna, mesma coisa. Falavam com a pobrezinha apenas por educação, mas era nítido que não gostavam muito dela. 
   
Mas porque faziam isso com ela? Porque era mais nova? Porque era a única que morava com a mãe, enquanto as outras se mandaram para viver com o pai? São várias perguntas que se passam na cabeça da menininha, que sabe na pele o que significa rejeição. Anos se passam e temos depois uma Virgínia de 20 anos, que voltou para casa depois de um bom tempo fora. 

 

“[…] Mortos e vivos, estão todos por aí completamente soltos.”

 

 
Ela sabe do que passou nas mãos dos seus parentes, mas, mesmo sabendo que era melhor se manter à distância, o sangue falava mais alto e é quase impossível não querer ver tudo de perto de novo. Com olhos de uma jovem adulta, Virgínia tem que encarar diversos fantasmas do seu passado, além de uma família atual, cheia de problemas e planos, que milagrosamente, agora querem lhe envolver, ainda que de maneira torta. 
   
Vamos acompanhando de perto das descobertas de Virgínia, seu crescimento e decisões, o que gostei, já que temos até o comparativo dela quando criança e depois. Mas sua família é, literalmente, um caso de novela. Pois foi exatamente assim que me senti enquanto lia.    
   
O livro todo tem várias mensagens sobre o valor da família e o quanto ele pode ser distorcido, disfarçado de bons costumes. Apesar das mensagens, eu não consegui me prender a nenhum personagem, nem à própria Virgínia. Mesmo que ela volte já crescida, é nítido que ela ainda tem um olhar infantil sobre muitas coisas, o que me incomodou em diversos momentos.   
 
 
“[…] Pois é preciso amar o inútil porque no inútil está a Beleza.”
 
 
 Já suas irmãs, Bruna e Otávia, mostraram bem o significado de traição, hipocrisia e irresponsabilidade, de uma maneira que me deu até agonia. Mas, no fim das contas, se for parar para pensar, vendo de perto nenhuma família é 100% perfeita. Sempre vai ter aquele mais desgarrado, o mais festeiro, o mais fofoqueiro… Mas no fim são todos família.  
   
Natércio também não fica atrás. Ele e Virgínia tem um laço bem estranho. Ele tenta ser um pai, mas não consegue, já que Virgínia o lembra sempre de Laura. Aos poucos, vamos nos tornando próximos dessa relação tortuosa deles dois e entendendo o motivo de Virgínia sempre ficar tão longe de tudo e de todos. 
   
Não apenas os personagens principais, mas também os secundários são extremamente rasos e não consegui me conectar de maneira alguma. E a chegada de Virgínia, já grande, parece apenas deixá-los mais fúteis e mesquinhos. Tudo gira em torno de mentiras, atitudes imaturas e egoístas, que só reforçaram que eram uma família de classe média alta, que se preocupava apenas com coisas momentâneas e não queriam saber muito de criar laços de verdade. 
O que me deu pena, pois não faziam nada pra mudar, estava tão confortável que era melhor deixar a situação como está. E quem ficava perdida naquilo tudo era Virgínia que, mesmo de longe, ainda se sentia rejeitada pela própria família, embora parecesse o contrário num primeiro momento. E é triste ver o quanto uma criança pode ficar pagando a vida inteira por coisas que seus pais cometeram, não ela. 
 
 
Ciranda de pedra | Lygia Fagundes Telles
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna

 

 
 
Só me fez ficar ainda com mais raiva da família toda e se eu pudesse, entrava no livro e dava na cara de cada personagem. O final já era esperado, mas não quer dizer que eu tenha gostado. Acho que, no fim das contas, não era o meu tipo de livro, já que ficava tão próximo do mundo real que me dava agonia. 
Talvez por isso, ele ganhe três estrelas dessa vez. Mas ainda assim, eu recomendo a leitura, pois, se for o seu tipo de livro, pode ser que você goste de se aprofundar nesses dramas familiares, que se tornaram quase um clássico.     
     
 
E aí, já tinham lido esse livro? E a adaptação da novela, gostaram? Me contem aí!

 

 

 

 

 

Postado por:

Hanna de Paiva

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