15 de February de 2022

Conan – O Bárbaro | Robert E. Howard

Olá meu povo, como estamos? Hoje temos resenha de um livro que jamais pensei que leria, especialmente por ser resistente a clássicos. Com vocês, ‘Conan – O Bárbaro’, um clássico de fantasia de Robert E. Howard.
Conan - O Bárbaro | Robert E. Howard
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

8/24
 
Livro: Conan – O Bárbaro
 
Autor: Robert E. Howard
 
Editora: Pipoca e Nanquim
 
Ano: 2017 (edição atual)
 
Páginas: 304
 
Skoob | Amazon
 
 
O Pipoca & Nanquim tem o orgulho de apresentar a volta de uma das maiores sagas épicas de toda a história da literatura. ‘Conan, o Bárbaro’, é a obra máxima do escritor Robert E. Howard, um dos mais celebrados novelistas de sua geração, criador do gênero Espada & Feitiçaria, e principal inspiração para autores de renome indiscutível, como J. R. Tolkien, George Martin e Michael Moorcock. Dividida em três volumes, a saga apresentará na íntegra todas as aventuras de Conan, seguindo a ordem em que foram publicadas originalmente na emblemática revista Weird Tales, terá acabamento de luxo com sobrecapa de acetato, ilustrações de artistas como Mark Schultz e Gary Gianni, diversos extras e, pela primeira vez no Brasil, as capas originais de Frank Frazetta.

 

Conan - O Bárbaro | Robert E. Howard

 

 

Antes de falar sobre a obra em si, vamos a algumas aulas rápidas de História? ‘Espada e Feitiçaria’, para quem não conhece (como eu não conhecia), é um subgênero de fantasia, onde os personagens resolvem as situações à base de força bruta (Espada), lutando contra um vilão que quer poder absoluto (Feitiçaria). 
   
Esse termo foi publicado oficialmente na década de 1960, com ‘Lankhmar’ de Fritz Leiber. Porém, olhando com mais carinho para o túnel do tempo, esse subgênero já existia desde o início do século XX, só que de maneira não-oficial, criado em ‘The King of Elfland’s Daughter’ (Lorde Dunsany – 1924). 
   
Ele influenciou inúmeros autores, desde Tolkien até Neil Gaiman, com livros que fazem sucesso até hoje. E onde entra Robert E. Howard? Apesar de não ser muito lembrado, seus contos o tornaram um dos autores mais importantes do subgênero, pois mudaram a visão do guerreiro lutando contra as forças do mal, além de criar tramas envolvendo civilizações antigas (fictícias), com mitologia, geografia e histórias próprias, de uma maneira jamais imaginada.

 E é aqui que conhecemos Conan, O Bárbaro, um de seus personagens mais famosos. A edição da Pipoca & Nanquim reuniu em três volumes os contos do personagem em ordem cronológica de publicação na Weird Tales (uma revista antiga e conhecida por abrigar as histórias de subgêneros Espada e Feitiçaria e Pulpfiction, que só ficariam famosas anos depois). 

Neles, vemos as aventuras do protagonista, ora como jovem ladrão, ora pirata ou rei (já mais velho). Porém, ao ler em sequência, os contos não tem uma linha do tempo certinha para os personagens. Então, pode causar estranheza num primeiro momento. 
   
Ao ler as opiniões no Skoob, percebi que não sou a única que achou estranho ser assim, pois dava uma sensação de desorganização das ideias. No entanto, não atrapalhou a experiência de leitura, já que são aventuras independentes entre si. Todos os contos são um tanto longos e divididos em partes, normalmente começando com um poema ou canção, que seria comum no universo de Conan, o que dá até um toque de erudito, que particularmente, adoro.
   
As aventuras do protagonista são muito criativas e me chamou atenção que, mesmo sendo escritas na década de 1930, o autor fugiu totalmente do senso comum e não tem uma escrita rebuscada, o que ajuda bastante na leitura hoje em dia. 
 
Os personagens secundários, especialmente os vilões, são maravilhosos, pois me lembraram os desenhos de quando eu era criança. Não apenas os vilões, as divindades são, literalmente, fantásticas. A que mais me chamou atenção foi a descrita em ‘A Torre do Elefante’, onde o autor usa elementos inesperados, principalmente pela idade da obra. 
   
Com cenários bem descritos e cenas de “tiro, porrada e bomba” de tirar o fôlego, são aventuras incríveis, as quais merecem ser conhecidas. Porém, todavia, entretanto, não posso deixar passar certas
coisas que me incomodaram bastante
. Primeiro que TODAS as personagens femininas me deram nos nervos. 
   
Sempre retratadas seminuas e frágeis até o talo, só sabiam gritar e desmaiar com o vento, esperando Conan vir salvar a pátria. Isso sem contar que sempre tinha um clima de “felizes para
sempre”, como se fossem contos de fadas e tudo se resolvesse num estalar de dedos. 
Mas não tinha nada na cena que desse a entender que a resolução era cabível, foi apenas encaixada ali porque o herói tinha que ser herói.

 

“Poetas sempre odeiam quem está no poder. Para eles, a perfeição está na próxima esquina, ou na seguinte.”

 

Além disso, o autor parecia gostar bastante de bater na tecla de como as pessoas civilizadas são as verdadeiras selvagens. No fundo, eu concordo que as pessoas são, na verdade, hipócritas e fazem um monte de coisa ruim e errada, em nome da “paz mundial”.
   
A única diferença entre eles e os selvagens é que os últimos são mais sinceros, já que fazem o que fazem sem disfarçar. Porém, o autor fala tanto sobre isso, que fica forçado, dando a entender que o mundo deveria ser como o Texas da época dele, pelo visto. Fiquei profundamente incomodada e quase abandonei a leitura diversas vezes.

 

“Homens civilizados são menos corteses do que os selvagens, porque sabem que, de modo geral, podem ser mal-educados sem que seus crânios sejam rachados.”

 

Depois, são escancaradas as cenas de preconceito, racismo e misoginia em TODOS os contos. Se fosse num livro escrito hoje, certamente não passaria nem da porta da editora (ou talvez passasse, só para hypar). 
 
Vindo de um livro antigo, tentei relevar ao ver pela primeira vez. Mas percebi que são elementos que o autor gostava de repetir, como se fossem receitinhas de bolo, e comecei a me incomodar e a revirar os olhos a toda cena já previsível.
   
Lendo depois a história do autor, vi que ele era um típico texano dos anos 1920, então era um comportamento perfeitamente aceitável para a época dele, em especial onde morava. Ao saber disso, fiquei muito feliz por ter nascido décadas depois.
   
Do contrário, era provável de eu ser a primeira mulher desafiada a um duelo em nome da honra, pois faria questão de dar uns catiripapos na cara desse infeliz, para ele ver o que mulheres são capazes de fazer de verdade se estivessem numa situação como a dos contos dele. 
   
Ainda na vibe das receitinhas de bolo, percebi que ele não tinha muita criatividade para caracterizar os personagens. Tudo se resumia a “mandar fulano para o Inferno” ou algo “era obra de demônios”. Perdi as contas de quantas vezes esses termos passaram nos mesmos contos. 
   
E agora entendi o motivo de incentivarem tanto a quem escreve a recorrer ao dicionário. Esqueceram de ensinar isso para ele, pelo visto. A parte final do livro tem os “Extras” com uns pontos que achei interessantes, como a origem da Era Hiboriana, onde são ambientadas as aventuras do protagonista. Como a ideia é construir um mundo, ele só faz sentido se tiver uma história, e o autor pensou em cada detalhe, o que rendeu uns pontos.
 
 
 
Conan - O Bárbaro | Robert E. Howard
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

Se for olhar por esses detalhes, as aventuras propriamente ditas e a importância que elas tem, como um marco num de meus gêneros literários favoritos, ‘Conan – O Bárbaro’ é um livro espetacular. Como li a versão digital, posso falar que ela está bem feitinha, com uma revisão decente.
   
Porém, as cenas de machismo, preconceito puro e escarrado e afins não puderam ser perdoadas. Especialmente por ter me sentido ofendida como mulher em diversos momentos. Por isso, não darei nota máxima dessa vez. 
 
Ainda assim recomendo, só pelo valor histórico. Mas leia sabendo que vai ter que ter estômago forte e respirar fundo antes de virar as páginas, além de passar uns momentos de raiva. 
 

Já tinham lido algo do personagem? E o filme, conhecem? Me contem aí!  

 
 
Texto revisado por Emerson Silva
















Postado por:

Hanna de Paiva

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