Olá meu povo, como estamos? Hoje temos a resenha de ‘Coraline’, de Neil Gaiman, um livro bastante “hypado” e que eu queria muito ler, especialmente depois da animação, quando fez bastante sucesso nas telonas e telinhas.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
55/24
Livro: Coraline
Autor: Neil Gaiman
Tradutora: Bruna Beber
Editora: Intrinseca
Ano: 2020
Páginas: 224
Na nova casa de Coraline há uma porta que esconde segredos. Um outro mundo, com pais de pele muito branca e olhos de botões negros. E eles querem que Coraline fique ali. Para sempre.
Coraline é uma garotinha curiosa e de muita energia. Acabou de se mudar com a família para uma cidade nova, porém pequena e sem muitos atrativos. Ainda, seus pais estão sempre trabalhando e mal lhe dão atenção.
Em seus últimos dias de férias e mergulhada no tédio, a garotinha decide passear pelo prédio e explorar os arredores. O que ela encontra, contudo, vai muito além dos limites da sanidade. Será que ela vai conseguir lidar com seus novos vizinhos?
“Somos muitos para contar, difíceis de ver
Somos difíceis de ver, muitos para contar
Estávamos aqui antes de você nascer
E estaremos aqui quando você findar.”
‘Coraline’ é uma história relativamente antiga e povoa o imaginário de gerações. Embora soubesse da existência do livro, conhecia apenas pela adaptação com dedo do Tim Burton. Assim, sabia que era algo sombrio, mesmo voltado para o público infantil.
Quando a Intrínseca anunciou o lançamento da edição em capa dura e ilustrada, aproveitei a promoção e comprei um exemplar de aniversário (de mim para mim, porque sou dessas, rsrs).Pense num livro lindo! Porém, mesmo encantada com a beleza da obra e já sabendo do que se trata, confesso que não tive coragem de ler (#medrosa).
Isso porque o livro sempre é mais aprofundado e sombrio em certos assuntos, os quais costumam ser lapidados e até cortados para se tornarem mais palatáveis aos espectadores. No entanto, quando montei a TBR de outubro, decidi encarar o medo, dando uma chance ao exemplar. E foi uma experiência fantástica.
A trama é bem construída e traz uma mistura de elementos fantasiosos e outros de uma realidade que agradam crianças dos oito aos oitenta anos. A narrativa é em terceira pessoa e temos uma visão mais ampla dos fatos, onde conhecemos todos os personagens imparcialmente.
Coraline é uma menina esperta e com muita energia, porém não consegue gastar. Seus pais mal lhe dão atenção, pois estão sempre ligados no 220, envolvidos com o trabalho.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Um fato irônico, se pensar que eles trabalham de home office. Contudo, agem como se a filha não existisse e, quando lembram, nem sequer olham para ela e a mandam fazer atividades que, ao meu ver, não são mais condizentes com sua idade.
Talvez eu não olhasse para esse fato se lesse a história como criança. Porém, já adulta, essa situação me incomodou. O livro foi escrito entre as décadas de 1990 e 2000, no entanto ainda é um assunto frequente quando se trata de crianças. Gostaria de saber o que se passa na cabeça das pessoas que mal tem
tempo para si mesmas, mas fazem questão de ter um filho, para depois não ter condições de dar o principal: carinho, atenção e educação. Confesso que fiquei bem reflexiva, de modo especial vendo o quanto Coraline se sentia ao ser praticamente ignorada pelos pais todos os dias.
Passando o momento desabafo e voltando ao livro, a menina tenta se livrar do tédio explorando os arredores e conhecendo a vizinhança. Aí conhecemos também os outros moradores do prédio, pessoas bastante peculiares, diga-se de passagem.
A começar pelas senhoritas Forcible e Spink, duas atrizes aposentadas, mas que brilharam no teatro em sua juventude. Elas moram juntas há bastante tempo e se tornaram velhinhas ranzinzas, porém com alguns momentos de bondade.
Se olhar mais de perto, a dupla é bastante solitária e não tem com quem conversar. Então, passam o dia todo implicando uma com a outra e se lembrando de quando eram atrizes famosas.
Coraline passa um tempo com elas e, ao meu ver, se identifica. Afinal, mesmo com a pouca idade, sabe o que é a solidão e o tédio.
“[…] A menina concluiu que aquela discussão era tão velha e confortável quanto uma poltrona, o tipo de discussão que ninguém ganha ou perde, mas que pode durar para sempre se ambas as partes estiverem dispostas.”
O outro vizinho é bem mais solitário, pois sua única companhia são os ratinhos que ele diz estar treinando para um espetáculo circense. A pequena protagonista fica curiosa, no entanto percebe que o senhorzinho consegue ser mais delirante do que a dupla de velhinhas.
Mas entre devaneios e histórias do passado, Coraline passa a receber recados bem esquisitos sobre uma porta que não deve ser atravessada. Curiosa que só ela, a menina começa a procurar a tal passagem proibida.
Sua companhia nessa jornada é um gato preto que aparece do nada e está sempre por perto quando coisas ainda mais estranhas acontecem pela casa. Luzes que não deveriam acender, barulhos vindos de lugar nenhum e recados mandando Coraline tomar cuidado. E, claro que em uma trama mais “trevosínea”, protagonista contraria todos os avisos. Uma combinação perfeita para um livro de terror.
“É assombroso que aquilo de que somos feitos esteja tão ligado à cama onde acordamos pela manhã, e o mais assustador é a fragilidade disso.”
Aos poucos, vamos acompanhando e entendendo o que realmente ela encontrou atrás da tal porta. Assim como também nos preparamos para cenas dignas de deixar os cabelos em pé, em especial se for uma pessoa medrosa (como eu).
A história é curtinha e tem uma escrita fluida. Porém, confesso que, mesmo sabendo que era algo mais infantil e como termina (porque vi o filme), precisei ler durante o dia.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
No entanto, foi uma experiência incrível e gostei bastante de como tudo se resolveu. Coraline é uma menina corajosa e vai atrás de respostas, mesmo que tenha algumas consequências.
Ela me encantou desde o começo e, mesmo vendo o mundo com os olhos de uma criança, o que de fato ela era, conseguiu lidar com certos assuntos de uma forma surpreendente e que ensinaria lições para muitos adultos.
“- Porque coragem é quando você sente medo de fazer algo, mas faz mesmo assim, é quando você enfrenta o medo.”
Em relação aos personagens secundários, ganham destaque aqui o gato e os ratinhos. A princípio eles não teriam nada demais, mas achei curiosa a forma como o autor abordou a presença deles, incluindo (ainda que de maneira indireta) simbolismos.
Pelo que me lembro, gatos são guardiões de portais místicos na cultura egípcia. Não apenas eles, mas o próprio artefato que Coraline utiliza parece ser relacionado ao Antigo Egito. Quanto aos ratos, não sei, mas da forma como foram descritos, provavelmente também tivessem alguma importância.
O que já é a marca registrada do autor, conhecido por obras com o pezinho em mitologias antigas. Achei sensacional, até porque gosto dessa peculiaridade dele, de sempre colocar elementos históricos, que apenas olhares atentos percebam as nuances escondidas.
O desfecho, como já esperado para uma história infantil, é previsível e no clima de “final feliz”. Porém, é amarrado de forma digna e nenhum personagem ficou esquecido, seja principal ou secundário.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Além disso, as ilustrações são maravilhosas e ajudaram a me ambientar na história (além de ficar com medinho também, rsrsrs). Fazia tempo que não lia livros assim, salvo pelos quadrinhos, então foi uma experiência enriquecedora.
Falando sobre o livro em si, a edição está incrível, com páginas amareladas e bem grossinhas. O corte é em roxo para combinar com a capa. Achei legal também que a primeira página de cada capítulo é roxa e as últimas são completamente pretas. Além de manter o clima sombrio da história, quebra a monotonia de cores já esperado em livros. Foi uma ótima sacada dos editores, pensando em manter as crianças (e até a adulta que vos escreve) imersa na história e sem saber o que esperar ao virar a folha.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Em resumo, é uma leitura sombria e que se encaixou bem no clima de Halloween. Super recomendo que conheçam a obra, mesmo se forem medrosxs como eu. Garanto que vai valer a pena a experiência.
E aí, já leram algo do autor? Conhecem essa obra, ou a adaptação dela?
Texto revisado por Emerson Silva
Denise Crivelli
Oi
eu tenho essa edição e já li, gostei da leitura e adoro o filme é já assisti várias vezes quando via passar na televisão, que bom que gostou da leitura mesmo tendo enrolado para realizar a leitura.
http://momentocrivelli.blogspot.com/
Luciano Otaciano
Oi, Hanna. Tudo bem? Li Coraline ano passado se não estou enganado, lembro-me que gostei muuuiito deste livro. Que bom que você gostou. Não tem como não gostar deste livro, né? Abraço!
https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Hanna Carolina Lins
Sim, a leitura e filme valem muito a pena. Adorei ambas as experiências, S2.
Hanna Carolina Lins
Olha só, que legal Luciano! =) Concordo, não tem como não gostar dele.