26 de March de 2020

Fahrenheit 451 | Ray Bradbury

   Olá meu povo, como estamos? Hoje temos a resenha da minha última leitura finalizada e, também muito sonhada por anos. Apresento a vocês Farhenheit 451, de Ray Bradbury.

Fahrenheit 451
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna

8/12

Livro: Fahrenheit 451

Autor: Ray Bradbury

Editora: Biblioteca Azul

Páginas: 215

Ano: 2019 (original em 1953)

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A singularidade da obra de Bradbury, se comparada a outras distopias, como Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, ou 1984, de George Orwell, é perceber uma forma muito mais sutil de totalitarismo, uma que não se liga somente aos regimes que tomaram conta da Europa em meados do século passado. Trata-se da “indústria cultural, a sociedade de consumo e seu corolário ético – a moral do senso comum”, segundo as palavras do jornalista Manuel da Costa Pinto, que assina o prefácio da obra. Graças a esta percepção, Fahrenheit 451 continua uma narrativa atual, alvo de estudos e reflexões constantes. O livro descreve um governo totalitário, num futuro incerto, mas próximo, que proíbe qualquer livro ou tipo de leitura, prevendo que o povo possa ficar instruído e se rebelar contra o status quo. Fahrenheit 451 tornou-se um clássico não só na literatura, mas também no cinema. Em 1966, o diretor François Truffaut adaptou o livro e lançou o filme de mesmo nome estrelado por Oskar Werner e Julie Christie.

Fahrenheit 451

    Você já imaginou como seria nosso futuro? Com tanta tecnologia atualmente, tanta coisa se faz mais rápido, que nem se precisa de certas profissões, antes tão procuradas. Hoje embalagens se fazem com robôs, celulares nos despertam e agem como uma espécie de secretária.
   No futuro, as coisas também vão ficando tão modernas, que as casas passaram a ser a prova de fogo. Como incêndios não são mais acidentais, os bombeiros teriam que deixar de existir… mas não foi bem assim que aconteceu.
   No universo alternativo de Bradbury, os bombeiros ainda existem, mas eles tem uma função completamente contrária: colocar fogo nas casas.
  Parece louco, não? Os que antes eram os verdadeiros heróis, agora são carrascos? Como pode isso?! Mas eles se tornaram o maior medo de muita gente… gente que insiste em ir contra o governo e… ter livros em casa. Isso mesmo!
   Livros são um crime, a não ser que sejam para te ensinar muito vagamente sua função no emprego. Pessoas que ainda mantém livros em casa são párias da sociedade e podem ser denunciadas. E a função dos bombeiros é exatamente ir na casa dessas pessoas e colocar fogo nos livros, para que essas pessoas sirvam de lição ao mundo.
 
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   Mas você deve estar se perguntando: se os livros são proibidos, as pessoas também são presas em suas casas? É um regime opressor? Olha, é opressor dependendo do ponto de vista. As pessoas depois da guerra atômica passaram a viver suas vidas sendo “felizes”, embebidos em tecnologia das mais modernas. Tudo você faz sem precisar sair de casa, literalmente, a não ser que seja bombeiro.
   E aqui conhecemos a história do bombeiro Guy Montag, um cara que está há anos na corporação e é orgulhoso do que faz, até que um dia tudo pode mudar e ele começa a se questionar sobre o porquê do mundo ter ficado assim.
   Bem vindos ao universo de Ray Bradbury. Eu já conhecia a escrita do autor, vinda de outro livro, ‘Uma estranha família’, um dos primeiros livros que li, quando comecei oficialmente minha vida de leitora. Porém ele nunca foi resenhado aqui. Já fica como uma promessa de resenha futura também. 😉
   Mas o que posso adiantar é que, em ambos os livros, vemos que Bradbury tem uma escrita bem peculiar. Ele consegue ser bem dramático, ao mesmo tempo que põe ação e filosofia em seus personagens. O tempo todo eu fico me perguntando se as cenas que acontecem são de fato reais na vida dos personagens, ou ilusão.
   Aqui, quem nos deixa confusos na leitura é Montag, o bombeiro não tão jovem, mas também não tão velho, que tem certo tempo de carreira no corpo de bombeiros. Ele tem orgulho do que faz, pois na cabeça dele, é uma espécie de limpeza do mundo livrar as pessoas de papeis velhos que nada dizem.

“Fundado em 1790 para queimar livros de influência inglesa nas colônias.
Primeiro Bombeiro: Benjamin Franklin
1° REGRA: Atenda prontamente o alarme;
2° REGRA: Comece o fogo rapidamente;
3° REGRA: Queime tudo;
4° REGRA: Reporte-se imediatamente ao posto dos bombeiros;
5° REGRA: Fique sempre alerta aos outros alarmes.”

   Só que, depois de tantos anos no trabalho, ele já viu de tudo: pessoas que se jogaram no fogo para tentar salvar esse bando de papeis, pessoas que fugiram e são perseguidas pelo governo até hoje, pessoas que ficaram doidas por causa de papeis que estão sob a forma de livros. Nunca foi explicado o motivo real, mas depois da guerra de 1990, livros foram proibidos, simplesmente. A única coisa que se é dita é que sem livros as pessoas são mais felizes.

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   Mas felizes mesmo as pessoas se dizem ser quando estão imersas em tecnologia. A tecnologia que hoje nos é tão útil, chegou ao ponto de ser viciante. Se hoje as pessoas precisam se tratar por terem desenvolvido síndrome do pânico, ansiedade, depressão ou mesmo serem levadas a cometer suicídio, caso não tenham curtidas suficientes, nesse futuro alternativo isso não existe mais.
   A explicação do governo é que as pessoas não usavam a tecnologia na “quantidade ideal”. Assim, elas são mais felizes se estiverem conectadas 24h por dia em novelas, reality shows e programas interativos, vistos em salas com uma tela em cada parede.
  As pessoas ficam tão imersas em programas desse tipo, que não tem tempo de pensar em serem infelizes. Uma explicação tão farjuta, mas que é aceita por todos, inclusive pela esposa de Montag, Mildred.



Fahrenheit 451
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna

   Montag, vivendo nesse tipo de sociedade, não questiona… Até um dia em que isso acaba para ele…
 Montag começa a descobrir coisas que acabam colocando em xeque tudo o que ele pensava sobre a vida e o mundo.

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   Gosto dos livros de Bradbury porque, mesmo escritos nos anos 1950, ainda hoje são tão empregáveis. Se não muito me engano, ‘Fahrenheit 451’ é usado inclusive em universidades como leitura adicional. Isso porque ele coloca aqui alfinetadas sobre algumas coisas que aconteceram na II Guerra Mundial. 
   Por ser mais próximo do ocorrido, o autor por várias vezes dá alfinetadas em eventos que aconteceram durante o Nazismo, como a queima de livros. Mas em nossa era futurista, com casas a prova de fogo, é preciso pessoas que saibam colocar fogo, com combustíveis certos. Para isso, os bombeiros ganham uma nova função. Deixaram de ser os grandes heróis para se tornarem os grandes pesadelos. 
   E, como livros são proibidos, nem os bombeiros sabem sua própria história. Ou a história do mundo e o que o levou a ser assim. Como eles não questionam coisas assim, também não questionam o governo, e todo mundo fica feliz, seguindo ordens sem discutir (alguma semelhança com o que temos hoje?). 

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   Mas até que ponto as pessoas são realmente felizes ou é tudo mera ilusão? Durante a narrativa da história, vemos a vida de Montag em casa, com sua esposa. Sinceramente, aquilo para mim não é um casamento feliz, nem aqui nem em um futuro distante. 
   Mildred está o tempo inteiro com sua “família’, como ela chama os programas que assiste, fazendo dos apresentadores (que são realidade virtual) oráculos. Mildred não pensa, não interage socialmente. Coisa que é bem comum entre todos, por sinal.
   Sinceramente, um lugar onde as pessoas dizem que sua família são pessoas artificiais numa tela, não tem família, muito menos felicidade. Isso começa a pesar na cabeça de Montag, quando ele pensa sobre quando e por que começaram a queimar livros. 
   O que eles tem de tão importante para serem queimados? O que eles tem de tão assustador, que nem os próprios bombeiros podem saber? Por que o governo quer tanto queimá-los a todo custo? E por que algumas pessoas defendem tanto os livros, se eles são infelicidade em forma de página?    


Fahrenheit 451
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna


   Esse é um livro curtinho, com uma narrativa rápida, porém pesada, se parar para analisar. Montag poderia ser qualquer um de nós hoje em dia: questionador e curioso. Afinal, a curiosidade move o mundo. 

   Mas nesse futuro alternativo, que cá entre nós, não está muito longe de acontecer, com o andar da carruagem, curiosidade é sinal de revolta e descontentamento. Questionar é buscar infelicidade, é causar discórdia e ser diferente de todos. 
   Eu queria muito ler esse livro, mas era daquele que sempre fica para depois, sabe? Que eu fui comprando outros e mais outros, e esse sempre ficava para trás. Mas acho que tudo nessa vida acontece por algum motivo e esse é o meu momento certo para ler e gostar desse livro. Um momento em que sou mais questionadora e quero sempre saber o porquê das coisas. Momento semelhante ao de Montag, pelo visto. 
   Livros são motivo de infelicidade, pois trazem conhecimento. Na ideia do governo totalitarista que eles tem, pessoas infelizes causam discórdia e derrubam governos. Uma forma de deixar o governo no poder por tanto tempo é exatamente não questioná-lo. 
  Que melhor forma para isso, do que queimar os livros? Com a tecnologia tão avançada, é bem fácil de substituir livros velhos de papel por novelas interativas e rápidas, onde as coisas acontecem como e quando você quer.
   Mas Montag vai descobrindo coisas e começa a pensar de forma que soa como alfinetada no governo, que pode muito bem se adequar ao momento que vivemos. Ainda mais nesse tempo de quarentena, pelo COVID-19, onde fake news rolam a torto e a direita, mascarando informações verdadeiras. 
  Hoje nós podemos usar a tecnologia a nosso favor e procurar as fontes mais confiáveis das informações, mas no mundo de Montag, tudo o que chega para eles é tido como verdade absoluta, que não pode nem deve ser questionada. Não apenas doenças, mas todo tipo de informação. 
  Ter conhecimento torna as pessoas perigosas. E pessoas perigosas são capazes de derrubar governos e qualquer regime que seja contra a liberdade das pessoas de serem quem são. Mas e quando você não tem acesso a esse conhecimento? Isso te faz mais feliz, por que você não sabe das coisas e tem quem cuide delas para você? Isso te deixa em paz? São perguntas como essa que te fazer pensar no principal: você gostaria de viver num mundo sem conhecimento? 
   Falando sobre o livro em si, a capa dele já nos chama atenção logo de cara, com o símbolo e o nome da equipe de Montag, Fahrenheit 451. Aliás, não é dito no livro, mas creio que o uniforme da capa, inclusive, pertence a Montag. Como é um livro de incêndios, ele tem tons de vermelho e preto, que combinaram perfeitamente com o assunto. É um livro fininho, com uma escrita fluida e bem revisada por sinal. 
   A história nos é narrada em terceira pessoa, dividida em três partes, mostrando as coisas do ponto de vista de Montag. Mas é escrita de uma forma que nos vemos dentro da mente dele, pensando como ele. Para quem não sabe, esse livro foi um sucesso tão grande, que na década de 1960 teve sua adaptação para as telonas, se tornando um clássico da literatura mundial e, também, do cinema… que a HBO aparentemente refilmou! 💓












    Um livro super atual, apesar da idade dele, que para mim, merece nota máxima e super recomendo a leitura. 






   
   

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   Já conheciam o livro? E o filme? Me contem aí! 😉

Postado por:

Hanna de Paiva

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