Chega mais! 😉
Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Livro: Peter Pan
Autor: J.M. Barrie
Editora: Clássicos Zahar
Ano: 2012 (edição especial)
“Todas as crianças crescem, menos uma.”
Como pó de fada, há cem anos essas palavras transportam os leitores para um mundo mágico, povoado pela família Darling e pelos habitantes da Terra do Nunca, sereias, Sininho, Peter Pan, os meninos perdidos, crocodilos, o capitão Gancho e seus piratas…Um dos mais populares clássicos infantis, Peter Pan é uma história que une gerações, contagiando também adultos com sua energia, imaginação e um enredo que permite diversos níveis de interpretação.
Todas as crianças crescem, menos uma… E nessa vontade imensa de ser criança, Peter Pan, um menino que ainda tem seus dentes de leite, porém nunca se soube sua verdadeira idade ou origem, está prestes a levar os irmãos Darling para uma aventura inesquecível.
A família Darling vive em Londres, numa casa grande e cheia de escadas, com pais dedicados e com uma cachorra muito amigável como babá, a Naná, que faz seu trabalho belissimamente desde que os bebês nasceram.
Wendy, João e Miguel são crianças felizes e dormem todos os dias no mesmo horário, depois de ouvirem histórias que sua mãe lhes conta todas as noites… Até a noite em que algo bate no vidro da janela… O que parecia ser apenas o vento, torna-se um vulto… que deixa Wendy curiosa…
E eis que o vulto é um menino muito esquisito… pequeno, com todos os dentes de leite e com uma sombra cortada pelo vidro da janela, numa tentativa de Naná de proteger as crianças do que quer que fosse o tal menino noturno…
Disposta a saber quem era o tal garoto e de onde vinha, Wendy começa a conversar com Peter e descobre que ele vem de um lugar chamado Terra do Nunca, uma terra bem fácil de chegar… “na segunda à direita e depois direto até amanhã de manhã…”
“- Que endereço engraçado!
– Não é não!
– O que eu quis dizer foi o seguinte: é assim que eles escrevem nas cartas?
– Não recebo nenhuma carta.
– Mas sua mãe recebe, não é?
– Não tenho mãe.
Ele não apenas não tinha mãe, como não tinha vontade de ter uma. Achava que todo mundo dava uma importância exagerada para as mães. Wendy, no entanto, imediatamente achou que estava diante de uma tragédia.”
No entanto, Peter precisava de alguém que terminasse a história da Cinderella para os Meninos Perdidos, com quem morava na Terra do Nunca. Wendy imediatamente lhe diz que apenas as mãe podem contar essa história, e também se candidata a ser a mãe deles, mesmo que eles não saibam o que é uma mãe… E assim começa a aventura dos irmãos Darling.
Com ajuda de pó de fada e acreditando serem capazes, eles começam a voar, e seguem para a ilha onde esse menino estranho, porém cativante mora…
“Sentindo que Peter estava voltando, a Terra do Nunca ganhou vida outra vez. […] Na ausência dele, a ilha em geral fica mais tranquila. As fadas dormem uma hora a mais de manhã, as feras cuidam de seus filhotes, os peles-vermelhas fazem um banquete que dura seis dias e seis noites e, quando os piratas e os meninos perdidos se encontram, eles apenas trocam gestos ofensivos. Mas com a vinda de Peter, que detesta a preguiça, eles todos se animam de novo: se você encostar o ouvido no chão agora, vai escutar a ilha inteira fervilhando de vida.”
O único problema de Wendy para ter o papel de mãe dos meninos perdidos é Sininho, a fada que vive ao lado deles e que morre de ciúmes da menina, e não tem o mínimo cuidado em esconder seu ódio… Além disso, temos Capitão Gancho, um pirata que comanda uma tripulação que vive sua vida em perseguição a Peter, e um crocodilo, com um despertador em seu estômago, que todo sabem de sua presença, graças ao “tic-tac” que lhe entrega…
Aventuras, contos de fadas dentro de um conto de fadas, piratas, vingança… Essa é a história de Peter Pan, um dos clássicos da literatura e que passa por gerações, com inúmeras adaptações no cinema e no teatro. A edição que eu tenho é a dos Clássicos Zahar que, particularmente, me encantou com os detalhes lindos. A começar a capa dura, que tem os detalhes do gancho do Capitão e a silhueta do Menino que não quer crescer.
Além disso, logo que você abre o livro, dá de cara com uma contra-capa linda e de cores bem chamativas.
Hanna Caroliina/Mundinho da Hanna |
Outra coisa que me encantou nessa edição foram as gravuras originais, que sempre me encantam nas edições da Zahar… 😍 Com elas é fica muito mais fácil mergulhar nesse mundo de fantasia e delicado.
Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Confesso que, apesar de gostar muito desse clássico, eu ainda não tinha lido e fiquei apaixonada. Assim como acontece em Alice no País das Maravilhas, Peter Pan dá margem para muitas interpretações. Afinal, por que Peter não queria crescer? Ele se esquecia de coisas com muita facilidade e uma rapidez incrível e mata sem ter peso na consciência, já que para ele o faz de conta nunca termina.
“A diferença de Peter para os outros meninos em momentos como aquele é que eles sabiam que aquilo era faz de conta, enquanto para Peter faz de conta e realidade eram exatamente a mesma coisa.”
Algo que achei super interessante foi que logo no início dessa edição temos umas palavras de uma psicóloga, que conta a história do autor, J.M. Barrie e faz um aprofundamento sobre seus personagens. E ela fala coisas que eu nunca teria parado para pensar a respeito se não tivesse lido antes de começar a história propriamente dita.
Peter Pan nem sequer sabe como foi parar na Terra do Nunca, não sabe o que é ter uma mãe, não tem consciência e simplesmente se esquece das coisas, então ele nunca tem memórias… apenas vive seu presente e vive de faz de conta, sem ter noção alguma do que é real, do que é dor de verdade, do que é saudade de casa. Wendy e fascinada por Peter, mas ao perceber isso, ela percebe que está na hora de voltar para casa, já que seus irmãos mais novos começam a perder suas memórias de Londres e de sua família. Vendo que eles podem ficar ali para sempre, ela dá um jeito de voltar para casa e resgatar os demais meninos perdidos. Se isso é bom? Ninguém sabe… Mas até que ponto precisamos deixar de ser crianças?
“-Pan, quem e o que é você?
– Eu sou a juventude, eu sou a alegria. Sou o passarinho que furou a casca do ovo.
Isso, é claro, não fez o menor sentido. Mas, para o infeliz Gancho, era a prova de que Peter não tinha a menor ideia de quem ou o que era, e isso era o máximo dos bons modos.”
Peter tem tanto medo de crescer, que deixa os meninos perdidos voltarem a sua vida no mundo real, mas não suporta a ideia de crescer, trabalhar em um escritório, muito menos de ter barba ou filhos. No entanto, toda noite Peter é triste, pois não tem ideia do que sente falta… sua mente não lhe permite pensar sobre isso… mas não o impede de ser eternamente triste…
Wendy percebe isso, mas, ao voltar para casa, ela sabe o quanto gosta do processo de crescer, ter uma família… tanto que os anos passam e ela tem uma filha chamada Jane, que é apaixonada pela história de uma terra estranha, que sua mãe lhe conta toda noite… uma terra de piratas, de aventuras e peles-vermelhas, onde fadas existem e crianças podem voar se acreditarem…
“- E por que você não sabe mais voar mamãe?
– Porque eu cresci, meu amor. Quando as pessoas crescem, elas não lembram mais como se voa.
– Por que a gente não se lembra mais?
– Porque não somos mais alegres, inocentes e desalmados. Só quem é alegre, inocente e desalmado consegue voar.”
Até quando ser criança é bom? Será que você queria ser mesmo criança para sempre? Acho que, apesar da escolha de Peter, isso não lhe fez bem… Afinal, ele nem sabe o que é, quanto mais quais são os riscos de ser criança para sempre… Isso não quer dizer que devamos deixar nossa criança interior morrer… Na realidade, criança e adulto devem andar juntos, acho que isso nos faz enxergar o mundo com mais alegria, mas também com a maturidade que apenas um adulto pode ter… e que Peter jamais saberá o que é…
Já leram Peter Pan? Ou apenas conhecem pela versão da Disney? Bora conversar! 😉
Até mais!