Olá meu povo, como estamos? Hoje eu trago a resenha de “Não Era Para Ser Uma História de Amor”, um romance que promete não te fazer criar expectativas. Só não garanto que isso ainda será uma realidade no final.
ALERTA: Esse livro pode conter gatilhos de diversos assuntos, como homofobia, capacitismo, luto, objetificação da mulher, morte de pessoas próximas.
Livro: Não Era Para Ser Uma História de Amor
Autoria: Sarah Adler
Tradução: Cláudia Mello Belhassof
Editora: Arqueiro
Páginas: 304
Ano: 2023
País: EUA
Formato: Impresso
Nota: 5/5
Millicent Watts-Cohen tem uma missão a cumprir. Determinada a reafirmar o poder duradouro do amor, ela decide levar as cinzas da Sra. Nash, uma idosa de 98 anos que se tornou uma grande amiga, de Washington até a Flórida. Seu objetivo: reuni-la, ainda que simbolicamente, ao grande amor de sua vida, oitenta anos depois.
Mas as coisas não saem como previsto por Millie. Depois que uma pane geral no sistema de aviação cancela todos os voos, ela acaba pegando uma carona com Hollis Hollenbeck, um antigo colega do seu ex, que está indo de carro até Miami. Ele é um escritor enfrentando um bloqueio criativo e certamente não acredita no clássico “felizes para sempre”.
Ao longo de muitos quilômetros de estrada, enquanto os dois discutem sobre a playlist ideal para a viagem e lidam com restaurantes exóticos, uma pousada de gosto duvidoso, um festival de brócolis e um cervo histérico, Millie começa a suspeitar que seu relutante parceiro pode gostar mais da companhia dela do que deixa transparecer.
E, quanto mais perto eles chegam do destino, mais ela se vê forçada a admitir que essa viagem não é apenas sobre a história de amor da Sra. Nash – talvez seja sobre a dela também.
Millicent é uma ex-atriz mirim que tenta sobreviver aos resquícios da fama depois de adulta, fora dos holofotes. Ela vivia com a sra. Nash, uma idosa simpática e com muitas histórias para contar, especialmente sobre seus amores do passado. Amores esses que fizeram a senhorinha sofrer por ter se separado.
Millie quer fazer uma boa ação e unir as almas apaixonadas de toda forma. Contudo, sua tentativa foi simbólica, já se passaram 80 anos e a sua colega de quarto acabou falecendo antes de saber da surpresa. Embora abalada, a jovem não se deixa abalar e parte rumo ao outro lado do país, nem que seja para fazer uma homenagem póstuma.
Entretanto, seus planos terão muitos contratempos no percurso, o que pode atrasar sua viagem. Algo que pode lhe trazer diversos aprendizados, especialmente sobre si mesma.
‘Não Era Para Ser Uma História de Amor’ foi a leitura da vez do Clubinho da @pequenajornalista. Comecei a ler com certo cuidado, ainda mais pelo aviso de gatilhos. Mas estava muito curiosa com a proposta de romances além do tempo.
A narrativa é pelo ponto de vista de Millicent. A moça tenta levar uma vida normal, mas é complicado quando surgem alguns fãs se lembrando de sua temporada como ‘Penelope de Volta ao Passado’. Embora traga certa nostalgia, por ter feito parte da infância/adolescência de algumas gerações, é também fonte de momentos constrangedores.
É tentando se livrar de um desses que Millie esbarra em Holis Hollenbeck no aeroporto. O que se torna ainda mais enrolado quando o voo deles rumo à Florida é cancelado devido ao mau tempo. Isso não seria um grande problema, se a mocinha não estivesse, literalmente, correndo contra o tempo, a fim de chegar no asilo e falar com Elsie, o grande amor da vida da sra. Nash.
Disposta a fazer de tudo para chegar logo ao destino, Millie acaba aceitando a carona do rapaz. Afinal, é o único carro disponível. No entanto, a viagem não vai ser tão tranquila quanto o esperado.
Hollis é reservado, caladão, ranzinza e faz de tudo para ficar longe das pessoas. E por isso, logo se arrepende de ter dado carona para Millie, a super divertida, que parece nunca desligar da tomada 220. A relação dos dois começa conturbada, mas é também muito divertida de se ler.
“Talvez aquele ano trouxesse o fim da guerra. Talvez aquele ano trouxesse o início da sua nova vida – uma vida com Elsie sempre ao seu lado.”
Enquanto um só quer paz e silêncio, a outra faz de tudo para implicar com ele e deixá-lo mais zangado. No entanto, algo une os dois ao longo da viagem: a inusitada história de amor da sra. Nash.
Com o passar dos capítulos, a trama se intercala, com passagens das décadas de 1940/1950, onde vemos uma Rose McKintre (futura sra. Nash) bem mais jovem e cheia de vida. E, confesso, foram as partes que mais gostei.
Para começo de conversa, eu sabia que tinha mulheres alistadas nas forças armadas naquela época. Mas jamais imaginaria Rose com a profissão super diferente que exercia na base da Marinha.
Eu me rendi logo nas primeiras linhas e já queria saber cada vez mais a respeito do trabalho e de como ela conheceu a Elsie. Outra coisa que me surpreendeu foi ver a forma doce e, ao mesmo tempo, fugaz pela qual o relacionamento das duas se desenvolveu.
Me sentia alegre e admirada ao ver como elas eram corajosas e viveram seu romance, sem medo da opinião alheia, ao menos dentro da base. Mas também me vi de coração apertado ao ver o que levou o destino delas seguirem caminhos opostos.
Assim, eu entendi muito bem a decisão da Millicent em querer dar um final feliz para sua amiga idosa. Torcia para que a viagem chegasse logo ao fim, só para saber a reação de Elsie, ao saber que o pombo que Rose prometeu enfim havia chegado ao destino.
Já em relação ao romance atual, eu posso dizer que ele já era esperado. Mas nem por isso deixou de ser bom. A convivência forçada entre Milli e Hollis traz à tona diversos assuntos que os dois faziam questão de enterrar num canto escuro da memória.
Logo, lidar com isso não é nada agradável em um primeiro momento. Porém, a forma como eles lidam juntos com seus dilemas acaba se tornando bonita e encantadora.
Além disso, enquanto lia os fatos pelo ponto de vista de Millicent, percebi o quanto essa menina se metia em situações complicadas. Isso porque ela parece ter entrado na fila da inocência e ingenuidade tantas vezes, que não sobrou para as outras pessoas.
Embora seja algo engraçado em um primeiro momento, me identifiquei com ela em diversas ocasiões. Isso porque eu consigo ser distraída que nem ela, algo que me assustou um bocado e acho que o livro me serviu de alerta (aliás, acho que agora entendo porque o meu próprio namorado de vez em quando age igualzinho ao Hollis).
“E se eu tiver sido uma boba ingênua a vida inteira, colocando a minha fé em coisas como ‘felizes para sempre’ e a bondade inerente e generalizada da humanidade? Eu preciso da confirmação de que não é idiotice acreditar que duas pessoas podem se amar e continuar se amando a vida inteira, por mais que surjam obstáculos no caminho.”
A parte boa é que, mesmo a mocinha sendo distraída num nível colossal, conseguiu aprender suas lições ao longo da viagem. Isso rendeu bons pontos para a leitura e me deixou de coração quentinho, além de deixar a personagem mais perto da realidade.
O mesmo posso afirmar sobre Hollis, o escritor com bloqueio criativo, mas que encontrou em Millicent e na sra. Nash uma forma nova de compreender a vida. Achei muito lindo como ele amadureceu e até vai quebrando a casca que a vida dura lhe fez criar.
Acho que ler esse livro me mostrou que não importa a nossa idade, nunca será tarde para aprender uma nova lição da vida e sermos a nossa melhor versão. Finalizei a leitura com o coração quentinho e um misto de sentimentos: tristeza, felicidade e esperança para mais finais felizes na vida real.
A única coisa que me incomodou na história foi que alguns personagens acabaram ficando em segundo plano. Contudo, eu gostaria de saber como que Milli lidou com eles depois.
Como não foi explicado, fiquei com a sensação de ponta solta. No entanto, estava tão feliz com a leitura, que não tirei pontos por isso dessa vez.
“Gostar não é amar. Fico repetindo isso para mim mesma enquanto atravessamos a divisa entre a Carolina do Sul e a Georgia. A necessidade que sinto de lembretes constantes desse fato é algo sobre o qual não quero refletir.”
Falando sobre a obra em si, ela está bem diagramada e bem revisada. A fonte é legível e as páginas grossinhas, dando uma boa experiência para o leitor. A capa traz uma combinação de cores fora do padrão, com muitos tons de laranja e azul, que deram certo e ficou um contraste interessante.
Em resumo, recomendo ‘Não Era Para Ser Uma História de Amor’, especialmente se você tiver saindo de uma ressaca literária, ou procure uma leitura leve para passar o tempo.
Texto revisado por Emerson Silva.
Cida
Oi Hanna! Ainda bem que apesar de terem ficados pontas soltas, a história compensa em outros aspectos. Está na minha lista faz um tempinho, mas ainda não consegui conferir. Bjos!!
Moonlight Books
Hanna de Paiva
Sim, compensa bastante, viu? Espero que possa ler esse livro em breve também, ^^.
Garota do 330
Eu tô muito apaixonada pelo catálogo da Arqueiro, talvez esteja muito apaixonada em ler romances kkkkkk. E esse livro me passou uma vibe muito gostosa, uma leitura que consegue mesclar a leveza do gênero com assuntos mais sérios. Tenho a sensação de que leituras assim são capazes de dar um beijinho onde dói no leitor. Amei a sua resenha.
Hanna de Paiva
Os livros deles estão muito lindos mesmo, né? E fico feliz que tenha gostado da resenha também. Foi uma grata surpresa literária de 2024, =)