Olá meu povo, como estamos? Hoje eu trago a resenha de ‘O Adormecer do Medo’, um romance nacional escrito pelo Ala Oliveira.
OBS.: Publicidade (exemplar lido em parceira com o autor)
Livro: O Adormecer do Medo
Autor: Ala Oliveira
Editora: Independente
Páginas: 129
Ano: 2023
Formato: Digital (Kindle Unlimited)
País: Brasil
“Um dia, apenas um dia, é suficiente para decretar uma direção incontornável à vida. Quem já não se extasiou ou se lamentou por anos por estar num dado instante em um certo lugar e essa dimensão de tempo e de espaço determinar uma condição estrutural nas suas escolhas ou mesmo na ausência delas? Não é a dor da amputação de um membro o que mais ameaça e fere, mas sim o cálculo feito de tudo que se viverá a partir dela, ou como tudo poderia ter sido diferente…”
O Adormecer do medo é a trajetória de um menino que, em meio às impressões de sofrimento, muitas delas veladas em seu interior, empreende uma busca heroica em direção ao enfrentamento de antigos e obscuros fantasmas.
É uma mensagem de superação dos próprios medos e descobertas libertadoras.
“O tempo não é o que vemos no relógio, ele é o que pulsa dentro de nós, mas que nos dirige não por uma consciência racional capaz de calcular, mas por uma intuição imperativa que nos empurra para algum lugar lá fora…
Não foi a racionalidade humana que redimiu o homem da sua ignorância, ao contrário, foi ela que o fez ter medo de morrer porque o ensinou a calcular o itinerário da sua morte.”
Do que você tem medo? Acho que essa é a pergunta que vai nos fazer refletir por um bom tempo. É exatamente isso que acontece com o protagonista de ‘O Adormecer do Medo’.
Através de uma narrativa em primeira pessoa, o leitor é convidado a acompanhar a trajetória de vida do personagem ainda criança até a fase adulta. Assim, é possível ver as mudanças da rotina e o quanto isso afetou seus medos. O que também nos leva a questionar o quanto nossos próprios receios mudaram ao longo de nossa jornada.
Esse romance foi uma experiência bem fora da caixa para mim, devo admitir. Quando o autor me mostrou a sinopse, vi que seria algo mais puxado para o lado psicológico e com a promessa de me fazer refletir. Só não sabia que seria da forma como aconteceu.
O protagonista não tem nome, o que chama atenção logo de cara, mas não atrapalha em nada a leitura. Muito pelo contrário, apenas nos faz aprofundar mais ainda em seus pensamentos. Com a narrativa em primeira pessoa, a experiência se torna mais imersiva.
Não apenas esses receios mudam, como também vemos o desenvolvimento e amadurecimento do protagonista. Se quando criança sua preocupação era lidar com o monstro dentro do armário, já adulto, passa a ser algo mais concreto, como saber se o salário será suficiente para passar o mês.
Além disso, sua vida adulta é um reflexo de todas as decisões que tomou, bem como suas consequências. Vendo os fatos somente pelo ângulo dele, pude sentir mais de perto diversos momentos de arrependimento, culpa e responsabilidade pelo que ele plantou no passado. O que me fez voltar em diversas situações minhas e pensar se eu faria algo diferente ou não.
São diversos momentos em nossa jornada que temos uma verdadeira encruzilhada em nossa frente e qualquer rumo será uma mudança drástica em nosso caminho. O que nos deixa com medo de sair da zona de conforto. O protagonista passa exatamente por isso, o que nos leva a se identificar com ele em diversos sentidos.
Sua relação com a família é próxima e ao mesmo tempo distante, nos faz também a questionar o motivo desse empurra e puxa que ele faz. No entanto, conforme somos apresentados aos outros personagens, é possível compreender o que o levou a tomar certas atitudes (mesmo que eu não concorde com algumas).
Em adição, como só temos o ponto de vista de uma única pessoa, fiquei curiosa para saber o que se passava na cabeça do restante do elenco, para matar algumas charadas deixadas ao longo do texto. O desfecho é objetivo e simples, contudo cheio de mensagens, assim como a própria narrativa.
O autor conseguiu fechar o arco de modo condizente com o que vinha sendo apresentado, porém com diversas pontas soltas, nos deixando curiosos para saber o que virá nos próximos volumes (uma trilogia). Mesmo que a experiência tenha sido rápida e fluida, não deixa de ser um livro forte. Com capítulos curtos e uma obra com menos de 150 páginas, a trama te dá diversos tapas na cara, com críticas a uma sociedade que só prega a produtividade e coisas positivas, por trás de pressões e cobranças desnecessárias (muitas vezes de nós mesmos).
Confesso que terminei a leitura desconcertada e sem saber definir tudo o que eu sentia. Precisei de dias até que tudo se assentasse e eu pudesse escrever essa resenha para vocês. Mesmo assim, algo me diz que não cheguei nem perto de transmitir tudo o que passei. Apenas recomendo que façam também a leitura e tenham sua própria experiência.
Em relação ao livro em si, li em versão digital. Então, posso falar que o livro teve uma boa revisão e diagramação. A capa não é das mais bonitas, mas é simples e objetiva, trazendo um pouco do sentimento guardado pelo protagonista (algo que achei curioso).
Agora me contem, vocês já leram um livro que te fez pensar dessa forma? Gostam de romances com essa pegada mais psicológica?