12 de January de 2021

O circo mecânico | Genevieve Valentine

Olá meu povo, como estamos? Hoje temos a primeira resenha do ano, também com a primeira leitura do projeto #12livrospara2021, em parceria com as meninas do MãeLiteratura e Pacote Literário. De acordo com o projeto, a leitura de janeiro é uma distopia, e o livro escolhido por vocês é um titulo da “caveirinha”, O circo mecânico, da autora Genevieve Valentine.
O circo mecânico | Genevieve Valentine
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

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Livro: O circo mecânico
Autora: Genevieve Valentine
Editora: Darkside
Páginas: 321
Ano: 2016
Skoob | Amazon
 
 

 

Respeitável público, o Circo voltou!
Num mundo pós-apocalíptico, onde as pessoas não tem mais acesso à tecnologias de ponta, uma caravana circense leva esperança por onde passa. Os artistas são sobreviventes de guerra, que tiveram seus corpos mutilados reconstruídos com complexas estruturas mecânicas.

 

 

Em um mundo praticamente destruído pela guerra, os poucos civis que restam se divertem com o que podem, para não entrarem na loucura. Para ajudar nessa “distração”, o Circo Mecânico Tresaulti passa de cidade em cidade, levando diversão e alegria para as pessoas. O grande diferencial do circo é exatamente o fato de ele ser mecânico, composto por pessoas que sobreviveram à guerra, porém mutilados como consequência das atrocidades pelas quais passaram.

“Nós somos o circo que sobrevive.”

Olhando assim, o livro vende uma ideia de que iremos encontrar uma uma coisa mais no estilo filosófico, até pelo fato do circo ser composto por pessoas que estiveram na linha de frente da guerra, que ainda assola o mundo. Mas a ideia para por aí, quando você começa a ler de fato a história. Acho que essa foi a primeira vez que fui feita de trouxa logo na sinopse… sério…
O livro, que tinha tudo para ser mais filosófico, já começa bem sombrio, ao estilo da editora. O circo de fato é mecânico, já que as pessoas são mutiladas e tem algumas próteses para lá de diferentonas, bem no estilo McGyver. Elas conseguem essas próteses ao entrarem no circo, como uma espécie de “pagamento de dote”. Boss, a líder da trupe, diz que só conserta as pessoas que chegam quebradas no circo, e as próteses que ela arranja são, ao mesmo tempo, estranhas e muito desejadas, já que te permitem fazer coisas impossíveis a humanos.
Essas próteses são chamadas de “os ossos”, que não se sabem a origem, não se sabem como são usados, apenas estão lá e serão postos em você. Assim, por onde passam, sempre tem gente querendo entrar no Circo Tresaulti; afinal, depois da guerra, o que mais tem no mundo é “gente quebrada”.

“Aqueles que tem grandes desejos nascem, não são feitos.”

Ao longo do livro, vamos entendendo como algumas pessoas chegam por lá. Há quem chegue por vontade de participar de um circo, há quem chegue porque não ter mais para onde ir, ou mesmo porque já não veem mais motivo para continuarem na guerra.
E há aqueles que chegam já com intuito de conseguirem uma uma prótese muito desejada: as asas de Alec. Grande parte das discussões no circo giram em torno das tais asas, na verdade. Quem deveria ser o sucessor de Alec? Quem deveria ser o novo portador das asas, que são o carro-chefe do circo em todos os cartazes? Boss tem um motivo bem forte para não querer dar as asas a qualquer pessoa, o que iremos descobrir conforme lemos o livro.

“Elas são arte; elas são habilidade; elas são a prova de que o mundo não abandonou a beleza.”

Como falei, o livro pode ser considerado uma distopia, já que fala de um mundo pós-apocalíptico, com um mundo devastado por uma guerra, que não tem nome, mas que ainda está em curso e assola o mundo inteiro. Mas ele em si é bem sombrio, pois as próteses que Boss arranja, apesar de parecerem ser feitas com o que tem à disposição, também tem uma espécie de magia por trás. Magia essa que ninguém explica, apenas deseja estar perto. O circo inteiro parece ter essa magia ao redor, talvez por isso, quem assiste ao espetáculo se apaixona.

“Os aldeões não querem a realidade. Entreguem a ilusão, e eles aplaudirão.”

Além disso, o circo já existe há tanto tempo, que até a trupe esqueceu a data exata que entrou por lá, o que parece confirmar a sensação do “viver para sempre” que eles tem. Essa sensação de viver para sempre talvez seja pelo fato de que não sabemos mais se essas pessoas viraram robôs, se são mortos-vivos, ou simplesmente estão sob o efeito “da magia” de Boss e tem de fato vida eterna, como uma espécie de Dorian Gray moderno. Porém, o mundo ainda está em guerra, e tudo pode ser usado para dominar o mundo. O circo tem uma fama de longa data, e o mundo inteiro o conhece.
O circo mecânico | Genevieve Valentine
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna
 Não são apenas civis que sonham em fazer parte da trupe, mas o governo também parece querer saber como essa magia funciona, para usar como possível arma contra o inimigo. Aqui, ele não tem nome, é apenas representado “pelos homens do governo”, que parecem ser uma metáfora a todos os governos do mundo, que fariam de tudo para ter uma arma poderosa como essa usada a seu favor.
Aliás, o livro inteiro parece ser feito de uma grande metáfora da vida. Então o governo é tido como o grande vilão, o que parece ser uma crítica à nossa atual sociedade, com a forma como eles lidam “em nome da paz mundial”. Boss eu não sei definir, mas de acordo com o meu namorado (que leu o livro antes de mim), poderia ser uma espécie de metáfora em relação à indústria e a forma como ela te induz a querer muito uma coisa, só porque virou “modinha”.

“Mais cedo ou mais tarde, você concordava com tudo que Boss lhe pedia.”

O que, depois de conversar com ele, pareceu fazer sentido, se prestar atenção aos materiais que são utilizados “nos ossos” e no desejo incontrolável que as pessoas tem, especialmente nas assas, que são até o tema da capa do livro, para chamar a atenção do leitor. Falando em metáforas, apesar de não ter concordado na hora, devo dizer que conversar com meu namorado acabou fazendo a diferença durante a leitura.
Antes de conversar com ele, devo dizer que achei o livro bem nonsense, e não sabia ainda o porquê de ele ser vendido com uma ideia, e ter outra completamente diferente na real. Estava bem decepcionada, pois tinha criado muitas expectativas e elas estavam caindo por terra conforme eu lia o livro.
O que salvava era que a escrita é bem fluida e envolvente até certo ponto. A não ser aquilo, estava decepcionada a cada virar de página. Depois que comecei a olhar para a história considerando metáforas, como ele me recomendou, devo confessar que uma luz parece ter se acendido e eu de fato comecei a gostar do livro, pois comecei a entender o motivo de alguns personagens, e até mesmo da história como um todo ter tomado o rumo que tomou.
Assim, um livro que era para ter sido uma decepção das grandes, se tornou um livro bom, que merece ser relido um dia, inclusive. A história não tem um narrador certinho. Ora vemos por uma terceira pessoa, ora vemos as coisas pelo lado de um dos personagens mais marcantes do livro, depois de Boss e Alec: Little George.
Ele tem esse nome, por ser o mais novo da trupe em idade. Mas como tempo é algo bem relativo nesse livro, pode ser que ele seja uma criança mais velha que eu e você juntos. Apesar disso, ele ainda é uma criança e vê o mundo com olhos de criança. Ter ele no circo parece dar um ar de esperança na leitura, já que muita coisa ele não entende, mas interpreta do jeito que acha que pode ser.
Ver as coisas por esse ângulo foi uma sacada genial, pois fatos que poderiam deixar o livro pesado e difícil de ler, se tornaram mais fluidas e fáceis de serem digeridas. Little George é o único que não recebeu “os ossos”, então isso o faz também ver as coisas como humano, já que “os ossos” parecem mudar os pensamentos e forma de ver o mundo das pessoas.
Ver as coisas também pelo lado da terceira pessoa, num primeiro momento pareceu confuso, mas depois que deixei a decepção de lado e li sem considerar minhas expectativas, vi que era necessário, pois assim tínhamos uma ideia de mundo menos enviesada do que teríamos, apenas vendo pelo lado da criança. Com essa perspectiva mais panorâmica, ficou uma história mais palatável, mais imparcial e a gente pode escolher o lado pelo qual quer torcer.
Isso porque o governo é tido como um vilão, mas será que o Circo Mecânico Tresaulti também não poderia ser um vilão? Isso vamos nos questionando à medida que a leitura segue. Além disso, pode parecer que uma história assim seria morosa e só filosófica, mas até em filosofias temos espaço para “tiro, porrada e bomba”, que foi adicionado aqui com maestria, como uma espécie de cereja do bolo.
O circo mecânico | Genevieve Valentine
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna
O final dele é fechado, mas tem uma pontinha de dúvida no ar, assim terminamos com aquela dúvida se terminou mesmo, ou se ainda podemos puxar um fio que te leva a outra história no futuro. Falando sobre o livro em si, a edição é em capa dura, bem no estilo da caveirinha. Então ele é bem dark, e bem enfeitado na capa, com as asas de Alec bem no centro, assim como outros detalhes, que vamos sabendo a quem pertencem ao longo da leitura. Alguns dos detalhes estão em alto relevo, o que confere um certo charme na arte final.
Ao longo do livro, temos detalhes bem bonitos, como ilustrações e algumas páginas separando os capítulos, que te lembram um circo, se fosse se apresentar no País das Maravilhas (deu para imaginar a combinação que seria?). As páginas são bem grossinhas, o que facilitou muito a leitura e a passada delas. A revisão está de parabéns e a fonte é bem legível. A não ser pela minha decepção num primeiro momento, o livro é bom e recomendo a leitura. Mas não façam como eu, deixem as expectativas de lado, aí vocês vão se surpreender com o livro. 😉

 

 

  Para acompanharmos o desafio durante o ano, a lista de leituras já começou bem:

 

12 livros para 2021

 

 

Já tinham lido esse livro? Curtem esse tipo de distopia? Me contem aí!
Postado por:

Hanna de Paiva

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