Olá meu povo, como estamos? Hoje eu tenho resenha de um livro que li há séculos! Sim, li há uns anos, mas apesar de ter ficado marcado em minha vida, eu nunca fiz a resenha dele… No entanto, livros que nos marcam merecem ser compartilhados…
Como antes tarde do que nunca (rsrsrs), cá estamos com a resenha do livro O futuro da Humanidade – A saga de Marco Polo, de Augusto Cury.
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Livro: O futuro da Humanidade – A saga de Marco Polo
Autor: Augusto Cury
Editora: Sextante – Ficção
Ano: 2005
Páginas: 249
Primeiro romance do psiquiatra Augusto Cury, “O Futuro da Humanidade” oferece uma rara oportunidade de repensar a sociedade e o rumo de nossas vidas. Cury nos presenteia com uma saborosa ficção que ilustra os ensinamentos presentes em seus livros e se apóia na sua vasta experiência profissional. Esta obra conta a trajetória de Marco Polo, um jovem estudante de medicina de espírito livre e aventureiro como o do navegador veneziano do século XIII, em quem seu pai se inspirou ao escolher seu nome.Ao entrar na faculdade cheio de sonhos e expectativas, Marco Polo se vê diante de uma realidade dura e fria: a falta de respeito e sensibilidade dos professores em relação aos pacientes com transtornos psíquicos, que são marginalizados e tratados como se não tivessem identidade. Indignado, o jovem desafia profissionais de renome internacional para provar que os pacientes com problemas psiquiátricos merecem mais atenção, respeito e dedicação – e menos remédios. Acreditando na força do diálogo e da psicologia, ele acaba causando uma verdadeira revolução nas mentes e nos corações das pessoas com quem convive.
Marco Polo é um estudante de Medicina, que acabou de entrar na faculdade. Assim como toda a sua turma, ele nem sabe o que esperar do primeiro dia de aula. A aula inaugural é de Anatomia Humana, a turma é apresentada aos cadáveres que vão passar boa parte do semestre com eles. Cada dupla recebe um cadáver aleatório, com o qual vão aprender sobre o funcionamento dos sistemas do corpo humano, aprender a fazer cortes e afins.
Enquanto o professor fala como será o semestre e tudo o que a turma terá que fazer, Marco Polo nem presta atenção, já que está interessado em saber outra coisa. Inocentemente, ele levanta a mão e pergunta quem tinha sido o cadáver que vai passar o semestre com ele.
Ninguém tinha feito uma pergunta “tão besta” dessas e a turma toda cai na gargalhada. O professor, irritado, fala que é um corpo qualquer que estava no freezer e que eles não tem que ficar com “peninha” do cadáver, pois do contrário, a Medicina seria o curso errado para eles.
Mas Marco Polo insiste tanto em saber, que o professor se sente desafiado. Agora, Marco Polo tem até o fim do semestre para saber quem era o cadáver, se não estaria reprovado logo no primeiro período.
O professor, um médico reconhecido, achava que aquilo era uma afronta logo no primeiro dia de aula; afinal quem era aquele aluninho para perguntar a identidade de um cadáver qualquer na bancada de uma universidade? Era apenas um cadáver, provavelmente de um mendigo qualquer.
A turma, apesar de ter caído na gargalhada e caçoar de Marco Polo o tempo todo durante aquele semestre enquanto ele procura respostas, fica encantada ao ver os quadros de médicos fundadores da escola de medicina, que estão ali nas paredes, muitos deles já falecidos ou bem velhinhos, ainda visitando a universidade vez ou outra.
Para os novatos, são pessoas ilustres, dignas de ficar num pedestal, já que tem um quadro ali na sala. Mas eles nunca iriam confessar que também estavam curiosos para saber quem eram os cadáveres que estavam estudando, e morrendo de medo de ter o mesmo destino de Marco Polo, rechaçado logo no primeiro dia de aula.
Mas Marco Polo aceita o desafio e vai atrás de respostas… respostas que foram capazes até de derrubar a arrogância do professor e de toda a turma que veio a caçoar da tal “pergunta besta”.
Bom, como perceberam, esse livro não tem número de contagem, pois eu o li tem um tempinho. Mas eu fiquei tão marcada com essa história, que toda vez que olho para o livro na minha estante, me sinto emocionada e tocada pelo personagem. Isso me tocou tanto, que precisei compartilhar com vocês e até hoje me pergunto como demorei tanto para trazer essa resenha.
Quando eu fiz Anatomia Humana na universidade, me lembro que o professor contou a origem dos corpos. Eles não chegam aleatoriamente nos laboratórios. Alguns são de desejo da própria pessoa em vida doar seus corpos para pesquisa. Se tem corpos de indigentes, tem também, mas o que hoje podem ser cadáveres em cima de uma bancada e com cheiro forte de formol, um dia já teve vida, família e voz nesse mundo e merece todo respeito. Foi pensando nesse respeito que devia ao homem falecido em sua mesa, que Marco Polo queria saber a identidade dele, saber sua história e o que ele fez enquanto vivo.
Confesso que nunca cheguei a investigar a fundo a origem dos cadáveres que eu estudei, mas sei que muitos desses documentos de doação são sigilosos. Acho que do mesmo jeito que o professor me contou isso quando perguntei, o professor de Marco Polo poderia ter respondido também, de uma forma mais tranquila e educada.
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Mas esse professor do Marco Polo é um dos que acham que são superiores e perguntas “bestas” não merecem nada senão uma resposta atravessada. Só que ele se enganou redondamente quando deu uma resposta desse tipo a Marco Polo. Ele olhou no rosto daquele homem em cima de sua bancada e não iria desistir até saber de sua história, afinal era uma vida que foi embora, mas teve sua marca no mundo.
Em busca dessa resposta, Marco dá asas a sua curiosidade a aceita o desafio. E vai saber que realmente é uma honra imensa ter aquele corpo ali, já que o tal homem desconhecido na real tem mais a ver com toda a escola de medicina onde ele estuda… e estava esquecido por todos, inclusive pelos médicos mais velhos…
“Quem é este que se esconde na pele de um miserável? Que mendigo é este que parece ter muito, mas possui tão pouco?”
Até esse momento, Marco Polo nem sabia qual especialidade teria ao se formar, apenas queria ser médico, por questão financeira e por ser conhecido como a “pessoa que salvaria vidas”. Mas, depois de conhecer as pessoas que o levam até o que ele quer saber, vê que a psiquiatria sempre lhe esperou, como uma forma de ver o mundo melhor. Eis que Marco Polo descobre que o pobre homem desconhecido era um morador de rua, assim como tantos outros que passam por nós no nosso caminho do trabalho/escola… Mas nem toda vida ele foi assim, houve um motivo forte para ele ter ido parar nas ruas… Que Marco Polo descobre ao investigar também a história da escola de medicina.
Acontece que moradores de rua também possuem história, mesmo que você nunca tenha perguntado a eles. Quem você vê hoje, pedindo uma moeda ou um pão, pode ter sido uma grande modelo ou um grande empresário, que largou tudo por não aguentar a pressão. Pode ter sido uma pessoa que sofreu abuso em casa e a única saída era morar na rua. Poderia ter sido o fundador do prédio que hoje abriga a escola que você estudou, mas hoje só quer saber de viver na rua, por achar que tem mais liberdade do que cuidando dos negócios.
“Você tem futuro garoto! Você pensa. O sistema me feriu drasticamente e me baniu. A dor que vivi poderia me destruir ou me construir. Resolvi deixá-la me construir. Atormentado, saí sem endereço, procurando um endereço dentro de mim mesmo…”
E quem vai apresentar tantas histórias assim a Marco Polo é Falcão, um mendigo qualquer, que aprece na universidade de Marco, para se consultar com as psicólogas. Ninguém sabe sua história, já que ele é arredio, e para todos é apenas mais um demente por morar nas ruas. Marco vê em Falcão sua melhor pista para saber a identidade do cadáver da sua bancada. E vai encontrar tantas histórias, que dariam um livro. E são esses mendigos os seus novos amigos, com quem Marco aprende a ver o mundo com outros olhos, a não se deixar levar pela pressão que a sociedade impõe. E mais, aprende que por mais que vivam nas ruas, às vezes foi escolha da própria pessoa, em busca de uma liberdade que as pessoas não enxergam, já que normalmente a desprezam.
Mas são eles, os excluídos da sociedade, que fazem o que querem, sem se preocupar com rede social, sem se preocupar com rotina, sem se preocupar com o que o chefe vai dizer. Não que a gente tenha que largar tudo e morar na rua também, mas cá entre nós, a vida passa tão rápido, e nem temos tempo de chorar ou sorrir direito, já que 24h são pouco para tanta coisa que nos impõem.
Com essa informação, Marco Polo dá um tapa na cara da sociedade quando apresenta a real história do cadáver que lhe acompanha o semestre na disciplina, já que o cara tem nome e foi importante pacas; a resposta de quem era aquele cadáver estava embaixo do nariz de todos, mas eles não enxergaram, nem a pessoa, muito menos o motivo pelo qual ela largou tudo e foi viver na rua como um desconhecido. E ainda assim, salvou mais vidas do que muitos poderiam pensar…
“Ninguém teria coragem para abandonar completamente o conforto social se não tivesse uma vida dilacerada, um motivo fortíssimo.”
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Depois de ler esse livro, quem levou um tapa na cara fui eu, nunca tinha pensado em como nossa sociedade anda doente e, às vezes o que os mendigos do livro fizeram foi uma forma de protesto para sair desse sistema onde todos temos que ser máquinas que nunca podem ficar doentes, que nunca podem largar tudo e nem tem tempo de ficar tristes, porque tem que trabalhar para comprar a felicidade e estão ocupados demais para enxergar o coleguinha do lado pedindo socorro.
Isso vemos claramente nos médicos que dão aulas a Marco Polo. Estão sempre correndo, nunca tem tempo. Estão envelhecendo e nem viram a vida passar direito. Mas se tá ficando tristinho, toma um remedinho que passa. Se tá ficando cansado, toma um remédio que fica bom. Se tá passando por problemas de família e acha que tá perdendo sua sanidade, toma um remédio que fica bom logo. Quando na verdade as pessoas só precisavam de alguém para conversar… de preferência alguém que não ficasse o tempo todo pensando que tem que correr para terminar seus afazeres e de fato prestasse atenção em você e no que você diz.
“[…] Seus pensamentos podem se aproximar da sua realidade interior ou se afastar dela. Por isso, ao pensarem sobre si mesmos, vocês podem ser estúpidos, colocando-se acima dos outros e querendo controlá-los, ou podem ser carrascos de si mesmos, diminuindo-se e permitindo ser controlados por eles. Aprendam a pensar com consciência crítica. Caso contrário, tratarão de doenças, mas serão doentes…”
Dançar sem ligar que tenha alguém te olhando, observar o pôr-do-sol quando quiser, falar sem ter que marcar hora com alguém, não depender de rede social para ganhar curtidas nas fotos… Simplesmente ser feliz da forma que é, sem ter que comprar nada caro, já que o mais caro é sua vida, e às vezes ficar nessa pressão que a sociedade nos obriga a impor em nós mesmos, é o que nos faz definhar numa cadeira de alto cargo. E a resposta está diante da gente, só precisamos enxergar melhor. Se cada um começar a olhar mais pela sua saúde, pela sua estabilidade mental e não colocar tanta pressão sobre si mesmo, quem sabe entraríamos no mundo de Marco Polo e de Falcão, em busca de uma sociedade melhor e mais sã.
Foto: Hanna Carolina/mundinho da Hanna |
Bom, falando sobre o livro, minha edição é um tanto antiga, de 2005 e tem algumas marcas do tempo. Mas as páginas são em papel pólen e de fácil passada. Os capítulos são curtos e cheios de diálogos, narrados em terceira pessoa. Apesar de curtos, não se enganem. Esses capítulos são cheios de questionamentos sérios, que você vai acabar levando para sua vida. Além disso, vão te arrancar revolta, lágrimas e muita reflexão sobre o que você quer para o seu futuro.
“Marco Polo e seus amigos não sabiam onde as pessoas se localizariam no futuro da Humanidade. Só sabiam que essa localização dependeria da coragem de cada um em caminhar na trajetória do próprio ser, abrir as janelas de sua inteligência, repensar sua história e fazer livremente suas escolhas.”
Super indico essa leitura e, para mim, foi e sempre será digna de nota máxima.
Foto: Divulgação |
“Augusto Cury é psiquiatra, pesquisador de psicologia e escritor. Ele é professor de pós-graduação e conferencista em congressos nacionais e internacionais. Desenvolveu uma importante teoria sobre o processo de construção do pensamento, chamada Inteligência Multifocal.”
Já leram algum livro de Augusto Cury? Me contem aí! 😉