Olá meu povo, como estamos? Olhos de Anjo é um suspense nacional que me deu diversos tapas na cara, e me deixou bem reflexiva por dias. Hoje, eu trago a resenha dele para compartilhar com vocês.
Obs.: Livro lido em parceria com a editora Skull
ALERTA: Este livro contém gatilhos sobre violência sexual, sequestro e violência extrema.
Livro: Olhos de Anjo
Autoria: Eric Durelli
Editora: Skull
Páginas: 358
Ano: 2024
País: Brasil
Formato: Impresso
Nota: 4.5/5
Um serial killer assombra a pacata cidade de Feitosas na década de 70. Cabe a Lisa Alvarez, jovem detetive recém promovida, decifrar os enigmas de uma mente doentia. Lisa precisa montar o quebra-cabeças do misterioso serial killer antes que ele faça mais uma vítima. Seguir o rastro do assassino não será tarefa fácil. Enquanto isso, Lisa, depressiva e sofrendo de traumas psicológicos por ter tido uma infância difícil é a pessoa que mais precisa de ajuda para caçar o assassino e prendê-lo. Existe um problema. A sua nociva família, que mora numa cabana nas montanhas geladas de Feitosas. Um thriller psicológico envolvente que reúne os piores transtornos da mente humana. Afinal, até que ponto vale silenciar-se diante da saúde mental do outro? Qual a solução para seus problemas psicológicos de infância? Cuidado, às vezes a mente humana não se recupera dos traumas vividos, pois há danos que são irreversíveis.
As montanhas geladas de Feitosas é um local silencioso e desejado por muitos turistas que esperam um pouco de paz e silêncio. Contudo, a cidade foi tragicamente marcada por diversos acontecimentos durante as décadas de 1950 e 1970, especialmente na casa dos Alvarez.
Lisa Alavrez Marcondes é uma menininha cheia de cicatrizes, das quais deseja apenas distância atualmente. Agora, trabalhando como detetive na cidade onde nasceu e se criou, a jovem é um exemplo a ser seguido.
Contudo, a pacata cidade onde vive está prestes a ser reconhecida em todos os jornais, por conta de assassinatos brutais. Assim, cabe à detetive descobrir o responsável por todos os crimes, mesmo que isso mexa com suas feridas mais doloridas. O grande dilema é até onde a moça aguenta para fazer justiça a quem precisa.
“Suas lembranças cruéis invadiam a mente como rabiscos desconexos numa página de caderno escolar esquecidos dentro de um baú.“
Rapaz! Que livro foi esse?! Fazia tempo que não me deparava com um suspense nacional fora da caixa. Olhos de Anjo é uma narrativa dividida em capítulos curtos e de escrita fluida. Entretanto, a história de Lisa deve ser digerida em doses homeopáticas.
A primeira parte esmiuça bem a infância da protagonista, mostrando em detalhes o que ela passa, bem como as consequências de certas escolhas de seus pais. No entanto, apesar de achar um importante alicerce para a trama, devo dizer que não me agradou de início.
Conforme comentei no post de primeiras impressões, as cenas eram bem pesadas e até asquerosas. Mas não eram tão necessárias assim. Isso porque a presença de cenas desse tipo tão alongadas deixou a narrativa arrastada e quase pensei em abandonar a leitura.
Além disso, mesmo depois da página 100, o suspense nem sequer havia sido apresentado, o que me frustrou e achei que encontraria mais um drama vendido de forma errônea para os leitores. Felizmente, ao conversar com o autor, fui convencida a dar uma segunda chance e, meus amores, não me arrependi.
Lisa tem diversos demônios, que a assombram mesmo já adulta. O resultado disso é uma pessoa depressiva, amarga e sem ânimo para nada. Seu único momento de tranquilidade é quando está junto de Tomas, o único membro de sua família que sobrou.
“-Não adianta rezar. Eu sou o demônio com olhos de anjo. Você sabia?”
O relacionamento dos irmãos é tranquilo, bonito e bem fundamentado. No entanto, olhando bem de perto, é visível o quanto ambos ainda sofrem bastante calados por tudo que lhes aconteceu.
Isso me fez ter piedade dos dois e torcer para que tivessem, ao menos, um momento de paz. Contudo, ao mesmo tempo que meu coração nutria sentimentos positivos, eu desconfiava de Tomas o tempo inteiro.
Nem ele, nem Lisa são personagens confiáveis. Numa página mostravam uma vida sofrida e digna de pena, mas na seguinte, tudo caía por terra. Passei a desconfiar deles a todo momento e fiquei de olho para qualquer detalhe que pudesse me fazer de trouxa.
Porém, foi quase impossível impedir isso depois que o suspense de fato começou. A narrativa ficou mais imersiva e precisei ficar atenta a cada acontecimento que me desse uma pista do que poderia ter acontecido. E, embora tenha sido uma experiência incrível, não posso passar pano para Lisa.
Não entra na minha cabeça uma detetive tão conceituada e respeitada como ela ser passada para trás desse jeito. Tentei relevar por ser uma época em que a tecnologia ainda não era tão avançada. Além disso, Lisa é uma pessoa bastante quebrada, depois de tantas porradas da vida.
Mas exatamente por causa dessa personalidade mais reclusa e observadora, eu esperava um trabalho de investigação decente, coisa que não vi. Achei incrível como ela era passada para trás com tamanha facilidade e depois ficava “ah, era isso? Ok, não vou debater”.
Me dava agonia e a vontade era de entrar no livro para dar uns belos tapas na cara dela e mandar acordar para a vida de uma vez, para perceber que o mundo não gira em torno do umbigo dela! Quem leva o trabalho nas costas é o Guerra, seu parceiro que quase não fala, mas resolve mais pepinos sozinho do que um batalhão inteiro.
“-Você esteve no céu. Agradeça. Viva seu inferno em Águas Negras.”
A relação da dupla é tranquila e de cumplicidade, o que confere pontos na hora de fazer a investigação. Mas meu ranço pela Lisa profissional já era tão grande, que pouco me importava se ela salvasse o dia. Eu só relevava quando era a Lisa pessoa, para quem torcia a cada momento, que tivesse um momento de paz.
Por conta disso, o desfecho foi uma faca de dois gumes para mim. Em parte, pouco me importava com a heroína, mas também fiquei feliz ao perceber pelo que Lisa foi capaz de lutar e se tornar uma pessoa melhor. Não obstante, o autor conseguiu manter uma atmosfera capaz de me fazer de trouxa até o último momento e eu terminei sem chão e sem saber definir um sentimento a respeito.
Em resumo, Olhos de Anjo tem cenas fortes e que necessitam de um leitor de estômago forte para acompanhar. Se você não tem problemas com leituras desse tipo, e nem com os gatilhos mencionados no começo, esse livro pode ser uma boa pedida.
Falando sobre o livro em si, eu li em formato impresso e posso falar que está muito bem diagramado, com uma revisão bem feita e fonte legível. As páginas grossinhas e amareladas ajudam bastante na experiência de leitura e conferiram pontos para ele.
Agora me conta: você já leu um suspense que te deixou sem chão no final? Já leu alguma obra do autor, ou da editora?
Texto revisado por Emerson Silva