Duas pessoas com nada em comum, a não ser o dia em que receberam a ligação mais mórbida que poderiam ter. No entanto, não resta muito o que fazer, a não ser aproveitar como podem seus, literalmente, últimos momentos. Mas o destino ainda pode reservar grandes surpresas, mesmo em momentos inesperados se estiver aberto a elas.
Eu já tinha visto muitos comentários positivos a respeito desse livro, bem como da genialidade do autor em criar uma trama tão sensível e real para o leitor. Porém, só agora tive a oportunidade de ler e posso afirmar que ‘Os Dois Morrem no Final’ é tudo isso e um pouco mais.
Por já sabermos o que acontece no final, pois o próprio título já anuncia, a experiência poderia ser esquisita. Contudo, o auge dessa obra não é saber se os jovens irão mesmo morrer ou não (embora eu torcesse com todo meu ser que fosse uma pegadinha do autor e tivesse uma salvação para eles), mas como os protagonistas lidarão com seus últimos momentos de vida.
Mateo e Rufus são dois adolescentes completamente opostos. O primeiro é introspectivo e faz de tudo para se manter alheio ao mundo. Então, se cerca de livros e jogos em casa. Só sai para fazer o básico na rua e visitar seu pai no hospital.
Já o outro é mais aventureiro, brigão e sabe o que é solidão desde muito cedo. Vive com a família que escolheu num lar temporário que chama de Plutão e são muito unidos, mesmo que para entrar em confusão.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
No entanto, não importa como viveram, eles irão morrer em cerca de 24h e não podem fugir do destino. Com a narrativa em primeira pessoa, a história se alterna com os ângulos de cada um. Assim, é interessante ver como eles reagem à notícia e passam a ser Terminantes.
Mateo luta contra o medo de morrer na rua e quer se fechar em copas dentro de casa para se proteger. No entanto, a ideia de permanecer sozinho e morrer dessa forma não é tão agradável quanto parecia logo no começo.
O rapaz nunca teve muitos amigos e nem se esforçou para encarar seus medos. Achava que se ficasse dentro de casa eternamente, nada de mal poderia lhe acontecer. Mas a morte sempre dá um jeito de encontrar as pessoas, por mais inusitado que seja.
“Se você consegue acreditar em duas vidas após a morte, consegue acreditar no universo brincando de marionete.”
Já Rufus está enrascado e fugindo da confusão que aprontou, envolvendo o atual namorado da sua ex. Ficar longe da única família que lhe acolheu não parece uma boa alternativa, pois certamente não os verá mais. No entanto, é obrigado a ficar sozinho para evitar que tudo piore.
Embora pareçam bem diferentes, a dupla me conquistou por ter algo em comum: uma sensibilidade que ninguém mais poderia perceber, a não ser que prestasse bastante atenção.
Mateo é um jovem bem tímido e de poucas palavras. Mas também é dono de um coração bom, puro e genuíno, algo raríssimo hoje em dia.
Conforme as páginas passam e conhecia mais o personagem, eu vi um rapaz que queria muito viver, porém tinha medo de se mostrar e ser feliz. As coisas sempre podiam ficar para depois, como se tivesse a vida eterna, quando na verdade é o oposto.
Sei que às vezes teremos sonhos maiores que nunca iremos realizar, seja por serem impossíveis (não acho que eu encontrarei um guarda roupa que me leve para Nárnia) ou por falta de planejamento mesmo. Entretanto, o rapaz sempre colocava um obstáculo mínimo diante de coisas que queria fazer, alegando que iria passar vergonha e que era péssimo.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Confesso que me vi como ele em diversas cenas, pensando em quantas coisas eu deixei de fazer ou de falar por achar que nunca me entenderiam ou que podia ficar para depois. Perdi muitas oportunidades de fazer coisas incríveis por vergonha ou medo, dizendo que ficaria para outra ocasião, quando podia fazer naquele momento.
No meu caso, eu tive anos depois para me arrepender e pensar que poderia ter feito o que eu queria, assim como também poderia ter descoberto que não teria tempo de refletir por tudo isso e nem estaria mais aqui. Me dar conta de que eu também não sou eterna me deu um soco no estômago e só queria dar a mão para o Mateo, dizendo que tudo bem sentir medo e que ele tinha que aproveitar a vida como queria, sem pensar na reação das pessoas.
Rufus, por sua vez, era um jovem cercado de amigos, mas ainda assim, solitário. O rapaz era atlético, sempre buscando novas aventuras e se desafiando.
Mas o maior desafio era o que ele não queria encarar: o que vivia dentro dele. Isso se refletia em diversas ações, por mais discretas que pudessem parecer. Confesso que também me vi um pouco nesse papel, o que me deu um aperto no coração e eu só queria chorar.
“Ninguém continua vivo para sempre, mas o que deixamos para trás nos mantém vivos para outras pessoas.”
A escrita do autor é fluida e ajudou bastante a equilibrar a narrativa densa que a obra trazia. Afinal, não deve ser fácil escrever sobre a dor da partida, especialmente quando é do próprio personagem.
Mesmo com capítulos curtos e uma leitura rápida, acabei lendo mais devagar. Em parte porque torcia pelos protagonistas e queria que eles vivessem cada segundo a mais comigo. Aliás, fiquei imaginando como seria o mundo se a Central da Morte existisse realmente.
As cenas que mostravam as ligações para as pessoas eram as que mais me incomodavam. Ela não passa de uma central com empregados entediados e que dão a notícia de uma forma tão robótica, que não sabia se sentia pena dos Terminantes ou queria dar uma palestra para os atendentes sobre como ter mais empatia.
Além disso, ficou o mistério sobre como a central sabe os dias da morte das pessoas. Talvez não fosse tanto o foco desse livro, eu entendo, mas ainda assim senti falta de uma pequena explicação a respeito.
Outra tecnologia que achei interessante foi o aplicativo Último Amigo, no qual os Terminantes podem ter contato com outras pessoas e não ficarem sozinhas em seu dia final. É também através dele que os destinos dos protagonistas se cruzam.
A proposta do app é bem bolada e também queria que existisse no mundo real. Assim, talvez as pessoas não se sentissem tão solitárias. No entanto, ao mesmo tempo que a ideia é boa, já sei o quanto o ser humano pode ser perverso, se aproveitando de momentos de fraqueza dos outros. Algo explorado nesse livro, de modo nojento e triste.
Voltando a falar do livro, o encontro entre Mateo e Rufus é simples e sem rodeios. Mas nem por isso me fez sentir menos empatia pelos dois. A dupla tem um entrosamento muito bom e genuíno, que me convenceu na primeira página. Além disso, foi quando comecei a torcer mais por eles e queria que vencessem a morte juntos.
“Doze horas atrás, recebi a ligação me avisando que vou morrer hoje, e me sinto mais vivo agora do que me sentia antes.”
Mas assim como na vida real, sabemos que não podemos lutar contra a natureza. Ver como eles se cuidavam era algo lindo e apaixonante de se ver. É incrível como 24 horas renderam tantos capítulos e coisas para fazer.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Aos poucos, conhecemos alguns personagens secundários, tão marcantes quanto os protagonistas. Lídia é a melhor amiga de Mateo, assim como Malcoln e Tagoe são de Rufus. Juntos, formam uma imensa família, regada a muita empatia, solidariedade e respeito, que muito me emocionou.
O desfecho é anunciado, mas nem por isso deixou de me arrancar lágrimas. Terminei o livro respirando fundo, com olhos marejados e um sentimento de luto, como se tivesse perdido dois grandes amigos, mesmo tendo conhecido há poucos dias atrás.
Acho que essa é a mensagem do livro: mostrar o quanto as pessoas são importantes. A vida é curta e temos que valorizar cada minuto.
“Não posso só sonhar com o futuro; preciso me arriscar a cria-lo.”
Eu gostei bastante e quero ler o segundo livro, mas não sei se será tão cedo, pois ainda preciso digerir esse (o que talvez eu nunca supere).
Em relação ao livro, eu li em formato digital. Então, posso dizer que tanto a revisão quanto a diagramação são simples e bem feitas. Eu gostei da capa também, em tons de azul mais escuro, como se fosse desenhada. Achei muito bonita e poderia ser um quadro, para me lembrar de como olhar a vida com mais sensibilidade. Em resumo, é um livro que me surpreendeu. Tem uma escrita fluida e uma trama emocionante que recomendo. Mas prepare os lencinhos.
Luciano Otaciano
Oi, Hanna! Tudo bem? Ainda não li este livro, mas vejo muitos elogios. Preciso lê-lo em breve. Que bom que curtiu a leitura. Abraço!
https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Cida
Oi Hanna! Apesar dos elogios, não é um romance que entra na minha lista. O tema central não me atrai, só o título já me deixa com um aperto no coração. Eu sou daquelas que prefere romances mais água com açúcar, fofinhos e final feliz com casal juntinho garantido. Bjos!! Cida
Moonlight Books
Hanna Carolina Lins
Ah, pois recomendo que leia, viu? Não vai se arrepender, 😉
Hanna Carolina Lins
Ah, super te entendo, Cida.