12 de February de 2019

Resenha do livro: A Gárgula

Olá meu povo, como estamos? Assim como aconteceu em janeiro, não consegui terminar o livro tempo de publicar no dia 12, como deveria. Mas como ainda estamos na mesma semana, tá valendo. (rsrsrs)
Além disso, tive alguns contratempos e o livro de fevereiro do projeto 12 livros para 2019 se mostrou mais arrastado do que pensei, aí acabei mudando para um outro físico: A Gárgula, de Andrew Davidson.

 

A Gárgula
Foto: Divulgação


4/33

Livro: A Gárgula

Autor: Andrew Davidson

Editora: Rocco

Ano: 2009


Páginas: 496


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Um homem coberto de chagas e cicatrizes adquiridas num trágico acidente de carro.
Uma mulher misteriosa que garante estar viva desde a Idade Média.
Um romance arrebatador sobre a queda ao inferno e a busca por redenção.

 

 

A Gárgula





     
    A Gárgula conta a história do nosso narrador, que não menciona seu nome. Mas ele tem pela frente um destino que vai mudar sua vida…
Viciado em sexo, drogas e rock n’roll, ele não tem muito rumo na vida. É ator pornográfico profissional, com uma beleza que sempre usa a seu favor e um vício em drogas e álcool que quase o levou à morte, literalmente… Sob o efeito de heroína e com uma garrafa de uísque na mão enquanto dirige, eis que cai um pouco da bebida em seu colo, quando a garrafa cai de sua mão.
Ao tentar pegar a garrafa, ele acaba saindo da pista, capotou e o carro pegou fogo. Como bebida alcoólica é inflamável, boa parte de seu corpo foi queimada. Por sorte, foi socorrido e levado ao hospital mais próximo, onde acordou na ala de queimados.

 

“Eu não entendia bem a enormidade da minha situação e perguntava-me coisas tipo quando poderia voltar ao trabalho no cinema ou quanto me custaria aquela viagenzinha ao hospital. Ainda não compreendera que talvez jamais voltasse ao trabalho, e que a viagem me custaria tudo.”

Passou por várias cirurgias, perdeu parte dos dedos dos pés e mãos, além das partes íntimas… Ou seja, de uma hora para outra, nosso narrador perdeu sua beleza e virilidade que tanto se gabava de dizer que era seu “instrumento de trabalho”. Se sentindo um monstro por fora, ele vai se descobrir um monstro também por dentro, com um passado sombrio, do qual não consegue esquecer e nem se redimir. Mas o que ele não sabe é que vai conhecer uma pessoa que vai mudar toda sua forma de ver o mundo.
Durante sua estadia no hospital, que é longa, já que está com queimaduras de 2° e 3° graus, ele acaba fazendo amizades com o povo da equipe médica. Logo sabia os nomes dos médicos e enfermeiros que cuidavam dele. Mas uma pessoa em especial, Marianne Engel, lhe intriga. Ela entra no quarto do rapaz do nada, se dizendo funcionária, mas logo seus atos mostram que ela está longe de ser médica, já que é uma paciente psiquiátrica que odeia hospitais… mas pelo nosso narrador, ela faz o sacrifício…

“-Que tal se eu lhe contar uma história?
  – Sobre o que dessa vez?
  – Sobre mim.”

De acordo com Marianne, eles se conhecem de longa data, desde a Idade Média, a qual seria a primeira vez que nosso narrador se queimou na vida… Um tanto fantasiosa no início, essa história não cola nem um pouco… Mas nosso narrador, apesar de não acreditar, vê em Marianne sua única companhia enquanto se recupera das queimaduras… e logo algumas coisas começam a fazer sentido…

A Gárgula
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

Esse livro eu comprei numa das edições do programa Mais Leitura, aqui em Duque de Caxias. Fui atraída pela capa, que tem um nome bem chamativo. Imaginei que fosse um suspense sobrenatural, mas se mostrou mais um romance bem diferente.
Para começar, nosso narrador não tem nome, mas é bem tagarela. Ele é bem detalhista e se apresenta como um cara lindo, forte e cheio de mulheres a sua disposição, seja na hora do trabalho ou no lazer (modéstia passou longe dele). Mas apesar de ter dinheiro, tudo o que quer, ele não é feliz. Tem um passado sombrio, criado por tios negligentes, que só faltaram lhe fazer vender o corpo para financiar seus vícios. Crescendo naquela família, ele acaba vendo nisso uma forma de “ter uma profissão”, e vai parar na indústria de filmes pornô.
Com tudo o que queria ao seu alcance, felicidade não importava, já que a vida é curta e ele precisava aproveitar ao máximo tudo o que pudesse. Até que numa Sexta Feira Santa ele sofre um acidente terrível, que quase o mata. Mas acaba acordando no setor de queimados do hospital. Lá ele descobre que teve o corpo todo queimado e precisará passar por tratamentos dolorosos e compridos, até estar apto para ter alta. Com sua revolta, afinal que o iria querer em um filme pornô, com aquela cara grotesca?
Revoltado com o mundo e se perguntando o motivo de não ter morrido, chega de supetão Marianne Engel, se dizendo médica do turno da madrugada. Nosso narrador acredita, afinal ela tem um crachá e um jaleco… Mas assim como muita coisa na vida de Marianne, ela se revela uma paciente psiquiátrica que odeia hospitais. Mas ela tem uma missão… e essa missão inclui nosso queimado.
Marianne tem uma personalidade claramente excêntrica. Ele insiste em dizer que á nascida na Idade Média, e estaria nessa época, por estar amaldiçoada.

 

A Gárgula
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

Achando graça no início, nosso narrador tem a absoluta certeza de que Marianne precisa voltar à ala dela. Mas não pode deixar de querer ouvir as histórias tão detalhadas de sua suposta vida no passado. E mais! Marianne garante que eles são destinados a ficar juntos. Com tanta informação junto, ele fica incomodado com a visita repentina, mas não pode negar que uma companhia de alguém que não se assuste com suas queimaduras, então acaba por aceitar as idas e vindas de Marianne.
Assim, conhecemos nós também as histórias de suas vidas passadas, contadas em tantos detalhes, que custa acreditar que ela inventou tudo isso de um dia para o outro. Marianne afirma sr uma freira alemã, com dom de línguas e que era responsável pela tradução de Inferno, de Dante. Enquanto a mocinha dá uma de Sherazade todos os dias, nosso narrador se vê cada vez mais envolvido com a nova amiga…
Será que eles são mesmo almas gêmeas? Será tudo invenção da cabeça de Marianne? Aquilo tudo que ela contou realmente aconteceu? São tantas pulgas atrás da orelha, que você não consegue largar o livro.
Marianne é escultora de grotescos, aquelas imagens de cara assustadora que ficam nas portas de igrejas e afins. Ela tem um jeito só dela para esculpir e dar um de seus muitos corações às obras. Alternado a isso, estão as histórias de tantas pessoas, que foram Marianne no passado.
Achei interessante como os personagens evoluem. Nosso narrador, uma pessoa desapegada da vida, que nem liga se morrer cedo, acaba se aproximando de Marianne de uma forma que jamais achou que faria com uma mulher. E esse amor cresce de uma forma tão fofa, que acabei torcendo pelo casal…
Marianne tem um problema sério. Não apenas pelas histórias que conta, mas por sua forma de trabalhar. Ela ganha bastante com o que produz, mas passa dias e dias esculpindo um grotesco, o que acaba deixando-a doente dia após dia, e ela nem liga. Ela diz que está amaldiçoada e precisa distribuir os corações que tem como penitência pelo resto da eternidade. Mas o último coração deveria ser dado com amor. E ela cultiva isso de uma forma que eu jamais imaginaria.

 

A Gárgula
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

Achei interessante que ela conta com tanto, mas tanto detalhe as histórias, que embora não assuma, nosso narrador acaba acreditando em algumas partes… o que lhe causa certo tormento… afinal, ele é ateu, não acredita em reencarnação, mas ela fala em tantos detalhes, que ele acaba tendo lá suas pontinhas de dúvida. Aos poucos, ele vai se recuperando das cicatrizes, e se transforma em um novo homem, capaz de amar, de desvendar mistérios e sabe que pode ser algo mais no mundo. Não era para ele ser um protagonista muito querido, mas não tem como não torcer por ele no decorrer do livro.
Lenda ou não, ambos são um casal de pessoas que não se encaixam no mundo, mas encontram seu lugar de alguma forma. E a trama que parece doida, de doida não tem nada. Acabei me apaixonando pela história, só não entendo ainda o motivo do nome do livro ser ‘A gárgula’, se a Marianne esculpe grotescos, que ela mesma fala que são diferentes.
O livro tem capa comum, com uma combinação de cores que chama a atenção, apesar de simples. A folha é branca, até demais para meu gosto, mas não incomodou a leitura. A letra é bem legível e, apesar de ser quase um calhamaço, chega um ponto que você acelera a leitura, já que algumas ações acontecem mesmo lá pelo meio em diante.
Mas até chegar na parte de ação mesmo, o livro se arrasta muito nas histórias da Marianne, que eu acho que mereciam capítulos mais curtos. A gente fica tanto tempo lendo as histórias do passado, que o presente mesmo quase não aparece em meio a capítulos longos.
Como temos as histórias de Marianne, ela divide a narração do livro com nosso protagonista. Nunca havia lido nada desse autor, mas apesar de algumas partes arrastadas, é uma história bem legal e diferente. Além disso, o final vai te deixar de queixo caído, mas eu não concordei muito com ele não…
Não dou a nota máxima a ele, só por causa de algumas partes arrastadas, mas é uma boa leitura e recomendo, se quiser ler um romance fora do trivial.

 

Sobre o autor:

“Andrew Davidson nasceu em Manitoba, no Canadá, e é formado em Literatura Inglesa pela Universiade de Colúmbia Britânica. Trabalhou como professor no Japão, onde viveu por alguns períodos, e também escreveu textos em inglês para sites japoneses. Atualmente vive em Manitoba e ‘A gárgula’ foi seu primeiro livro.”

Já leram esse livro? O que acharam? Gostam desse tipo de história? Me contem aí!

 

Postado por:

Hanna de Paiva

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