Olá meu povo, como estamos? Hoje temos resenha por aqui, do livro nacional ‘Dois Mundos’, de nossa autora parceira Talita Salvador. Vem ver!
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
15/30
Livro: Dois Mundos
Autora: Talita Salvador
Editora: Chiado
Ano: 2017
Páginas: 638
Pare! Agora pense por um momento naquele sonho ou naquela vontade muito grande de algo que você teve a vida inteira. Pensou? Talvez isso esteja relacionado à sua carreira ou uma experiência pessoal? Ou ainda algo que até o momento é impossível, mas que você anseia muito que a humanidade um dia seja capaz de conquistar. E se a oportunidade de tornar esse sonho realidade lhe fosse ofertada? Como se sentiria? Mergulharia de cabeça sem pensar? E se isso envolvesse vários riscos? Mesmo assim arriscaria ou deixaria a oportunidade passar? Mas, será que nossos sonhos realmente sempre saem como esperados?Iris Tralli é uma jovem astrônoma, nascida e crescida na cidade de São Paulo, que leva uma vida rotineira e até mesmo um pouco monótona quando inesperadamente é convidada a fazer parte de um projeto piloto organizado pela NASA. É dada a ela justamente a oportunidade única de colocar em prática seu maior sonho: seu projeto que lhe custou anos de trabalho. Com um time de pessoas desconhecidas, recrutadas de outras partes do globo, ela enfrentará o desafio de fazer uma viagem interplanetária em um projeto nunca antes testado. Durante todo o processo Iris terá que lidar com muitos problemas inesperados, descobertas que nunca imaginou existir e muitos conflitos internos. Ela passará por muitos desafios e finalmente embarcará no seu sonho, mas será que tudo isso valerá a pena?
Iris é uma astrônoma, que trabalha com seu melhor amigo Rafael num instituto da Grande São Paulo. Ambos cresceram juntos e possuem um sonho em comum: conhecer a NASA e um dia trabalhar para eles. Sonho esse que tem sido cada vez mais alimentado desde que eles começaram um projeto novo…
A dupla já trabalhava há meses no projeto, porém sem saber qual o real destino dele. A princípio é um projeto inovador, mas também muito caro e, bem, aqui no Brasil as coisas são difíceis de continuar quando são muito caras… O maior medo deles era que exatamente por isso, o projeto fosse comprado e continuado por investidores estrangeiros, que teriam no final todo o crédito pelos resultados. Essa certeza só aumentou depois que apareceram uns americanos, supostamente muito interessados nos projetos do instituto…
“Passamos toda nossa infância, adolescência e começo da vida adulta juntos, compartilhamos muitos momentos e até mesmo nossos gostos sempre foram muito parecidos. Um deles era nossa paixão por estrelas, planetas e o universo em geral, ficávamos horas no quintal olhando para o céu, inventando constelações até realmente saber sobre elas.”
“Nossa pesquisa não é uma coisa qualquer, é uma revolução e eles perceberam a magnitude de tudo isso que estamos tentando provar aqui!”
Imagina como não ficou a cabeça de Iris e Rafael ao pensarem que sua maior descoberta científica poderia sair do país e eles nem receberem o reconhecimento por tal?! Situação bem complicada essa, ainda mais quando eles descobrem que os tais americanos são nada mais, nada menos, que uma equipe de ponta da NASA!
NASA, interessada nas pesquisas brasileiras?! O que isso vai dar? Bom, para começo de conversa, a pesquisa de Iris e Rafael era uma coisa inovadora: tentar viajar pelo universo através de portais, que levariam até outras galáxias de uma forma bem mais rápida que seguindo o curso dos foguetes como atualmente seguem… Imagina a cara da dupla ao, se reunindo com a equipe da NASA, descobrirem que a empresa americana já tinha pensado nisso, estudado e conseguido um portal?!
Agora que eles iriam mesmo para escanteio, pelo menos era isso que pensavam quando Iris é convidada a ir conhecer esse portal de pertinho! O que era para ser um sonho dos dois, acabou sendo o sonho apenas de um, já que uma dupla sairia do instituto rumo à NASA, mas Rafael não estava na lista… Eis que surge Matheus, um pesquisador do oitavo andar, que trabalhava num projeto que ninguém mais no prédio sabia (ou pelo menos ninguém mais no quarto andar, onde Iris e Rafael trabalhavam, rsrs).
“Estou apavorada com o que vem pela frente, mas é a oportunidade da minha vida, muito além dos meus melhores sonhos!”
E lá se vão Iris e Matheus, a dupla inesperadamente formada, para a NASA, em busca de um planeta que tem uma atmosfera semelhante à da Terra, que seria uma possibilidade de novo planeta a ser ocupado, coisa que não apenas eles iriam descobrir, mais uma equipe, formada pelos melhores pesquisadores do mundo: médicos, biólogos, físicos, químicos… Todos representando o projeto SIRIUS, um projeto com uma tecnologia inovadora que, dando certo, seria uma revolução as viagens interplanetárias e possibilitariam colonização de novos planetas, além de descobrir se estávamos ou não sozinhos no universo…
“Peter Foss e Josh Noah dos Estados Unidos, Elissa Mironov e Yvon Petrov da Rússia, Adeline Laurent e Louis Blanc da França, Enzo Carbini da Itália, Alexia Weiss da Almemanha, Sakura Okada e Kaziki Kimira do Japão, Helder Janicki da Ploônia e finalmente Irir Tralli e Matheus Nogueira do Brasil. Esses eram os nomes dos trezes integrantes do projeto SIRIUS.”
Acho que, mesmo para quem é astronauta, seria uma grande emoção viajar até outro planeta, ainda mais quando se tem supostamente uma atmosfera semelhante ao do nosso planeta. Agora imagina o medo… primeiro por ser uma viagem até então possível apenas em filmes e séries, além de descobrir se estamos realmente sozinhos no espaço, indo diretamente lá para conferir, sem apenas enviar sinais como temos feito com ondas de rádio! Eu morreria de medo! Mas a equipe é muito corajosa e, ter o Brasil no meio da equipe, demonstra o quanto podemos ser capazes de participar de possíveis eventos como esse, não apenas americanos e europeus como sempre vemos nos filmes por aí…
O livro conta ainda uma boa parte de como foi o treinamento da equipe SIRIUS, ainda mais porque ninguém deles tinha treinamento de astronauta, o que se faz necessário para pesquisas desse tipo. Isso inclui simulações de pressão em outra proporção do que a que temos por aqui, ausência de gravidade, etc. E achei incrível como a Talita conseguiu descrever tudo com tanto detalhe, que eu me imaginei fazendo os treinamentos e sofrendo com eles, sendo experiências boas ou ruins.
Eles passaram seis meses confinados na NASA, tudo para no fim do ano seguinte embarcarem no que seria a maior aventura de suas vidas. E isso tudo é narrado pela nossa astrônoma Iris, que conta o seu ponto de vista de toda a aventura, treinamento, sentimentos, tudo que se possa imaginar…
O livro é dividido depois em dois núcleos, o da Terra, onde Rafael fica como porta-voz da NASA nas relações com o Brasil, e o da missão em si. Mas o que me deixou um tanto tensa era que a parte da Terra demorou muito para aparecer. Eu sei que o lance todo era a viagem pelo espaço e tal, mas se tinham famílias e amizades aqui na Terra, ainda mais o melhor amigo da Iris que iria manter contato e tudo mais, ficou meio esquecido boa parte do livro… nada que tirasse o foco da história, mais me incomodou um pouco a demora dele voltar à cena, se era um dos principais…
Com relação a Iris e Matheus… bem… acho que não preciso dizer que eles são dois candidatos a casal amorzinho, né? Mas as coisas não são tão cliches assim como você está pensando… tem tanta coisa em jogo nessa missão, que um casal se formando acaba aliviando um pouco a tensão das coisas…
E falando na missão, eis que eles alcançam de fato o planeta com a atmosfera semelhante a nossa, mas o que era para ser uma missão pacífica acaba se tornando uma missão de sobrevivência… eis que o planeta não apenas é habitado, como já foi destruído por eles mesmos, tudo pelo puro prazer de guerrear! E imagina os terráqueos, até então conhecidos de far far away, chegando no meio disso tudo?
Aí é que começa a real missão deles; além de sobreviverem ao caos que existe no planeta, ainda estão tentando voltar para casa, já que a nave deles (para variar) se destrói com o impacto no solo de Antarius, o planeta vermelho.
“Agíamos como se tivéssemos sofrido um acidente de avião, indo de um país a outro, e não como se aquilo fosse para ser a maior descoberta de nossas vidas.”
A tripulação que até então tem culturas e costumes diferentes, brigam e fazem tudo em nome de uma missão que se mostrou suicida, acabam vendo que a união faz mais que a força: faz amizade, faz família, faz sobrevivência… Para escapar de lá, eles precisam se unir a John, um cidadão de Vetria, que simpatizou com eles e decidiu ajudar… Na situação em que estavam, não poderiam recusar qualquer ajuda, porém era estranho que um habitante de um planeta tão distante entendesse onde fica a Terra e o que fazer exatamente para ajudá-los…
“[…] Ele me intrigava, não conseguia entender como ele sabia tanto sobre nós, era como se ele já tivesse estado na Terra ou como se já tivesse conhecido outros humanos […].”
Eis que John não apenas um bom samaritano, mas também um membro do conselho guardião, um conselho tão poderoso no universo, com um membro de cada planeta da galáxia fazendo parte e protegendo segredos inesperados, inclusive o conhecimento da existência de vida na Terra…
Diante de tantas reviravoltas, temos um final lindo e, posso dizer, feliz, mas para isso foi preciso muita coragem, seja para enfrentar os perigos, seja para encarar perdas pelo meio do caminho e ver coisas que nenhum outro ser humano jamais sonhou em ver…
E autora pegou um ponto chave que eu sempre pensei do mesmo jeito; o real motivo de, se existe vida em outros planetas, eles nunca responderam os sinais que enviamos até eles… Não direi qual é, mas ela toca nesse assunto de forma sutil e eu super concordo com ela…
Quem me acompanha no Instagram sabe que esse foi o melhor livro que li em 2018. E foi mesmo! Eu já tinha tido boas experiências com leituras nacionais desde que comecei a fazer parcerias com autores independentes, mas ainda não tinha pego nenhum de ficção científica e fiquei imensamente feliz em ter a oportunidade de ler Dois Mundos. O que me deixou mais feliz foi ver a quantidade de detalhes já mencionados sobre o treinamento deles. A autora fez uma bela descrição de tudo e eu fiquei impressionada e, sinceramente, com medo de alguns testes que os astronautas fazem para embarcar nos foguetes…
Eu não sei vocês, mas todas vez que vejo os testes nas imagens do Google, é só deles felizes brincando em gravidade zero… então todo mundo quer fazer porque é legal, mas é muito mais puxado do que se pensa afinal…
Com relação a narrativa, eu achei que foi muito boa, a não ser com o núcleo do Rafael meio que largado para trás, mas no fim a autora conseguiu pegar os ganchos soltos e amarrou tudo, então e algo que incomoda, mas não deixa furo no fim das contas. Com relação à diagramação, a fonte é bem legível e está bem organizado visualmente, mesmo sendo ebook. Os capítulos bem estruturados e tudo bem descritivo, para quem curte uma descrição de cena, vai curtir esse livro também.
No mais, eu dou nota máxima para Dois Mundos e super recomendo a leitura, ainda mais se você assim como eu, curte ficção científica. Eu sempre me perguntei se algum dia iriam colocar um brasileiro no meio dessas aventuras intergalácticas e finalmente meu sonho foi realizado. Meus parabéns e obrigada por mostrar que podemos embarcar também nelas Talita! 😍
Foto: arquivo pessoal | Talita Salvador |
Talita Martins Salvador é formada em publicidade e propaganda e atualmente mora no estado de São Paulo – Brasil.Desde sempre apaixonada por livros pedia para que sua mãe contasse histórias antes de dormir e assim que aprendeu a ler começou a escolher suas próprias aventuras. Decidiu começar a escrever como forma de vazão a todas as ideias que tinha e assim que voltou de sua temporada na Austrália resolveu investir em seu primeiro romance.Fissurada por séries, desenhos, amigos e uma boa viagem. Acredita que a vida sempre pode ser uma grande fantasia.