Olá meu povo, como estamos? Hoje temos a resenha do livro de uma das autoras que caíram nas minhas graças, com seu talento para thriller psicológico. Com vocês, a resenha de Objetos Cortantes, a obra de estreia da autora Gillian Flynn.
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
26/30
Livro: Objetos Cortantes
Autora: Gillian Flynn
Ano: 2015
Editora: Intrínseca
Páginas: 254
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Recém-saída de um hospital psiquiátrico, onde foi internada para tratar a tendência à automutilação que deixou seu corpo todo marcado, a repórter de um jornal sem prestígio em Chicago, Camille Preaker, tem um novo desafio pela frente. Frank Curry, o editor-chefe da publicação, pede que ela retorne à cidade onde nasceu para cobrir o caso de uma menina assassinada e outra misteriosamente desaparecida.Desde que deixou a pequena Wind Gap, no Missouri, oito anos antes, Camille quase não falou com a mãe neurótica, o padrasto e a meia-irmã, praticamente uma desconhecida. Mas, sem recursos para se hospedar na cidade, é obrigada a ficar na casa da família e lidar com todas as reminiscências de seu passado. Entrevistando velhos conhecidos e recém-chegados a fim de aprofundar as investigações e elaborar sua matéria, a jornalista relembra a infância e a adolescência conturbadas e aos poucos desvenda os segredos de sua família, quase tão macabros quanto as cicatrizes sob suas roupas.
Camille é uma jornalista com um passado sombrio. Fez questão de sair da cidade de Wind Gap, para se livrar das garras da mãe que ela sabia não amá-la, mesmo quando era pequena. Além disso, carregava consigo a dor da perda da irmã mais nova Marian, com uma doença estranha e rara, que a havia consumido ainda criança, mesmo com tantos cuidados médicos.
Além disso, uma crescente pressão para ser linda e popular na escola fez Camille cometer muitas coisas aos 13 anos, que ela faz questão de manter em segredo, principalmente sua obsessão por facas e qualquer coisa que fosse capaz de rasgar sua carne. Bastava uma palavra que lhe chamasse atenção, das mais diferentes às mais vulgares, ela tinha uma força que a fazia sossegar apenas depois de pegar algo afiado o bastante para rasgar a pele e gravá-la para sempre.
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Após um surto que a fez ficar no hospital psiquiátrico, por atitude do seu editor chefe, o único que tem amor pela moça, ela recebe a missão de voltar à sua cidade natal, para cobrir uns eventos macabros que estão acontecendo nos últimos tempos. Recentemente a cidade foi abalada duplamente pelo sequestro e morte de duas meninas de 9 anos, encontradas sem dentes e estranguladas em lugares estratégicos. Quem poderia querer a morte de duas crianças inocentes? Elas eram inocentes? O que seria grave o suficiente para levá-las à morte, e com tanto requinte de crueldade?
“Eu sei o que todos dizem, que nenhum pai deveria ver o filho morrer, que um acontecimento assim é como se a natureza seguisse na direção contrária. Mas é a única forma de realmente mantê-lo como filho. Pois crianças crescem e forjam novas alianças, mais poderosas. Encontram um cônjuge ou um amante. Não serão enterradas com você. Os Keene, porém, permanecerão a forma mais pura de família. Sob a terra.”
Camille, contra sua vontade, acaba aceitando a missão. Afinal, seria um grande furo e ela teria a vantagem de conhecer a todos na cidade… além de ter a chance de provar que não era apenas uma maluca que se corta e escreve notícias de quinta.
“Trabalho picareta – não precisa nem me dizer isso. Mesmo enquanto enviava o arquivo a Curry por e-mail, eu me arrependia de quase tudo nele.”
Ao chegar em Wind Gap, Camille precisa enfrentar sua mãe, um dos motivos pelos quais ela saiu da cidade. Adora não é uma pessoa fácil de se lidar… É uma mulher casada com Allan, um cara que nunca trabalhou e só sabe ser rico. Juntando à fortuna da família de Camille, eles vivem numa bela casa, no alto de uma colina, longe do barulho da cidade e com todo conforto possível. Conforto o suficiente também para Amma, a filha mais nova de Adora, fruto do casamento com Allan.
Camille já tem que engolir muitos sapos em nome de hospedagem na casa da mãe, que deixa claro sua insatisfação por ter alguém indesejado em casa. Amma, uma menina de 13 anos, porém de corpo bem desenvolvido para a idade, tem duas personalidades bem diferentes… Enquanto se mostra uma criança mimada pelos pais em casa, com vestidos de boneca e brinquedos dos mais caros, pelas costas deles, ama mostrar seu corpo cm mini-saias e tops curtos, é viciada em LSD e outros comprimidos que rouba da mãe. Além de ser a mais popular da escola e odeia quando alguém tem mais atenção que ela.
Toda a atenção que Camille não tem da mãe, vai para Amma, assim como ia para Marian, coisa que a mais velha nunca entendeu. Mas ela não estava ali para lavar roupa suja, sua missão era investigar assassinatos, garantir seu emprego em Chicago e impedir que mais crimes horrendos como aqueles acontecessem.
“Enterramos nossa menina hoje, você devia ter vergonha!”
No entanto, uma cidade pequena carrega fardos pesados. E todos sabem o que todos fazem no verão passado, e no retrasado e no outro verão. Camille acaba enfrentando seus próprios fantasmas, até se dar conta que o assassino estava mais perto do que ela imaginava.
E quando ela descobre, é difícil se dar conta que estava ali tão perto o tempo todo. A cidade é tóxica por si só. Casamentos são feitos de aparências. Crianças são mais precoces do que se pensa, e todos são fascinados pelas cicatrizes da moça que cresceu e ficou mais bonita fora da cidade.
Com ajuda de Richard, um policial recém chegado de fora também, investigam o lado mais podre das pessoas em Wind Gap. Todos são podres na cidade, parece que todos os adolescentes que viviam por lá mantém os mesmos pensamentos depois de adultos, e seus filhos agem da mesma forma nojenta.
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
E as meninas que foram mortas, supostamente tinham ligação com Adora e Amma. O que elas faziam com as meninas? Elas são suspeitas? Adora sofria de uma doença chamada Munchausen Por Procuração (MPP) e só ficava feliz com as filhas quando elas ficavam doentes. Se estavam saudáveis, era irritantes e sem utilidade, mas quando estavam doentes. Aí Adora era a mãe mais legal do mundo, com leites de cor azul, comprimidos para tudo. que só deixava suas filhas mais doentes ainda. Marian também morreu naquela cidade. Adora tinha culpa nisso?
Ou apenas queria cuidar de sua filha e ela faleceu por outra doença? Amma, por sua vez, não se conforma por tanta atenção com as meninas mortas. Sempre se perguntando se teria mais atenção dos pais e do mundo se ela também morresse. Sempre fazendo escândalos em nome de uma atenção que beirava o absurdo. E Camille no meio dessa família desequilibrada, tentando entender quem era mais doente ali.
“Você pode me ler. Quer que eu soletre para você? Eu certamente dei a mim mesma uma sentença perpétua.”
Eu já conhecia a escrita da Gillian graças a ‘Garota Exemplar‘. A história da personagem principal me deixou bem impressionada. Ao mesmo tempo que tinha medo de Amy, tinha vontade de saber o que mais ela faria. Comparando com ‘Objetos Cortantes’, seu primeiro livro, devo dizer que ela começou bem mais macabra.
Desde a metade do livro ela dava a entender que o “culpado” era um e eu já estava reclamando que era previsível demais quando ela vem e pá! Dá uma reviravolta no livro e tem um final surpreendente, daqueles que você leva a mão a boca e diz: “Gente, como eu não tinha pensado nisso?!”
Já havia simpatizado com a escrita da Gillian desde o primeiro livro dela que li. Sempre de escrita fluida e não perde muito tempo contando detalhes. Ela dá o suficiente e mexe mesmo com sua cabeça. A história é toda contada em primeira pessoa, pela visão de Camille, uma moça que tem um passado sombrio.
Aos 13 anos ela era pouco pior que sua irmã mais nova Amma, tudo em busca de atenção. E quando não conseguia, se cortava, escrevendo palavras que mais lhe chamavam atenção naquele dia. Tinha desde coisas triviais como “panela” até coisas mais chamativas, como termos sexuais.
E desde que foi internada pela última vez, mesmo que ela não se cortasse, as palavras “gritavam” para ela em algum momento. E eram escritas em todo canto: seios, nuca, joelhos… não importava. Depois ela simplesmente fazia curativos e cuidava até sarar e dar vontade de se cortar novamente, tudo em nome do prazer de ver o sangue jorrando de sua pele ao escrever.
Mas tudo tem um custo; nunca poderia ir à praia ou algo do tipo, pois nunca mostraria seu corpo escrito a alguém. que dirá ter relações com alguém.
“[…] Naquele verão comecei a me cortar, era quase tão dedicada a isso quanto à minha beleza recém-descoberta. Adorava cuidar de mim mesma, limpando o excesso vermelho de sangue com um pano úmido para magicamente revelar, logo acima do meu umbigo: desconfortável.”
“[…] minha primeira palavra, cortada em um ansioso dia de verão aos treze anos: má. Lembro-me de sentir aquela palavra, pesada e ligeiramente viscosa, […]. A faca de carne da minha mãe. Cortando como uma criança ao longo de linhas vermelhas imaginárias. Limpando. Afundando mais. Limpando. […] Má. Passei o resto do dia cuidando de meu ferimento. Loção. Atadura. Repetir.”
Essa sua coisa de esconder suas palavras por baixo de roupas de manga comprida a torna um verdadeiro ímã na cidade. Além de ser a jornalista responsável por cobrir os fatos, ainda é uma ex-habitante da cidade e tem o corpo que se torna objeto de desejo de alguns homens na cidade.
E ainda tem Amma, que se aproxima da irmã com um suposto compartilhamento de prazer em dor. E tudo isso contado pela visão de Camille, tentando lutar contra os fantasmas que a levaram a ter tantos cortes, e lutando contra os novos que a fazem querer novos.
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
É um livro bem rápido de se ler, mas tem que ter estômago, pois a autora não economiza em cenas nojentas e horripilantes de violência. Ela tem o dom de mexer com a cabeça dos leitores, e consegue de uma forma que você só para quando termina o livro. Super indico a leitura, pois apesar de tudo, ela sabe dosar perfeitamente as cenas, de forma que não ficam o tempo todo apenas num núcleo da história e nem pontas soltas.
Não vou falar muito sobre diagramação, pois li a versão ebook, mas posso dizer que está bem revisado e a fonte é legível. Só os capítulos que são um pouco longos demais, mas o livro no total tem 254 páginas, então não é algo que incomode tanto assim.Foi uma das leituras que mais gostei desse ano. Dou nota máxima.
Já leram alguma coisa de Gillian Flynn? Me conta aí! Até mais!