Betina Zteser é uma fotógrafa carioca, mas que roda o mundo, avaliando hotéis para turismo empresarial. Seu talento é conhecido por vários continentes e foi o primeiro nome que seu chefe pensou ao pintar a oportunidade de realizar uma parceria com um jornal inglês.
Junto com Bruno Jopson, eles teriam a tarefa de documentar a produção de etanol na Fazenda Ponte da Esperança, uma das mais importantes produtoras do Nordeste brasileiro. Porém, o que deveria ser apenas uma parceira de trabalho se mostra bem maior, já que a química entre os dois não demora muito a acontecer.
No entanto, o clima de romance dos dois está na corda bamba. O documentário de caráter econômico acaba ganhando cunho investigativo, quando descobrem irregularidades na fazenda. Além disso, suas descobertas são apenas a ponta do iceberg de um esquema imenso, envolvendo vários estados brasileiros. Agora, eles estão em perigo e precisam correr contra o tempo, se quiserem manter o furo de reportagem.
“Estávamos num jogo muito perigoso sobre o qual ele tinha o direito de saber.”
Essa é minha segunda experiência com os livros da Luciana. Com uma escrita fluida e bastante envolvente, fui facilmente levada para os cenários abordados no livro, além de me sentir lado a lado dos personagens.
A trama é narrada ora em terceira pessoa, ora em primeira, pelas visões da protagonista Betina, o jornalista Bruno, o médico João e a delegada Mariana Miranda (prima da mocinha). Apesar de terem sido personagens importantes para a história, achei que essa mudança constante de narrador se tornou confusa ao longo da leitura.
Se tivesse ficado apenas em terceira pessoa, teria dado o mesmo efeito da visão mais ampla, sem a sensação de confusão. A não ser isso, a trama é bastante envolvente, já que tem tudo o que eu gosto em um único lugar: romance, viagens e cenas de “tiro, porrada e bomba”.
Começamos sendo apresentados ao casal Betina e Bruno, antes mesmo de se conhecerem. Betina é carioca e resolveu seguir carreira de fotógrafa, indo contra o destino que seus pais planejaram
para todos os filhos, que era continuar seu legado em Odontologia.
Com pouco apoio da família e até de João, seu marido na época, ela enfrentou muitos obstáculos para realizar seus próprios sonhos. É uma moça inteligente, persistente e sonhadora. Gostei bastante dela por ser firme em seus desejos profissionais e não medir esforços para encarar quem lhe dizia que nada daria certo.
Apesar de saber que ela conseguiu, eu fiquei agoniada ao ler sua trajetória, onde tudo conspirava contra. E isso é bem vida real. Afinal, quantos de nós também não desistimos (ou quase) de nossos sonhos porque alguém falou que “não dava futuro”, ou “era tempo perdido”, sem nem ao menos perguntar se queríamos a opinião.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Então, me senti solidária e feliz, vendo o que ela conseguiu, mesmo nadando contra a corrente. Agora, anos depois, ela está separada de João e com um grande emprego como fotógrafa de uma revista de viagens.
Com o foco em turismo empresarial, a mocinha viaja o mundo todo e se hospeda em hotéis de luxo, a fim de captar todas os cenários bonitos possíveis, além de escrever matérias e indicar os pontos positivos e negativos da localização (#sonhomeu). Sua atual viagem tinha como destino Londres, para conhecer mais um hotel de luxo. No entanto, pouco tempo antes do prazo de Betina terminar, ela recebe uma proposta inesperada e irrecusável: voltar ao Brasil, porém emprestada para um jornal inglês, onde trabalharia em parceria com um jornalista de renome, Bruno Jopson.
O rapaz é meio inglês e meio brasileiro, o que lhe faz ter uma combinação interessante, tanto de genética, quanto de sotaques, costumes e métodos de conquista. Isso porque ele se apaixona por Betina à primeira vista e não quer perder a oportunidade.
A protagonista, por sua vez, corresponde, mas não completamente. Apesar de terem se passado anos desde o divórcio, ela demorou muito para se recuperar e tem medo de se entregar ao sentimento novamente.
No entanto, Bruno é um rapaz persistente e não está disposto a desistir, mesmo que tenha que enfrentar alguns percalços pelo caminho. Ainda que tenha curtido o clima de romance, fiquei incomodada com algumas coisas. Primeiro que a Betina pode ser muito madura para assuntos profissionais, mas quando se trata de coração, ela vira uma adolescente, sobretudo quando João ressurge das cinzas e se diz arrependido do que fez (mesmo tendo levado a um relacionamento tóxico).
De modo particular, não gosto muito do clichê de trisal, porém teria tolerado se não tivesse tomado boa parte do livro, que era para ser um suspense. O tempo todo eu me perguntava onde o mistério realmente iria começar, mas só via Betina dividida entre um passado de anos atrás e um boy caído de paraquedas na vida dela e mais parecia um Príncipe Encantado (só faltou o cavalo branco).
O clima de novela só é quebrado quando conhecemos a Fazenda Ponte da Boa Esperança. O local, o qual só tem de confortável mesmo o nome, é um cenário onde todas as aparências enganam.
Comandada pelo Coronel Britto, a fazenda é uma das maiores produtoras de etanol e cachaça. Além disso, a cidade de Anambé só falta estender o tapete vermelho e decretar feriado quando o homem passa na rua. Isso porque ele é um dos grandes doadores de recursos para as escolas. No entanto, conforme vamos conhecendo melhor as histórias antigas, vemos que nem tudo é um paraíso por lá.
“[…] Por fim pude entender o verdadeiro significado do nome Ponte da Esperança.”
E é isso que Bruno também percebe, ao começar a fazer a matéria para a qual foi contratado. De todo o livro, essa é a parte mais angustiante e nojenta de ler. Não apenas do coronel, mas dos seus empregados, que eram como seus reflexos mais jovens.
Tive que respirar fundo e parar várias vezes, antes de prosseguir com a leitura, pois não são cenas para quem tem estômago fraco. Aliás, já fica de alerta lá no começo os gatilhos, para o caso de você ser sensível a algum deles. O Coronel Britto é a versão brasileira de O Poderoso Chefão, praticamente.
Quem o vê, logo de primeira, encontra um senhor de meia idade, que mal levanta a voz, mas que mete medo por onde passa e todo mundo abaixa a cabeça, independente do que ele mande fazer. Bruno tem um ótimo faro investigativo e acaba descobrindo o motivo de Britto ser assim. Aliás, é o que explica o título “Súplica em Olhos Mortos”.
“A verdade era que ninguém sabia de nada.”
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Apesar de concordar com o motivo, essa questão não foi tão explorada quanto eu pensava que seria e fiquei decepcionada. Outra coisa que me incomodou foi o talento de Betina para se meter em encrenca. Ela já era grandinha o suficiente para saber que não deve se meter onde não é chamada.
Mas precisa tanto provar para o mundo que é capaz que só entra em confusões e atrapalha mais do que ajuda. O livro teria mais emoção se ela não passasse tanto tempo se preocupando com isso e sendo uma heroína de verdade. No entanto, só conseguiu ser a mocinha atrapalhada na hora errada.
Quem rouba a cena é a delegada da Polícia Federal, Mariana Miranda. Apesar de fazer uma participação especial, a moça foi, de longe, minha personagem favorita e eu mega apoiaria um livro só com ela como protagonista.
Mariana mostra que realmente estudou para estar naquele cargo, é uma mulher fantástica, madura (o que equilibra em relação à Betina), forte e fala o que pensa. Todos na sua equipe a respeitam e ela é a primeira a assumir o caso da fazenda.
Eles fazem um trabalho minucioso e interessante, que me fizeram ficar imersa na leitura por um bom tempo. E me deixaram feliz também. Afinal, é mais uma investigadora decente que encontro nos livros.
O desfecho é aceitável e as pontas foram amarradas, porém não da forma como imaginei. Como a autora focou mais no romance, talvez para deixar a leitura leve e fluida, não sobrou espaço para o que realmente importava (a ação que o livro precisava).
Embora concorde com tudo o que aconteceu, eu teria ficado mais impactada de tivesse um pouco mais de páginas, para amarrar melhor essa parte. No entanto, em momento algum a experiência deixou de ser positiva. Talvez eu tenha criado muita expectativa e me decepcionei um pouco. Acontece…
Além disso, esse é o primeiro volume da saga de Betina Zetser. Então, quem sabe eu faça as pazes com a mocinha em algum momento? Com relação ao livro em si, li a versão em ebook (dispinível no Kindle Unlimited). A revisão está muito bem feita, a diagramação é simples e com uma fonte confortável à leitura.
Apesar disso, não gostei muito da capa nova (amarela) que, ao meu ver, não tinha tanto a ver com a trama que trazia. A capa anterior (preta) combinava muito mais e era mais sombria, sendo exatamente o que o livro pedia.
Em resumo, foi uma boa leitura, bem fluida e rapidinha, a qual recomendo. Porém, não faça como eu, leia sem grandes expectativas. Talvez tenha uma experiência melhor que a minha.
Vanessa
Amei saber que a leitura foi fluida apesar de ter alguns pontos a serem observados. Gostei do livro e apesar de não curtir tanto histórias de personagens que se metem em problemas o livro todo eu vou tentar ler em breve essa saga.
Beijos.
http://www.parafraseandocomvanessa.com.br/
Sil
Olá, Hanna.
Eu sou dessas que gosta de romance em tudo, mas tem gênero que ele precisa ficar só na insinuação porque se não perde o foco da história. E também acho bem confuso isso de ficar mudando de primeira para terceira pessoa durante a narrativa. E apesar de ter achado o título bem interessante, não é provável que eu leia esse livro.
Prefácio
Luciano Otaciano
Oi, Hanna! Como vai? Gosto bastante do gênero. Este livro parece ser muito interessante, apesar de suas ressalvas eu o leria. Abraço!
https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com
Lovely
Beautiful review! I love a good thriller, and this sounds amazing.
xoxo
Lovely
http://www.mynameislovely.com
Hanna Carolina Lins
Espero que goste, Vanessa. =)
Hanna Carolina Lins
Yes, it's really amazing thriller book.
Hanna Carolina Lins
Bom saber, Luciano. Espero que goste da leitura também.
Hanna Carolina Lins
Eu concordo, Sil. Tem hora que o romance tem que ficar em segundo plano mesmo. Que pena que esse livro não te agradou, quem sabe na próxima? 😉