Olá meu povo, como estamos? Hoje temos resenha de mais um conto “brazuca”, de literatura fantástica, que muito me surpreendeu nos últimos dias. O conto se chama Última cruzada, do autor nacional Emerson Silva.
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Obs. Conto lido em parceria com a Confraria Crônicas Fantásticas
50/24
Livro: Última cruzada
Autor: Emerson Silva
Editora: Crônicas Fantásticas
Páginas: 99
Ano: 2021
Não existe dor mais cruel do que colecionar arrependimentos. Edmur, um cavaleiro experiente, encontra-se em uma situação delicada. Veterano de incontáveis guerras, o sujeito viveu muita coisa, mas nada tão sinistro como testemunhar a natureza obscura da humanidade em sua forma mais primitiva. Após uma tragédia, o cavaleiro embarca em sua última cruzada, determinado a amenizar seu tormento.
Acho que, desde que comecei a ler os contos da Confraria Crônicas Fantásticas, poucos foram os que me impactaram (talvez por eu ter um coração de pedra quando se trata de livros mesmo).
Mas dessa vez, o Emerson conseguiu me impactar com Última Cruzada. Para começar, esse é o segundo conto que leio do autor que não tem uma protagonista feminina, o que me deixou bastante curiosa por sinal.
Narrado em terceira pessoa, conhecemos Edmur, um cavaleiro forte e corajoso, que já passou por muitas coisas nessa vida e é motivo de orgulho e força na Cidade dos Sonhos.
Quem olha para ele, pensa que é um homem é uma muralha, que não tem tempo de sofrer por nada, já que sua vida é incrível, digna de um herói.
Dinheiro, terras, poder, mulheres… quem poderia dizer que sua vida não era perfeita?
Mas, conforme vamos lendo o conto, Edmur nos mostra que as aparências enganam e, às vezes, essa ilusão de “vida perfeita” é só para esconder um sofrimento que as pessoas jamais entenderiam.
“E nem mesmo ele, com todas suas contribuições, tinha a permissão de cruzar a froteira da moralidade sem sofrer represálias.”
Apesar de não viver na Cidade dos Sonhos, estou passando por um momento em que só queria fugir dessa positividade tóxica que vemos nas redes sociais (um dos motivos pelos quais acabei procurando apoio psicológico).
Muita coisa na minha vida mudou, mas se tem uma coisa que me identifiquei bastante com Edmur foi o “talento” dele em esconder coisas para não ser criticado nem julgado.
Edmur tem uma ferida que nunca sarou, uma ferida que mexe com ele, mesmo depois de anos fingindo que estava tudo bem.
Agora, já prestes a se aposentar da carreira como guerreiro, ele decide lutar contra seus próprios demônios e ficar bem consigo mesmo.
Sua última cruzada será numa floresta, onde ele vai refletir sobre várias coisas, que poderiam muito bem ser trazidas para o nosso presente.
Incrível como em poucas páginas, o autor me deu vários “tapas na cara”, com relatos que me fizeram lembrar julgamentos que eu mesma fazia quando mais nova, pensamentos que eu achava que eram certos e hoje vejo que não fazem sentido.
“Colecionar arrependimentos era o pior sofrimento que a vida podia proporcionar.”
Fora várias alfinetadas na sociedade como um todo, que poderia ser a Cidade dos Sonhos, o Rio de Janeiro, Paris ou qualquer outra cidade do mundo, que se encaixaria perfeitamente.
Isso mostra que, não importa onde ou quando esteja, a sociedade acaba alimentando as mesmas coisas ruins e ficando doente.
Edmur não aguenta mais o seu tormento e age de uma maneira que não me agradou num primeiro momento, em busca de redenção.
Olhando de fora, achei que foi egoísta demais da parte dele as atitudes que tomou, ainda mais depois das reflexões que ele mesmo fez antes de tomá-las.
Mas, ao mesmo tempo, acho que não posso julgá-lo, por estar em um dia de fúria e não aguentar mais suas dores.
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Foi a primeira vez que li uma obra do autor que tratava a representatividade um pouco mais a fundo, na medida do possível, já que se trata de um conto e as coisas não são resolvidas com tantas explicações, por falta de espaço mesmo.
Mas, para uma primeira vez, valeu a tentativa, o que me levou a pensar em outros assuntos, que o protagonista sofre em decorrência disso.
Isso vindo exatamente num tempo de campanha sobre Setembro Amarelo, não sei se foi coincidência ou não, mas foi uma boa sacada.
“A vida tinha um toque sádico de mostrar aos homens como sua ignorância perante o mundo podia ser gigantesca.”
Apesar de sempre bater na tecla de que o autor detalha demais algumas cenas, aqui eu posso dizer que, ironicamente, minha única reclamação é a falta deles, pois gostaria de saber mais sobre a relação de Edmur e seu passado, me sentir mais próxima a ele e até segurar sua mão.
Falando sobre a obra em si, como sempre, a diagramação e a revisão estão ótimas, assim como a capa, que está perfeita para o que o conto trata.
Foto: Hanna Carolina/Mundinho da Hanna |
Ouso dizer até que foi a mais bonita do mês (apesar de esse ser o primeiro conto que leio no mês da editora, hehe).
Por fim, apesar de ser um conto de fantasia, fiquei impressionada pelo fato de ter tomado um rumo diferente, mais profundo e impactante, que toca na ferida sem dó e te faz ficar pensando sobre ele por vários dias para se recompor.
Já tinham lido algum conto/livro com uma proposta, mas que te impactaram de outra completamente diferente? Me contem aí!
Bruna Domingos
Uau, eu não conhecia o conto e adorei a forma como você descreveu a sua experiência de leitura. Gosto quando autor conecta sua história com a realidade de alguma forma (mesmo sendo uma narrativa fantástica).
Colocando o conto na minha lista.
Beijos
http://www.leiapop.com/
Leyanne
Oi, Hanna. Gosto de leituras de fantasia, e esse rumo curioso da história também já me deixou instigada. Valeu pela indicação.
Bjs
Imersão Literária
Alessandra Salvia
Oi Hanna,
Fantasia nacional sempre é uma coisa que me deixa curiosa! Acho que merece bastante reconhecimento.
Desejo sucesso para o autor!
beijo
http://estante-da-ale.blogspot.com/
Camila Carvalho
Oi Hanna.
Confesso que não é meu tipo de leitura favorita, mas você falou com tanta paixão de suas reflexões a respeito desse conto que fiquei curiosa.
Que bom que o autor conseguiu te surpreender de maneira positiva.
Beijos
https://tecontopoesia.blogspot.com
Sil
Olá, Hanna.
Tem algumas histórias que acontece isso mesmo. A gente começa a ler esperando apenas mais uma história e acaba levando uns puxões de orelha hehe. E é com dor no coração que digo que já perdi minha fé na humanidade. As pessoas sempre arranjam um jeito de estragar tudo tentando levar vantagem em tudo.
Prefácio
Hanna Carolina Lins
Surpreendeu mesmo Camila. E espero que possa conferir um dia também, já que ficou curiosa, rs.
Hanna Carolina Lins
Olha, concordo contigo Sil, ainda mais diante dos acontecidos dos últimos tempos. Está cada dia mais difícil acreditar na redenção da humanidade.
Hanna Carolina Lins
Com certeza Ale!
Hanna Carolina Lins
Pois espero que goste da leitura também, Leyanne! =)
Hanna Carolina Lins
Espero que curta a leitura! ^^