16 de July de 2022

Até que A Morte Nos Ampare | Marcos Martinz

Olá meu povo, como estamos? Hoje eu trago a resenha de ‘Até que a Morte nos Ampare’, um livro “brazuca” que levou o prêmio de obra mais emocionante do ano.

Até que A Morte Nos Ampare
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

Obs.1: Este livro pode conter gatilhos sobre depressão e suicídio. Obs2.: Devido ao cronograma do projeto 12 Livros Para 2022, a resenha desse saiu depois. 

35/24 

Livro: Até que A Morte Nos Ampare

Autor: Marcos Martinz 

Editora: Ciranda Cultural (selo Principis) 

Ano: 2021

Páginas: 128 

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Rosinha revive a mesma cena todos os dias, há pelo menos dois séculos. Ela está destinada a esse sofrimento até que encontre o próprio assassino. Com a ajuda da fiel escudeira, Dona Morte, que decide levar o espírito de um jovem escritor do mundo dos vivos, ela recebe a visita de Marcos – diga-se de passagem, o próprio autor do livro, que, à la Tim Burton, insere-se na trama e trata as idas e vindas da narrativa com genialidade – para que consiga completar sua missão e fazer a passagem para a eternidade. A obra aborda assuntos muito importantes, como depressão e amor-próprio, e, de maneira bem-humorada e descontraída, nos leva a refletir a respeito de como nossos comportamentos estão condicionados aos nossos sentimentos; por isso é tão importante ouvirmos a nós mesmos e, caso necessário, buscar ajuda.

 Rosinha era uma jovem alegre e bondosa. Cheia de sonhos para um futuro feliz, a mocinha vê tudo indo por água abaixo quando nada acontece conforme o planejado.    Embora não goste da reviravolta que sua vida tomou, ela aceita e segue o que deve ser feito.   No entanto, prestes a dar um passo importante, ela morre em circunstâncias inesperadas. Seu assassino?    É um mistério, especialmente para Rosinha, que revive a cena por longos 200 anos, ainda sem entender o que aconteceu naquele dia.   Dona Morte, sua companheira durante todo esse tempo, decide ajudá-la. Para isso, leva até o mundo dos mortos o espírito de um jovem escritor.    Juntos, eles precisam compreender as pistas e resolver os dilemas da jovem, a fim de que ela possa descansar em paz.

“Não se engane; muitos rostos bonitos podem esconder histórias macabras na alma.”

 Quem acompanha com frequência os posts do blog, viu que adquiri ‘Até que A Morte Nos Ampare’ há pouco tempo.  O livro veio através do sistema de trocas do Skoob e solicitei mais por causa da capa — muito bonita por sinal.   

Além disso, pela sinopse, fiquei interessada por ver a ideia de um mistério, envolvendo a trágica morte de nossa protagonista Rosinha, o qual me deixou bastante curiosa.    Some-se a isso a trama com toques de Tim Burton e um detetive amador, em circunstâncias inusitadas, para dar ainda mais vontade de ler.

 Como estava em busca de leituras mais curtas e leves, decidi dar uma chance à obra, furando a fila de espera, pois tinha em mente que seria um tipo de “terror para crianças”. No entanto, tive uma grande surpresa. Lendo as resenhas no próprio Skoob, percebi que mirei em uma coisa e acertei em outra bem diferente. 

Felizmente, estava bem para encarar a leitura e me foi um presente, diga-se de passagem. A obra é pequena, tem menos de 130 páginas e gira em torno de três personagens principais: Rosinha, Dona Morte e o jovem escritor, que é o próprio autor (e ele faz questão de confirmar isso), aliás.    

Achei essa tática bastante curiosa, pois apesar de ter lido histórias nas quais estava na cara que o autor fazia as vezes de narrador, ficava em aberto para o leitor, sem confirmação. Marcos ainda está vivo, porém enquanto dorme, sua alma é recrutada por Dona Morte para passar a madrugada no além, ajudando a desvendar os acontecimentos da vida de Rosinha.  Ao chegar lá, temos um vislumbre de um cenário que me lembrou muito ‘Viva, A Vida é Uma Festa’.

“O Marcos acordado era só um jovem correndo atrás da vida louca de teatro. O Marcos adormecido (alma) era um contador de histórias dos mortos.”

Almas de todos os tempos, com bom humor e fazendo reuniões animadas no meio de um cemitério que, para muitos é sinal de tristeza e sofrimento. Apesar de mórbido, era esperado, já que na própria sinopse se fala da influência de Tim Burton. Gostei que as cenas traziam detalhes o suficiente para me deixar imersa na leitura e me senti junto a Marcos, visitando o piquenique da madrugada.  

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 E foi de uma maneira tão leve, que consegui passar por isso sem ficar com medo, o que rendeu uns pontos à obra. Ao chegarem em uma capelinha, Marcos depara com a jovem Rosinha, de cabelos cor de rosa, vestida de noiva e um buquê de flores murchas.    

Além disso, chama atenção por apresentar metade do corpo transformado em esqueleto. Se tal característica tem a ver com sua trágica morte, cabe ao escritor (e ao leitor) descobrir, conforme ouve atentamente e escreve a história da moça. 

 Aos poucos, o narrador dá a vez para a morta, que conta com muito carinho sua trajetória.   Conhecemos, assim, uma moça de muito tempo atrás, que vivia feliz em uma cidade pequena. Tinha amigos e um emprego do qual gostava bastante.  Seus pais a amavam e ela tinha tudo o que mais poderia desejar. Por isso, sua morte foi um choque para a população, que a conhecia desde pequena.

“Cada um vê o mundo com as cores que pinta e eu sempre enxerguei as paletas mais coloridas da imaginação.”

  Quem poderia ter matado a pobre moça, que tinha o nome de suas flores preferidas? Qual foi o motivo que levou alguém a cometer um ato desses, ainda mais em um lugar pacato, como Cidadezinha?   

O clima de mistério permanece, porém não por muito tempo, visto que a resposta é um tanto óbvia.    Isso porque, conforme Rosinha nos conta seu relato, deixa diversas pistas que nos levam a crer que nem tudo é o que parece ser.

“Uma lembrança é eterna quando se está morto, não há como esquecer.”

Por trás de um “bom dia” muito feliz e um sorriso bondoso, pode se esconder uma pessoa profundamente triste.    Rosinha poderia ter uma relação amorosa com os pais, porém eles não retribuíam em igual intensidade, ao menos pelo que a jovem pensava. Vendo tudo pelo ponto de vista da protagonista, temos “a vantagem” de ver a interpretação dela enquanto viva e depois de anos morta, já mais madura e ciente das coisas.    

Embora não compreendesse antes, era nítido que sua mãe a amava e tentava transmitir isso de todas as formas, porém sem sucesso. Isso gerava situações confusas e até desanimadoras para as duas. O pai, por sua vez, mantinha à risca os costumes da época e não dava muita chance de a filha se expressar.  

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

No entanto, percebemos que Rosinha não fazia muito esforço para tentar ser ouvida, apenas acenava ao que lhe diziam e murmurava sozinha depois. Não que ela não quisesse, mas por achar que não valia a pena e já ter a ideia preconcebida de que ninguém lhe compreenderia.

“Não as culpo, era a tamanha ignorância da época em que vivíamos. Era uma época em que não era permitido às mulheres sonhar.”

Talvez tivesse razão, porém nem sequer tentou para ver se estava certa ou não, e sofria calada. Isso levou a uma espiral de tristeza sem tamanho que não tinha nome antes, mas hoje conhecemos como depressão. Embora acolha a jovem com carinho, compreensão e delicadeza, o Ceifador também dá puxões de orelha e mostra as várias possibilidades que suas atitudes poderiam ter gerado, se ela tivesse mais atos de coragem em vez de se render aos medos.   

Com isso, não queria dizer que ela deveria ser uma aventureira e sair por aí dizendo verdades desnecessárias ou se metendo em confusões. Mas ter coragem de compartilhar suas dúvidas com alguém de confiança e, até quem sabe, pedir ajuda — seu maior desejo, por sinal. Assim, é impossível não absorver, em algum momento, as emoções de Rosinha ao longo das descobertas.   

Além disso, a escolha de Dona Morte em levar Marcos a conversar com a jovem não foi aleatória. Antes que me julguem por dar spoiler, já aviso que não é. O autor deixa uma minibiografia na contracapa, onde conta sobre seu diagnóstico de depressão profunda, que o levou a uma tentativa de suicídio. Nesse momento, ele percebeu o quanto poderia deixar seus sentimentos aflorarem por escrito, compartilhando a mensagem com mais pessoas.

“Milagres acontecem o tempo todo. Principalmente quando não estamos vendo.”

E posso dizer que atingiu o objetivo com sucesso. Isso porque Rosinha poderia muito bem ser o Marcos de séculos atrás. Só uma pessoa depressiva para compreender com certeza os sinais em outra pessoa. 

A conversa desses dois é linda de se ler, mas também impactante. Mesmo que a obra seja curta, não consegui ler rápido; a profundidade com a qual mergulhei no tema foi tamanha que precisei digerir em doses homeopáticas para ter a real noção da mensagem a ser passada para o leitor.    

Talvez pelo fato de ter conhecimento de causa, o autor conseguiu tratar do tema com a seriedade que merece, porém, sem perder a suavidade e nem a poesia da trama.  Como resultado, me senti acolhida e abraçada em tantos momentos que terminei a leitura com saudade dos personagens.    

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

Dona Morte é um espetáculo à parte. Embora seja um personagem difícil de lidar, dado seu significado, Marcos conseguiu transmitir uma versão diferente dela. Aqui, vemos um personagem bem peculiar, e concordo com a definição do autor, achando que é ‘um docinho de alma” (rsrsrs).

“Por que a Morte lhe choca? Eu sou tão assombrosa assim?”

O Ceifador é uma entidade que gera medo à primeira vista, mas que pode te ensinar diversas lições.    Além disso, embora não pareça, tem um toque de bom humor e leveza, que nos faz aceitar sua presença com mais facilidade. 

E isso fica mais compreensível com a carta que escreve ao leitor no final do livro.   Sinceramente, achei o livro inteiro uma gracinha e extremamente necessário. Mas a carta da Dona Morte foi o auge da emoção.

  Acho que todo mundo que ler vai se identificar em algum momento com a mensagem que ela transmite, o que rende as mais variadas emoções e reflexões.    Embora tenha um começo, meio e fim bem definidos, não posso dizer que ‘Até que A Morte Nos Ampare’ tenha um desfecho fechado. Isso porque o cenário é a própria vida e não sabemos o que nos aguarda no futuro. 

Achei uma grande sacada do autor, que manteve o toque da poesia desenvolvida ao longo da obra. Como já disse várias vezes também, sou um coração de pedra quando se trata de leituras e raras são as que me fazem chorar de verdade.  

 Aqui, posso afirmar que foi o livro mais profundo que já li e me fez ir às lágrimas, ao ponto de soluçar. É impossível não ver em Rosinha a representação de pessoas queridas que se foram, ou mesmo momentos de arrependimentos nossos.

“A vida só faz sentido quando é vivida, Rosa. Quando falamos das rosas que somos e dos espinhos que temos.”

 É um livro que vai ficar realmente marcado para sempre no meu coração. Apesar do tema, foi um dos mais lindos e emocionantes que conheci e acho que o mundo também precisa saber de sua existência.   Em relação à obra em si, eu amei a capa, que traz a própria Rosinha de um lado e Dona Morte do outro (teria gostado mais ainda da capa se a pessoa que enviou a troca tivesse mais cuidado ao embalá-la. Mas isso é história repetida, rsrs). 

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

A revisão está muito bem feita e a diagramação é simples, porém bonita.   Além disso, embora seja publicada pelo selo “Principis”, já conhecido pela simplicidade das edições, achei que capricharam um bocado aqui. 

As páginas são mais grossinhas do que em outros livros que tive contato e até mais amareladinhas, o que chamou atenção.   Somando tudo isso, o livro leva nota máxima e recomendo a leitura. Mas deixo também avisado que leia quando estiver realmente bem para isso, além de arranjar uma caixa de lenços, pois vai precisar.

E aí, já conheciam esse livro? Gostam de dramas mais pesados desse estilo? Me contem aí! 

Obs.: Texto revisado por Emerson Silva 

Postado por:

Hanna de Paiva

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