Olá meu povo, como estamos? Hoje temos resenha de mais um conto (o penúltimo) da coleção Femme Fatale. O da vez é A descoberta de Jana, da autora nacional Lola Salgado, uma releitura da história de Tarzan.
Jana Pontes ama trabalhar na Nattú, uma indústria de cosméticos conhecida pela preocupação com o meio ambiente e por ser livre de crueldade. Ama tanto que não se importa em fazer turnos dobrados, graças a uma coleção desafiadora que foi designada a ela.
Mas, ao testemunhar um carregamento clandestino que vai contra os seus princípios, Jana se vê obrigada a agir. E, com a ajuda de João Cleiton, um ativista famoso, ela lutará para desmascarar o que acontece nos bastidores.
A Descoberta de Jana é inspirado na história da Jane, de Tarzan, e faz parte da antologia Femme Fatale, composta por 12 novelas de 12 autoras da Increasy Consultoria Literária, com a proposta de trazer uma releitura de princesas e heroínas da literatura.
Janaína Pontes, ou apenas Jana, é uma funcionária exemplar da empresa Nattú, uma das maiores empresas de cosméticos do país. Ela se sente orgulhosa por trabalhar lá, especialmente por saber que a empresa é uma das que mais levantam a bandeira contra os maus tratos e testes em animais.
E sua paixão é tanta, que Jana acaba sendo a “louca das horas extras”, especialmente agora que foi escolhida para elaborar a linha de maquiagem de uma blogueira famosa, também ativista vegana. Porém, numa dessas horas extras, Jana acaba descobrindo algo chocante, perigoso e constrangedor, e cabe a ela fazer ou não o que deve ser feito.
Eu estava bem curiosa para conferir esse conto, especialmente porque a própria história de Tarzan mexe com questões ambientais. Assim como em outros contos, Tarzan aqui é deixado de lado e temos a maior atuação por conta de Jane, representada por Jana Pontes.
Jana chama atenção por onde passa, já que quebra vários paradigmas. Primeiro, Jana é uma mulher gorda, o que chama atenção, já que todo mundo tem que apontar o dedo para ela, dizendo o quanto ela “é linda de rosto, mas é uma pena que não faça uma dieta para emagrecer”.
O fato de Jana ser vegetariana então, deixa todo mundo a sua volta incomodado, já que sempre tem alguém para dar pitaco em suas escolhas alimentares, como se do nada, todo mundo soubesse o que é ser saudável e acham que ela só faz isso para tentar ser magra e se encaixar num padrão que não existe. Jana passa por várias situações constrangedoras, que só quem é, ou já foi acima do peso, sabe como é ser motivo de piadas, pena ou até mesmo preconceito só por ser quem é.
“Sabe, as pessoas tão sempre falando merda… é o que fazemos de melhor. Tenha a sensação de que só idiotas são cheios de certeza. Ainda mais quando essas certezas são sobre outras pessoas.”
Quem me vê hoje, acha que sempre fui assim. Mas quando criança, eu era uma menina acima do peso e, ler o que Jana passou nos tempos de escola me fez lembrar de várias situações que eu também passei, pelo simples fato de “ser inteligente, ser legal, mas uma pena que era tão gordinha”. Ou até ser motivo de piada entre os meninos, que não queriam ficar perto da “gordinha” (isso quando não arrumavam apelidos mais ofensivos).
Quando cresci e comecei a praticar esportes, o metabolismo foi ajudando e eu emagreci rápido até demais. Mas eu me lembro de todas as vezes em que passei vergonha por causa disso e me dói, como se o fato de eu ser uma menina gorda fosse uma doença.
E o mais irônico é que, agora, ainda não me encaixaria numa sociedade, já que sempre ouço que “preciso fazer uma dieta de engorda, já que sou muito magrinha e se der um vento me leva”. Mas ninguém pergunta se estou bem desse jeito, se é simplesmente natural do meu corpo ser assim.
Me perguntava isso quando criança, e me pergunto isso hoje adulta. E é o mesmo pelo qual Jana passa, ao ver pessoas sorrindo para ela pela frente, mas por trás, fazem dela motivo de piada por conta do seu peso, como se fosse alguma doença ou motivo de desleixo.
“O medo da rejeição não fazia sentido para quem nunca havia sofrido na pele.”
Ver o quanto Jana se sentia magoada me doeu também lá no fundo da alma, pois me senti como ela. E me deu uma vontade incrível de abraçá-la e falar que nada daquilo era verdade, que eles é que eram as verdadeiras pessoas doentes naquela empresa.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Além disso, Jana trabalha lá na Nattú pelo simples fato de a empresa ser uma das grandes apoiadoras de produtos cruelty free, o que chama atenção de vários ativistas, que fazem trabalhos em parceria. Uma dessas parcerias era com a MaquiAmanda, uma blogueira famosa que estava desenvolvendo uma linha de maquiagens.
Amanda fez questão de chamar Jana para desenvolver a linha, por saber que ela também defendia os direitos dos animais, então seria uma parceria ainda maior. A responsabilidade de Jana era tanta, que ela se dava de corpo e alma para seu trabalho. E era tanto, que até sua amiga mais próxima, a Maristela, se preocupava com ela e mandava ela parar.
Mas foi numa dessas horas extras, que Jana descobriu um podre da empresa que tanto presava. E aí fica a questão: se era algo na calada da noite, o que a parte mais fraca da corda poderia fazer?
Ela deveria denunciar o que estava de errado? Ou apenas fazer vista grossa e deixar assim mesmo? Jana sempre defendeu os seus princípios e agora sabendo que estava trabalhando em algo que fugia deles era um pesadelo.
Assim, ela acaba buscando apoio, e vai acabar encontrando o Tarzan, que aqui é representado por João Cleiton, um rapaz bonitão, que gosta tanto dos animais, que vive uma vida a la Richard (o cara do programa de TV, que vive abraçando qualquer animal que vê pela frente).
João Cleiton e Jana vão criando uma relação até rápida, que me assustou num primeiro momento. João e Jana tem bastante coisa em comum, principalmente os princípios, mas a forma como ele a aborda me deixou incomodada só de ler.
Tá certo que era algo que deveria acontecer rápido, mas as coisas iam acontecendo de maneira irreal. Talvez se tivesse um pouco mais de peças para entender como foram os bastidores, ajudaria. Mas só estava com o resultado final nas mãos e fiquei sentindo falta de um “porquê”.
A história é narrada pela própria Jana, mas fiquei incomodada também com uma narrativa detalhada demais. A autora não economizou em detalhes de nada e isso me deixou um tanto incomodada, pois algumas cenas poderiam ter sido reduzidas, que não teria impacto na história.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
O final já era um tanto previsível, mas gostei de como foi finalizado e não alterou a nota final. Contudo, gostei da premissa sobre o quanto devemos pesquisar sobre as empresas das quais compramos os produtos.
Ainda mais agora em tempos de tecnologia, onde a gente acha as informações tão rápido. Mesmo que uma empresa levante bandeiras ativistas, devemos sempre ter o pé atrás, para não ser enganados por uma propaganda bonitinha, mas que por atrás, tem uma ideia completamente oposta.
A capa já chama atenção por trazer uma Jane completamente fora dos padrões, o que é maravilhoso, já que temos representatividade em vários aspectos. Além disso, a revisão está de parabéns, assim como a fonte bem legível e uma diagramação bem bonita. E, confesso que agora estou curiosa para conferir a história original do Rei da Selva.
E aí, o que acharam? Já tinham lido esse conto? E a história de Tarzan, já tinham lido também?
Luciano Otaciano
Oi, Hanna. Como vai? Interessante esta obra, parece bastante instigante. Que bom que gostou do que leu. Boa resenha. Abraço!
http://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Pandora
Nos primeiros paragrafos eu já estava apaixonada pela Jana e quanto mais a resenha avançava mais vontade tinha de conhecer a personagem. Fui uma criança gorda, uma adolescente gorda, sou gorda e baixinha então… identificação total! É preciso que a literatura ajude ampliar nosso olhar para o mundo e perceber que todas as mulheres de todos os corpos e etnias sonham e merecem um final feliz! E sim, falar sobre veganismo e ética é bem legal. Cheio de pontos positivos e a nota foi ótima, 4 estrelas!
https://elfpandora.blogspot.com/
Leslie Leite
Oi Hanna,
Amiga, se você puder me passar por DM no Insta ou pelos comentários do blog mesmo, a ordem desses contos, eu super agradeceria, por que eu li a resenha de um dos contos da coleção aqui no blog e gostei bastante, mas baixei esse e outro livro no Kindle, e eu queria ler na ordem certa, mesmo que as histórias não tenham influencia umas nas outras.
Enfim… agora sobre a resenha. Acho que vou me identificar com a Jana, pois eu sempre fui magrinha, mas por causa de ansiedade e hipotireoidismo eu estou acima do peso, e fico put* de raiva quando surgem comentários maldosos e sem noção. E é bem assim mesmo, ninguém nunca pergunta se é normal do corpo ou podiam simplesmente se convencerem de que o corpo não é deles e que ninguém pediu a opinião, kk.
Ahh amei sua resenha, acho que o conto traz mesmo muitos temas dignos de reflexão.
Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥
Alessandra Salvia
Oi Hanna,
Eu já li um livro da Lola e não gostei muito das escolhas dos personagens, ela escreve bem, mas o enredo não me conquistou… Tenho que dar mais uma chance a ela!
beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com/
Hanna Carolina Lins
Ah, que bom que gostou da resenha S2
Sim, achei muito legal a forma como os assuntos foram abordados e ficou tão amarradinho e a gente acaba se identificando em algum momento. Espero que você possa conferir o conto e conhecer a personagem também.,
Hanna Carolina Lins
Eu também não sei muito bem a ordem dos contos, pois até no Skoob está um tanto confusa =s
Mas se eu achar, te mando depois, pode deixar 😉 E com relação à protagonista, foi realmente impossível não se identificar com ela, viu? "Tamo junto" nesse quesito de ficar p* de raiva quando se metem a saber mais sobre nosso corpo e nossa saúde. =/
Hanna Carolina Lins
Esse foi o único livro que li dela, então não sou capaz de opinar, rsrs. Mas tenta a sorte com esse, vai que dá certo. 😉
Karen Gabrieli
Oi Hanna o/
Legal que o conto trouxe a perspectiva de quem está fora do padrão de magreza e falar também de questões ambientais.
Sempre legal ler coisas nacionais.
Boas leituras,
Apesar do Caos (blog) | Skoob | Twitter
Karen Gabrieli
Hanna Carolina Lins
Sim, livros nacionais são um verdadeiro tesouro. S2