Olá meu povo, como estamos? Já tinha um tempo que conversei sobre a primeira temporada de Entrevista com O Vampiro por aqui. Mas a série tem uma sequência e hoje eu preciso conversar sobre a segunda temporada, que me deixou de queixo caído.

ATENÇÃO: Pode conter spoilers da primeira temporada. Leia por sua conta em risco
Série: Entrevista com O Vampiro
Temporada: 2°
Ano: 2024
Episódios: 8
Duração média: 50min/episódio
País: Estados Unidos/França
Onde assistir: Amazon Prime Video
A entrevista continua: o vampiro Louis conta sua história de vida ao jornalista Daniel Molloy.
Se na primeira temporada o telespectador já tomou um choque com as mudanças que ocorreram em relação ao livro e filme anteriores, agora temos mais surpresas pela frente. Nos primeiros episódios temos uma revisão dos últimos momentos que levaram ao rompimento de Louis e Lestat em Nova Orleans.
Após muito tempo sofrendo com um relacionamento abusivo por parte de seu criador, Louis de Point du Lac finalmente parte sem olhar para trás. Rumo ao Velho Mundo, o jovem vampiro acompanha Claudia – que deixa de ser sua filha e passa a ser irmã – em busca de outros vampiros para chamarem de amigos.
No entanto, chegam à Europa em meio aos bombardeios da II Guerra Mundial e só encontram escombros, pessoas mortas em vida (desesperançosas diante das atrocidades da guerra) e tristeza em cada esquina. Embora não seja nada promissor num primeiro momento, a teimosia de Claudia acaba encontrando o que tanto procuravam: um clã de vampiros antigos que poderiam dar uma nova perspectiva da imortalidade, além do que Lestat sempre pregava.
A grande questão é: será que eles estão preparados para o que vão encontrar?
Desde que finalizei a primeira temporada, estava ansiosa em busca de respostas. Assim como nos episódios anteriores, a linha do tempo é bem mais recente e traz eventos totalmente críveis, como as consequências da quebra da bolsa de NY em 1929 e posteriormente os rumores da guerra anunciada na Alemanha, que ganhou o mundo em pouco tempo.
Foi interessante acompanhar a jornada dos vampiros nesse sentido, pois ninguém melhor do que eles para nos contar o lado sombrio de nossa história, vendo como alguém que existe além do tempo. É interessante também acompanhar algumas pequenas nuances que dão um sentido para o que estavam passando, como o fato do nosso sangue refletir nossos sentimentos quando é sugado pelos seres da noite.

Isso porque eles conseguem absorver não apenas nossa força vital, como também toda a depressão, tristeza, dor, raiva no momento da morte. O que reflete neles, no gosto do sangue e também em seu humor. E, se para os meros mortais, é difícil conviver com uma depressão, imagina quem tem a vida eterna pela frente?
Achei uma boa sacada filosófica dos produtores mostrarem que a vida eterna está bem longe do glamour e sedução. Assim como qualquer estilo de vida, tudo tem seu lado bom e o que ninguém quer ver, mas está lá mostrando que a vida não é fácil. Não é porque você não morre, que precisa ignorar qualquer coisa. Muito pelo contrário, está sujeito a sentir tudo em uma intensidade ainda maior, mesmo que tente apaziguar a dor.
Assim como no livro, senti as cenas de Louis e Claudia no Teatro dos Vampiros bem arrastadas e com episódios bem lentos e difíceis de manter o foco. Por já ter lido o livro umas três vezes, eu sabia o que esperava e continuei na maratona (assisti tudo no carnaval). Mas para quem via pela primeira vez a trama (como meu namorado, que maratonou comigo), pode ser realmente um tanto cansativo e desanimador.
Entretanto, eles trazem elementos importantes, que nos preparam para um ponto de virada que tira o fôlego. Gostei bastante de como o plot twist foi desenvolvido, com diversos pontos semelhantes à história original, embora tenham alguns pontos que mostraram ser licença poética da produção que, na minha opinião, deu um fechamento até melhor.

O arco é fechado com maestria e sinceramente, se já tinha pena do Louis antes, agora só se intensificou. A verdade é que não importa a mídia, o rapaz sempre foi uma pessoa solitária e de baixa autoestima, que vivia em busca de migalhas e achava que todas as situações pelas quais passava estava bom.
Quando mortal, tentava manter aparências para uma sociedade doente, que ditava o que era certo, sem nem saber como ele se sentia. Já como um vampiro, aturava tudo quanto era absurdo que Lestat (e depois Armand) lhe faziam e estava tudo bem, pois era só isso que ele merecia. Minha vontade era entrar naquele mausoléu que ele morava em Dubai e dar uns tapas na cara dele.
Sei que correria um risco de vida, mas não sem antes largar na cara dele uma coleção inteira de músicas da Marília Mendonça e uns livros de autoajuda sobre como devemos nos amar em primeiro lugar. Se ele tivesse um pouco de amor próprio, metade das coisas que ele passou teriam sido evitadas.
E se sendo mortais, já ficamos com a sensação de tempo perdido vivendo uma ilusão, o que dirá ele que passou mais de 100 anos num mundo imaginário?!

Por outro lado, Lestat não poderia ter uma interpretação melhor. Eu já tinha me surpreendido com a atuação de Tom Cruise, mas o ator atual (Sam Reid) não fica atrás e traz um personagem digno de prêmios.
O francês pode ser o resquício de um aristocrata mesquinho, vingativo, ruim e até com ares de psicopata. Mas por trás de toda essa máscara de bad boy secular existe um outro vampiro extremamente solitário, que acha que só pode ter companhia se forem manipuladas e obedecerem suas ordens. Do contrário, ninguém é capaz de lhe amar, o que gera diversas situações de conflitos internos e uma fama de persona non grata entre os outros vampiros.

Já Claudia é a maior surpresa. Se na versão dela criança tivemos uma bela visão de conflitos internos, que dirá de uma eterna adolescente de 14 anos, com hormônios à flor da pele e com uma estatura que não lhe passa credibilidade, mas com uma sabedoria profunda.
Eu simplesmente fiquei apaixonada pelo desenvolvimento da personagem. Embora seja uma adolescente no corpo e rosto, ver como sua alma ganhava maturidade foi fenomenal. Consegui sentir alguns dos sentimentos que ela transmitia ao longo dos episódios, o que me fez sofrer com seu final, mesmo já sabendo o que era pela versão original.
A temporada mantém uma fotografia sombria e em tons bastante escuros nos cenários. E traz também pistas do que iremos encontrar nos próximos episódios, que prometem trazer a adaptação do segundo volume das Crônicas Vampirescas (o meu livro favorito, por sinal).

Em resumo, ‘Entrevista com O Vampiro’ tem uma personalidade própria, mas ainda mostra diversos detalhes que herdou da mídia original. Ainda, é uma série que vai muito além do terror de vampiros bebendo sangue e disseminando luxúria; ela explora bastante a mente humana, para ver onde podemos ir diante de certas atitudes e se estamos preparados para lidar com as consequências.
Texto revisado por Emerson Silva.