29 de March de 2022

Arsène Lupin e A Rolha de Cristal | Maurice Leblanc

Olá meu povo, como estamos? Hoje trago a resenha de ‘Arsène Lupin e A Rolha de Cristal’, do autor francês Maurice Leblanc. O personagem tem sido bastante presente aqui no blog, graças a série de livros que tanto me conquistou nos últimos tempos.

 

Arsène Lupin e A Rolha de Cristal | Maurice Leblanc
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

17/24
Livro: Arsène Lupin e A Rolha de Cristal
Autor: Maurice Leblanc
Editora: Ciranda Cultural (selo Principis)
Ano: 2021 (original em 1912)
Páginas: 256
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Que interesse pode haver em uma rolha de cristal, para que tantas pessoas a desejem? Nessa emocionante aventura será que o maior ladrão do mundo pode se recompor, salvar da guilhotina seus homens presos e ainda recuperar sua honra perdida? Arsène Lupin e a Rolha de Cristal é um romance de mistério do escritor Maurice Leblanc, foi publicado primeiramente em série no jornal francês Le Journal de setembro a novembro de 1912, inspirado pelos infames escândalos do Panamá que aconteceram entre 1892 e 1893. O romance toma emprestado do conto de Edgar Allan Poe, A Carta Roubada, a ideia de esconder um objeto à vista de todos e prende o leitor com o estilo de Maurice Leblanc.

 

 
 

 

Arsène Lupin e A Rolha de Cristal | Maurice Leblanc

 

 
Arsène Lupin ataca novamente. Liderando um grupo de jovens parceiros, o plano é invadir e assaltar a mansão do deputado Daubreq, em Villa Marie-ThérèsePorém, o plano não contava com mudanças bruscas que quase
levaram os assaltantes a serem pegos em flagrante.
As coisas complicam ainda mais quando, durante a tentativa de fuga, encontram uma rolha de cristal, simples e aparentemente sem valor. No entanto, ela é motivo de mais atrasos na saída do bando. Apenas Lupin consegue fugir, enquanto seus companheiros ficam para trás, ainda tentando recuperar o objeto, porém são presos pela polícia.
Condenados à guilhotina, eles juram inocência pelos crimes dos quais são acusados, e cabe a Lupin retornar e resgatar os amigos. Tudo parece girar em torno da rolha de cristal, a qual tem cada vez mais gente atrás.
O ladrão de casaca, então, precisa vencer a corrida e entender a real importância do objeto. Além disso, todo minuto conta para salvar os jovens presos da morte certa.

 

 

“Lupin guarda seus segredos; e os segredos que Lupin escolhe guardar são, por assim dizer, impenetráveis.”

 

 

Gente, que livro! Sou suspeita para falar sobre as aventuras de Arsène Lupin. Mas devo confessar que, de todas as que li até agora, essa foi a melhor. Mantendo a narrativa em terceira pessoa, com alguns momentos em primeira (quando o narrador toma partido e faz as vezes de Watson), somos apresentados aos eventos mais marcantes da vida do anti-herói.
O esquema de Lupin, Gilbert e Vaucheray (os companheiros) estava bem articulado e eles sairiam da mansão de Daubreq com os bolsos cheios de itens valiosos. Porém, o jogo vira quando um acidente acontece e faz mais barulho do que o esperado. A polícia já estava no encalço deles, enquanto brigavam por uma rolha de cristal, aparentemente sem valor.
O tempo é curto e não daria para todos saírem juntos da cena do crime. Arsène consegue fugir, embora os outros dois fiquem para trás lhe dando cobertura, com a promessa de que seriam resgatados da prisão e se encontrariam depois.
No entanto, conforme os dias passam, as coisas só pioram, em especial quando o assunto da rolha de cristal vem à tona novamente. 
 
 
Arsène Lupin e A Rolha de Cristal | Maurice Leblanc
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

 
 
 
O ladrão de casaca desconfia que talvez exista mais coisa por trás do objeto, já que aparece uma fila cada vez maior de gente interessada nela, inclusive a polícia. Ele começa a investigar, enquanto bola um plano infalível para tirar os amigos da prisão antes que a pena seja executada. 
No entanto, sua missão não está sendo fácil, pois parece que acordou com o pé esquerdo e todas suas ideias tem alguma falha.
Isso porque apareceu mais uma pessoa doida para levar o título de “responsável por derrotar Arsène Lupin”. 
Daubreq, um político famoso por sua eloquência e inteligência, tem sua carreira baseada em diversas estratégias bem articuladas, brilhantes, sem pontas soltas e sempre descobre o ponto fraco de seus concorrentes.
Logo, não foi difícil para ele saber que estava no radar do maior ladrão do mundo. Além disso, sua situação com a imprensa e o partido não está das melhores. 
Essa seria a oportunidade perfeita de sair dos holofotes, se fazendo de vítima inocente, enquanto disputava contra Lupin nos bastidores. Ele sabe que o ladrão de casaca busca justiça pelos seus amigos, mas quer ver até onde o protagonista vai para conseguir o que deseja, e usa de artifícios muito bem embasados e elaborados, que mais parecem uma teia de aranha, da qual não será fácil escapar.

 

“Não era loucura ficar ao lado dele quando cada dia levava consigo um pouco de esperança?”

 

  Confesso que nunca tinha visto o protagonista enfrentar alguém assim. Nos primeiros livros, ele encarou inimigos brilhantes, como Sherlock Holmes (‘As Primeiras Aventuras do Ladrão de Casaca’ e ‘Arsène LupinContra Herlock Sholmes) e até um detetive amador que mostrou ter futuro, como Beautrelet (‘Arsène Lupin e O Enigma da Agulha Oca). 

Porém, como o objetivo do autor era mostrar a superioridade da sua criação, mesmo o maior detetive consultor do mundo era feito de gato e sapato por Lupin.
Dessa vez, tive a impressão que Leblanc queria testar os limites do próprio personagem (talvez até a paciência do leitor). Arsène Lupin continua sendo o anti-herói, que banca o detetive e justiceiro nas horas vagas. 
Contudo, está em choque, por ter encontrado uma mente mais brilhante que a dele. O autor se inspirou e finalmente trouxe um vilão que faz jus a Lupin. De acordo com a história da criação do personagem, por ser uma resposta francesa ao personagem de Conan Doyle, era de se esperar que os detetives fossem feitos de palhaço e as tramas soassem como comédia pastelão em diversos momentos.
Então, as leituras eram boas, interessantes, mas ainda faltava um “tchan” para ficarem perfeitas. Isso aconteceu em ‘A Rolha de Cristal’, que parece ser um divisor de águas na trajetória de Lupin.
Ele precisa se adaptar rapidamente às rasteiras que recebe do novo arqui-inimigo, porém o desespero de ver seus amigos cada dia mais perto de, literalmente, perderem a cabeça, o deixam sensível e mais vulnerável aos golpes de Daubreq. 
O deputado é um homem nojento, repugnante e sem escrúpulos, que não mede esforços para ser o melhor e o mais esperto em tudo.

 

“Nada é mais tolo do que deduzir um fato a partir de outro antes de encontrar um ponto de partida.”

 

 

Ver a forma como as coisas se desenrolavam só me fizeram sofrer junto com Lupin e ficar nervosa a cada virar de página. O resultado foi um livro curtinho, mas cheio de reviravoltas até os 45 do segundo tempo.
Quem também brilha é o detetive Prasville. Ele é um ótimo profissional e entende algumas pistas melhor que todo mundo. Não apenas faz bem o seu trabalho, como parece confirmar a hipótese de que bons detetives literários só existiam na virada do século XIX para o XX e depois entraram em extinção.
A trama é bem elaborada e tem uma escrita bem mais fluida do que encontrei nos volumes anteriores. 
Ninguém é 100% confiável e todo mundo tem segredos profundos e sombrios, pelos quais vale tudo para garantir que permaneçam escondidos.
Ao longo da leitura criei n teorias, em especial sobre a famigerada rolha de cristal, mas fui feita de trouxa e jogada na parede como uma bolinha de papel amassado. E simplesmente não consegui largar a leitura até descobrir o que aconteceria na próxima página.
O desfecho é digno e as pontas foram bem amarradas, não com maestria, porém de maneira decente
 
 
Arsène Lupin e A Rolha de Cristal | Maurice Leblanc
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

 
 
 
Aqui, posso dizer que deixei de ver um mistério previsível demais e com o pé na chacota, e encontrei um personagem que começou a crescer e que tem um futuro promissor no suspense. Não é à toa que está presente em mais de 20 livros.
Outra coisa que achei interessante é que, lendo sobre as publicações de Leblanc, Arsène Lupin sai do posto de ladrão de casaca mais procurado do país e passa a detetive em algum momento. 
Ler as obras em ordem cronológica está sendo vantajoso, pois é possível acompanhar a trajetória, não apenas do personagem, mas também do autor durante essa mudança de paradigma.
No entanto, o projeto de ler todos os livros de Arsène Lupin assim não deu certo dessa vez. Infelizmente, a Principis não publicou ‘A Vida Dupla de Arsène Lupin’, que viria antes de ‘Arsène Lupin e A Rolha de Cristal’.  Não sei qual o motivo, pois ela publicou todos os outros. O curioso é que nem a Zahar, a qual também está trazendo os exemplares, em edição de bolso de luxo, publicou o volume que falta. Apesar disso, em nada tirou a graça da leitura de ‘Arsène Lupin e A Rolha de Cristal’, até porque são aventuras distintas. 
Falando sobre o livro em si, eu sou adepta do custo-benefício dos livros da Principis. São livros de edição econômica de verdade, então a impressão é a mais simples possível.
Mas a fonte está legível e confortável para a leitura. Assim como a revisão é muito bem feita. A capa traz um padrão observado nos demais livros da coleção, com o ladrão de casaca de perfil e sempre na sombra, afinal, não sabemos quem ele pode ser dessa vez. 
 
Arsène Lupin e A Rolha de Cristal | Maurice Leblanc
Foto: Hanna de Paiva |Mundinho da Hanna

 

 
 
Além disso, tem um tom de verde bem bonito, que eu gosto bastante, aliás, com o nome do protagonista em vermelho. É aquela combinação de cores que sabemos que existe, mas que não é muito usual e dá certo.
Em resumo, recomendo a leitura, especialmente se você curte um bom mistério clássico, com reviravoltas do início ao fim.
 
 
 
 
 
 

 

 

 
 
 
Texto revisado por Emerson Silva
Postado por:

Hanna de Paiva

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