Olá meu povo, como estamos? Hoje temos uma entrevista super maneira com um de nossos autores parceiros, Sandro Muniz, a mente por trás de Solo Raso.
1. Quem é Sandro Muniz?
R. Um escritor que quer contar boas histórias. Que quer contar as histórias que gostaria de ler por aí. Amo criar coisas, plantar, criar pequenas coisas com madeira, ver um fruto nascer, mas só a literatura me permite criar todo um universo em que sou o Deus (risos), me permite fazer coisas que (por não saber pintar nem produzir filmes) não conseguiria de outra forma. Que dorme e acorda pensando em personagens, situações e histórias. Que gosta da natureza. Que ama a família. Que sonha. Que quer que haja mais bibliotecas no Brasil. Para você ter uma ideia temos 6 mil bibliotecas. Na Rússia são mais de 40 mil e nos EUA são 116 mil.
2. Conta um pouquinho de sua história como escritor para a gente. Quando e como começou a escrever?
R. Acho que começou com um desenho. O desenho de um indígena. Na hora de pintar o desenho eu não tinha outro lápis de cor e o pintei de vermelho. Percebi que a liberdade de pensar e criar ia além de seguir regras. A professora amou aquilo. Deve ter começado ouvindo as histórias que minha vó, Encarnacion, contava para mim e meus irmãos e primos. Eu ficava lá horas ouvindo. Me lembro de muito jovem escrever histórias em quadrinhos com minha irmã. E de uns poemas que fazia também. Hoje não sei e não consigo escrever poesia. Tenho até um livro encadernado e nunca publicado…
Lembro de uma redação que criei na escola sobre a tomada do “Monte Carlo” na Segunda Guerra Mundial e que eu amei aquilo, nem lembro a nota. Não era uma redação qualquer, aliás, acho que nem era para a escola… fiz porque quis. E olha só, o próprio livro “Solo Raso” bebe nessa fonte das guerras… Na época da faculdade eu mantinha um blog com mais dois amigos e que, por descuido meu, perdemos todas as publicações, era de contos e crônicas. Era um sucesso, acho (rs).
Lembro que sempre escrevi contos, sobre tudo. Gosto também de contar contos e histórias minhas ou inventadas durante o café da manhã ou almoço para as crianças em casa. Achava que para escrever um romance, ou texto maior, eu precisava ter mais vivencia e habilidades que não tinha quando jovem. Saramago disse, certa vez, que todos somos escritores. Só que alguns escrevem outros não.
Meu primeiro livro, Solo Raso, saiu ano passado, é fruto de 17 anos de pesquisa e desenvolvimento — claro que sempre acharemos que poderia ser melhor, todo escritor sofre disso, a revisão que nunca termina. Tenho outros dois livros “finalizados”. São: “O som de cada pau” — que foi o primeiro de todos, mas ainda não fiz as revisões — e o que finalizei a primeira versão em junho de 2020, “Xangai Xingu”.
3. ‘Solo raso’ é um livro que surpreende, por tratar de fatos históricos, misturados com lendas urbanas e teoria da conspiração (bem convincente por sinal, rs). Qual foi sua inspiração para escrever um livro com essa combinação?
R. Tudo começou em uma conversa com minha mãe, coisa banal. Os fatos históricos estão em mim, eu amo História, faz parte de minhas leituras diárias. Desde o início eu já sabia que se passaria em uma ilha. Mas na época eu não tinha gabarito e nem tanto conhecimento para desenvolver melhor a história e os personagens. Fiquei, como já disse, 17 anos pesquisando e evidentemente escrevendo outras coisas e seguindo a vida. Minha pesquisa é mais livre e, às vezes, mais focal. Leio livros, anoto. Vejo um fato, anoto. Ouço uma história na rua, anoto. Uns três anos atrás, eu descobri novos pontos que serviriam muito bem de liga e de mistério para a história. Chega uma hora que parece que tudo se liga na minha mente, fico apaixonado pela história e pelos personagens.
Tem gente que diz que a arte imita a vida, no meu caso a arte criou a vida. Veja só, em 2010 fui morar em uma ilha do litoral brasileiro. E a primeira coisa que pensei foi no livro que tinha na cabeça. Aquela vivência intensa e isolado me ajudou muito a contar a história. Mas ela não tem praticamente nada com a história propriamente dita do livro.
4. E não apenas o livro em si, mas alguns personagens são bem marcantes; mesmo sendo secundários, roubam a cena várias vezes. Eles surgiram de alguma fonte em especial?
R. As fontes são, nesse livro, quase sempre da História mesmo, como sabe ali está recheado de fatos reais. Um dos personagens o Ceolfrido surgiu em dois momentos, ou melhor, foi cria de duas ideias. Eu indo trabalhar de carro vi um homem carregando um balde. Lendo um livro sobre manuscritos muito antigos, “Manuscritos notáveis” de Christopher de Hamel, lá estava outra história. Ceolfrid, um abade, encomendou três bíblias lá pelos idos do século VII e VIII, e hoje a Bíblia de Celfrid é uma das mais antigas do mundo. Juntando isso deu um personagem e parte da trama. Outra fonte foram meus blocos de anotações que tenho desde jovem…(rs)
5. Falando em personagens, Pedro Gilga Sacks é um protagonista de profissão que não se vê com regularidade na literatura. Qual sua inspiração para criar um personagem arqueólogo? Podemos esperar mais alguma aventura do personagem?
R. De fato, é uma profissão que não está na literatura. Pedro ser arqueólogo foi uma escolha necessária que a própria história pedia. Caiu como uma luva para o desenvolvimento do todo. Hoje não consigo imaginar como seria se fosse outro personagem. Aliás, o livro passou por tantas revisões. Mudou a voz, o fim mudou três vezes. Mas os personagens mudaram pouco. Sobre esperar uma nova aventura de Pedro Sacks, eu já andei pensando. Seria bem inusitada. Algumas pessoas têm me cobrado isso. Mas no momento estou focado em pensar no próximo livro (ou nos próximos dois livros rs) sendo que o correto é finalizar o “Xangai Xingu”, que como já disse suga diretamente das fontes históricas mundiais.
6. Conta aí, você tem algum “ritual” para te inspirar no processo criativo (música, mania, etc.)?
R. São vários processos ou rituais. Uma mania de anotar tudo. Anoto em blocos de notas, mas hoje percebo que quando quero acessar determinado tópico ou personagem eu tenho que desarquivar vários caderninhos e decifrar minha própria letra. Então, agora, uso bloco de nota no celular. Mas nunca largo os caderninhos.
Outra mania é grifar os livros que leio. Releio depois os grifos e anotações. Chego a fazer grifos de grifos de grifos. Acabo extraindo o essencial para mim. Costumo ouvir música sim, consigo ficar mais focado na atividade e não entro na net. Desligo tudo. E se houver dúvidas na escrita eu simplesmente ignoro. Depois na revisão conserto isso.
Em relação à inspiração, sinto dizer, não acredito nela. A inspiração para mim é sentar a bunda e começar. Acredito que se a pessoa passa o dia dela pensando sobre histórias, personagens, livros, lendo e, eu digo, lendo tudo que pode de jornal de bairro à inteligência artificial (meu caso, rs) ela terá fonte de ideias, e quando sentar terá o que colocar na folha em branco.
Claro que já sentei, no caso do “Solo Raso”, e não sabia o que ia escrever, mas aí eu sugiro, escreva um capítulo mesmo que seja sobre uma baleia (eu fiz isso, rs) o que não pode é parar a produção, não pode parar o fluxo, tem que criar a rotina e o seu cérebro saberá a hora de escrever e juntar tudo aquilo que anda lendo e pensando. O inconsciente ajuda muito. Eu gosto de pensar nas histórias que estou trabalhando quando acordo, naquele momento dos primeiros segundos ao acordar. Esqueça de pegar o celular. Pega sua ideia. Vai se surpreender como as coisas se encaixarão uma na outra.
7. Sabemos que no Brasil viver de escrever livros é algo bem complicado, infelizmente. Mas algumas pessoas ainda possuem o sonho de ser escritores. O que você diria para quem quer começar a escrever?
R. Eu diria: seja escritor. Ser escritor ou escritora é um ato heroico. Dito isso, a pessoa tem que escrever com calma. Sugiro sempre começar com contos ou crônicas. É difícil fazer um romance se a pessoa não escreve nem textos menores. Não acredite na opinião do seu grupinho de amigos, tente leitores de fora de sua zona de conforto. Escreva com o coração, como se fosse o último texto. Escreva sobre suas raivas, seus amores, seus medos. Seja sincero com o leitor. Não desanime. Se você desanimar ou achar que é muito difícil você de fato não é escritor (a). Acorde e durma pensando nesse vício que é a literatura. Não preciso dizer que ler é fundamental. Apoie a literatura nacional, os escritores nacionais. Não dá para escrever bem em português e no Brasil lendo apenas traduções de livros gringos. Divulgue os escritores nacionais, entre para o grupo dos escritores, lute pela leitura. Seja comprometido com tudo que gira em torno da escrita.
8. Tem algum recadinho para deixar aos leitores do blog?
R. Eu gostaria muito que eles lessem o livro “Solo Raso” porque é literatura nacional fresca e porque você vai encontrar uma visão da história mundial possível, com muita reviravolta e emoções. Se alguém aí quer ser escritor e está com dificuldade entre em contato, se eu puder ajudar com mais dicas, ficarei feliz. Quero lembrar também que o livro “Solo Raso” ficará disponível em meio físico ainda esse ano!
E aí, o que acharam da entrevista? Já tinham lido o livro do Sandro? Me contem aí, bora conversar! 😉
Alessandra Salvia
Oi Hanna,
Não conhecia o autor, nem o livro, mas o desejo muita sorte nessa caminhada ao sucesso!
Também queria mais bibliotecas no Brasil…
beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com/
Unknown
Obrigado pelo estímulo e divulgação! Grato
Sandro Muniz
Hanna Carolina Lins
Obrigada Ale! ^^
Hanna Carolina Lins
Eu que agradeço por aceitar participar da entrevista! =)
Vanessa Oliveira
Oi, Hanna. Tudo bem?
Não conhecia o livro, mas achei interessante o personagem ser arqueólogo, fiquei sentindo que a trama é uma mistura de Dan Brown e Michael Crichton, posso estar errada. Foi apenas uma sensação, hahaha. Gostei da entrevista.
Beijos, Vanessa
Leia Pop
Sil
Olá, Hanna.
Excelente entrevista. Adorei conhecer o autor, achei ele muito simpático e até me animei a ler o livro. Que já tenho no Kindle aliás hehe. Assim que dar uma acalmada aqui na lista vou ler ele.
Prefácio
Denise Crivelli
Oi
eu não conhecia o autor, legal que ele conseguiu lançar sua primeira história e que pesquisou bastante por ela.
http://momentocrivelli.blogspot.com/
Luciano Otaciano
Oi, Hann como vai? Bacana a entrevista. É sempre prazeroso conhecer um pouco mais de nossos autores e autoras. Adorei. Abraço!
https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Pathy Guarnieri
Que massa essa entrevista, adorei conhecê-lo um pouquinho mais. Eu quero muito ler Solo Raso, estou mega curiosa com essa obra!
Beijo.
Cores do Vício
Priih
Oi Hanna, tudo bem?
A entrevista ficou muito legal.
Me surpreendeu o tempo dedicado à pesquisa, isso é mega importante ao construir um livro que fale de acontecimentos históricos. É show de bola quando o autor se preocupa com isso!
Beijos,
Priih
Infinitas Vidas
Chris Ferreira
OI Hanna, eu adorei a entrevista. Muito bom ter essa proximidade como autor. Eu também sonho com mais bibliotecas e fiquei com vontade de ouvir as histórias da vó Encarnacion. Nossa, 17 anos de pesquisa. Muito tempo. Legal ele se disponibilizar para ajudar e dar dicas para quem quer se tornar escritor.
beijos
Chris
Inventando com a Mamãe / Instagram / Facebook / Pinterest
Hanna Carolina Lins
Oi Vanessa, não está errada não, é bem assim a mistura mesmo. E deu muito certo, por sinal! 😉
Hanna Carolina Lins
Sim! Ele é um amor de pessoa e super empolgado. Até anima a gente também! kkk
Quando ler o livro, me conta se gostou?
Hanna Carolina Lins
Sim! =)
Hanna Carolina Lins
Eu também amo essas entrevistas! =)
Hanna Carolina Lins
Espero que goste da leitura! S2
Hanna Carolina Lins
Sim! Foi bastante tempo mesmo, achei sensacional o resultado! =)
Hanna Carolina Lins
Compartilhamos esse sonho de mais biblioteca Chris! Quem sabe um dia isso seja real em nosso país… E sim, ele levou um tempo considerável, mas que rendeu ótimos resultados! =)