19 de April de 2022

Irene | Pierre Lemaitre

Olá meu povo, como estamos? Hoje temos a resenha de ‘Irene’, a leitura opcional do ‘Clube Lendo com os Morcegos’. Além disso, foi minha primeira experiência com suspense contemporâneo francês.

 

 

Irene | Pierre Lemaitre
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

20/24
Livro: Irene
Autor: Pierre Lemaitre
Editora: Universo dos Livros
Ano: 2021
Páginas: 368
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Um livro para os que não têm estômago delicado! À espera de seu primeiro filho, Camille Verhoeven tem a rotina interrompida por um assassinato brutal e com uma particularidade sombria: o crime é semelhante ao assassinato hediondo descrito em Dália Negra, romance policial de James Ellroy, publicado em 1987. A investigação do caso se estreita entre o comandante Verhoeven e “O Romancista”, como foi apelidado o assassino pela imprensa, e o final é de tirar o fôlego!

 
 
 
 

 

Irene | Pierre Lemaitre

 

Camille Verhoeven é um detetive da Brigada Criminal de Paris. Casado com Irene, por quem é perdidamente apaixonado, ele lida com o fato de estar prestes a ser pai. Porém, seus dilemas pessoais acabam ficando em segundo plano, quando ele começa a investigar um caso de homicídio brutal. 
   
O crime choca o país devido ao detalhamento de crueldade com o qual as vítimas foram encontradas. E logo Camille percebe que os detalhes são bastante semelhantes ao descrito em ‘Dália Negra’, um clássico de thriller que estaria esquecido na prateleira, se não fosse pelo caso. 
 
Além disso, o detetive percebe que as moças não são suas primeiras vítimas, e todos os outros crimes aparentemente sem solução, apenas faziam pilhas em outras mesas, assemelham-se a outros clássicos do gênero. Não bastasse isso, o assassino ganha o apelido de ‘O Romancista’ na imprensa e está nas primeiras páginas de todos os jornais. Camille precisa ser rápido, antes que mais vítimas apareçam.

 

 

“O mundo não quer somente papel e histórias, ele quer sangue, sangue de verdade.”

 

 

 

O Clube Lendo com os Morcegos estava realmente inspirado no mês passado, quando escolheu as obras.  Apesar de ter me atrasado um bocado com as leituras, o debate final me deixou tão curiosa que precisei ler ‘Irene’ assim que tive a oportunidade.
Ao lermos a sinopse, a primeira frase é logo: “Um livro para os que não têm estômago delicado!”. E não estavam errados ao definir dessa forma. Com um início lento e extremamente detalhado, o autor não economizou nas características e “caprichou” na descrição da cena para a qual o comandante Camille e sua equipe são convocados. 
   
É impossível não parar para respirar fundo ao se deparar com as primeiras linhas e não se sentir com um nó no estômago. Todas as cenas de crime são muito pesadas e tive que ler a obra bem devagar, intercalando com outros livros, para evitar entrar em ressaca e abandonar a leitura. 
   
Aos poucos, fui me entendendo com a trama, lendo conforme tinha coragem. Camille é um personagem sem igual. Eu acho que nunca havia lido um livro onde o protagonista tem nanismo. 
 
Achei legal que o autor teve bastante cuidado de, embora manter a narrativa em terceira pessoa, deixar as coisas pelo ponto de vista do próprio Verhoeven. Assim, foi uma experiência interessante ter o vislumbre de como é a vida de uma pessoa anã, sem ser romantizada demais, muito menos partir para o cômico, como seria a tendência de livros, séries e afins anos atrás. 
 
 

 

“O primeiro sorriso entre dois homens é o começo do reconhecimento – ou dos infortúnios.”

 

 
 
 Ao contrário, Camille é um homem competente no que faz e isso é o que transparece no personagem, deixando o detalhe do nanismo não em segundo plano, mas também fora dos holofotes principais. E falando em personagem competente, devo dizer que tiro o meu chapéu para Verhoeven. Depois de tanto reclamar com thrillers contemporâneos, nos quais os detetives eram meros figurantes de seus próprios casos, dando a entender que qualquer pessoa poderia fazer melhor a função deles, aqui finalmente encontrei um investigador decente!
   
Camille é um profissional incrível, tem uma equipe maravilhosa e nada passa batido durante as investigações. Aqui sim, posso afirmar que todo detalhe realmente conta, pois de fato, acontece e eles podem provar.
 
 
“Não havia perguntas, ou havia perguntas demais, o que dava na mesma.”
 
 
Todos os outros crimes que Verhoeven descobre também foram inspirados em diversos livros clássicos. Então, além da trama principal, terminamos a leitura com uma lista de vários outros livros para ler.
 
 
 
Irene | Pierre Lemaitre
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

 
 
 
O que mais curti aqui foi que, apesar de várias cenas das tais obras serem recriadas, conforme Camille investigava, o autor manteve apenas o básico e não liberou spoilers tão escancarados, como aconteceu em ‘Oito Assassinatos Perfeitos’. Assim, se você tem problemas com isso, pode ler ‘Irene’ tranquilamente (rsrsrs).
 
 

 

“Eram tantas incógnitas naquela equação macabra que Camille tinha por missão resolver.”

 

 
 
 
Outra coisa que chama atenção logo de cara são os nomes dos personagens. Para começar, o próprio Camille tem um nome que, para quem é de outro país, pode achar estranho ele ter uma alcunha normalmente atribuído a uma mulher. 
   
Inclusive, isso foi quase um susto durante o debate do Clube. Mas na França alguns nomes são comuns para dois gêneros, em especial os que terminam com “lle”. Então, não tomei um susto tão grande ao saber de quem se tratava.
   
Também só vim entender depois o motivo de se chamar “Irene”, sendo que ela é uma personagem secundária e todos os holofotes estão em Camille. No entanto, isso só depois de muito refletir, pois de cara não faz muito sentido, na real.
   
Irene é a esposa praticamente impossível, com a qual Verhoeven sonhou. Toda vez que ela entra em cena, Camille esquece do mundo e só reflete no quanto é um homem de sorte e praticamente embarca num conto de fadas do mundo moderno.
   
E agora, estando grávida, o comandante vive um dilema cruel. Ele quer viver todos os estágios da paternidade, mas “O Romancista” toma quase todo o seu tempo e ele fica em cima do muro, entre pegar logo o sujeito e deixar tudo na mão da equipe e ir para casa ficar com Irene.
 
Ao ler como a equipe de Verhoeven é unida, quase uma família, me vi lendo alguns episódios de Candice Renoir (série também francesa), onde a equipe da comandante é exatamente assim. Mas fiquei com raiva lendo essas partes, pois senti que Camille não tem tanta confiança assim como aparenta em sua equipe.
   
Ainda não sei se ele fazia aquilo como uma forma de demonstrar autoridade, por conta de sua estatura, ou se realmente queria “ser famosinho” por uns dias, já que saía no jornal quase sempre, conforme os jornalistas o perseguiam atrás de novidades sobre o caso. 
   
E, mesmo ele falando que não queria aparecer, agia com raiva porque as notícias foram vazadas, mas
não fazia esforço para evitar também
. Além disso, um bom detetive precisa de um vilão à altura e o autor também não mediu esforços para criar um assassino que compete páreo a páreo no quesito inteligência com Verhoeven. “O Romancista” é um personagem que rouba a cena por si só.
   
Ele pode ser qualquer pessoa e, enquanto tentamos descobrir sua verdadeira identidade, somos apresentados a várias de suas peculiaridades, em especial quando começa a falar. O tempo todo me questionei sobre quem poderia ser, se era um psicopata, um ator muito bom, ou mesmo ambos.
 
 “O Romancista” é um assassino sádico e cruel, que busca atenção de todos os jeitos. Ler o que era capaz de fazer e como se sentia ao ver “sua criação” me dava ânsia e tive que parar diversas vezes, para não passar mal.
   
Como poderia ser qualquer pessoa, próxima ou não de Verhoeven, fui tecendo várias ideias, para cada personagem que apareciaTodo mundo tem segredos, todos tinham vergonha de alguma coisa e queriam que o mundo pagasse. Então, a lista de “possíveis culpados” é relativamente longa.
   
Mas o autor soube manter os plots muito bem guardados até o último momento possível e me surpreendeu com as revelações. Sabe aquela teoria de que o cérebro só vê o que ele quer ver? Pois é, eu fui olhando vários detalhes e esqueci dos que estavam bem diante do meu nariz. 
   
E acho que a ideia de Lemaitre foi exatamente essa. Encher o livro de detalhes diversos, para esconder o que mais importava.O resultado foi um livro bastante lento e carregado no começo, porém fica bem amarrado, e mais rápido depois dos 40% (lendo em formato digital). 
 
 
“Não existe estratégia diante da crueldade.”
 
 
Confesso que fui feita de trouxa tantas vezes com as reviravoltas, entregues de maneira simples e objetiva, que precisei voltar e reler alguns trechos diversas vezes. Não porque não entendi, mas porque não acreditei que era aquilo mesmo.
   
O final é tão macabro quanto o início e, de certa forma, digno. Contudo, foi uma das partes que precisei reler também, por não acreditar na forma como ocorreu. Para ser sincera, estou até agora sem saber dizer como me sinto ao lembrar do desfecho, pois entendo um pouco como Verhoeven se sentiu.
   
Ele me pareceu aberto, o que faz até sentido, visto que é o primeiro volume de uma trilogia. Logo, veremos o que mais poderemos encontrar nos próximos capítulos. Com relação ao livro em si, li em formato digital. Então, posso falar que tem uma fonte legível e confortável, uma diagramação simples e objetiva, que combinam com a trama mais sombria. 
   
A capa traz Irene em destaque, embora a versão mais nova tenha o Verhoeven, por trás de uma folha rasgada. 
 
 
Irene | Pierre Lemaitre
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

 
 
Apesar de não ser das mais bonitas, devo dizer que combina com a trama a ser apresentada. E, concordando com o que falei no início da resenha, esse é um ótimo suspense, daqueles de tirar o fôlego, literalmente. Mas, se nunca leu qualquer coisa do gênero, recomendo que procure algo mais leve do que ‘Irene’, pois, de fato, ele não foi feito para quem tem estômago fraco. 
E aí, já tinham lido alguma obra do autor? Curtem suspense francês? Me contem aí!
Obs.: Texto revisado por Emerson Silva
Postado por:

Hanna de Paiva

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