A Escola Preparatória de Westmont é um colégio interno de elite, para onde são enviados os jovens rebeldes e, aparentemente, sem solução. Seus pais pagam uma mensalidade caríssima, a fim de garantir que eles saiam do ensino médio como pessoas melhores do que quando entraram.
Com o lema de “entrem sozinhos e saiam juntos”, os diretores Christian Casper e Gabriela Hanover acreditam que os alunos sempre têm salvação, se olhar com carinho para eles. Quando estão em período de aulas, podem ser boas pessoas, mas fora da sala são os jovens inconsequentes e dispostos a fazerem as maiores besteiras, a fim de conseguirem popularidade e aprovação dos amigos.
Um dos eventos mais esperados é o jogo do Homem dos Espelhos. Baseado em uma lenda urbana, o jogo é quase que um ritual para os alunos entrarem no quarto ano como os líderes dos grupos. Porém, uma edição dele acaba mal, quando os organizadores são encontrados mortos de maneira brutal, numa casa abandonada nos arredores da escola.
O caso foi aparentemente esclarecido, porém ainda tem muitas pontas soltas e sem resposta. Em especial porque, no ano seguinte, os alunos sobreviventes voltaram para o local dos crimes e cometeram suicídio.
Com grande destaque na mídia e apresentado toda semana por Mack Carter no podcast ‘Casa dos Suicídios’, o caso parece ainda atrair muitos curiosos e entusiastas. Em um dos episódios, Lane Philips é convidado a participar e construir um perfil do assassino, mesmo que já tenham encontrado um culpado. No entanto, coisas estranhas continuam acontecendo e Lane sabe que apenas Rory seria capaz de enxergar nas entrelinhas e esclarecer o que ninguém mais consegue.
“Ainda assim, ela tentava. Era como Rory existia.”
Fiquei admirada comigo mesma ao constatar que, mesmo tendo todos os livros de Donlea aqui em casa, mal dei atenção aos volumes mais recentes. De acordo com as resenhas publicadas aqui, meu último contato foi em ‘Uma Mulher na Escuridão’, lido em outubro de 2021.
Esse também foi meu primeiro contato com a Rory Moore, a protagonista mais falada do autor nos últimos tempos. Ela chama atenção pela forma peculiar como se apresenta: uma mulher de 40 anos, autista e, não importa qual a estação do ano, sempre encontrará com você usando um gorro bem grande, óculos escuros, uma jaqueta pesada e fechada até o pescoço, além dos coturnos Madden Girls pretos.
Em ‘Nunca Saia Sozinho’ não é diferente. Dessa vez, a moça não foi convocada diretamente para resolver o caso da Escola Preparatória de Westmont. Ela iria apenas acompanhando o namorado Lane Philips, convidado para fazer um perfil psicológico do assassino responsável pelo massacre dos jovens um ano antes.
Embora seja considerado encerrado, o caso tem muitas pontas soltas. Pontas essas que ficam mais visíveis quando os alunos sobreviventes do ataque voltam ao local e se matam da mesma maneira: se jogando diante de um trem.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
O caso volta à tona em tamanha proporção que vira tema de inúmeros canais e blogs especializados em crimes reais. Isso inclui o blog da jornalista Ryder Hillian e o podcast de Mack Carter. Esses dois disputam audiência e fazem de tudo para conseguir enxergar as
entrelinhas que os detetives deixaram escapar.
Uma das jogadas de Mack é convidar Lane, só o psicólogo forense mais famoso do país, a fim de participar de alguns episódios de seu podcast e dizer onde os investigadores supostamente erraram. Lane, por sua vez, sabe que apenas Rory tem a expertise para enxergar o que ninguém mais enxerga e não descansa até convencê-la a investigar o caso.
E, felizmente, consegue. Aliás, achei algumas coisas interessantes nesse livro, as quais não tinha acontecido nos anteriores.
Se Charlie Donlea está melhorando a cada livro que publica, seus personagens o acompanham. Lembro que não gostei tanto do alvoroço sobre a Rory da outra vez, pois ela só tinha fama e não trabalhou tanto assim no caso.
Ficava mais na sua válvula de escape, restaurando bonecas e os plots dela ficaram em segundo plano. Apesar de ter gostado da leitura, fiquei decepcionada nesse quesito.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Aqui, parece que o autor ouviu minhas lamúrias e deu mais voz e ação, não só para Rory, mas também para o Lane, que entrava mudo e saía calado, coitado. Agora sim posso dizer que esses dois tem a fama que merecem e são ótimos investigadores.
Embora ainda tenha seu momento de relaxamento com as bonecas, Rory não resiste e se rende ao caso, como se fosse uma roupa nova. Fiquei bem mais imersa e a leitura fluiu muito melhor.
O cenário do massacre é a antiga casa de hóspedes da escola, onde os alunos costumam brincar de O Homem do Espelho. O jogo ganhou tanto a atenção dos jovens que passa de geração em geração, como uma espécie de irmandade/seita, para os alunos do terceiro e quarto anos.
Ganha quem for mais criativo nos trotes e provas que propõe para os novatos. Por conta disso, os alunos quase se matam, literalmente, para entrar no grupo e se tornarem populares.
“Eles tinham apenas que lidar com os alunos do último ano, atravessar o verão e conquistar a iniciação.”
Ler essas partes me deixou preocupada e ao mesmo tempo nervosa com eles. Como que os adolescentes conseguiam ter tanto complexo de super-herói só para conseguir aprovação e popularidade?
Embora seja esperado certos comportamentos, dado que a escola é especializada em alunos rebeldes. Além disso, todos os estudantes têm diários, fomentados pelos terapeutas, que também são os diretores da escola: Dra. Gabriela Hanover e Dr. Christian Casper.
Assim, temos uma narrativa em terceira pessoa, intercalada com momentos de leituras de diários aleatórios em primeira pessoa. Eles são, em maioria, do verdadeiro assassino. Apesar de bem óbvio, o mistério está em saber quem disse tudo aquilo.
Isso porque cada trecho nos leva a pensar em um personagem diferente, conforme somos apresentados aos fatos, tanto de 2020, quando acontece a investigação de Rory, quanto de 2019, o ano da tragédia.
O clima da escola é sombrio por si só. Tem uma aura negativa e depressiva sobre os alunos que ainda estão vivos, assim como também tinha sobre os que morreram.
Todos eles têm segredos, desde os mais bobos até os mais perigosos. Aos poucos, vemos que até os professores tem segredos perigosos. Cada segredo levava a mais outro e mais outro. Me sentia lendo uma boneca russa, praticamente. De modo especial por serem coisas que poderiam estar relacionadas ou não. Então, ficava sempre a dúvida no ar.
“A verdade era mais estranha do que a ficção. Quem diria que isso era possível…”
Como resultado, fui feita de trouxa do início ao fim, pois a cada teoria que criava, na página seguinte o autor mostrava que ainda podia tirar mais um coelho da cartola e dava certo. Rory e Lane formam uma dupla imbatível, mas não posso deixar de elogiar a Ryder que, embora tenha feito apenas uma participação especial, foi uma ótima jornalista e fez um trabalho decente.
Quem também não fica atrás é o detetive aposentado Gus Morelli. Ele pode estar com a vida ganha, mas seu instinto não falha e ainda tem muito o que ensinar para os detetives mais novos.
Juntos, cada um ao seu modo, esses quatro juntam as peças e saem dando um plot atrás de outro, que me deixaram de queixo caído. Até os 45 do segundo tempo ainda tinha espaço para
acontecer coisas e Donlea dominou as páginas com maestria.
Apesar de não ser o meu favorito do autor, ‘Nunca Saia Sozinho’ me ganhou no mistério dentro do mistério, dentro de mais um mistério. Todas as pontas foram amarradas de maneira decente e com cenas pesadas, sombrias, dignas de um bom suspense. Posso dizer com tranquilidade que não me arrependo por ter dado uma segunda chance às obras do autor.
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Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Ele está melhorando a cada livro e espero que um dia possa falar que é um grande escritor de thriller, pois, certamente, está no caminho certo. Com relação ao livro em si, ele segue o padrão dos outros volumes. O título vem com letras garrafais, em alto relevo, dando um charme a mais. No entanto, a capa é simples e objetiva, assim como a diagramação.
A escrita é fluida e, mesmo sendo quase um tijolo, li bem rápido a trama e ainda queria mais. As páginas são de papel pólen, bem grossinhas e amareladas, deixando a experiência de leitura confortável. Amei esse livro e super recomendo, de olhos fechados.
Hey I'm With The Band
Adorei a história do livro, eu adoro um thriller, um suspense…
Acho que iria ser uma história que eu iria curti ler hehe 😉
Ótima resenha!
https://www.heyimwiththeband.com.br/
Leyanne
Oie, com certeza é um livro que quero conhecer, mas como nunca foi prioridade, sempre deixo para depois haha. Gostei das suas considerações, que bom que foi uma leitura boa.
Bjs
Imersão Literária
Luciano Otaciano
Oi, Hanna. Como vai? Parece uma obra muito instigante. Gosto bastante do gênero, fiquei curioso com este. Abraço!
https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Babi Bueno
Oi Hanna.Tudo bem?
Eu não sei se o meu outro comentário foi publicado ,então estou comentando de novo.
Menina, fiquei doida para ler esse livro agora depois da sua resenha.
Amei.Beijos !
https://mundinhoquaseperfeito.blogspot.com
Hanna Carolina Lins
Oi Babi, ele foi sim, mas acho que deu bug, pois não saiu completo, =/. Mas fico feliz que tenha gostado da resenha, e recomendo a leitura, ^^.
Hanna Carolina Lins
Que bom, Luciano. Recomendo, viu? =)
Hanna Carolina Lins
Sei bem como é, haha. Vários livros passam batidos pelo mesmo motivo por aqui, =p
Hanna Carolina Lins
Que bom, Val! =)
Sil
Olá, Hanna.
Diferente de você, eu cai de amores pela Rory no outro livro hehe. Acho ela uma personagem incrível. E é visível a evolução da escrita do autor desde A garota do lago. Quando li ele lembro que fiquei me perguntando onde que todo mundo amava o autor, mas quem foi acompanhando os livros na ordem sabe o que está falando hehe.
Prefácio
Hanna Carolina Lins
Me perguntava a mesma coisa quando li A garota do lago, hehe. E felizmente ele foi melhorando, né? Agora faz jus ao título, haha.