17 de November de 2022

Os Criminosos de Novembro | Sam Munson

 Olá meu povo, como estamos? Hoje temos mais uma leitura do #12livrospara2022. Esse projeto é feito em parceria com os blogs MãeLiteratura e Pacote Literário, com o objetivo de desencalhar um livro físico da estante. Para o mês de novembro, o tema era ‘Um Livro de YA’ e o mais votado por vocês foi ‘Os Criminosos de Novembro’, um thriller escrito por Sam Munson.

Os Criminosos de Novembro
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

ALERTA: Pode conter gatilhos sobre racismo, drogas e assassinato. 

58/24

Livro: Os Criminosos de Novembro

Autor: Sam Munson

Tradutora: Regiane Winarski 

Editora: Planeta

Ano: 2018

Páginas: 300

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O jovem Addison Shacht tem 18 anos e está prestes a terminar o ensino médio. Preenchendo o formulário para concorrer a uma vaga na universidade, ele para em uma das perguntas: “Quais são suas maiores qualidades e seus piores defeitos?’. Enquanto pensa na sua trajetória até ali e decide se deve ou não continuar os estudos, o rapaz vai levando a vida, vendendo drogas na escola, arrumando briga com os professores e tentando entender sua relação com a melhor amiga Digger (eles são só amigos, viu?).
Mas quando Kevin, um colega de turma, é assassinado, Addison decide fazer uma investigação por conta própria. E, quanto mais ele descobre a respeito desse mistério, mais mergulha em questões ocultas de seu próprio passado.

Addison Schacht é um adolescente em vias de concluir o ensino médio. Como qualquer pessoa na sua idade, está perdido em relação ao futuro. Porém, sabe muito bem o que fazer com o presente — ao menos é o que ele acha.   

Filho de pais judeus, o rapaz vive numa boa casa e possui uma vida financeira estável. No entanto, gosta do poder que tem ao fornecer drogas para seus colegas na escola. É super organizado e mantém seus clientes na linha, como um verdadeiro profissional (se é que podemos chamá-lo desse jeito).   

A rotina do rapaz pouco muda: ir as aulas, fumar seus baseados e curtir o restante do dia com Digger, sua melhor amiga (ou amiga colorida, como preferir). Mas sua vida muda do dia para a noite quando é noticiada a morte de Kevin Boradus, um colega da escola.   

O ocorrido fica tão marcado em sua mente, que ele não consegue esquecer, nem no momento de preencher os formulários de candidatura às universidades. De modo especial, quando se depara com uma pergunta cabulosa: Quais suas maiores qualidades e piores defeitos? 

Assim, Addison decide investigar por conta própria por que a morte de um rapaz, até então conhecido apenas de corredores, mexeu tanto com seus ideais. Com isso, ele pode descobrir muito mais do que procurava.

“Mas é assim que as pessoas são. Não dá para negar. Todo mundo se prende às lembranças baratas do passado.”

 ‘Os Criminosos de Novembro’ não estava no meu radar até o ano passado. Encontrei por acaso no sistema de trocas do Skoob e decidi dar uma chance à obra. No entanto, assim como tantas outras, chegaram aqui em casa e ficaram na estante pegando poeira, pois eu sempre passava outros na frente.   Quando vi que foi o escolhido para o ‘12 Livros para 2022’, confesso que fiquei até surpresa, ao perceber que ele era mais popular do que eu imaginava.

E provavelmente você deva conhecer mais pelo filme do que pelo livro, propriamente dito. Como nunca assisti à adaptação, falarei apenas das minhas impressões sobre o livro.A trama se passa em meados de 1999 e vemos os acontecimentos de acordo com a visão de Addison, nosso protagonista. Ele está se candidatando a uma vaga na Universidade de Chicago e precisa escrever uma redação, respondendo a uma das perguntas capciosas da lista fornecida pela comissão avaliadora. 

Essa questão levou o rapaz a muitas memórias, as quais são contadas para o leitor em forma da própria redação, que mais se torna um livro (e sinceramente, tenho dó do avaliador que tenha pego esse tijolo para corrigir, rsrsrs). Por sua vez, como são lembranças e o personagem está claramente tendo um brainstorm, a narrativa não é linear.

Além disso, o jovem não se lembra dos fatos como aconteceram em detalhes. O que faz dele um narrador não-confiável.  No entanto, é o único disposto a nos contar o que houve com os alunos da escola John F. Kennedy. 

Kevin Broadus, um de seus colegas, foi brutalmente assassinado a tiros enquanto trabalhava em um supermercado. O caso comoveu toda a sociedade na hora, saindo nos jornais e logo começou a ser investigado. Porém, seguindo as estatísticas, caiu no esquecimento, assim como muitas outras mortes brutais de jovens — de modo especial os negros e pobres.   

Os professores fizeram uma espécie de memorial para o estudante no local onde morreu e mal demonstram sentimento ao mencionar seu nome, como se fosse um dever a ser cumprido de modo robótico. Os próprios alunos que estudavam com ele seguem a vida como se Kevin jamais tivesse existido. O único que se incomoda com o fato é Addison, o rapaz com quem ele mal trocava duas palavras pelos corredores.    

Junto a Digger, sua fiel escudeira, os dois decidem investigar por conta própria o que teria acontecido com a vítima. E, quem sabe assim, fazer uma espécie de justiça ao rapaz morto.

“Acho que todo mundo deixa de seguir suas convicções às vezes.”

É aqui que a ideia anima bastante, mas me joga um balde de água fria na página seguinte. Exatamente por não ser confiável, a narrativa do protagonista viaja demais na batatinha e esquece do que é mais importante: a investigação.   

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

Devo admitir que o autor conseguiu o objetivo de construir um personagem que faz jus à idade que tem. Addison é um adolescente, cheio de dúvidas e receios. E também metido a herói sem capa, mas que só consegue ser sem noção. Passei páginas e mais páginas vendo um adolescente chato e sem graça, contando em detalhes minuciosos como faz para vender sua “mercadoria”, ou mesmo de sua paixão platônica por Digger.   

Contudo o lado detetive que é bom, é praticamente inexistente. Quando tentava investigar alguma coisa, só metia os pés pelas mãos e fazia muita besteira. Tanto que me dava nos nervos e eu não sabia onde enfiar a cara, de tanta vergonha alheia.   

Juro como tentei levar em consideração a pouca experiência do rapaz. Porém Addison é um dos melhores alunos da escola, faz aulas de Latim e conhece Eneida (na versão original) em todos os detalhes. De vez em quando sai com umas filosofias tão profundas sobre a História mundial, que surpreendem qualquer adulto.

Assim, ele deveria ser inteligente o suficiente para ter senso do ridículo e ler algumas mensagens nas entrelinhas. Mas parece que a criatura desliga a chave do cérebro pensante quando sai da frente da professora e fica burro de novo quando mais precisa. Entretanto, não sei se devo dizer que tenho ranço do Addison. 

Conforme ele narra suas histórias fora do colégio, conhecemos sua relação com a família e os poucos amigos que tem. A mãe é falecida e o pai tenta fazer função dupla, porém está tão perdido quanto o filho. Finge que está tudo bem. No entanto, mal dá atenção ao rapaz e vive entre as aulas que dá na faculdade de artes plásticas e suas namoradas.

“Tudo é permitido. Quando tudo é permitido, a mediocridade é a regra.”

Os companheiros mais chegados são os fornecedores da droga que Addison vende. Então, boa parte das conversas que tem são sobre “trabalho” e coisas tão aleatórias, que nem o protagonista tem paciência. Pensando assim, faz até sentido que ele se sinta perdido e sem rumo boa parte do tempo.   

Apenas Digger lhe dá a devida atenção e conversa de verdade com o amigo. Por isso, passam boa parte do tempo juntos. E, confesso, tem uma química muito boa rolando entre esses dois que gostei de ver.    A menina tem quase a mesma idade do protagonista, porém é mais madura e dona de si (algo já esperado). Age como a voz da razão em diversos momentos, tirando Addison das enrascadas em que ele parece sentir orgulho de arranjar.

“Fiquei tão chocado com a aparição dela que não tive tempo de sentir felicidade, e agora que ela estava indo embora, eu estava chocado demais para sentir infelicidade.”

Juntos eles fazem umas investigações meia boca, mas conseguem até andar mais do que os detetives profissionais. Sei que a ideia é mostrar o quanto a justiça é falha, em especial quando a cor da pele e a conta bancária da vítima falam mais alto. O autor alcançou mais um objetivo, pois retratou exatamente o que acontece no mundo real.   

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

No entanto, me dava agonia ver que os investigadores eram lentos demais. Em especial por serem conformados de que o sistema é falho e não teriam recursos para resolver todos os casos que tinham em mãos. Me dar conta disso doeu mais do que um soco na boca do estômago e fiquei um tempo refletindo a respeito. Principalmente por saber que os anos passaram, porém pouco ou nada mudou.

“As pessoas são o que são, e desejar que elas mudem é besteira.”

  Além disso, Addison se revolta com a forma como nem os próprios professores sabem lidar com a diversidade que insistem em dizer que respeitam. Temos uma visão clara disso quando chegam as festividades sobre a Consciência Negra.  Os professores não parecem fazer por, de fato, acreditarem na necessidade do debate; fazem apenas por obrigação nítida e seguem um discurso engessado e totalmente close errado.

Olhando mais a fundo, percebemos que a John F. Kennedy é uma escola branca, com alunos e professores brancos, forçados a admitir alunos de outras etnias, como uma forma de cumprir cotas. Porém, continuam agindo como se fossem superiores e fingem que os 10% dos alunos não-brancos não existem, ou nem mesmo sejam dignos de ter uma história de verdade.   

Isso se reflete nos próprios estudantes, em especial Alex Faustner, a aluna modelo que seria uma forte candidata à KKK. Seus discursos são racistas e extremamente ofensivos a qualquer um que tenha um pouco de senso e decência. Mas ela apenas repete as palavras bonitas e o preconceito mal disfarçado que seus professores e familiares cospem todo ano. Isso aumenta a sensação de revolta de Addison e do próprio leitor, que parecem ser os únicos a perceber as atrocidades que acontecem dentro dos muros da escola.   

Talvez por isso o rapaz seja um aluno-problema, que arruma briga com professores e colegas de classe. Embora não concorde com suas atitudes (um tanto babacas e imaturas), é a forma que ele tem de lutar contra um sistema falho desde a raiz.    

Além disso, com toques de humor ácido e devaneios, o jovem mostrou o quanto as pessoas ainda precisam trabalhar mais a empatia umas com as outras. Ou mesmo estudar um dicionário, para entender o real significado de respeito e sororidade.   

O mistério do que aconteceu com Kevin, porém, é solucionado como um coelho tirado da cartola. Embora o autor tenha passeado por assuntos importantes, como racismo e uso de drogas, gostaria que o suspense também tivesse sido melhor trabalhado. Porém, a resposta foi jogada no colo do leitor de qualquer jeito, como se fosse tão óbvio, que seria até uma piada enrolar mais (no entanto, ele enrolou um bocado em cenas desnecessárias).

Mas devo admitir que achei a escolha do título peculiar e a explicação faz jus à personalidade do Addison. Jamais teria relacionado o tema com o título e achei sensacional. Falando sobre a obra em si, a escrita é fluida e terminei a leitura em dois dias e meio.

Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

A diagramação está de parabéns, com uma fonte legível, revisão atenciosa e páginas amareladas e grossinhas. A capa é bonita, porém não entendi muito bem o real sentido, pois tem nada a ver com a trama central.    

Além disso, por conta das minhas ressalvas, não é um livro que eu leria novamente e nem vai levar a nota máxima. Mas ainda fica a dica, caso você goste de suspenses com adolescentes em um tom meio noir

O andamento do projeto, até o momento, segue assim:

   E aí, o que acharam? Já leram esse livro, ou algum outro do autor? Curtem essa vibe mais noir?

Obs.: Texto revisado por Emerson Silva

Postado por:

Hanna de Paiva

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