5 de May de 2020

Palácio de areia – Raffa Fustagno

Olá meu povo, como estamos? Hoje temos resenha de mais um conto “brazuca” no Mundinho! 😊 O livro da vez é Palácio de areia, da autora Raffa Fustagno.

Palácio de areia
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

14/12

Livro: Palácio de areia

Autora: Raffa Fustagno

Editora: Independente/Amazon

Páginas: 107

Ano: 2020

Skoob | Amazon



Pureza (Annelisa)e Frieza (Elzalina) são filhas do governador mais corrupto que Arenlândia já conheceu: Olafo Filho. As irmãs têm sentimentos diferentes em relação às roubalheiras do pai. Em meio a esquemas de propina, compras de joias sem limite, uso de helicópteros indevidamente e muitas outras ostentações, nossa história nos leva até o Palácio de Frozuara onde nem tudo que acontece por lá, ficará de fato por lá. Graças à uma filha que não concorda com o que a família apronta com o povo e um segurança charmoso de esquerda chamado Cristolfo, essa história não terá final feliz para todos

Palácio de areia



Arenlândia poderia ser uma terra de fantasia, magia, contos de fadas, finais felizes… Mas não é bem assim que as coisas acontecem por lá. Na realidade, vocês vão notar bastante semelhança com nosso mundo real, principalmente onde mora a família de Olafo Filho, o governador de Arenlândia, que mora no Palácio de Frozuara.
Eleito pelo povo, Olafo poderia fazer um governo para o povo, mas ele acabou seguindo um caminho comum, o da corrupção, que só ferra o povo cada vez mais.    Enquanto isso, sua família parece estar alheia a tudo, mesmo morando no mesmo palácio. Idrana, sua esposa, e Elzalina, sua filha mais velha e apelidada gentilmente (só que não) de Frieza, são verdadeiras dondocas.
Só vivem em salões de beleza dos mais caros da cidade, fazendo milhões de tratamentos de beleza e andando de helicóptero para todo canto, só para não “se misturar com a gentalha”. Idrana ainda tem uma ONG, que ajuda as pessoas mais necessitadas, mas quem toma conta mesmo é a assistente dela, já que Idrana não pode gastar seu precioso tempo de usar botox onde nem sabia que se usava, só para falar com o “proletariado”.
Enquanto isso, Annelise, a filha mais nova e apelidada, também gentilmente, de Pureza, é o completo oposto de Frieza e Idrana. Com seus cabelos ruivos naturais e com uma bondade que equivale às duas outras mulheres da casa, ela se preocupa com o que está ao seu redor… e está descobrindo um mundo completamente novo, que vai mudar de vez seu modo de ver a vida.
Eu já conhecia a escrita da Raffa Fustagno por causa de outro livro, a antologia 24 horas com meu ídolo, então já sabia que a história seria incrível. E não estava errada por ter criado expectativas.
Para quem não sabe, Palácio de Areia é um conto, que faz parte da coleção Femme Fatale. Ela tem o objetivo de pegar histórias já conhecidas nossas e fazer uma espécie de antologia. A Raffa optou por pegar o conto da Rainha de gelo, que gerou o filme Frozen, para nos contar uma história que realmente aconteceu aqui no Rio de Janeiro.
Quem é carioca e mora por aqui, ficou revoltadx com tantos acontecimentos que movimentaram nossos dias no cenário político. Nosso governo anterior teve investigações dignas de uma série ou de um livro, como nesse caso (rsrsrs), que a autora soube levar com maestria e bastante leveza, apesar dos temas abordados.
Apesar de não poder falar muito, afinal é um conto, posso falar de algumas coisas que foram notícias de verdade por aqui, como um esquema de corrupção cinematográfico que aconteceu nos interiores do Palácio Guanabara, aqui representado por Palácio Frozuara.
Enquanto a esposa do governador vivia mergulhada em tratamentos de beleza dos mais caros, e joias exclusivas das mais exclusivas, tudo pago com dinheiro público, o povo estava cada vez mais revoltado com tantos aumentos seguidos de taxas, e que nada era revertido para a população.
Nosso ápice foi quando resolveram aumentar as passagens de ônibus, que eles alegavam ser apenas R$0,20. Mas que no fundo, representava milhões num esquema de desvio de dinheiro, o que levou a mobilizações, que levantaram pessoas ao redor do mundo, inclusive famosos de Hollywood apoiaram nossa causa.
E é nesse cenário que começamos nossa história em Palácio de areia. Annelise e Elzalina são acordadas com as primeiras movimentações que fizeram em frente ao palácio, devido ao aumento do preço das passagens.
Apesar de Elzalina nem ligar para a hora do Brasil e querer mais que o povo se exploda, afinal ela quer dormir seu sono de beleza e evitar ter rugas (ela tem 16 anos!), Annelise fica curiosa pra saber o motivo de tanto furdunço ao redor de sua casa. Cabe a Cristolfo, um dos seguranças do palácio, conter Annelise, que seria alvo de várias coisas que estavam jogando pelas janelas.
E a mocinha não sabe, mas isso era apenas a ponta do iceberg de tanta coisa que acontecia no Palácio de Frozuara. Aqui já sabemos quem é nossa protagonista, que de bobinha tem nada. Annelise, ou Pureza, não se conforma com a revolta do povo de Arenlândia e, quando descobre que os motivos que causaram isso vieram da parte de seu próprio pai, compartilha com eles o desejo que fazer algum tipo de justiça.
Por sua vez, Idrana sabe muito bem de onde vem toda a fortuna de seu marido. Mas faz questão de não se importar e só quer gastar mesmo. Todas as tentativas de Annelise de debater o assunto com a mãe, são rebatidos com deboche e escárnio, o que deixa a menina mais revoltada ainda – e eu também – . Afinal, penso que isso se passava na cabeça da real ex-primeira dama e me enjoa bastante.
Annelise, nossa real princesa, não se conforma com a situação, e menos ainda com o descaso de seus próprios pais, que eram seus heróis. Por isso, ela toma como missão de vida descobrir se o que o povo dizia sobre seus pais era mesmo verdade.
Porém, o Palácio de Frozuara é bem grande e todas as paredes podem ter olhos e ouvidos. Assim, ela precisa tomar todo o cuidado do mundo, se quiser ser bem sucedida em sua missão. Mas ela vai acabar vendo que pode ter aliados onde menos se imagina.

“Passar os dias presa no Palácio podia parecer incrível para quem fazia as visitas guiadas aos sábados. Certamente os turistas acreditavam que ela era muito feliz ali dentro, mas Pureza só almejava a liberdade de andar sem seguranças que essas pessoas tinham.”

Annelise, ao contrário do que sua mãe pensava, é a mais bonita naquele palácio. Afinal, ela tem uma beleza natural, que vem de fora e também de dentro. Só o fato de ela se preocupar com os menos favorecidos já a faz linda por si só. Junte a isso seu senso de justiça e sua coragem, que ela vai descobrir no decorrer das páginas, e fica a combinação perfeita.
Palácio de areia
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna
Já Elzalina, a Frieza, é tão vaidosa que dá medo. Ela nem chegou nos 20 ainda, mas se preocupa tanto com rugas, que faz tratamentos caríssimos sem necessidade, e parece mais velha que a mãe, se deixar.
Mesmo assim, se acha a última Coca Cola do deserto e se aproveita disso para pisar em todos os empregados que lhe servem, seja na casa onde mora, ou nos estabelecimentos onde vai. Frieza é realmente o exemplo vivo de que dinheiro não quer é sinônimo de boa educação. Parece que quanto mais grana brota na sua conta corrente, mais ela quer pisar nos seus empregados, que engolem tudo por medo de perderem o emprego, mas no fundo morrem é de raiva dela mesmo.
E Idrana então… A mulher se diz muito esperta. Está sempre de olho nos “projetos” do marido, mas sempre se faz de perua alienada. Mas até ela vai perceber que ser alienada assim tem um preço, dos bem caros.
Olafo é um bom pai, mas marido e profissional, nem tanto. Se ele se preocupasse com o povo do jeito que se preocupa com as filhas, talvez tivesse um governo melhor. Mas ele só sabe querer ficar cada vez mais rico, sem se preocupar nem em esconder as pistas de seus esquemas, que começam a feder por onde ele marca suas reuniões importantes, que só o fazem subir mais ainda ao poder.
E ele vai descobrir que tudo que sobe demais, um dia tem que descer. E ele cai de uma altura tão grande, que é impossível se erguer novamente. Quando isso acontece (isso é notícia de jornal, não spoiler, rs), ele vai ver quem nem todos eram seus amigos como ele pensava.
Apesar de muitos fatos reais, temos bastante fantasia no meio, o que confere certa leveza à nossa narrativa, contada em terceira pessoa. A linguagem da Raffa é fluida e ela conseguiu contar em poucas páginas algo que nos durou meses de revolta no povo e manchetes nos jornais.
Claro que, como uma boa fantasia e um conto de fadas moderninho, não poderia faltar nosso príncipe encantado, que até agora não foi citado. Cristolfo, o segurança de Elzalina, é bem mais do que um pobre empregado da família.
Ele é a melhor chance de Annelise de desmascarar o seu pai por corrupção. Mas no meio disso tudo, temos um romance tão amorzinho, que chega a dar aquele quentinho no coração.
Desde o começo, eu já desconfiava que rolaria um romancezinho no palácio, e quando aconteceu eu fiquei muito feliz, afinal Annelise merecia ter um final feliz nessa história toda. Apesar de term saído de berços diferentes, Cristolfo e Annelise são super parecidos, o que os aproxima cada vez mais.
E saber que Cistolfo seria sua chance de ajudar no combate ao que estava acontecendo em Arenlândia, só os aproximou mais ainda. E Cristolfo é um rapaz de tirar o chapéu. Bonito, charmoso, educado, responsável… o príncipe para ninguém colocar defeito, meu povo!
“[…] E você é muito cafona com essa frase de romance de banca, mas eu gosto de romance […].”
É um conto rapidinho de ler, ao mesmo tempo revoltante e divertido, que super recomendo. Falando sobre o livro propriamente dito, ele está disponível apenas em versão digital. Todos os contos estão disponíveis na Amazon, mas o da Raffa era o que estava gratuito uns dias atrás. Aproveitei que estava baixando alguns livros para ler durante a quarentena e incluí ele na lista.
A revisão está ok, embora tenha passado uns errinhos de digitação aqui e ali. Mas nada que incomode a leitura como um todo. A capa já nos mostra as duas irmãs, que lembram em parte a versão da Disney, porém de costas para nós, para evitar qualquer outra semelhança, (srsrs). Apesar de se passar numa versão alternativa do Rio de Janeiro, com bastante calor e ar condicionado no meio, todas as referências são geladas, como no conto original.
Palácio de areia
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna
Os personagens são bem construídos e, apesar de terem suas versões reais, aqui vemos algumas semelhanças nos atos, mas conseguirmos discernir tranquilamente realidade de fantasia. Todas as pontas são amarradinhas e nenhum personagem ficou esquecido. Todos tem os seus finais, seja os que aconteceram nos jornais ou dos personagens secundários, que são da licença poética da autora.
Além disso, o fato de a autora trabalhar no Palácio Guanabara foi bem vantajoso, pois somos apresentados ao Palácio de Frozuara de uma forma brilhante e do ponto de vista de alguém que realmente conhece o local. O que é bom, pois mesmo que nunca tenhamos pisado lá (ele é aberto à visitação), temos uma noção de como é o lugar pela descrição da autora. Isso rendeu alguns pontos a mais no livro, ainda mais nesse período que só posso passear pela imaginação mesmo. Por tudo isso, dou nota máxima ao livro e super recomendo a leitura!

 

Postado por:

Hanna de Paiva

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