Olá meu povo, como estamos? Hoje temos mais uma edição do projeto
#12livrospara2022, em parceria com os blogs
MãeLiteratura e
Pacote Literário. Para o mês de setembro, o tema era “Literatura Nacional” e o mais votado por vocês foi ‘Parthenon Místico’, da série ‘
Brasiliana Steampunk‘, obra de Eneias Tavares.
|
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
47/24
Livro: Parthenon Místico
Autor: Eneias Tavares
Editora: Darkside
Ano: 2020
Páginas: 364
O cenário é o Brasil do século XIX. No mundo concebido pela mente do premiado autor Enéias Tavares, a tecnologia a vapor permite a existência de carruagens sem cavalos, máquinas voadoras e prodigiosos robôs autômatos. É neste lugar que um grupo de personagens inusitados se une para formar o Parthenon Místico e enfrentar os vilões da Ordem Positivista Nacional.
O leitor mais atento, ao começar o livro, vai perceber que vários dos personagens a que Enéias Tavares dá vida já são seus conhecidos: já os viu em O Ateneu, de Raul Pompeia; em Contos Amazônicos, de Inglês de Souza; em Noite na Taverna, de Alvares de Azevedo; em Dr. Benignus, de Augusto Emilio Zaluar, e em tantas outras obras. A eles se juntam mais histórias da literatura brasileira, bem como personagens originais do universo de Tavares, chamado de Brasiliana Steampunk.
Além da empolgante aventura nesse cenário repleto de literatura, misticismo e vapor, o leitor ainda pode viver uma experiência transmídia. Parthenon Místico não se contém apenas entre as páginas do romance, mas se desdobra em mapas, ilustrações, histórias em quadrinhos, áudio dramas e um tarô, tudo acessado através do celular. O universo de Brasiliana Steampunk também está presente nas telas, na série lançada na Amazon Prime A Todo Vapor!
Parthenon Místico continua a trama de O Ateneu e conta a origem da Liga Extraordinária Tupiniquim já vista em A Lição de Anatomia do Temível Dr. Louison (LeYa, 2014). Neste prequel, que funciona mesmo sem a leitura do livro anterior, descobriremos quem integrou as duas gerações desta insólita sociedade secreta. Dividida em seis partes, a trama é contada por noitários e gravações, recriando os estilos textuais dos autores que emprestaram seus personagens a Tavares. Soma-se ao texto a arte de Ana Koehler que coloca em seu belo traço os personagens do livro.
Prepare-se, nobre leitor, pois Enéias Tavares criou um universo único a partir de referências literárias diversas e o chamado da aventura foi feito a você. Aceite e conheça esse mundo cheio de letras, vapor e grandes ideias!
O final do século XIX no Brasil foi marcado por uma série de acontecimentos, em especial na região Sul. O país segue os preceitos da chamada Ordem Positivista Nacional, a qual prega ideais de moral e “bons costumes” baseados em fundamentos científicos duvidosos.
No entanto, seu domínio está ameaçado pelo surgimento de uma liga extraordinária denominada Parthenon Místico, a qual está ganhando cada vez mais força. Além disso, ao contrário dos cientistas, os membros da oposição apresentam dons peculiares que causam medo e preconceito, quando vistos de perto.
Após uma série de acontecimentos, a liga precisa salvar a jovem Vitória Acauã das garras da Ordem Positivista e, para isso, contam com o apoio de Bento Alves, um caçador de recompensas recentemente recrutado. Porém, a missão de resgate acaba levando a mais descobertas. E logo os anarquistas percebem que a guerra está apenas começando.
Ganhei esse livro de presente há um tempinho e estava na estante desde então. Apesar de ter amado a edição logo que chegou,
a ideia de ler um steampunk não me agradou da primeira vez. Isso porque havia lido ‘
O Circo Mecânico‘, (outra obra no mesmo estilo)
recentemente e achei uma verdadeira viagem.
Acabei colocando ‘Parthenon Místico’ na lista do 12 Livros sem expectativas para representar a literatura brasileira. Mas foi uma grande surpresa ver que tinha sido o mais votado, especialmente por não estar a par de outros trabalhos do autor.
Porém missão dada é missão cumprida (ou quase). Essa foi a única leitura do projeto que pensei em abandonar, pois logo no começo fiquei decepcionada ao notar que se tratava de uma continuação. Apesar de ter uma nota da editora afirmando que não era necessário ler o primeiro volume, fiquei incomodada ao perceber isso e ia trocar de leitura, tendo lido apenas 50 páginas. O que de fato aconteceu, pois deixei a obra na mesinha de cabeceira e fui ler outras coisas. Uma semana depois decidi olhar para ela novamente e percebi umas peculiaridades interessantes.
|
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
‘Parthenon Místico’ se passa 15 anos antes do que é relatado em ‘A Lição de Anatomia do Temível Dr. Louison’. Se no livro anterior a liga extraordinária já existe e é bem atuante, aqui conhecemos suas verdadeiras origens.
Dessa forma, foi uma vantagem ler o volume atual e pegar a história em ordem cronológica, podemos assim dizer. Tendo “feito as pazes” com o livro, a leitura fluiu bem melhor e me espantei com a velocidade com a qual devorei a história.
A narrativa é feita em primeira pessoa, do tipo epistolar. A maior parte dela é contada por meio de noitários (uma espácie de diário escrito de noite) ou de gravações guardadas em autômatos (robôs movidos a vapor). Nunca tinha lido um livro inteiro desse jeito e achei curioso. Primeiro porque pude acompanhar o que se passava na mente de cada personagem. E segundo porque, juntando tudo, tive uma visão bem ampla de todos os acontecimentos.
Além disso, como os relatos são curtos, ajudou bastante a manter a narrativa fluida e movimentada. Aos poucos, somos apresentados aos personagens principais, tanto da Ordem Positivista, quanto do Parthenon.
|
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
E, se tivessem transportado todos os personagens para o século XXI, não teria feito tanta diferença, visto que até os dias de hoje ainda existe medo e preconceito do diferente. A Ordem Positivista defende ideias de “moral e bons costumes”, através de fundamentos científicos arcaicos para justificar a morte de “raças inferiores” (não brancas).
Por conta disso, fazem experimentos macabros para provar que apenas uma raça superior deve existir e dominar o mundo. Não apenas questão de cor, mas também mulheres, homossexuais (aqui chamados de invertidos) e deficientes são vistos quase como aberrações, as quais devem se eliminadas do mundo o quanto antes.
Seu maior inimigo é o Parthenon Místico, formado por tudo que a Ordem mais abomina, além de resgatar as crenças de povos indígenas e outros fatos que todo teórico da conspiração iria pirar se tivesse acesso.
Dessa forma, são chamados de anarquistas e pintados como os verdadeiros vilões para a população, que segue fielmente o que o Grão-Ancião prega, dizendo se basear nos preceitos da igreja do Crucificado. Os experimentos macabros feitos nos porões da Ordem são comandados pelo Dr. Sigmund Mascher (Grão Chefe) e Aristarco Argolo dos Ramos (Grão Ancião). Esses dois são os personagens mais preconceituosos, nojentos e ridículos que já conheci.
Como cientista e mulher, me senti ultrajada e ofendida lendo a empáfia com a qual eles defendiam ideias do tipo “close errado” com uma fé tão cega em teorias tão sem fundamento, que doía. Minha vontade era de entrar no livro e me alistar na liga do Parthenon Místico, para lutar contra eles e suas pesquisas disfarçadas de assassinatos cruéis.
|
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
No entanto, apesar de revoltada em diversos momentos, eram ideias aceitáveis naquela época, especialmente entre os ditos grandes pensadores. Mas é triste ver que ainda hoje existem pessoas que defendem esses absurdos e acham que é certo agir com preconceito contra quem pensa diferente de deles.
Porém, se pelo lado da ciência de araque temos pessoas intragáveis, observamos o completo oposto na Ilha do Desencanto, sede do Parthenon Místico. Quem me ganhou logo de cara foram a jovem Vitória Acauã e o casal Bento Alves e Sergio Pompeu. A primeira é filha de brancos e índios e tem traços da típica mistura brasileira. Além disso, parece ter herdado os dons místicos dos seus antepassados nativos e me lembrou bastante a Onze e ‘Stranger Things‘.
Apesar da semelhança em um primeiro momento, o autor manteve a originalidade da personagem, deixando bem estilo Tupiniquim, o que conferiu alguns pontos para a obra. Já Bento e Sergio me conquistaram, por formarem um dos casais mais fofos desse livro. Eles sabem que estão vivendo uma verdadeira guerra, não apenas contra a Ordem, mas contra o mundo, que os julga pela sua opção sexual.
No entanto, encontram na Ilha do Desencanto um lar, com amigos de verdade e que fazem as vezes de uma família. Assim pude ver que eles tem o lado mais racional e atento ao mundo que os cerca, lutando juntos por um ideal em comum, porém ainda tendo tempo de serem apaixonados e viverem o que os fazem felizes.
Quem também tem seus momentos de brilho é Beatriz, uma escritora negra e que está ganhando fama por seus livros de mistério, publicados pelo pseudônimo de Dante Augustine. Apesar de não ter tantas falas como os demais personagens, quando ela aparece, brilha na hora certa, diz a que veio e sai de uma forma espetacular.
Mesmo não sendo tão madura em quesito idade, a moça é muito sábia e atua como a voz da razão para a turma, trazendo momentos de paz e reflexão em diversos momentos. No entanto, mesmo que sejam personagens bem elaborados e atuantes, nem todos são criações do autor. Achei curioso saber que muitos deles são, na verdade, releituras de ícones já consagrados da literatura brasileira clássica.
|
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Isso foi uma grande sacada do autor, que pode, ao mesmo tempo, homenagear grandes obras nacionais, ao mesmo tempo que criticou vários dos comportamentos e atitudes políticas da época, porém sem perder a originalidade.
Outro fato interessante é o estilo de escrita utilizado. Isso porque o autor manteve as epístolas escritas como seriam de acordo com a ortografia do século XIX. Assim, você pode tomar um susto quando começar a ler e dar de cara com palavras do tipo “phantasmas” ou “sscientistas”.
No entanto, levando em consideração que as cartas foram escritas naquela época, achei sensacional a ideia de manter o estilo original também. O desfecho é digno e condizente com a trama. As pontas são amarradas de modo satisfatório, garantindo cenas de muita ação, emoção e ainda com espaço para grandes reviravoltas.
O autor conseguiu manter uma trama envolvente, com começo, meio e fim bem marcados, cujos personagens deixaram saudade. Em relação à obra em si, adorei a edição em capa dura, com detalhes em dourado e cheio de engrenagens, representando as engenhocas da época. A revisão está muito bem feita, assim como a diagramação impecável.
Logo no começo temos também umas ilustrações, trazendo os mapas e personagens principais. Assim foi bem fácil me ambientar e visualizar quem estava nas cenas. Resumindo, foi uma leitura que não teve uma boa primeira impressão, mas depois me convenceu e me arrebatou, que recomendo. Mas leia com a mente bem aberta.
E o andamento do projeto até agora segue assim:
E aí, conhecem a série ‘Brasiliana Steampunk‘? Já leram alguma obra do autor? Me contem aí!
MaeLiteratura
Hanna, fiquei super curiosa para ler este livro! Ri com vc com o stand by que vc deu nele e adorei que fez as pazes! Que edição linda! Já vai pra lista. E lá vamos nós para o último trimestre desta TAG deliciosa. Beijão e até o mês que vem
Pacote Literário
Oi Hanna! Eu acho essa capa um luxo e o título também me chama a atenção. Porém, não é meu estilo de leitura. Adorei saber que, na relação de amor e ódio durante a leitura, o livro acabou te conquistando! Adoro a nossa blogagem coletiva e fico feliz em estarmos concluindo mais um ano de boas leituras! Beijo!
Hanna Carolina Lins
hahahah, que bom que gostou, Clauo. Acabou sendo uma vantagem fazer isso, pois a leitura fluiu bem melhor. Vou adotar a tática para próximas vezes, haha
Hanna Carolina Lins
Sim Karlinha, essa edição é um luxo mesmo. Acho que é uma das minhas favoritas da estante, S2.