Olá meu povo, como estamos? Hoje trago a resenha de mais um livro “trevosíneo”, batendo a meta literária de outubro. Agora, temos uma antologia nacional de terror/horror, digno de dar medo do escuro. Preparem os casacos e vamos falar sobre ‘Sangue Abaixo de Zero’.
ALERTA: Pode conter gatilhos de violência extrema e sequestro.
57/24
Livro: Sangue Abaixo de Zero
Organizadoras: Carol Oliveira e Raíssa Arenhardt
Editora: Delirium
Ano: 2019
Páginas: 224
‘Sangue Abaixo de Zero’, antologia de contos de terror/horror, traz 12 histórias em cenários com temperaturas negativas onde os personagens sofrem um frio intenso, com pitadas de realismo mágico, muito suspense e desespero. Em suma, contos sombrios, absurdamente assustadores. Aqui, valorizou-se a boa construção dos cenários onde o gelo e/ou a neve imperam, além da capacidade de incluir as consequências do frio ou congelamento no comportamento dos personagens. Afinal de contas, é sabido que situações de frio extremo – os capilares chegam a congelar, micro cristais de gelo podem formar-se em seu interior –, trazem calafrios, euforia, confusão mental, um comportamento semelhante a uma intoxicação e, à medida que a temperatura central continua a cair, letargia, astenia muscular, comportamento combativo, desorientação, alucinações, depressão e etc. Um livro para ser lido e depois escondido na geladeira.
Acho que de todos os escolhidos para a TBR de outubro, ‘Sangue Abaixo de Zero’ foi o mais assustador. Comprei esse livro em 2019, quando conheci a ‘Primavera em Livros’, uma feira carioca de editoras independentes. Lembro que conheci um dos autores da Delirium e comprei dois livros autografados com ele.
Entretanto, apesar de animada e curiosa com as tramas, deixei o tempo passar e os exemplares ficaram na estante pegando poeira. Um tempo depois, resolvi desencalhar as obras e dei uma chance, tanto para ‘Noiva de Papelão’, quanto para ‘Sangue Abaixo de Zero’. E me perguntei porque não fiz isso antes. Aqui temos uma antologia, trazendo 12 contos de terror/horror, com temperaturas congelantes. Eles se passam em diversos pontos do mundo, inclusive no Brasil, um país impossível de se associar ao frio extremo (porém os autores mostraram que é possível, se tiver um pouco de imaginação).
“Era acostumada a baixas temperaturas, porém, naquela cidade, o frio parecia ter uma vontade divina de exterminar as pessoas.”
Todos me surpreenderam bastante, pelo requinte de detalhes em cenas macabras e perfeitas para te deixar com medo do escuro (sim, li à luz do dia, para me garantir, rsrs). Entre os contos, temos:
Sorriso Perverso (Carol Oliveira) – Certas promessas jamais devem ser quebradas, muito menos esquecidas.
Draugen (Cesar Luis Theis) – Relatos de uma tripulação perdida em uma tempestade de gelo no meio do mar.
O Cristal de gelo (Fabiana Prieto) – Uma equipe de geólogos encontra uma espécie de cristal de gelo que não derrete por nada. No entanto, junto com ela, poderão vir grandes surpresas.
O Palacete (Flavio P. Oliveira) – E se ‘Frozen’ tivesse uma versão sombria?
Clarice (Huber Teixeira Costa) – Até onde você iria para resgatar a pessoa amada?
-14° (Jeff Fritsch) – Todo cuidado é pouco ao se marcar encontros pela internet. Nunca sabemos as reais intenções de quem está do outro lado da tela.
Onde o Mal Nasce (J. M. Menez) – E se um dia de verão brasileiro se tornasse o extremo oposto? É o que um casal de namorados vai descobrir ao salvar uma garotinha no meio da estrada.
Bom Garoto (Pedro Icaro) – Algumas pessoas odeiam o frio, mas até onde elas iriam para se proteger dele?
Crimes Avulsos (Raíssa Arenhardt) – A saga de um rapaz lidando com as vozes na sua cabeça, enquanto tenta encontrar novamente sua equipe no meio do gelo.
Ao Vivo (Robson Pedrosso) – A primeira viagem internacional de um influencer, transmitida ao vivo para os fãs. Mas nem tudo sairá como o esperado.
Pompeia Negativa (Rodrigo Otiz Vinholo) – O que você faria se fosse a única sobrevivente em uma cidade congelada de repente?
As Sombras do Expressionismo Gelado (Vitor Henrique) – As aventuras de uma arqueóloga explorando um sítio congelado. Porém, precisa ficar atenta aos detalhes e à realidade, que pode ser chocante.
“Toda cidade, por minúscula que seja, tem um mistério, uma casa assombrada e uma mentira espalhada como verdade.”
Todos os contos são relativamente curtos, com cerca de 15-20 páginas. Então, a leitura foi mais rápida do que esperava. Mas não sem me deixar surpresa (embora nem devesse mais) com a capacidade humana de fazer certas atrocidades. Os que mais me assustaram foram ‘Sorriso Perverso’, ‘-14°’, ‘Onde O Mal Nasce’, ‘Bom Garoto’ e ‘Crimes Avulsos’.
Em especial, ‘-14°’ relata o resultado de um encontro marcado por um app de namoro, algo super comum hoje em dia. Contudo, depois que saiu ‘O Golpista do Tinder’ na Netflix, explodiram as exposições de casos desse tipo nos jornais.
E não foi por acaso: as pessoas buscam nesses app’s alguém legal para se relacionar e ter, quem sabe, um futuro a dois. Mas exatamente por isso também é um bom lugar (sqn) para se ter golpes dos mais variados tipos.
No caso do conto, eu fiquei com medo de verdade e imaginei que eu poderia ser mais uma vítima, convencida por um bom papo e uma cara bonita. Porém, sem enxergar as reais intenções do rapaz até ser muito tarde.
“Eu já não tenho mais certeza e nem entendo muitas coisas, então não entender é algo que já não me incomoda tanto.”
Além disso, o autor se baseou em fatos reais e recorrentes nos jornais hoje em dia (que não falarei, para não soltar spoiler), porém não damos tanta atenção quanto deveríamos. Felizmente a protagonista foi esperta e conseguiu agir com rapidez. Mas fiquei pensando em quantas outras pessoas não teriam o sangue frio dela, ou mesmo sua velocidade para pensar numa saída. Isso é o mais assustador e me convence de que esse não é um recurso confiável para se ter um(a) parceir(a).
‘Bom Garoto’ e ‘Crimes Avulsos’, por sua vez, são contos mais de horror, onde nossa mente pode ser nossa pior inimiga. Aqui vemos o quanto ainda temos que aprender sobre nosso próprio cérebro e o quanto ele pode nos enganar, criando realidades que não existem. Contudo, na hora que o medo fala mais alto, não paramos para questionar isso.
Já ‘Sorriso Perverso’ e ‘Onde O Mal Nasce’ trazem um teor mais fantasioso (ou não, dependendo do ponto de vista), porém não sem te deixar com frio na espinha. Ambos trabalham com requintes de detalhes que desafiam nossa imaginação.
O tempo todo me perguntava se era real ou delírio tudo o que estava acontecendo e terminei de ler com o queixo caído, tamanha a criatividade para o final. Aliás, todos tem um desfecho fechado, o que muito me surpreendeu. Além disso, os personagens foram bem trabalhados e adorei da maioria. Cada conto tinha o título e o nome do autor na frente, assim eu pude fechar a chave de um e ir para outro, sem me sentir perdida.
Porém, mesmo que não tivesse, a experiência de leitura também teria sido muito boa. Isso porque eles mantiveram um padrão semelhante e não notei a diferença de escrita de nenhum dos escritores. Em relação ao livro, a edição é simples e bem feita.
A revisão está de parabéns e gostei da escolha para diagramação e fonte, as quais permitiram uma leitura mais confortável. Minha única reclamação é em relação à capa. Achei amadora demais e não tem muito contraste entre as cores da fonte e do cenário. A não ser isso, recomendo a leitura, especialmente se você gosta de contos assustadores.
E aí, já leram esse livro? Curtem contos de terror nacionais?
Obs.: Texto revisado por Emerson Silva
Cida
Oi Hanna! Não conhecia o livro, mas já anotei a dica para quando estiver em busca de contos para assustar. Tomara que lancem uma nova edição com capa mais caprichada. Bjos!! Cida
Moonlight Books
Luciano Otaciano
Oi, Hanna. Tudo bem? Parece ser muito bom este livro. Por gostar bastante do gênero, fiquei curioso em ler este aí. Que bom que curtiu. Abraço!
https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Hanna Carolina Lins
Boa! Espero que goste da leitura, haha. E sim, também espero que façam uma capa mais bonita, por que esse livro merece.
Hanna Carolina Lins
Espero que goste da leitura, tanto quanto eu, Luciano. =)