9 de July de 2022

Sangue de Afrodite | Gislaine Ferreira Azevedo

Olá meu povo, como estamos? Hoje temos a resenha de um livro nacional que me foi uma experiência fora da caixinha. Com vocês: ‘O Sangue de Afrodite’, de Gislaine Azevedo.

 

Sangue de Afrodite | Gislaine Ferreira Azevedo
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

 

Obs1.: Livro lido em parceria com a autora (Publicidade)
ALERTA: Este livro pode ter gatilhos de assassinato, sequestro e violência contra a mulher

 

 
34/24
Livro: O Sangue de Afrodite
Autora: Gislaine Ferreira Azevedo
Editora: UICLAP (Independente)
Páginas: 197
Ano: 2020
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Diana nasceu na Grécia, em uma família tradicionalmente patriarcal. Foi prometida em casamento, logo após seu nascimento. No entanto, questiona todos os costumes familiares enraizados no machismo. Tudo muda quando ela faz uma visita em uma das sete maravilhas do mundo, a Acrópole e conhece um homem brasileiro que será capaz de dar início a uma série de mudanças em sua vida.

 

 
 

 

Sangue de Afrodite | Gislaine Ferreira Azevedo

 

 
Grécia, país de histórias e filósofos famosos. É também terra de muitas lendas, heróis e certos costumes, os quais atravessaram séculos sem alterações. Nascida em berço de ouro, Diana é filha única do dono da Deuses de Mármore, um verdadeiro império comercial local. Tratada feito uma princesa poderosa diante dos holofotes da imprensa, as coisas não funcionam bem assim em casa. 
   
Diana já tem seu destino traçado antes mesmo de nascer: casar com Iolaus, filho do grande amigo de seu pai, a fim de manter o legado da empresa “em casa”. Embora seja um costume de gerações em sua família, a mocinha não está disposta a manter a tradição, o que gera inúmeras faíscas.
   
Isso porque a ideia de futuro ao lado do rapaz é quase um pesadelo especialmente quando Diana conhece Iolaus mais de perto e percebe o que ele é capaz de fazer ao ouvir um “não”. No entanto, ela não tem muito para onde correr, visto que seu pai não lhe dá poder de escolha.
   
Apesar disso, a moça sonha com a liberdade de seguir seu próprio destino, nem que precise fazer sacrifícios para isso. A situação só complica (ou não) quando ela percebe coisas estranhas ao seu redor, as quais beiram entre loucura e segredos antigos.
 
Enquanto seu pai e Iolaus tentam fazer a mocinha manter os costumes de suas ancestrais, Diana precisa entender até onde vale a pena lutar pelos seus ideais ou manter suas raízes. Isso porque a missão que lhe impõem pode revelar respostas que nem eles esperavam.

 

Sangue de Afrodite | Gislaine Ferreira Azevedo
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

Como eu começo a falar desse livro? Bem, para começo de conversa, não é o tipo de romance que esteja habituada a ler. E, certamente, passaria longe do meu radar, não fosse a autora me apresentando a obra.
Os fatos são narrados em primeira pessoa, pelo ângulo de Diana, nossa protagonista. Enquanto as matérias de jornal lhe mostram como uma mocinha rica e mimada, com tudo na mão, os bastidores são o completo oposto.
   
No auge dos anos 1990, a jovem de 15 anos é criada sob um lar moldado em pensamentos extremamente machistas e autoritários, comandado pelo seu pai. A mãe é bastante submissa e vive sempre com medo do marido, tornando o ambiente cada vez mais tóxico. 
   
A situação de Diana só piora quando o patriarca avisa que já tem um noivo perfeito para a filha, sem ao menos lhe consultar se queria outra coisa da vida. Seus pais alegam que sabem o que é melhor para a mocinha, mantendo a
tradição de casamentos arranjados já presentes na família há gerações
, especialmente quando se tem uma filha. Por eles, mulheres só servem para se casar, terem filhos e serem troféus de seus maridos.
   
Cobertas de joias, roupas caras e falando pouco, são as candidatas perfeitas a casamentos “bem sucedidos”, trazendo mais poder para os homens. No entanto, Diana sabe que pode ser mais do que isso e não mede esforços para bater de frente com quem tentar lhe impedir. Isso gera discussões intermináveis com um pai autoritário e cabeça dura que só lhe tortura psicologicamente a cada oportunidade. 
A mãe, por sua vez, tenta florear a ideia de casamento arranjado quase como um conto de fadas, de maneira especial porque Iolaus é retratado como um “Príncipe Encantado” que toda moça no lugar dela estaria caidinha de amores. Diana, no entanto, se sente cada vez mais acuada e uma prisioneira dentro da própria casa. As cenas que retratam isso geram momentos de desconforto e nojo, especialmente vendo as situações pelo ângulo da vítima.
Ainda, como mulher, é impossível não se sentir representada nos sentimentos dela. Fora que tudo isso é ambientado nos anos 1990, então é ainda pior observar tais comportamentos ditos como “de pessoas de bem” bastante enraizados e sendo aceitos como algo extremamente normal. 
   
Além disso, é mais triste ainda quando pensamentos arcaicos e machistas são defendidos por mulheres, como vemos com a mãe de Diana, gerando ainda mais trocas de farpas entre as duas. Infelizmente, muitos desses atos ainda se mantêm em pleno 2022, escondidos por baixo do famigerado “é minha opinião” ou “o mundo está perdido”. 
   
O que é mais triste e revoltante, pois mesmo depois de tanta luta e debate, certos comentários e atitudes totalmente “close errado” ainda parecem ser difíceis de sair da cabeça das pessoas. Voltando ao livro, toda vez eu via cenas desse tipo, pensava em como Diana era forte e resiliente (apesar da idade) para aguentar com a cabeça erguida tantas humilhações dentro da própria casa, um ambiente extremamente tóxico, disfarçado de vida perfeita. Eu só queria abraçar a personagem, falar que tudo ficaria bem e lutar junto com ela, para ser ouvida.
   
Apesar disso, ela tem seus momentos felizes, como quando recebe a visita de Penélope, sua futura sogra, porém uma grande amiga. A senhora acabou cedendo aos caprichos da sociedade, porém não perdeu o senso e fala o que tem que ser  dito para todos, o que muito me chamou atenção, aliás. Penélope me passa uma vibe de quem sabe mais do aparenta e as pessoas tem tanto medo dela que apenas obedecem. 
 
 
“Nascemos originais e morremos cópias. Temos jornadas individuais e antes de nos encontrarmos com a alma do outro, devemos antes encontrar a nossa.”
 
 
Além disso, ela tem o dom de interpretar sonhos, algo bastante útil para Diana, pois anda atormentada com alguns bem esquisitos desde o anúncio do noivado com Iolaus e recebeu uma joia de família, que está há gerações sendo passada para as mulheres prestes a se casar.
   
Os sonhos, embora sem sentido, parecem cada vez mais frequentes e impactantes, tornando a vida da protagonista difícil. De maneira especial, eles giram em torno da Acrópole, uma das Sete Maravilhas do Mundo e, talvez, a saída de Diana para uma vida feliz.
   
Eis que Julio, um pintor brasileiro, estava em busca do cenário perfeito para seus novos trabalhos e encontra em Diana sua musa inspiradora e uma paixão inesquecível. 
 
 

 

“Tivemos pouco tempo juntos, mas para mim, foi tão intenso quanto uma vida.”

 

 
 
Apesar de bonita e forte, a paixão desses dois é mais rápida que miojo. Revirei os olhos em diversos momentos, mas também precisei levar em consideração que Diana era uma adolescente deslumbrada com o primeiro amor, então relevei algumas coisas.
   
Entretanto, não gostei de várias atitudes do Julio. Ele podia ser um amorzinho de pessoa e mega apaixonado, contudo, era mais velho e deveria ser responsável, especialmente levando em consideração que estava de turista em um país de cultura distinta da que ele estava acostumado. Mas age como se fosse sua chance imperdível de conseguir a vaga de Príncipe Encantado e só me fez passar raiva. 
 
 
Sangue de Afrodite | Gislaine Ferreira Azevedo
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

 
 
Em vez de desejar que eles fossem “felizes para sempre”, eu só queria era dar uns tabefes na cara dessa criatura, para ver se crescia e aprendia a ser homem de verdade. Além disso, se essas coisas acontecessem hoje em dia, certamente teriam ido parar em um tribunal.
   
O triângulo amoroso se forma com Iolaus, nem um pouco disposto a perder sua noiva para um brasileiro que caiu de paraquedas. É capaz de tudo para ter seu prêmio nas mãos. Assim, conhecemos um homem cruel, sem escrúpulos e apaixonado (de modo obsessivo) por Diana, que o torna extremamente perigoso.
   
Assim, o clima de tensão aumenta cada vez mais, conforme a trama se desenvolve e vamos compreendendo os fatos. Todo mundo tem segredos nessa família e o casamento de Iolaus com a Diana é o plano perfeito para garantir que eles continuem escondidos.
   
Some-se a isso os mistérios que apenas Diana é capaz de acessar quando começa a ter os sonhos mais frequentemente. O que parecia loucura num primeiro momento e “apenas coisa de sua cabeça” parece se tornar cada vez mais concreto, à medida que os dias passam e ela mergulha mais profundamente neles.
   
E a leitura, que vinha lenta e até morna, ganha um novo ar. Embora pareça um ponto negativo, na verdade é o que mais gostei no livro todo. Confesso que demorei um pouco para “entender a mensagem”, mas depois que compreendi, tudo ficou mais fluido.
   
Apesar de a autora afirmar que não há conexão entre as tramas, é praticamente impossível não fazer uma associação de ‘O Sangue de Afrodite’ com ‘Dark e ‘O Segredo do Templo’. Primeiro porque nada mais faz sentido e, por isso mesmo, tudo se encaixa. Os sonhos de Diana não são tão aleatórios assim e trazem ainda mais enigmas para a vida como conhecemos. 
   
Literalmente, nada é o que parece ser, tudo está interligado e até explica, de modo espetacular, o título do livro. Nunca tinha lido uma obra onde todos os núcleos se encaixassem dessa forma, mas eu gostei bastante, pois ainda conseguiu me fazer de trouxa, tentando desvendar os mistérios e falhando miseravelmente (rsrsrs). 
 
 

 

“Não podemos apagar o passado, mas podemos escolher o que deve permanecer e o que ficar como lição, mas precisamos estar acordados para isso. No meio da lama é onde nasce a mais bela flor.”

 

 
 
De fato, foi uma leitura que me tirou da zona de conforto e até para escrever essa resenha eu ensaiei tantas vezes que nem sei como saiu. Isso porque, independente do que eu falasse, ainda não chegaria aos pés de como me senti ao entender como a trama se desenrolou e me conquistou.
   
No entanto, mesmo gostando bastante da trama, nem tudo são flores e me incomodei com algumas coisas. Primeiro que Diana ser a narradora do livro foi uma escolha acertada até a página dois. Embora eu tenha me sentido de “n” formas conforme ela me relatava os fatos, alguns não faziam sentido, já que ocorriam na ausência dela. 
 
Mesmo com a aura sobrenatural e esotérica dominando o tempo todo, certos acontecimentos seriam mais críveis se tivesse uma narrativa em terceira pessoa, ou mesmo mantivesse a escrita em primeira, pelo ângulo de outro personagem. Além de tirar esse tom de estranhamento, era a chance de outros personagens brilharem. E olha que tinha muitos personagens femininos que eu adoraria ter visto falando mais e interpretando os fatos, viu?    
 
 

 

“As almas das mulheres são lobos. Nunca observou que lobos são perseguidos e as mulheres também?”

 

 
 
A autora realmente caprichou no elenco e trouxe diversas mulheres fortes, empoderadas e resilientes ao longo dos tempos dando tapas na cara da sociedade. Mas para eu tirar o meu chapéu, só faltou deixar elas aparecerem mais.
 
 

 

“Um guerreiro só é recompensado quando não corrompe o seu coração, por mais árdua que seja a batalha.”

 

 
Outra coisa que me incomodou foi a narrativa extensa, sem necessidade. Pelo fato de Diana ser a única narradora, parecia o tempo todo que ela estava batendo uma fofoca para o leitor, não contando a trama como realmente aconteceu. 
   
Apesar de interessante e digna de muitas emoções, teria sido mais fluida e impactante se a autora tivesse investido mais em diálogos ao longo da história. Fiquei incomodada também (mas aí é gosto pessoal) com a repetição de algumas informações ao longo da leitura. 
   
Em especial, a de que a “Acrópole é uma das Sete Maravilhas do Mundo” a cada oportunidade. Perdi as contas de quantas vezes encontrei a frase ao longo do livro e me perguntava o motivo, se não fazia grande diferença para a trama em si.
   
A autora também trouxe diversos contextos interessantes da psicologia, conforme Diana ia entendendo seus sonhos, bem como seus recados. Porém, para alguém que não sabia muito sobre a vida na época e era uma adolescente, achei um conhecimento bem aprofundado para ela.
 
Além disso, embora fizessem total sentido, não acho que se encaixaram muito bem na trama como vinha sendo apresentada. Talvez, se tivesse sido passado de forma mais lúdica e não como um livro técnico, deixasse a leitura mais rápida e tirasse essa sensação.
 
Aliás, conforme fui lendo, percebi uma clara mudança no processo de escrita. O que começou lento e extremamente detalhado, se tornou ágil e com personalidade para lá da metade do livro. 
   
Eu fico sempre com o pé atrás quando percebo isso, pois a chance da sensação de ler “duas histórias em uma” é grande, especialmente diante de experiências passadas. No entanto, descobri depois que foi de maneira totalmente proposital por parte da autora. De acordo com ela, o livro teria sido escrito anos antes e só finalizado em 2020. Embora ainda ache uma ideia extremamente arriscada, devo dizer que também foi de grande atitude dela.
 
 

 

Sangue de Afrodite | Gislaine Ferreira Azevedo
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

Isso porque eu pude conferir de perto o quanto sua escrita realmente amadureceu e conseguiu “segurar a onda” para fechar o livro com dignidade, com pontas amarradas e ainda dando brechas para a continuação. No entanto, ainda existe a diferença de uma boa parte do livro ser mais densa que o final, o que pode ser incômodo para quem não sabe disso. Talvez isso pudesse ser resolvido com um aviso breve para os leitores já saberem o que vão encontrar.
Com relação ao livro, eu gostei bastante da diagramação. Achei interessante que os capítulos vêm escritos em grego e trazem sempre algum trecho de música/poesia ou figura que tenha a ver com o núcleo. A capa é simples, mas bastante explicativa, trazendo os elementos que estão presentes ao longo de todo livro.
 
Em resumo, apesar de eu ter reclamado de várias coisas e não levar a nota máxima, ‘O Sangue de Afrodite’ é um livro recomendado. Especialmente para quem curte temas que saiam da zona de conforto, ou procurem um romance “globalizado” e com clichê.

 

 

 

 
 
E aí, já tinham lido algo do gênero? Curtem livros que tragam mais o assunto do Sagrado Feminino? Me contem aí!
 
 
Texto revisado por Emerson Silva 
Postado por:

Hanna de Paiva

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