Olá meu povo, como estamos? 2025 começou a todo vapor no quesito thriller digno de alugar um triplex na minha cabeça. Hoje eu trago mais um que conseguiu essa façanha: ‘Sob A Ponte do Mal’, de Loreth Anne White.
ALERTA: Este livro pode conter gatilho de violência extrema e estupro.
Livro: Sob A Ponte do Mal
Autoria: Loreth Anne White
Tradução: Julia Serrano
Editora: Excelsior
Ano: 2025
Páginas: 368
País: Canadá
Formato: Digital
Nota: 5/5
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Um podcast de true crime revela segredos impactantes em um thriller envolvente da autora de o diário da empregada
Trinity Scott, a ambiciosa podcaster de true crime, vê uma grande chance de sucesso em sua nova série sobre o caso de Clayton Jay Pelley. Há mais de duas décadas, Pelley, um respeitado orientador educacional, confessou o assassinato brutal de Leena Rai, uma adolescente da cidade. Porém o motivo por trás do crime sempre foi um mistério.
Agora, em entrevistas exclusivas da prisão, Pelley revela a Trinity uma versão surpreendente dos eventos daquela noite sob a Ponte do Mal. Ele jura que é inocente. Mas será que ele estava mentindo antes… ou está mentindo agora?
Com sua popularidade crescendo a cada episódio, Trinity descobre que está perdendo uma peça-chave: Rachel Walczak, a detetive aposentada que desvendou os segredos de Pelley e o colocou atrás das grades. Relutante em revisitar o caso, Rachel só começa a questionar tudo o que sabia quando o podcast de Trinity ganha força e as revelações de Pelley se tornam mais perturbadoras.
À medida que o mistério se aprofunda, fica claro: Pelley não é o único em Twin Falls que guarda um segredo.
Podcasts de true crime tem crescido bastante ultimamente pelo mundo. Com uma legião de fãs ávidos por saber o que se passava na cabeça das pessoas para cometerem atos brutais, existe toda uma produção em relação a esse tipo de conteúdo, incluindo mesmo alguns que aconteceram décadas atrás.
Trinity Scott é uma apresentadora de Podcast que está antenada no movimento e decide remexer em memórias passadas de Twin Falls. A cidade é pequena e pacata, onde todos se conhecem desde pequenos e seguem em paz. Contudo, a chegada da moça remexe em feridas antigas e dolorosas, especialmente da família Rai.
Há 24 anos Twin Falls teve sua paz maculada pelo estupro e assassinato de Leena Rai, uma jovem de 14 anos, encontrada boiando nas proximidades da “carinhosamente” chamada ponte do Mal. O caso foi rapidamente encerrado quando o professor de Educação Física, Clay Pelley, confessou que abusou e matou a aluna.
Entretanto, como uma boa apresentadora de podcast, Trinity tem uma veia jornalística apurada e percebe que existem muitas pontas soltas nessa história. Assim, vê no caso uma chance de ascender em sua carreira, com um caso que nunca ninguém comentou.
Ela só não poderia imaginar que certos segredos estão guardados por um bom motivo, e desenterrá-los pode trazer graves consequências.
‘Sob A Ponte do Mal’ foi meu primeiro contato com as obras da autora. Ela é mais conhecida pelo seu primeiro livro publicado aqui no Brasil com o título de ‘O Diário da Empregada’ (que eu tenho no Skeelo, mas ainda não li).
Embora nunca tivesse lido nada dela, ouço muitos comentários positivos e fiquei curiosa quando vi que essa seria uma das leituras coletivas do Lendo Com Os Morcegos. A escrita fluida e os capítulos curtos me conquistaram logo de cara e me vi devorando o livro em poucos dias.
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No entanto, é preciso ter cuidado com alguns temas que podem servir de gatilho para os leitores. Até porque a autora não economizou em nada nos detalhes dessas cenas. A história é contada pelo ponto de vista da Trinity, apresentadora do ‘É um crime’, e Rachel Walczak, a detetive do caso na época.
Trinity é jovem e destemida. Embora não tenha formação, age como uma verdadeira jornalista investigativa e faz tudo em nome da verdade. Apesar disso, seus métodos podem ser um tanto invasivos, o que causa desconforto e tensão em algumas pessoas.
No entanto, conforme avançamos na leitura, fica a dúvida se realmente ela é intrometida, ou se as pessoas estão realmente incomodadas com a possibilidade do caso voltar a ficar famoso.
Isso porque Twin Falls é uma cidade conhecida por ser pequena e pacata. Logo, um caso brutal como o de Leena Rai afetou gerações de moradores, que parecem nunca ter superado (por um bom motivo). Por isso, embora disfarce bem com sorrisos e amenidades, a vibe da cidade é sombria e os personagens não são confiáveis.
A narrativa não é linear e acompanhamos tanto as consequências da investigação de Rachel, quanto as de Trinity. A detetive era boa no que fazia e cumpriu bem o seu dever. Em parte por querer fazer justiça, não só para a vítima, mas também para uma família inocente.
“Esse é o problema com os segredos, né, Rachel? Quanto mais fundo a gente os enterra, mais dano colateral causam quando finalmente são desenterrados.”
Mas também vemos um outro lado da moeda, que me fez questionar até que ponto ela era apoiada em casa. Todos sabiam o que ela queria na carreira, como ela queria seguir na delegacia. Porém, nem o marido ou a filha pareciam concordar.
Sei que estamos falando dos anos 1990, em que muita coisa ainda era considerada normal, principalmente o machismo no mercado de trabalho, em especial na força policial. Mas me dava uma agonia enorme ver a coitada fazendo o seu trabalho, a cidade inteira via como o caso era importante e grave, mas o marido era um tremendo idiota e agia como se a culpa fosse da Rachel que não era boa esposa.
Minha vontade era mandar aquele cara plantar batatas e trocar de trabalho com ela um dia, para ver se as coisas realmente eram tão simples como ele dizia. Apesar que, se fosse o oposto, talvez ele quisesse era o apoio dela para ser um herói. Mas não suportava que a mulher da casa fosse a que salvava o dia.
E tudo parece balançar quando Clay Pelley confessa o crime com detalhes. Para os detetives e a população, o capítulo se encerrou e tudo foi resolvido. Mas então porque, anos depois, o homem fala que foi tudo armação e na verdade é inocente?
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Será que ele estava enganando a todos no passado? Ou está apenas jogando com a sanidade mental das pessoas no presente? É essa dúvida que deixa, não apenas Trinity, mas também a própria Rachel curiosas, a fim de saber o que realmente aconteceu naquela noite.
“Talvez eu queira acreditar que monstros também podem ser humanos. Que um homem ruim pode fazer coisas boas.”
A investigação retornou com força e eu só queria saber o que iria acontecer no próximo capítulo. Os episódios do podcast simplesmente viralizaram e o mundo todo quer descobrir o que Twin Falls esconde.
Confesso que, por mais que estivesse preparada para ser feita de trouxa, não esperava que a autora amarrasse as pontas da forma que fez. A verdade é que todo mundo na cidade tem segredos, é falsa e pode mentir na sua cara, sem você perceber.
Eu fiquei estupefata ao ver o que eram capazes de fazer para garantir que segredos continuassem escondidos. O que me deu repulsa e medo de sequer pisar naquele lugar (que nem sei se existe na vida real).
Mas tenho que admitir que, mesmo sendo nojento, é algo crível e totalmente passível de acontecer. Basta ler os jornais e livros de história, para ver o quanto as pessoas podem ser cruéis e dispostas a fazer as maiores atrocidades (por motivos fúteis na maioria das vezes). Assim, ver o que se desenrola ‘Sob A Ponte do Mal’ não é tão fantasioso.
“Ainda assim, era o que eu queria, de certa forma, não era? Cutucar e revelar os segredos dessa cidade até que a verdade do que aconteceu naquela noite rastejassem para fora de seu esconderijo.”
Terminei a leitura com um misto de emoções. Medo, revolta e nojo foram os mais fortes e presentes. Mas também gostei que a autora deu uma espécie de redenção e remorso para alguns personagens. O que os deixou mais perto da realidade ainda e mostra que a vida nem sempre vai te dar um final feliz como deseja.
Em relação ao livro, li a versão digital. Então, posso falar que está bem diagramada, com uma fonte legível e agradável à leitura. A capa é sombria, assim como a trama. Contudo, não é das minhas favoritas.
Para finalizar, recomendo ‘Sob A Ponte do Mal’ para quem tem estômago forte e gosta de tramas bem elaboradas e ágeis. Mas reforço a atenção aos possíveis gatilhos.
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Texto revisado por Emerson Silva
moonlightbooks
Oi Hanna! É a primeira opinião que leio sobre a obra e só veio para firmar ainda mais a minha vontade de ler. Já estava na lista, agora vai passar na frente. Bjos!!
Moonlight Books
Hanna de Paiva
Ainda tem pouca gente falando dele, talvez por ser lançamento bem recente. Mas recomendo, viu?