Depois que Charles Wallace teve sua vida e suas farândolas salvas por Meg e Calvin, as coisas se acalmaram um pouco na casa dos Murry. O clima de “final feliz” de contos de fadas se manteve por anos, o que deu tempo de certas reviravoltas acontecerem.
Meg e Calvin deram espaço para os sentimentos que surgiram e acabaram se casando. A moça agora está grávida e muito feliz pelo serzinho que cresce dentro dela. Ainda mais pela curiosidade de saber com quem se parecerá quando nascer. Sua busca inalcançável pela beleza da mãe finalmente teve fim e ela aprendeu a cultivar sua própria autoestima (eu ouvi um amém?).
Os gêmeos entraram na universidade e não poderiam estar mais metidos. Sempre se sentiram gênios incompreendidos e acham que o mundo não está preparado para o que eles têm a oferecer. Charles Wallace (o verdadeiro gênio incompreendido dessa família), por sua vez, está com 15 anos e é um adolescente bastante recluso. Mas terá que sair de casa se quiser ver o sol nascendo novamente.
Eis que no dia de Ação de Graças, a sogra de Meg (Sra. O’Keefe) tem um acesso de “loucura” e traz à tona uma runa antiga, que apenas o caçula dos Murry foi capaz de completar. Sua força é tão intensa que convoca Gaudior, um unicórnio viajante do tempo, para salvar o mundo de uma ameaça de guerra nuclear. Charles Wallace então parte junto ao novo personagem em busca de um Pode-Ter-Sido, uma ferramenta capaz de mudar a linha temporal e impedir que a catástrofe aconteça.
“-Sabem, meus caros, o mundo é anormal há tanto tempo que esquecemos como é viver em clima pacífico e sensato.”
Nossa, como os anos passam voando. Nem me lembrava quando tinha
conhecido a série Uma Dobra no Tempo. Li ‘UmVento à Porta’ (segundo volume) em 2019 e gostei bastante, mas me afastei um pouco desse universo. Agora no terceiro volume, acompanhamos os personagens mais crescidos e maduros. Porém, ainda tem espaço para aprender muitas lições e serem grandes heróis.
Como sempre, os holofotes estão sobre os irmãos Meg e Charles Wallace. Desde o começo esses dois são muito unidos e acho linda a relação de cumplicidade deles. O menino é superdotado e nasceu numa família que vive de ciência e incentiva a curiosidade.
Isso é uma combinação perfeita para estimular a inteligência do menino. Mas para a vivência em sociedade, causa estranheza. Assim, o caçula é introspectivo e fala o mínimo possível.
A situação não fica muito confortável quando a sogra de Meg é convidada para o dia de Ação de Graças. Como Calvin está viajando (o qual eu também fiquei feliz de ver que seguiu a área da ciência) a fim de apresentar trabalhos em conferências, a mocinha decidiu juntar a matriarca à sua família para não passar a data solitária em casa.
No entanto, a sra. O’Keefe é a típica pessoa de mente limitada e acha que trabalho de verdade é aquele “serviço braçal” de 8h por dia e não pensar. Logo, o entrosamento com uma família que vive fazendo pesquisas em casa e ganhando dinheiro do governo para isso é ilógico e estranho aos olhos da idosa. E, preciso dizer, me vi representada nos Murry a cada comentário ofensivo que a velha fez para eles.
Como uma cientista que também recebe dinheiro do governo para manter meus projetos de estudo, passei anos ouvindo que “estava na hora de parar de estudar e começar a trabalhar” em todas as variações possíveis. O engraçado é que esse comentário vem de pessoas que se preocupam comigo e querem meu bem. Mas não sabem o quanto pode soar ofensivo e constrangedor ouvir tais palavras, sendo que já estou trabalhando que nem uma condenada para garantir um mundo melhor para as pessoas viverem bem e com mais conhecimento.
|
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Voltando ao livro, a sra. O’Keefe, embora seja sempre ácida e ofensiva, é bem recebida na casa dos Murry e os pais de Meg a tratam com cordialidade. Afinal, é a mãe do marido da filha mais velha deles (e que é um amor de pessoa, o completo oposto de sua progenitora, diga-se passagem). Contudo, existe um
motivo para a idosa estar mais azeda que o normal.
Eis que o Sr. Murry recebe uma ligação desesperada do presidente americano, pedindo ajuda para participar de um conselho extraordinário, formado após a ameaça de guerra nuclear vinda de Mad Dog Branzillo. E, ao saber disso, a senhorinha começa a recitar frases desconexas de um poema, enquanto afirma que apenas Charles Wallace seria capaz de impedir a catástrofe. Apesar de ninguém lhe dar atenção na hora, o garoto parece estar cada vez mais interessado nas frases da Sra. O’Keefe, as quais ele conhece tão bem e recita as runas mais antigas do mundo.
E assim convoca Gaudior, um unicórnio viajante do tempo, que pode ajudar o jovem na missão de salvar o mundo. A dupla improvável parte universo afora, buscando diversos buracos na linha temporal para investigar a origem da ameaça. No entanto, eles precisarão também lidar com os Ectroi, figuras já conhecidas de volumes antigos e que estão contando que a guerra aconteça (afinal, são os anjos caídos e vivem de semear a discórdia).
“Estrelas, galáxias, circundadas em padrão cósmico, e a alegria da unidade era maior que qualquer desordem interna.”
Uma coisa que gosto bastante nos livros da Madeleine é essa mistura de conceitos científicos conhecidos com a fantasia de uma história infantil. Aqui, lidamos com a ideia de realidades paralelas e a possibilidade de encontrar buracos de minhoca, as quais são chamadas de Pode-Ter-Sido. Charles Wallace segue com a teoria de que foi através de um deles que os Ectroi modificaram a linha do tempo e incitaram as guerras do mundo.
Por conta disso, precisa encontrar o ponto certo em que a ameaça de guerra nuclear foi semeada para impedir que aconteça. Assim, o rapaz e seu novo amigo unicórnio viajam por diversas cenas da história americana, especialmente a relação dos colonizadores e povos nativos.
|
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Por ser uma trama voltada para o público mais jovem, as coisas se resolvem muito superficialmente e rápido. Entretanto, ainda foi possível causar emoções fortes, as quais eu confesso que não esperava.
Charles Wallace sempre foi uma criança diferente e que não se encaixa nesse mundo. A única pessoa que mantinha sua vida estável era Meg. Agora, porém, ela tem sua própria vida para cuidar, bem como uma família sendo formada aos poucos. Assim, a união que eles tinham (a capacidade de desvelar) ficou “enferrujada”.
Contudo, ainda são irmãos e a moça fará de tudo para continuar cuidando de seu irmãozinho, onde quer que esteja. O destino parece sempre conspirar para ajudar nisso, enviando uma mascote fofa e capaz de manter o elo de desvelo dos Murry. Então, contamos com a presença ilustre de Ananda, uma cadela que chega na casa em meio à confusão da runa e conquista a família toda instantaneamente.
“-Vocês, seres humanos, tendem a querer que as coisas boas durem para sempre. Elas não duram. Não quando estamos com tempo.”
Aliás, achei bem curiosa essa forma como ela entra em cena do nada efica, como se sempre estivesse lá, comendo pão com manteiga que o pai de Meg não resiste em lhe dar. No entanto, como comentei antes, já sabendo do estilo da trama e a que público é direcionado, parei de tentar entender certos detalhes (rsrsrs).
A aventura de Charles Wallace, por sua vez, é inesperada e perigosa. Isso rende momentos de muita emoção durante a leitura. Mas quando chegamos ao desfecho, me senti aliviada por ver o clima de “final feliz’ reinando novamente. Diversas pontas são amarradas, de modo especial em relação à sra. O’Keefe, que tem um papel importante e surpreendente nessa história.
Além disso, eu me senti comovida com a relação entre a idosa e a Meg. Mesmo que a senhorinha ache uma perda de tempo a carreira do próprio filho, seguindo os passos dos “vizinhos desocupados”, ela trata Meg muito bem, como se fosse uma filha.
|
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
Talvez por isso a jovem retribua, tratando a sra. O’Keefe como “mamãe” de vez em quando. Nesses raros momentos eu senti um quentinho no coração e tentava entender que era apenas uma pessoa de gerações passadas e que não queria se adaptar ao futuro. Sinceramente, ela não era obrigada. Além disso, acho que a senhorinha é a verdadeira vítima de toda essa história, ou até heroína, dependendo do ângulo que se olhe.
“[…] Nada, ninguém, é tão pequeno que não importe. O que você faz fará diferença.”
Terminei a leitura surpresa por ainda conseguir me conectar com os personagens depois de tanto tempo. E ainda curiosa pelo que virá no último volume, ‘Muitas Águas’. Falando sobre a obra em si, a edição segue o padrão dos episódios anteriores, porém em tons de verde.
|
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna |
A revisão e a diagramação são caprichadas e confortáveis à leitura. Adorei as páginas mais grossinhas, que rendem uma experiência positiva com a história. Recomendo, especialmente se gosta de tramas mais juvenis.
Cida
Oi Hanna! Que bom que mesmo passado um tempo, você ainda conseguiu se conectar com a história. Espero que o último volume traga um bom desfecho.
Bjos!! Cida
Moonlight Books
Brenda Silva
Oii Hanna,
Adorei a resenha!
Que bom que curtiu a leitura, eu ainda não li nenhum livro dessa série, mas acho as capas lindas demais 🙂
Beijos,
https://brenshelf.blogspot.com/
Luciano Otaciano
Oi, Hanna! Tudo bem? Obras juvenis costumam me agradar. Este aí eu não li, mas parece ser instigante. Espero que goste do último volume. Abraço!
https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Helaina Carvalho
Oi Hanna, só conhecia a série pelo filme, mas nunca assisti. A história parece interessante, mas eu não tenho estado em um vibe para livros juvenis ultimamente.
Te espero nos meus blogs!
Mente Hipercriativa (Livros, filmes e séries)
Universo Invisível (Contos, crônicas e afins)
Hanna Carolina Lins
Sim, foi uma ótima e nostálgica experiência, Cida. Espero que o último volume seja tão bom quanto, =)
Hanna Carolina Lins
Faz parte, né?
Hanna Carolina Lins
Ah, então já fica a dica, viu? =)
Hanna Carolina Lins
Essas capas são lindas mesmo, S2. Amo todas, =) E recomendo a série também, viu?