Olá meu povo, como estamos? ‘Upgrade’ foi uma de minhas últimas leituras de 2024 e eu tenho algumas considerações a fazer.
Livro: Upgrade
Autoria: Blake Crouch
Tradução: Ulisses Teixeira
Editora: Intrínseca
Ano: 2023
Páginas: 304
País: EUA
Formato: Impresso
Nota: 3.5-5
No meio da madrugada, o agente Logan Ramsay entra em um laboratório clandestino à procura de provas de um crime, sem fazer ideia de que sua vida está prestes a mudar. Um som estranho. Uma explosão. Então, silêncio. Logan acorda em um leito de hospital, sendo atendido por profissionais usando trajes de proteção bio¬lógica, enquanto sua esposa e filha o observam através de uma barreira de vidro.
Os médicos informam que ele foi infectado por um vírus capaz de modificar sua estrutura genética, embora os exames não tenham detectado nada. Depois que a febre e a dor passam, Logan começa a enxergar o mundo com mais clareza. Ele está mais forte, mais inteligente, mais rápido, e suas habilidades parecem aumentar a cada dia.
Algo revolucionário está em curso. Algo capaz de mudar a própria definição de humanidade e trazer consequências devastadoras caso caia nas mãos erradas.
Logan é a única pessoa no mundo que pode deter a catástrofe iminente e impedir a morte de milhões de pessoas, ainda que, para vencer a guerra, ele tenha que confrontar seu passado sombrio, desafiar o governo e se transformar em algo que jamais imaginou.
Uma trama intimista com proporções épicas, Upgrade explora as implicações éticas e sociais da tecnologia, ao mesmo tempo que questiona os limites da humanidade e nosso infinito potencial.
Logan Ramsay trabalha na APG (Agência de Proteção Genética) há alguns anos. Embora sua formação inicial não seja a de detetive, até que ele consegue fazer um bom trabalho e segue seus dias tentando esquecer o fantasma que o seu sobrenome carrega.
Mas em uma de suas missões, o rapaz acaba sendo vítima de um ataque de arma desconhecida. Sem saber o que estava acontecendo, Logan acorda dias depois em um leito de hospital e passa a ser uma das pessoas mais observadas dos últimos tempos.
Ainda sem entender a treta em que estava envolvido, ele vê tudo de uma forma diferente do que via antes do ataque. Sentidos aguçados, uma mente poderosa, sentimentos aflorados. Logan percebe que o atentado que sofreu pode esconder segredos que ele passou anos procurando a resposta. A grande questão é: será que uma mente brilhante é capaz de lidar com todas as revelações que o mundo tem a lhe fazer?
Meu primeiro contato com a escrita do Blake foi em Recursão. Esse livro alugou um verdadeiro triplex na minha mente e eu não consegui largar dele. Além disso, a trama era tão envolvente, que era complicado voltar para a realidade depois.
Por isso, criei expectativas em relação ao seu mais novo lançamento e ‘Upgrade’ foi o meu desejado por meses. Quando finalmente ele chegou aqui em casa, nem esquentou na estante eu fui logo começando a ler.
Mas acho que as minhas expectativas eram altas demais e, por isso, a decepção amargou um bocado. A narrativa em primeira pessoa traz os fatos pelo ponto de vista de Logan Ramsay. Ele é um cientista que não pode mais exercer sua profissão, desde que o governo instaurou a criação da APG. Dessa forma, seus conhecimentos passaram a ser mais úteis para identificar ataques biológicos e impedir que causem mais estragos para a população.
Embora seja bom no que faz, a verdade é que Ramsay tem uma certa mágoa e se sente responsável pela “poda” que todos os cientistas receberam. Isso porque seu sobrenome está ligado a uma das pesquisadoras mais procuradas do país, sua mãe. Ninguém fica apontando o dedo para o rapaz, contudo, sempre existe uma desconfiança pairando pelos corredores da agência, especialmente depois que ele sofreu um bio ataque.
Em uma de suas missões mais arriscadas, Logan sofreu um acidente e foi vítima de uma explosão de bomba biológica. Todos os cuidados eram necessários, primeiro para garantir que o agente sobrevivesse, mas também para entender o que era a composição do artefato.
Dessa forma, Ramsay vai de agente treinado para cobaia de laboratório, em quarentena e vigiado por toda a equipe médica. Entretanto, ele não precisa ir muito longe para descobrir os efeitos colaterais. Conforme eles se manifestavam em seu organismo, o ex-cientista percebia que o mundo estava ficando bem diferente.
Cores, cheiros, sons. Tudo isso era apenas o início de algo muito maior e que poderia mudar o destino de toda a raça humana. E perceber isso leva o protagonista a filosofar bastante.
Isso não seria ruim, se ele também se preocupasse em exercer direito sua profissão (tanto de cientista clandestino, quanto de detetive), em vez de ficar dando uma aula de genética para o leitor. Eu sou bióloga e amei ver um personagem com a minha profissão (algo bem raro em literatura). Então, entendia perfeitamente quando ele citava termos técnicos e jargões de bioquímica, ou os nomes dos genes.
Mas depois de um tempo se tornou cansativo e repetitivo. Acho que o autor desejava mostrar o quanto o protagonista estava mais inteligente e sabia o que estava acontecendo dentro do próprio corpo.
“No entanto, aquele não era mais o meu destino. Minha mente estava se tornando um diamante.”
No entanto, isso não era cabível em diversas cenas de ação, pois só deixavam os acontecimentos arrastados e chatos. E foi aí que a minha decepção começou, inclusive.
Eu esperava ver mais “tiro, porrada e bomba”, principalmente quando alguns personagens secundários começaram a colocar as garrinhas de fora. Só que Logan perdia tempo demais pensando e agia de menos, o que me dava nos nervos e eu até esquecia o motivo da cena de ação.
Logan como detetive é um excelente cientista. O que lhe conferia mais pontos, se não fosse um completo banana na hora de enfrentar o perigo. Conforme conhecia mais sobre a família Ramsay, minhas expectativas voltavam de ter o livro do ano em mãos, para irem por água abaixo na página seguinte.
Isso porque a mãe e a irmã do protagonista fazem jus ao que se diz de “mulherão da p*”. Elas são fortes, destemidas e não levam desaforo para casa. Ao menos é assim que são retratadas o tempo inteiro. Mas quando entram em cena, só ladram e não mordem.
A mãe deles é uma das cientistas mais brilhantes que o mundo já conheceu (e temeu). Suas ideias maravilhosas e fora da caixinha resolveram muitos problemas da sociedade. Mas também levaram a situações bem piores.
“E a injúria final era que, aparentemente, ela brincara de Deus outra vez. Não com plantações e gafanhotos. Comigo. Seu próprio filho.”
E saber o peso que isso traz é um tormento para ela. Eu confesso que senti pena dela e gostaria que a moça tivesse direito a um momento de redenção melhor do que o que teve. No entanto, a grande lição que levo disso é que a vida não é justa e nem sempre as coisas serão da forma que desejamos.
Kara Ramsay (a irmã), por sua vez, é uma militar bem treinada e não tem tempo a perder. Na sua cabeça, as coisas são práticas e rápidas. Apesar disso, seus planos são bem estruturados e dificilmente dão errado.
Conforme ela interage com o irmão, vemos que ambos compartilham mágoas profundas e antigas, que se enraizaram desde que a mãe deles foi declarada desaparecida. Assim, eles se agarram às lembranças ruins e lidam da forma que acham correto.
Talvez por isso ela seja bem perigosa quando começa a desobedecer ordens e a agir feito uma justiceira sem freio. A única pessoa que parece ser capaz de impedir seus planos mirabolantes é Logan, que faz disso sua missão de vida.
Além disso, ela parece ter uma ligação profunda com o ataque que o transformou, o que faz a tarefa do protagonista ser ainda mais pessoal do que profissional. Entretanto, acho que o autor queria deixar isso tão claro, que criou maneiras irreais de demonstrar para o leitor.
Para uma personagem tão temida, eu queria uma Kara mais ativa e perigosa. Mas só vi uma pessoa amargurada e solitária. Embora isso não a impedisse de fazer maldades por aí, gostaria de ver os fatos por um ângulo mais geral e não apenas pelo lado de Logan.
Como só ele falava tudo, fiquei com apenas uma parte da fofoca e nada do que ele falava fazia sentido. Sei que ele estava desenvolvendo uma mente brilhante que a humanidade estava longe de conhecer, mas achei um insulto à minha inteligência arrumar soluções com peças que em momento algum foram ditas.
“Fico aterrorizado quando penso em um mundo em que todos temos os mesmo problemas, um bilhão de amigos a menos, e todos pensam que a própria inteligência os torna infalíveis.”
Cada hora que eu achava que a narrativa iria para um lado, Ramsay mudava a rota e eu ficava sem entender o motivo de tudo aquilo. O que só me deixou mais confusa e com raiva.
Por conta disso, o desfecho prometia muitas emoções. Mas as filosofias de Logan no meio fizeram cenas incríveis se tornarem morosas e sem graça. Isso me decepcionou bastante e eu nunca quis tanto terminar um livro, só para reclamar dele depois.
Falando sobre o livro em si, tenho a edição física e posso falar que está bem diagramada e revisada. As páginas mais grossinhas e a fonte legível trazem um maior conforto para o leitor, que tem uma experiência agradável. A capa é simples e moderna, o que faz jus à trama principal.
Mas infelizmente, não é um livro que eu lerei novamente. Enquanto o outro tem lugar cativo no meu coração, este é apenas esquecível. No entanto, ainda deixo aqui a recomendação de que você leia e tire suas próprias conclusões. Quem sabe tenha uma experiência melhor do que a minha?
Agora me conta nos comentários: você já leu esse livro, ou algum outro do autor? E já aconteceu de você criar muita expectativa em relação a um livro, mas só conseguiu reclamar dele depois?
Texto revisado por Emerson Silva.