A temporada atual está causando diversos reboliços por toda Inglaterra. Isso porque é a época do casamento de Gareth Cavendish – duque de Wessex – com a felizarda srta. Grey. O evento chama a atenção de muitos curiosos (e diria mocinhas invejosas) que gostariam de saber como a noiva atraiu o partidão do momento.
Por sua vez, a chegada dos Grey em Kinstag (local da cerimônia e futura residência do casal) não poderia ser em uma hora mais inusitada: em meio a uma forte tempestade, cheia de raios e vento.
Tentando mostrar que educação veio de casa e era capaz de receber bem os convidados, Cavendish estava tentando ajudar as jovens damas a saírem da carruagem quando um raio cai perto do veículo, assustando não apenas o duque, como também Cleo Barrows – irmã da noiva – no momento em que pôs os pés no chão.
Felizmente ninguém se feriu na hora. Contudo, o susto não despertou apenas a atenção deles para saírem da tempestade, mas também um sentimento instantâneo entre os dois. Algo que não seria grande problema, se o rapaz não fosse noivo da irmã mais caçula da moça. Enquanto tentam entender o que sentem de fato um pelo outro, o casamento está cada vez
mais próximo e algumas decisões podem garantir felicidade eterna ou um escândalo inesquecível.
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Foto: Hanna de Paiva/Mundinho da Hanna |
Que saudade eu estava de ler um romance de época! ‘A Duquesa Perfeita’ foi um achado recente no catálogo do Kindle Unlimited e fiquei curiosa quando li a sinopse. Tinha uma cara de filme a la “Sessão da Tarde” e fazia tempo que não lia nada do gênero.
Assim, independente de TBR, tratei logo de passar ele na frente das outras leituras e embarquei nessa viagem e não me arrependi. A narrativa é em terceira pessoa e vemos os fatos pelo ângulo de Gareth e Cleo.
O rapaz é um cavalheiro cobiçado e sabe que é bonito. Além disso, sua posição social atrai olhares apaixonados (e interesseiros) por onde passa. No entanto, ao chegar na idade de se casar,
resolveu se unir à srta. Hellen Grey, uma jovem que está disposta a tudo para obedecer aos pais.
Ela sabe que deve cumprir com seus deveres e ser um exemplo de honra para a família, ainda mais após o escândalo e desgosto que Cleo, sua irmã mais velha causou anos atrás. Assim, não pensa duas vezes ao
aceitar a corte e o pedido de casamento do duque, garantindo bem estar financeiro aos seus progenitores e gerações futuras.
A mocinha parte junto à família, rumo a Kinstag, um castelo de tirar o fôlego de qualquer viajante, especialmente de sua mãe, que não para de falar na beleza e imponência do local. Fala tanto que parece
mais um disco arranhado e enche o saco de todo mundo. A criatura não tinha mais nada a dizer, além do fato de que é uma honra morar lá e tomar conta de um castelo é status garantido.
Era aquela típica pessoa que veio ao mundo a passeio e só fazia vergonha alheia. A vontade que me deu foi de entrar no livro e colocar uma mordaça na mulher, para ver se ela calava a boca e deixava o restante do elenco em paz.
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Foto: Hanna de Paiva/Mundinho da Hanna |
Felizmente, suas filhas saíram bem diferentes, dando um refresco ao longo da leitura. Hellen é uma jovem adorável, bonita e obediente (até demais). Segue todos os protocolos à risca e está sempre disposta a qualquer evento que sua mãe invente.
Apesar de saber que eram costumes da época, não deixei de sentir certa empatia pela moça. Ela se preocupava tanto em causar uma boa impressão e ser bem vista pela corte, que nunca se perguntava quais eram suas verdadeiras vontades. Isso me deu certa melancolia e dó, doida para mostrar
que existia mais coisas no mundo além de ordens e protocolos a serem obedecidos.
Mas pensando bem, essa situação ainda acontece em dias atuais, se olharmos pelo lado da Família Real Britânica. Assim, talvez o sonho de acordar um dia e descobrir que é da realeza poderia ser a solução de muitos problemas, mas também garantia de vida monótona e sem graça. Sair da
linha e fazer o que realmente se deseja não é uma opção.
Ao contrário, Cleo é uma moça a frente do seu tempo. Embora essa expressão seja perigosa quando se trata de romances de época (pois normalmente é atribuída a uma mulher inconsequente e imatura), aqui acho que a autora fez jus ao termo. A moça é racional e tem atitudes bem maduras, o que lhe confere muitos pontos positivos.
Ao longo das páginas, vamos entendendo o motivo de ela ter um sobrenome diferente e o que fez seus pais terem tanta vergonha em apresenta-la à corte. E é aqui que vemos o quanto precisamos considerar tantas coisas quando lemos um romance ambientado em séculos passados.
Isso porque Cleo é o que chamaríamos hoje em dia de “uma mulher independente, prática e dona de si”. Mas em pleno século XIX, a personagem é vista como alguém que desonra sua família e não cumpre com seus deveres, como deveria qualquer mulher digna. Do contrário, se estivéssemos falando das mesmas características em relação a Gareth, em qualquer época ele
seria bem quisto em todas as rodas da sociedade como um rapaz decidido, de atitude e destemido.
Achei interessante ver como a autora aborda essas questões, dando diversos tapas com luva de pelica na cara do leitor. O que me rendeu um misto de felicidade e desgosto por viver no século XXI. Ao mesmo tempo que é bom vermos o quanto avançamos em certas opiniões, é triste perceber que demos passos curtos e ainda temos as asas aparadas só por ser mulher.
“O que teimoso e voluntarioso em uma mulher muitas vezes é chamado de decisivo e ousado em um homem […].”
Conforme avançava na leitura, torcia cada vez mais por Cleo e queria que ela tivesse seu final feliz. Assim como também gostei de ver que, independentemente dos comentários absurdos de seus pais, as irmãs sempre foram muito unidas e tinham uma relação saudável.
O que rende muitas conversas sinceras entre as duas e fizeram, não apenas elas, mas eu mesma, refletir sobre falar até que ponto é necessário apontar como me sinto diante de algumas situações. Isso me surpreendeu positivamente, até porque esperava apenas um romance, mas acabei encontrando personagens que são reais e só queriam ser felizes como mereciam.
Gareth, por sua vez, está de mãos atadas. O rapaz nunca deu atenção ao amor, ou o que ele pode trazer de bom. Após assumir os bens da família e agir como um patriarca, o casamento nada mais era do que um acordo a ser discutido entre cavalheiros.
“Como alguém poderia não gostar de um cavalheiro tão maravilhoso?”
No entanto, ao ver que o seu próprio matrimônio se aproxima, começa a se questionar sobre os fundamentos de suas opiniões. De modo especial quando vê Cleo circulando pelos corredores do castelo. Seu passado é um mistério para muitos na corte e sua presença é algo difícil de se ignorar, especialmente pela forma como lida com todos à sua volta. Uma combinação
perfeita para que o duque não tire a jovem de seus pensamentos.
Contudo, ele está comprometido com a irmã caçula e qualquer ação sua nesse sentido será o escândalo do século. Além disso, ela só ficaria por alguns dias, e logo eles voltariam ao normal… ou talvez nunca mais seriam os mesmos.
Porém, os dois têm uma química forte e impossível de ser ignorada. Por mais que tentem lutar contra, qualquer atitude pode levar a consequências irreversíveis. Devo dizer que torci o nariz ao
perceber o rumo que a história poderia tomar e partir para plots que eu abomino em literatura. Além disso, Hellen é inocente e não pediu para estar ali, muito menos passando pela situação a qual foi submetida.
No entanto, vendo como a autora estava levando certos assuntos e desenvolveu os personagens de um modo tão real, era quase impossível também não torcer para que todos tivessem seu “final feliz”, o que também deixa o leitor num verdadeiro dilema.
São tantos “e se…”, que qualquer final poderia surpreender. O que de fato acontece, de modo especial pela forma como o desfecho é apresentado, e muito me surpreendeu. Todas as pontas foram amarradas de forma crível e condizente com a trama, assim como nenhum personagem ficou de fora.
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Foto: Hanna de Paiva/Mundinho da Hanna
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E acho que, se tivesse que reclamar de algo, seria apenas de que eu queria que tivesse mais algumas páginas, ou mesmo lido bem devagar, só para ficar mais um pouco com o elenco (menos os pais da Cleo. Esses poderiam sofrer combustão instantânea que não fariam falta).
Falando sobre o livro em si, li em versão digital e posso dizer que a revisão e a diagramação estão de
parabéns. A capa é condizente com a trama, trazendo a própria Cleo em destaque, com tons de amarelo, que me lembra o outono da Europa e parece até uma capa de revista. Apesar de não gostar muito quando tem pessoas na capa, confesso que essa eu curti.
Em resumo, foi uma leitura agradável e gostaria de refazer um dia, só para reencontrar os personagens que tanto me cativaram. Recomendo a leitura também, ainda mais se você gosta de romance sem muitos floreios e com os pés na realidade.
Cida
Oi Hanna! Esse foi meu primeiro contato com a autora e gostei bastante do livro, já este mês li o segundo da série e foi uma decepção. Uma pena, eu estava com altas expectativas. Bjos!! Cida
Moonlight Books
Hanna Carolina Lins
Poxaaaa, que pena que a sequência não funcionou… Eu vou ler por curiosidade, mas vou sem grandes expectativas então.