3 de May de 2022

O Fim da Eternidade | Isaac Asimov

Olá meu povo, como estamos? Hoje temos resenha de um clássico de scifi, que há muito tempo não lia. Com vocês, ‘O Fim da Eternidade’, de Isaac Asimov.
O Fim da Eternidade | Isaac Asimov
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

22/24
Livro: O Fim da Eternidade
Autor: Isaac Asimov
Editora: Aleph
Ano: 2019 (edição atual)
Páginas: 256
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De forma leve e bem-humorada, Asimov realiza questionamentos ainda bastante contemporâneos, como o comodismo do ser humano, sua evolução perante as outras espécies e a busca incessante do controle sobre a vida dos outros. A obra também propõe reflexões sobre o nosso comportamento diante das necessidades pessoais e as situações que envolvem um bem maior. No romance, o leitor é apresentado a Andrew Harlan, um Eterno, membro de uma organização que monitora e controla o Tempo. Um técnico que lida diariamente com o destino de bilhões de pessoas no mundo inteiro: sua função é iniciar Mudanças de Realidade, ou seja, alterar o curso da História.

Condicionado por um treinamento rigoroso e por uma rígida autodisciplina, Harlan aprendeu a deixar as emoções de lado na hora de fazer seu trabalho. Tudo vai bem até o dia em que ele conhece a atraente Noÿs Lambent, uma mulher que faz com que ele passe a rever seus conceitos em nome de algo tão antigo quanto o próprio tempo: o amor. Agora ele terá de arriscar tudo – não apenas seu emprego, mas sua vida, a vida de Noÿs e até mesmo o curso da História. Tido como um dos melhores trabalhos de Asimov, este clássico nos mostra mais uma vez por que o Bom Doutor é considerado o grande mestre da ficção científica moderna.

 

 

O Fim da Eternidade | Isaac Asimov

 

 
Num futuro tão, tão distante, a humanidade desenvolveu uma tecnologia capaz de realizar viagens no tempo. No entanto, para que ela ocorra, é necessário que exista um plano paralelo em relação à realidade.
   
O plano em questão se chama Eternidade e os seus funcionários, os Eternos. Eles são os responsáveis por alterações importantes na realidade e no destino dos “civis”, conhecidos como Tempistas. Apesar do nome, os Eternos são tão humanos quanto os Tempistas. Porém, são escolhidos ao acaso, vindos de vários séculos diferentes, e recrutados de seu tempo para trabalharem na Eternidade, enquanto puderem ser úteis para garantir a paz na Terra.
   
Além disso, os Eternos são divididos em categorias: Observadores (que vão a campo e detectam possíveis errs que a humanidade cometa), Técnicos (recebem o relatório dos Observadores, calculam as estatísticas de que ocorram falhas nas mudanças e mandam para seus superiores avaliarem) e Computadores (os superiores, que aprovam ou recusam os relatórios dos Técnicos).
   
Andrew Harlan é um Eterno, desde que se entende por gente. Atualmente, trabalha como Técnico, um cargo não muito querido. De maneira geral, os membros dessa categoria são ignorados ou muito odiados entre os colegas, já que são os responsáveis por praticamente modelar o mundo outra vez.
   
Em parte, é um cargo importante, porém de “trabalho sujo”, o que inclui fazer algumas pessoas desaparecerem da linha do tempo, assim como certos acontecimentos importantes da História. Harlan não liga muito e está até acostumado a ser ignorado pelos corredores da Eternidade.
 
Assim, poderia passar seus dias fazendo seu trabalho, de modo robótico, como foi treinado para fazer. Porém, seus dias de paz e monotonia mudam quando o Computador Twisel, seu chefe, lhe manda um estagiário.
   
Para completar, eis que aparece Noÿs Lambent, uma Tempista que atua como secretária temporária para o Computador Finge, outro chefe seu. Não apenas era de se estranhar uma mulher entre os Eternos, como Harlan recebe outra missão, de fazer um trabalho de campo, em parceria com a moça. Porém, Harlan descobre que Noÿs e Cooper (o estagiário) podem lhe ensinar grandes lições sobre o mundo, além da Eternidade.
 
 

 

“Não há paradoxos no Tempo, mas só porque o Tempo deliberadamente evita os paradoxos.”

 

 

O Fim da Eternidade | Isaac Asimov
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

 

Como falar sobre as obras de Asimov? Para começar, sou fã do autor e talvez isso influencie um bocado em minhas considerações. Já fazia tempo que eu desejava ler esse livro e fiquei muito feliz em ver disponível no catálogo do Kindle Unlimited
   
Narrada em terceira pessoa, a trama nos mostra uma espécie de futuro possível, porém bastante abstrata, pela visão de Andrew Harlan. O tempo todo me vi lendo o filme ‘Agentes do Destino’, ou mesmo alguns episódios de ‘El Ministerio del Tiempo’. 
   
Isso porque a ideia de ‘O Fim da Eternidade’ é bem essa: garantir que a linha do tempo permaneça estável e sem grandes mudanças. Então, é trabalho dos Eternos pesquisarem cada desvio da humanidade que leve a guerras, mortes em massa e afins. 
   
Assim, a humanidade permanece um povo pacífico, vivendo em um planeta harmonioso. Para que isso aconteça, é necessário um treinamento extremamente rigoroso e disciplinador, a fim de que os Eternos não façam escolhas tendenciosas ao alterarem o curso da Realidade. Harlan foi um ótimo aluno, então foi fácil subir do posto de Observador para Técnico.
   
Além disso, o novo cargo lhe conferia uma nova visão de mundo, pois alcançou um patamar polêmico na Eternidade. Seu trabalho poderia ser importante, mas não era bem visto, pois seus colegas não viam como algo de grande valor.
   
O comportamento introvertido de Harlan só aumenta com tal relação. Então, boa parte do livro passamos lendo o quanto é ridicularizado pelos colegas, o que me deu até agonia, por sinal. Isso porque, mesmo com um departamento específico para evitar que a humanidade se desvirtue, os próprios Eternos praticam bullying entre si. Não bastasse isso, o autor passou boa parte do início da trama ambientando o leitor sobre o funcionamento da Eternidade. 
 
 

 

“Toda a Eternidade era uma fantasia diáfana, que, além de tudo, não valia a pena.”

 

 
 
Porém, usava tantos termos novos e complexos seguidos (além de contagens abusrdas de séculos futuros), que me senti totalmente perdida e foi complicado me manter firme na leitura. O que salva é a escrita fluida (mesmo para a época), que me sustentou durante um tempo e não me deixou perder as esperanças. E, de fato, valeu a pena.
   
Ao conhecer Cooper, seu novo estagiário, Harlan (ou podemos chamar também de D. Anésia do século 575) muda um pouco de postura. Ao notar um gosto em comum, o Tempo Primitivo (desde o surgimento do Homem até o século XXIV), eles começam a se entender e conversam bastante a respeito do tema. Como o livro foi escrito ainda no século XX, é interessante observar a expectativa que Asimov tinha sobre o XXI. 
 
 

 

O Fim da Eternidade | Isaac Asimov
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

 
 
Então, foi divertido em alguns momentos ver que ele acertou algumas teorias e outras passaram bem longe. Harlan é um personagem jovem, mas com alma de velho rabugento. Talvez por conta de seu treinamento. Isso o faz um personagem peculiar e difícil de descrever.
   
Mas confesso que fiquei bem incomodada quando Noÿs, secretária temporária do Computador Finge, entra em cena. Isso porque Asimov não economizou detalhes em descrever a roupa espalhafatosa que a moça usava no século 482 e o quanto Harlan ficou desconfortável e profundamente estarrecido.
   
Entendo que, pelo treinamento do Técnico, poderia tomar um susto ao ver uma mulher passeando, especialmente num ambiente onde só havia homens trabalhando (sim, isso é um ponto que chama bastante atenção). Mas achei desnecessário colocar uma mulher vestida da forma que o autor colocou, além de se comportar feito uma adolescente besta e metida a Lolita. Quem também fica besta é Harlan, conforme vai descobrindo os esquemas que se passam pela Eternidade. 
 
 

 

“Vocês riem da ignorância dos Tempitas, que conhecem apenas uma Realidade. Nós rimos da ignorância dos Eternos, que acham que existem muitas Realidade, mas apenas uma de cada vez.”

 

 
Apesar das boas intenções, o departamento deveria se chamar Ironia do Destino, de tantos jogos sujos e jogos de politicagem que estão sob os pilares da instituição. Porém, me deu vontade de descobrir como faz para chegar lá nesse departamento, só para dar uns tabefes em Harlan, para ver se criava uma personalidade própria e deixava de ser tão influenciável e burro.
   
Me sentia lendo novelas mexicanas, nas quais as reviravoltas mais absurdas eram ditas e Harlan aceitava com tanta facilidade que nenhuma pessoa em sã consciência acharia possível. Fora o escarcéu desnecessário a cada descoberta, quando se dava conta da gravidade, tempos depois.
   
Contudo, apesar de o livro inteiro ser uma verdadeira viagem na batatinha, eu achei interessante o tema, depois de algumas reviravoltas. Ninguém é o que parece ser, seja entre os Tempistas, seja entre os Eternos.
   
O próprio controle da Realidade, por si só, é um argumento falho. A humanidade cresce conforme aprende com os erros (ou continua cometendo, mas isso é papo para outro post mais filosófico). Se todos os erros são apagados da linha do tempo, qual lição sobra para os Tempistas?
   
Isso é refletido nos próprios pensamentos e comportamentos dos personagens. Cada um vem de um século diferente. Não importa se vem do 482, do 575 ou do 3.000, me senti lendo algo tão contemporâneo e vi que certas coisas nunca mudaram entre os humanos, talvez porque jamais tivemos chance, já que toda vez recebemos um reboot e fazemos tudo de novo.
 
 

 

“Com toda honestidade e sinceridade, talvez tenhamos evitado a evolução humana porque não queremos encontrar os super-homens.”

 

 
Com pitadas de filosofia, ficção científica e diálogos nonsense, esse foi um livro que realmente me fez pensar. Além disso, achei interessante ver que ele é um prelúdio à ‘Fundação’, a obra mais icônica do autor. Isso me foi uma grande e nostálgica surpresa.
   
Até fiquei com vontade de reler a série que tanto me conquistou. O desfecho é aberto e chocante, porém aceitável. Não consigo imaginar algo diferente, em especial pelo que vinha sendo apresentado. Mas foi um livro que me explodiu a mente, assim como aconteceu em ‘O Fim da Infância’, que traz um tema até relativamente parecido.
 
 

 

“E ele via a Eternidade, com grande clareza, como um antro de profundas psicoses, um fosso retorcido de motivações anormais, uma massa de vidas desesperadas brutalmente arrancadas de seu contexto.”

 

 
 
Falando sobre o livro em si, ele tem uma diagramação bem legal, com uma capa nonsense, combinando até com o tema da obra. 
 
 

 

O Fim da Eternidade | Isaac Asimov
Foto: Hanna de Paiva | Mundinho da Hanna

 

 
 
A revisão está muito perfeita e a tradução também (aliás, imagino o trabalhão que não tiveram os tradutores, tentando trazer para o Português tantos termos estranhos e que mais pareciam trava língua). Em resumo, ‘O Fim da Eternidade’ não tem uma ficção científica clássica. Pelo contrário, é algo bastante irônico e cheio de mensagens filosóficas. 
   
Mas o desfecho vale super a pena e você não vai sair da leitura do mesmo jeito que começou. Apesar das ressalvas, é um livro que recomendo, pois embora você não goste do tema, vai te fazer refletir um bocado sobre a vida e a nossa sociedade. 
 
 
 
                                      
 
 
Já leram algum livro do autor? O que acharam desse livro? Me contem aí!
 
 
Obs.: Texto revisado por Emerson Silva
Postado por:

Hanna de Paiva

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