Olá meu povo, como estamos? A temporada de leituras sombrias está aberta no MH. E representando a categoria na literatura clássica, hoje trago a resenha de Carmilla, uma vampira que ficou esquecida na história.
Livro: Carmilla, A vampira de Karnstein
Autoria: Joseph Sheridan Le Fanu
Tradução: Lucas Montenegro
Editora: Ciranda Cultural (Selo Principis)
Ano: 2021
Páginas: 128
País: Inglaterra/Alemanha
Formato: Impresso
Nota: 3.5/5
Laura vive isolada com o pai em um castelo na Estíria. O aparecimento de uma hóspede intrigante, encantadora e extremamente misteriosa desperta sentimentos contraditórios na jovem. Afinal, bastou Carmilla chegar para Laura voltar a ter os antigos pesadelos de infância.
Um clássico britânico, este livro apresenta a primeira vampira feminina da literatura, em uma história sobre sedução e horror, criaturas ancestrais e o despertar da maturidade.

Laura é uma jovem que vive com seu pai em um castelo no meio da Alemanha. A família é reduzida, já que a mãe faleceu há um tempo e a moça não tem irmãs, nem amigas. Suas únicas companhias femininas são a babá e a governanta com quem vive até a adolescência.
Mas isto está prestes a mudar quando aparece uma amizade inesperada em seu caminho. Carmilla é linda, encantadora e logo forma um laço com a anfitriã. Contudo, bastou a visitante colocar os pés na casa de Laura para que os fantasmas do passado da moça voltassem a atacar.
Será tudo coincidência? Ou não passa de um delírio coletivo?
‘Carmilla’ é um livro emblemático, por trazer a primeira vampira feminina da história da literatura. Descrita como uma forma humana, que interage com os mortais e até sai à luz do dia, passaria despercebida pela multidão, não fosse pela sua personalidade peculiar e a pele pálida.
No entanto, sua história ficou esquecida, abafada pelo icônico Drácula que conquistou uma legião de fãs. Embora ambos tenham sido escritos por homens britânicos, a verdade é que ‘Carmilla’ ficou de lado por trazer uma personagem feminina fora da caixa, o que não condizia com os padrões da época (ou seja, machismo).
A história é narrada em primeira pessoa e traz os fatos pelo ponto de vista de Laura. A jovem é filha única e vive com seu pai e mais duas empregadas em um castelo no meio do nada. Embora tenha tudo do bom e do melhor à sua disposição, o que a mocinha mais queria era uma amiga.
Mas vivendo cercada de pessoas mais velhas, ela não tem com quem passear ou fazer coisas de adolescente. Assim, se torna uma pessoa solitária e extremamente carente. Isso preocupa muito seu pai, que não vê a hora da chegada de um general conhecido seu, que trará consigo uma jovem sobrinha.
Contudo, perto da data marcada para a viagem, o pai de Laura recebe uma carta informando que a inestimada visita não vai mais chegar, pois foi vítima de uma estranha epidemia que ceifou sua vida. A anfitriã está desolada, porque a única oportunidade que teria de ter uma amiga se foi antes mesmo de sequer começar.
Mas a vida é uma caixinha de surpresas e parece que a protagonista vai ter uma companheira fiel. Eis que no mesmo tempo do recebimento da carta, um acidente chama a atenção dos empregados da propriedade.
“Não me recordo da minha vida antes daquele evento, e por um tempo permaneceu em obscuridade mesmo depois dele; mas a visão que acabo de descrever está marcada a ferro quente em minhas lembranças, destacando-se como espectros de luz rodeados pelas trevas.”
Uma charrete desgorvernada vem a toda velocidade e capota. As passageiras eram duas mulheres (mãe e filha), as quais felizmente saíram com pequenos arranhões. Porém, a mais jovem sofreu o impacto maior, dado que desmaiou.
A mais velha está preocupada e sem saber como deve seguir sua viagem adiante, para arcar com um compromisso em outra cidade. Mas o pai de Laura vê nisso uma oportunidade perfeita: seria um bom anfitrião e cederia um lugar para a moça descansar e se recuperar enquanto a mãe fazia o que precisava. Ao mesmo tempo, sua filha teria uma amiga para conversar e deixar de ficar solitária.
O acordo é feito e Laura fica feliz com a visita inesperada. Logo a jovem e Carmilla criam um forte laço de amizade e se tornam inseparáveis. Contudo, o que deveria ser um momento feliz não é aproveitado 100%. Isso porque a visitante tem costumes bem estranhos, como dormir até bem tarde e sofrer de oscilações de humor extremas, o que gera situações constrangedoras.
Para completar, Laura volta a ser atormentada por pesadelos assustadores, que não a incomodavam desde a infância. Assim, as madrugadas se tornam insuportáveis, com muitos gritos e sustos que acordam a todos na casa.

Com a narrativa pelo ponto de vista de Laura somente, pude perceber o quanto era uma pessoa extremamente solitária naquela casa enorme. Ela se agarra à presença de Carmilla de forma obsessiva, chegando a dar agonia em diversos momentos.
Não bastasse isso, os sonhos de Laura se tornavam cada vez mais frequentes. E eram tão bem descritos, que fica uma dúvida eterna no leitor, se era tudo verdade ou apenas a ilusão de uma mente perturbada pela solidão.
A combinação de escrita fluida e capítulos curtos me fez devorar o livro em dois dias. Queria saber mais e ver se minhas teorias estavam corretas. Porém, não estava esperando ficar com mais perguntas do que respostas.
“-De qualquer modo, vida e morte são envoltas em mistério, e pouco sabemos sobre as fontes que alimentam essas duas condições.”
Para começar, a relação de Laura com o pai começa muito bem, e para por aí. Em diversas cenas eu esperava que ele fosse mais ativo e protegesse sua filha, ainda mais por ser sua única herdeira.
Entretanto, tudo o que vi foi um pai negligente e irresponsável. Acho incrível como ele tinha acesso a tantas informações e simplesmente deixava passar batido, fazendo literalmente nada! Se fosse em uma cena ou outra, até perdoaria. Mas em todas? Aí já é demais.
Nem nos momentos de clímax ele se mexia e ficava como um mero figurante. A impressão que me deu foi que o autor queria focar mais na vampira e na vítima, mas esqueceu que tinha todo o restante do elenco para se mexer também. Isso deu a sensação de personagens esquecidos no churrasco de propósito porque… porque sim!
Já a relação entre Carmilla e Laura era bastante tóxica. A primeira exercia uma influência tão profunda na segunda, que era nítida a dominância. No entanto, o motivo é um eterno mistério, já que não temos resposta certa para isso e o autor nos deixa com a livre interpretação.
Assim como a história da própria personagem, que vai deixando suas peças no meio do caminho, para que o leitor junte tudo e descubra. Confesso que gostei da ideia, mas teria sido melhor se o autor tivesse aprofundado mais algumas informações. Do jeito que foi apresentado, senti falta de uma série de respostas, ainda mais em relação à mãe da estranha moça.
“Suponho que você deve imaginar que minha mente está serena enquanto escrevo minha história; mas longe disso. É impossível recordar-me dela sem me inquietar.”
O desfecho fecha o arco da mesma forma sombria que começou. Porém, também chega com muitas peças faltando e não faz questão de completar o quebra cabeça. Algumas cenas fazia sentido terminar assim, para alugar um triplex na cabeça de quem lê.

O problema foi que o autor resolveu trazer personagens esquecidos capítulos antes e não deixou ninguém brilhar. Assim, fiquei com a sensação de que era uma premissa incrível, mas faltou um bocado de sal e pimenta para dar um gosto nessa história.
Falando sobre o livro em si, a edição segue o padrão da Principis. Então é uma obra bem simples, objetiva e sem rodeios. A capa tem um capricho, trazendo a Carmilla em destaque, com uma fonte bem escolhida e uma paleta bem contrastante.
A revisão está de parabéns, assim como a diagramação, mostrando que o básico pode funcionar perfeitamente, se for bem feito. As páginas mais grossinhas, amareladas e a fonte legível completam a boa experiência de leitura.
Em resumo, ‘Carmilla’ é uma história que demorei para me aventurar e gostei. Mas não alcançou tanto as minhas expectativas. No entanto, ainda recomendo a leitura se estiver começando no gênero de terror/horror.
Texto revisado por Emerson Silva.
Moonlight Books
Oi Hanna! Que pena que as expectativas não foram atendidas, mas ainda assim fiquei com vontade de conferir essa obra.
Bjos!!
Moonlight Books
@moonlightbooks
Hanna de Paiva
Espero que tenha uma experiência melhor que a minha, Cida, =)